sábado, setembro 23, 2006

Um cigarro para dois. Ou três.

Termina a semana. E todos já sabem do arquivo. Clicando na revista (ao lado), podemos encontrar todo o conteúdo das dez semanas. Parece pouco ou parece muito? Já escrevi coisas das mais diversas. Postei duas músicas minhas, quatro dramas - um deles também em versão traduzida em espanhol, mais de sessenta canções alheias, poesias... ufa! Não houve até o momento qualquer vontade de silenciar um pouco.

Alguns iniciados talvez entendam a consideração seguinte: um sujeito que tem a Lua em conjunção com Júpiter, em Peixes, na terceira casa, em trígono com o Sol em Escorpião, que abre a décima casa, são sempre assim adoradores da palavra. Uns fetichistas do verbo.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Goze, sorrindo. Ande, devagar.

Há mulheres que jamais tiveram um orgasmo. Outras tiveram meia dúzia de orgasmos pálidos. Outras, pela natureza da mãe Vênus, dissimulam tanto que inventam um orgasmo cênico, feito "chega a sentir que é dor, a dor que deveras sente". E há aquelas que tem orgasmo que nem derruba corpo de mulher. Vem a todo instante mas nem faz arrepiar a pelugem dos braços. Infelizmente, tenho certeza, a culpa é quase toda dos homens (e eventualmente mulheres) que naquele instante deixam de lado certas obrigações. Faltam as palavras certas, bem erradas; faltam apertões daqueles que deixam a moça parecendo um travesseiro de plumas. Faltam um sei lá o quê de coisas. Ou falta mesmo é a mulher perder o medo.

Acho até que lhe falta gozar por outros cantos. E bem explico, assustado leitor: gozamos tanto pela vida, seja naquele gole de champanha francesa, seja naquela mordida num merengue cheio de morangos. Mas sente apenas quem repara os detalhes, vê com suavidade as partes pequeninas desta porra de vida. É preciso ter bons olhos, notar com precisão - e não apenas aquele reparar de olhos que olha sem ver.

Eu sou um gozador. Escorpiano gozador que nem vê hora e lugar. Hoje mesmo, enchi meu companheiro tocador de mp3 com praticamente todas as canções dos Beatles. Depois de deixar o local de trabalho, gozei a primeira vez quando saia do metrô. Era Please Please Me. Hum... Sinto ter feito uma cara de tonto, feliz feliz. Devo até ter dado um sorriso sem regra. Depois, quando descia as escadas na Barra Funda, era Michelle. Dentro do feio vagão de trem, foi a vez de No Reply. Saindo da estação, enquanto acendia um cigarro, We'll won't belong. Mais tarde um pouco, quase ao chegar em casa, Run for your life me deixou daquele jeito.

Quase fui atropelado quando ouvia Do you want to know a secret, tão absorto estava. A arte tem disso. Um poder, meu caro, que por algum tempo nos deixa levemente extasiados, naqueles instante achando o mundo perfeito. Muita mulher que não goza; muito homem que não goza - todos deveriam perceber os detalhes. Ver que tudo é simulacro de outro tudo. Que arte, poesia, natureza, palavra, sensação, embriaguez, podem ser fetiches que nos tornam leves, nos tornam sofisticados... pertos de um gozo que se espalha por tudo o que acharmos belo.

Grease!

Clássico absoluto, vemos John Travolta e a linda Olivia Newton-John, em Grease. Filme alegre, cheio de cores. E com grandes canções, compostas por aquele Barry Gibb, sujeito surpreendente que cantava e bordava nos Bee Gees, nos anos 70. A canção é You're the one that I want.

Os olhos tremem!

Alvoroço! Os homens de bom senso e as moças de bom gosto estão agora todos definitivamente em profunda expectativa! A Playboy brasileira anunciou que a "poesia em carne e osso" Luize Altenhofen será a capa do mês de outubro. Ora, caro leitor, esta é uma das melhores notícias da semana, afinal poucas são as moças deste país que merecem todo esse alarde - que não ocorre somente neste humilde blog. Muitos são os comentários em toda a esfera e uma expectativa parecida somente houve quando apresentaram a nudez acachapante de Grazielli Massafera. E caso o nobre leitor esteja com problemas de amnésia, ou cousa que o valha, apresento-lhes um sítio de fã, em que muitas fotos da loura Luize podem ser apreciadas.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Will Murai é o nome do sujeito.

