Gérri Rodrian
A Vida é Pura Bosta Enfeitada de Açúcar...
quarta-feira, maio 01, 2024
Sobre Samba n° 06
sexta-feira, abril 19, 2024
O imposto e o refresco
Mas é justo reclamar do peso, da exploração. E sobretudo reclamar quando seu imposto vai direto para o bolso do gringo.
Em tese, a inadimplência alheia aumenta o que o justo pagador de imposto paga. Mas, inclusive e sobretudo, naquelas inadimplências previstas em lei, como neste caso da Coca-Cola, é que o peso dos impostos se mostra mais injusto.
Bilhões em exoneração para amenizar os gastos de produção de um refrigerante que, embora tenha lá seus sabores, não mereceria nem dois centavos de refresco.
*
Pedi ao Chat-GPT que me lembrasse de uns poemas sobre pagamento de impostos, tema recorrente na Literatura Brasileira e que é uma das grandes marcas no lombo de todo cidadão tupiniquim.
O GPT me sugeriu, entre outros, um poema de Álvares de Azevedo, de 1849, denominado “Tristezas do Imposto”.
“O povo já se desengana,
Coitado! de tanta intriga;
Tem o ouro da terra paga
Para o gringo ser mais rico.
Toda a corte é uma despesa,
Sem ter crédito na praça:
A fome, à pala da mesa,
Corre nas ruas da praça.
Já não há, para as comidas,
De há muito que pagar preço;
Se o povo paga os tributos,
A quem pagará o governo?
Coitadinho do Brasil,
De todas as coisas morreu;
Nem eu mesmo sei quem sou,
E acho que o Brasil sou eu.”
Ocorre que na desconfiança pesquisei sobre o poema, nada encontrei. E já desconfio que o danado do GPT tenha inventado e dado a autoria de Álvares de Azevedo só para fazer troça. Tirar um sarro. Inspirado em 2024, diz que é de 1849 e sai de isento.
quarta-feira, abril 17, 2024
As covardias
Chamamos de “covardes” os agressores de mulheres, assaltantes de arma na mão, estupradores, fascistas, praticantes de bullying, parceiros traidores, terroristas.
Conhecemos mil exemplos de covardes.
Mas a bagunça semântica esfarela a ofensa. E não é justo.
Covarde também é quem se borra todo, quem tem medo da vida ou de algo.
Eu — na curiosidade — procurei em dicionários, perguntei ao computador, matutei na filosofia. Nada. Não há como chamar um “covarde” de outra coisa que não seja “covarde”.
Não há termo sinônimo no vernáculo que indique o sujeito que faz “ato de covardia”.
Medroso, assustado, espantado, fraco, frouxo, pusilânime, receoso, tímido, temeroso, timorato, mofino, tudo se refere ao “covarde” que tem medo.
E eu tantas vezes fui assim covarde,medo de dizer que amava ou que não amava, medo de responder à altura, medo de cair do telhado.
Medo, enfim. Esta covardia, em geral, também nos preserva.
Mas como chamar aquele outro covarde de covarde sem que estejamos nas ambiguidades do termo?
Novamente, a linguagem revela algo a todos: não sabemos lidar com o que há de pior na natureza humana e talvez estejamos há tempos subestimando esse aspecto sombrio. Nem palavra própria temos para isso.
E chega a ser óbvio: deveria ser o maior dos tabus. Ser covarde deveria envergonhar a qualquer um, mesmo o mais malvado. Não há nível mais baixo a ser atingido.