Ufa! Meu desconhecimento demorou pouco. Bem pouco. Graças à minha astúcia de Sherlock Holmes: averiguei a assinatura nos desenhos - assinem sempre suas obras, jovens desenhistas! Will Murai tem uma obra muito bacana. Talvez seja um jovem sujeito e pouca informação há sobre a sua obra. Talvez seja.

Delicadeza desconhecida.

Uma boa galeria, com desenhos graciosos como o que vemos acima. Não sei quem os fez. O que me incomoda profundamente. O raio do sítio é russo e eu, naturalmente, não sei qualquer palavra em russo. O leitor que souber o nome do artista que criou tais pérolas ganhará um "obrigado" do tamanho do continente.

E de alguma maneira é interessante avaliar a obra de uma artista desconhecido. Temos bem mais liberdade. Pra gostar ou não.

Não sei dançar.

Ainda bem que inventaram baladas feito A Loca, casa underground desta imensa São Paulo. Um lugar escuro em que ninguém se vê, afinal. Todos podem dançar como bem entenderem. Foi a libertação! Para mim, sobretudo, que sou a real antítese de um Fred Astaire. E para relembrar o gênio das danças impossíveis, cena clássica de The Gay Divorcee, de 1934, ao som de Night and Day, canção daquele que é maior compositor norte-americano da história, Cole Porter. E há ainda a companhia de Ginger Rogers, a loira dançarina de olhar lângüido. Arte plena.

Caravaggio ou Daniella.

Alguém poderia me explicar o alvoroço todo por causa da bela e mais nada Daniella Cicarelli? Que leva milhões de pessoas a se interessarem por um vídeo em que ela namora um sujeito qualquer, numa praia qualquer? Ou sou mesmo um chato ou em geral todo mundo se interessa por bobagens. Há uma infinidade de coisas pra se ver ou ouvir na rede. Há coisas demais. De tudo o que é jeito. Mas o interesse geral é por banalidades que ninguém explica.

Até pensei, sem muita coragem, em tornar esta Revista um veículo mais "abrangente", visando uma audiência estupenda. Mas que me importa a audiência! Melhor ter poucos e bons leitores do que milhares que buscam tão somente as pálidas idéias repetidas.

E mesmo que eu venha a perder todos os leitores, que todos bem se cansem da minha verborragia, das minhas críticas e elogios ao mundo, ainda desta forma eu continuarei, teimoso. Vou melhorando, aperfeiçoando o que posso. Mas não abandono o caminho traçado há tanto tempo. Só assim um escritor ganha credibilidade. É chamado de maluco por alguns, por muito tempo. Mas chega uma hora em que alguém percebe a convicção, o juízo.

E deixem a tal garotinha de boa boca em paz. Não que eu ignore os lucros que essa gente sempre tem com escândalos. Mas todos caem no ridículo ao dar importância à idiotice alheia. Melhor ver Caravaggio. Aqui, por exemplo. Entre a nudez de uma Cicarelli e o claro/escuro de Caravaggio, até chego a titubear. Mas entre a banalidade e a genealidade, meu caro leitor, não há muito o que se ponderar.

quarta-feira, setembro 20, 2006

All about sex.

Nunca saberemos até que ponto fomos amantes geniais ou amantes medíocres. Há um ou outro indicativo, mas todos me parecem profundamente relativos. Mesmo porque em sexo há aquela coisa de química. Duas criaturas experientes e sensuais podem mesmo ter uma trepada das mais desanimadas. Tudo depende mais dos contextos...

Lembro-me de uma balzaquiana, ex-colega de faculdade, que contava-nos uma história de arrepiar os cabelos. Teve apenas dois homens em sua vida. O marido, por mais de dez anos. E um primo ou coisa que o valha, por somente uma tarde, no mato. Ahahaha. Do marido, ela dizia: tenho prazer, mas é cansativo. Do primo, suspirava: ai, a melhor de todas as transas. Ora! Caro leitor. Natural que assim seja. Se ficasse dez anos com o primo, longe dos matos secretos, longe daquela sensação de pecado cabeludo, tudo seria um tanto diferente. Desta anedota aparentemente comum, pode-se perceber que parte da nossa performance deve estar necessariamente atrelada a certos desvios, a certa má conduta...

Mas sonhamos todos com a marca que eventualmente deixamos em alguém. Há aquele esforço para o gozo alheio; aquele aperto bem dado na moça; aquele gemido que faça o moço delirar. Mulheres e homens sempre têm dessas preocupações. Deixar um registro de prazer que se estenderá pelo tempo. Até creio que uma meia dúzia de malucos não se importam. Há inclusive uma lenda que dizia de uma moça assim, lá pelas bandas de minha terra natal. Experimentadas por alguns amigos, todos foram unânimes em dizer que quase dormiram, não fosse a irritação em estar nu, diante de alguém que lhes pareceu detestar toda a manifestação erótica do mundo.

As criaturas normais querem, precisam e adoram sexo. E adorariam ouvir, depois de muitos anos, algo como "você foi aquele que melhor me fez gozar", ou "ninguém jamais me chupou como você". Ora! Sexo é bom, mas exige uma responsabilidade terrível. E sempre nos esforçamos, mostrando o melhor de nosso repertório. Fazemos a nossa parte, sempre. Mas se acabamos esquecidos, relegados a segundo plano, na memória dos antigos amantes, saibamos que talvez o pecado não fora bom o suficiente. Faltara talvez o mato e o capim.

O pior político do mundo.

A população deste país, em geral, quase nada entende das tramas que movem a política, seja em que esfera for. Não sabem daquela retórica que faz um sujeito escolher corretamente o que dizer, o que vestir. Não sabem que ninguém aparece com a cara que realmente tem. Ou se alguém nos aparece com a cara que realmente tem, logo acreditamos que o sujeito também faz, como os demais, o jogo eterno das aparências. O povo todo não sabe que a história da política vai se repetindo. Desde os tempos de Calígula. Ou mesmo antes. Que sempre há quem deseje se perpetuar no poder. A todo custo. Que nem sempre o acusado, o escorraçado, o mandado ao tribunal, seria aquele mais corrupto e cruel. Pode ser até que tenha alguma inocência - se alguma inocência for possível para quem vive destas relações de poder e conquista.

Neste Brasil de grande tamanho, poucos são os que notam os caminhos tomados. Poucos os que podem ver que vivemos um tempo de disputa por poder que chega a causar pânico. São golpistas de tudo o que é lado. Tenho mesmo uma idéia bem estruturada sobre os reais vilões desta guerra. Mas não cabe aqui, ao menos agora, sair fornecendo nome aos bois e búfalos. Tenho pena tão somente daqueles que desejam a volta de uma ditadura. Nos tempos dos militares, a corrupção era a mesma. Mas tudo era acobertado pela truculência que há em qualquer ditadura. E há também quem acredite que "de todos os avanços que este país obteve nas últimas décadas, a divulgação da roubalheira pela mídia foi o mais importante". Uma bobagem. Sabemos tão somente aquilo que interessa para o belissismo desta irritante disputa. Jornais e os demais veículos da mídia sempre estão atrelados a algum partido ou nome. Não há independência de idéias e gritos.

Seja na disputa pelo grêmio estudantil, seja pela Presidência da República, sou daqueles que considera todo esse jogo como algo natural, apesar de grotesco. Apenas me irrita o modo como alguns oposicionistas inflamam a ordem com um golpismo de quinta categoria. Mas há guerra entre essa gente. E na guerra tudo vale. O povo até sabe disso. Sabe bem o porquê disso tudo. Só não sabe mesmo que a guerra política é o preço pior da democracia.

Obs.: são fundamentais alguns talentos para a política. Eu não tenho nenhum deles. Sou crítico em excesso, não gosto de sorrir pra quem não conheço, não gosto de puxar o saco de nenhuma criatura e jamais digo o que não tenho vontade. Seria o pior do mundo. Mandaria à merda o primeiro infeliz que me viesse com afagos e lisuras.

Um começo verossímil.

O primeiro filme que me tocou pela inteligência ou, melhor explicando, o primeiro filme que me mostrou a inteligência da arte... Hum. Não saberia mesmo me explicar... Havia visto muitos e geniais filmes. Mas de repente, depois de ver este filme, tive aquela sensação que a gente tem depois de descobrir a real utilidade de uma obra artística. Que não é só aquela coisa de distrair, envolver. Mas de provocar e embaralhar, promover na gente uma inquietação de qualquer tipo.

De qualquer maneira, não sei ao certo se foi neste filme que a ficha me caiu. Como eu gostaria de me lembrar deste minuto em que comecei a ver arte com olhos de quem a entende! Olho vazado de artista! Adoraria me lembrar da palavra que disse depois. Talvez "Eureka", talvez "Ecce Luce". Talvez um abobado "Puxa". Sei somente que foi uma avalanche de coisas. A cabeça lembrou de tudo o que havia notado antes, cada imagem ou som que naquele instante transformara-se em arte.

Em verdade este momento pode nem mesmo ter existido. Talvez seja uma mitificação de um processo que demorou anos - e ainda me acontece diariamente. E nunca tenha havido a "obra libertadora": um Simon Bolivar musical ou poético que libertou toda uma consciência que andava aprisionada. Pode ser bobice minha. Tudo deve ter começado com os primeiros gibis. Com os desenhos animados. Com as canções que minha mãe cantava, pra eu logo dormir.

Mas se houvesse essa obra, a libertadora, seria verossímil que fosse Cabaret, de 1972. Um musical que reúne tudo o que é bom num filme. Sobretudo a elegância. Acima a abertura do filme, com alguns trechos dublados. Abaixo a toda-voz Liza Minelli canta Mein Herr.

terça-feira, setembro 19, 2006

Não precisava feder.

Há pouco tive a tarefa ingrata de levar uma documentação à Secretaria de Cultura do Estado, localizada na famosa Rua Mauá, centro da tal cracolândia. Por mais que eu já tenha andado por aquelas ruas, sempre me espanto. Não penso que o mundo deveria ser sempre de ordem e fina beleza. Nem espero uma sociedade assim tão correta que controle todos os desvios e erros de seus cidadãos. Nada disso. Mas aquele fedor não tem mesmo jeito? Aquela sujeira não teria limpeza? O fedor daquela região, confesso, me embrulhou o estômago. E perceba, aprazível leitor, que nem sou daqueles garotos que cresceram em condomínio arborizado. Sou dos cantos de Osasco. Ando de trem desde a primeira ferrovia que houve neste país. Caminho em tudo o que é canto. Sem ares de nojo. Caminho e olho tudo o que vejo. Mas o cheiro de gordura, de lixo, de gente sem banho, de miséria, hoje quase me fez vomitar.

Não. Não precisávamos disso. Sei que a vida é difícil. Sei que o país tem seus problemas. Mas não precisávamos chegar a tal ponto de nojeira e podridão. E acredito mesmo nas afirmações dos últimos prefeitos, alegando que os problemas são sobretudo causados pelas leis que não permitem uma ação mais incisiva, contrária aos interesses de tantos... Incluindo-se aí os moradores de ruas. Seria crime impedir que os milhares de mendigos desta cidade continuassem nas ruas, expulsando-os para o "raio que o parta" ou enfurnando-os em albergues diversos. Seria crime. Alguns inclusive fariam denúncias. Direitos humanos e tudo o mais. Concordo. Mas concordo também com o sábio Dr. Spock, quando disse algo parecido com "a necessidade de muitos sobrepõe o privilégio de poucos". Não sei ao certo. Talvez a frase correta seja "a necessidade de poucos sobrepõe o privilégio de muitos". De qualquer forma, a certeza é: não seria impossível limpar tanta sujeira. Nem que pra isso inventassem uma lei tal: "é proibido viver e dormir nas ruas, sob pena de expulsão do Estado". Ou tem endereço fixo ou então aceite morar, mesmo que temporariamente, numa chácara produtora de algodão. Creio até que em lugares levemente civilizados seja exatamente assim.

Incluindo-se também um artigo, nesta vigorosa lei, que proíba qualquer cidadão de ser porco. Dois anos de prisão pra quem joga sujeira pela janela do trem. E pena máxima pra quem pichar um muro. E pena de morte pra quem defecar nas calçadas, considerando que a cidade não deveria ser a privada de nenhum rabo sujo.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Os imigrantes.

Seguindo com a semana de musicais clássicos, Rita Moreno e companhia detonam em clássica cena daquele que é possivelmente o mais contundente dos musicais: West Side Story, de 1961. A música, America, foi composta pelo sempre citado Leonard Bernstein, meu ídolo desde os tempos de ginásio.

A lógica da sedução.

Houve uma vez um blog. Neste blog, houve uma pesquisa jamais respondida. Qual a mais bela atriz sueca da história? Talvez a questão seja mesmo irrespondível. Anita Ekberg, Ingrid Bergman e Ursula Andress, a bela da foto acima, são apenas alguns exemplos da beleza sueca. E não obstante a beleza da mulher brasileira, nas praias e baladas, ao menos no cinema as suecas são as mais poderosas. Nem tanto pelo tamanho das coxas ou pela forma dos seios. Mais pela certa frieza que forma suas faces. São em geral loiras frias como a terra da qual vieram. Um frio que é um tanto de distanciamento, um tanto de elegância. E mais um tanto de semeadura virgem misturada a certa sordidez. Não sabemos ao certo. Nós homens temos um olhar pequeno, apegado a outros detalhes. Mas repare, curioso leitor, no olhar de Anita Ekberg. Nas sobrancelhas e boca desta sueca.

Que cousa poderá ver? Ah! É aquele perfeito eqüilíbrio, segredo de quem seduz: as mulheres mais sedutoras são aquelas que sabem controlar as doses de candura e lascívia, numa mesma face. Não sabemos, nós homens que nunca sabemos porcaria nenhuma, se se trata mesmo de talento, coisa que a menina traz no sangue - ou se há meia dúzia de técnicas... Mas é perceptível: ser sensual em demasia quase faz a moça escorregar o pé na pose vulgar. O inverso disso, a ausência do que é sensual faz da moça um copo de água morna. Não entorpece, apesar de bem matar a sede do pobre sedento. E nem creio que eu esteja assim delirando. Não existe qualquer regra para a beleza ou para a sedução. E o que for regra limita, aprisiona. No entanto, toda mulher que aprende com as suecas acaba sendo no mínimo um objeto do mais claro desejo.

O que amamos nas mulheres, além do óbvio, é essa capacidade de olhar e falar como se bem estivesse no La Dolce Vita, nas ruas de Roma. Aquilo de sair de uma mera piscina, feito uma bondgirl, cheia de um rebolado que não se nota sem alguma boa observação. De fumar um cigarro como se estivessem em Casablanca, sem arroubos, sem falar pelos cotolevos. Sobretudo: sem inquietações que tornem o rosto uma evidência de símbolos. Melhor é, como a suave Ingrid Bergman, olhar para um pedaço do mundo, deixando os olhos longe de tudo. Sobretudo daquilo que é tão somente comum. É deixar a impressão, a quem a observa, que pensa talvez num abismo, numa tristeza que a vida transforma em volúpia.

Março está pra chegar.

Apresento-lhes um irregular sítio que coleta frases de caminhão e ditos populares. Muitos deles até nos fazem rir, sem que este seja o propósito. Vale uma visita. Talvez o nobre leitor encontre uma boa frase para a própria lápide ou para aqueles momentos em que não resta mais nada a dizer, quando não há saída. Alguns exemplos:

  • A primeira ilusão do homem começa na chupeta.
  • Em terra de saci, uma calça serve para dois.
  • Mais virgindades já se perderam pela curiosidade do que pelo amor.
  • Mulher é como abelha: ou dá mel ou ferroada.
  • Não existem ateus numa pane de avião.
  • Os segundos casamentos são o triunfo da esperança sobre a experiência.
  • Pessimista é aquele indivíduo que usa cinto e suspensórios.
  • Quem cedo madruga, boceja o dia inteiro.
  • Se não fosse o otimista, o pessimista nunca saberia como é infeliz.
  • Só alfinete fica entre as mulheres e não perde a cabeça.
  • Ter a consciência limpa é ter a memória fraca.

...há muitas semanas eu não me encontrava assim tão modorrento. Não penso em outra coisa além das minhas férias em 2007. Estabeleço projetos estranhos e sonho com a distância de tudo. Tenho dúvidas diversas quanto ao destino. Talvez a Venezuela. Talvez o Maranhão. Talvez nada. Mas que seja longe. Quero ver no mapa o ponto distante onde estaremos. Quero ver distância entre esse meu bom cotidiano e a terra onde eu decidir largar o corpo, por alguns dias.

Mas é o futuro que me move. Ainda há muito o que se fazer até o ano que virá. Há muito o que se escrever e planejar. Há ainda que se encontrar pessoas. Ouvir novas canções, beber um pouco. Dançar e perder o fôlego. Há ainda um chão pra se pisar, com pés que eu nem suponho ter. Mas terei. Se um minuto é o suficiente para se ter a vida toda transformada, meses podem mesmo nos destruir e recompor tantas vezes! O que fala agora pode deixar de ser o que fala agora. Pode mudar tanto que... Mas se em mais de trinta anos, nada quase mudou... Uma outra bobagem a nos levar pra lá e pra cá... Hum... Continuaremos, creio eu, com as mesmas idéias... talvez... Temos todos a memória fraca.

Chicago.

Um dos melhores filmes desta década. Canções excelentes. Visual elegante e tudo o mais. Chicago é quase obrigatório. Talvez não seja para muita gente. Que, ou não gosta de musicais, ou está mesmo acostumado a filmes velozes e furiosos. Esta semana, as músicas que aqui poderão ser ouvidas são aquelas de alguns filmes que merecem eterna revisitação. Musicais de diversas épocas. Comecemos portanto com a inacreditavelmente talentosa Renée Zellweger, em Roxie Hart.

Cante junto e aprenda mais uma canção:

"The name on everybody's lips
Is gonna be Roxie
The lady raking in the chips
Is gonna be Roxie

I'm gonna be a celebrity
That means
Somebody everyone knows
They('re) gonna recognize my eyes
My hair my teeth my boobs my nose

From just some dumb mechanics wife
I'm gonna be Roxie
Who says that murder's not an art?

And who in case she doesn't hang
Can say she started with a bang?
Roxie Hart! Boys...

[BOYS]
They're gonna wait outside in line
To get to see

[ROXIE]
Roxie
Think of those autographs
I'll sign,
'Good luck to ya,'

[BOYS]
Roxie

[ROXIE]
And I'll appear
In a lavalier that goes
All the way down to my waist

[BOYS]
Here a ring,
There a ring,
Everywhere a-ring-a-ling

[ROXIE]
But always in the best of taste!

Mmmm, I'm a star!
And the audience loves me!
And I love them
And they love me for loving them
And I love them for loving me
And we love each other
And that's because none of us
Got enough love in our childhoods
And that's showbiz
Kid

[BOYS]
She's given up her hum drum life

[ROXIE]
I'm gonna be sing it

[BOYS]
Roxie
She made a scandal and a start

[ROXIE]
And Sophie Tucker will shit
I know
To see her name get billed below
Roxie Hart

[BOYS]
Roxie... Roxie...

domingo, setembro 17, 2006

Crônica Dominical

A moça me sorri. Um sorriso iluminado e descompassado. Quase bêbado, tentando mesmo se ajeitar na boca manhosa. Um sorriso por demais natural, um pouco maior que o rosto. Eu a observo e sinto lá certo alívio, cumprido o dever de amante. Como se fosse mesmo meu dever desaprisionar o sorriso, libertá-lo das correntes que o medo encalacrou. Ela me vê com gratidão. E sorri. Que seu sorriso é mesmo a recompensa. Sempre foi. Sempre será. Eu sorrio também, ofegante, mas meu sorriso nem deve ser de brilho assim. É mais serenidade que êxtase. É mais registrar o instante. Ver. Ouvir atento. Tocar com exame. É ver a moça e cada pequena linha de seu corpo. Ver o eqüilíbrio das sobrancelhas; as sardas esparsas do colo; as curvas de tantos jeitos; a pele clara que se estende, agigantada, por toda parte; as mãos trêmulas. Tenta me dizer de repente alguma palavra que não chega a ser ouvida. Eu a noto ainda mais, mais tenho seu rosto perpetrado, pois é o susto que me toma. Que beleza tem essa moça! O que antes era visto como belo hoje nada é. Este sorriso, estas formas, estes grandes e pequenos lábios são agora a medida certa da beleza. E eu me ponho a sentir toda sorte de presunções. Sinto-me melhor que qualquer outro cavaleiro, de todas as fábulas ouvidas. Um melhor cavaleiro; o que teve, naquele instante, a espada e a honra.

Não há mesmo maior honra, a quem é nobre. Vivi sempre para estes momentos e viverei. Servindo à doce princesa a taça dos melhores licores. Servido-a, protegendo-a, dando-lhe ópio e esmeraldas, flores e finas rendas. Atendendo-lhe as ordens, cuidando para que o dia sempre bem amanheça. E enquanto o bronze de minha espada não tiver sido fraquejado pelo tempo; enquanto me houver voz e fôlego, vestirei as armas do nobre cavaleiro. Seguirei por esse brilho, esse riso. Dane-se o dragão; o gozo é a jóia.