sábado, janeiro 06, 2007

Um ano bom é um ano que se vive o novo e o velho, de um mesmo modo.



Começa 2007 e com ele a vontade de permanecer vivo, até o fim. Todos nós, lá pelos escombros das idéias, desejamos nada mais que isso. Se vamos enriquecer, levar chifre ou quebrar o pé, tanto nos faz. Queremos mesmo é viver. Independentemente dos caminhos e resultados, queremos continuar esta história confusa aqui neste longo planeta. Toda sorte de coisas, de qualquer modo, seremos obrigados a engolir, não nos adiantando qualquer prévia reclamação. Mas que possamos vivê-las, cada dia bom e mau, cada hora, cada um dos aproximadamente 31 milhões de segundos, cada respiração possível e cada copo de uísque que houver na mesa. Que nos seja dada esta oportunidade. Experimentar novas oxigenações, ver novos filmes, ler novos livros, ver novos jogos de futebol e gozar quantas vezes nos for possível. Isto é a vida. Novos tropeçoes e batidas da canela. Novos dentes a doer, novas brigas e novas palavras tortas.

É o que desejo a toda gente boa deste mundo. Sobrevivamos a mais esta nova etapa de diversão e non sense. Preferencialmente, sem tédio e sem gripe.

Escolhas alheias.

Finalizando com as escolhas alheias da semana, bem sugeridas por Fábio Jerônimo, amigo geminiano de velhos e velhos tempos, a bela canção You are my sister, de um tal de Antony & the Johnsons, algo que eu jamais vi ou ouvi até o presente momento. E creio mesmo que esta seção tenha mesmo esta boa utilidade. O vídeo conta com a participação do simpático Boy George, o qual, independentemente do julgamento que façamos de sua obra, foi um grande responsável pela aceitação que a comunidade gay obteve nas duas décadas seguintes.


Aguardemos, então, a próxima semana de escolhas, as quais, certamente, serão sempre bem interessantes.

46


Sempre apaixonado pelo colorido e pelas formas criativas do universo Looney Tunes, reconhecia em cada desenho animado uma trilha sonora das mais competentes. A abertura, sobretudo, é comovente. E se houver alguém que saiba, afinal, quem é o gênio criador desta overture, que me diga, por favor. Encontrei informações das mais desencontradas pela rede e, por hora, prefiro não arriscar. De qualquer forma, a vinheta é clássica e serve como um refresco atemporal para os meus ouvidos.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Escolhas alheias.



Outra das escolhas alheias, um vídeo dos australianos Nick Cave e Kylie Minogue, com a canção silenciosa Where the wild roses grow. E apenas um breve comentário masculino: Kylie Minogue é a mais bela cantora deste mundo? Não é certamente a melhor, mas ao rever o vídeo abaixo e alguns outros da australiana, peguei-me a ponderar sobre tão fundamental questão.


Grande bobagem a todo instante pairar entre dúvidas que envolvam comparações. Eu deveria abandoná-las em 2007. Vivo a comparar os sabores, os cheiros e as formas. Comparo canções e goles de café. Comparo mesmo as comparações que me pego fazendo. Mas, seja lá como for, a loura Kylie Minogue tem sorriso, olhar e braços que me permitem elegê-la como a mais bela cantora deste mundo, mesmo numa comparação que nem chego a fazer.





E, aproveitando a ocasião, um vídeo bem divertido, não obstante a canção absolutamente boba. Red Blooded Woman.


Projetos inúteis.



Todo início de ano, nos metemos a projetar uma vida que deverá ser repleta de sucesso, conforto e avanço. Matutamos e escolhemos, entre tantas possibilidades, o que fazer, o que deixar, o que mudar. Como sou um sujeito confuso, nem me arrisco a planejamentos, de qualquer espécie. Tantos são os caminhos, que melhor é seguir adiante, para o que der e vier. Porém, caro leitor, houve uma vez um projeto, destes que a gente elabora na primeira semana de janeiro, que bem foi cumprido e me trouxe um punhado de lucro. Defini, corajosamente, que era hora de ler todos os romances de Machado de Assis. E assim foi feito. Sei que alguns duvidarão dos meus lucros, naquele ano. Bem sei. Mas ao menos, ora bolas, sou hoje um sujeito que teve a graça de ler todos os benditos romances de Machado de Assis - mesmo que agora, quase dez anos depois, nem me lembre do que havia em metade deles.

Houve outra vez, uma decisão do tipo "este ano serei o mais ágil e empreendedor dos dramaturgos brasileiros". E nada fiz. Noutra vez me prometi correr semanalmente no parque da cidade e nem mesmo estive no parque da cidade em qualquer dia do ano. Em verdade, jamais fui. Não me prometo nada mais - ao menos, nada que me obrigue qualquer esforço que agrida a minha tão preciosa preguiça.

Faço então uma promessa pública, podendo ser achincalhado em praça pública se deixar de cumpri-la. Em 2007, lerei todas as trinta e tantas peças de William Shakespeare. O que em verdade é um desafio bem saboroso. Reler Hamlet, Machbeth e Romeu e Julieta. Conhecer, enfim, o texto de Henrique IV. Tão logo eu acabe de ler Pinóquio, inicio a tarefa, sem pressa e sabendo do quanto estarei melhor em dezembro.

Se algum leitor passar por aqui, por este trecho do texto, que se permita também uma promessa. Mas uma que pareça saborosa desde o começo - daquelas que a gente nem consegue mensurar o quanto nos fará bem.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

47

A 47ª canção, entre as cem que mais me comoveram nesta vida, é em verdade uma espécie de "identidade de gênero" do romantismo retratuzido e sobrevivente, o qual permanece cada vez menos apreciado neste novo século. Aliás, jamais ouvi esta canção sem associá-la a um tipo de resistência, carregando em seus versos uma delicadeza que soa quase estúpida, para alguns ouvidos, mas ainda forte e necessária em tempos de tanta rudeza. O Vagabundo, na interpretação adolescente e cheia de energia de Os Incríveis.



O Vagabundo

Um giramundo como eu
que vive a vida a procurar
alguém que siga o meu caminho
e veja tudo como eu

Se caminhando eu encontrar
alguém que pensa como eu
será o fim dessa estrada
e finalmente irei parar

Contando os dias esperarei
e de passo em passo eu procurarei
e acharei, acharei, acharei

Um vagabundo como eu
também merece ser feliz
pois eu só quero dessa vida
ter um amor somente meu

(Leva, Reverberi, Bardotti & Scomegna. Versão de George Freedman)

Escolhas alheias.

Seguindo com as escolhas alheias da semana, algo que agrada a todo bom sujeito de minha geração. Serge Gainsbourg e Jane Birkin com Ballade de Melody Nelson.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Give Yourself a Gift

Nova seção deste novo ano. E em inglês, não obstante a minha velha defesa aos direitos da Língua Portuguesa neste país analfabeto e gigantesco. Mas em inglês, assim, como um verso de canção da Madonna. Sempre que me der vontade, indicarei uns mimos que eventualmente fariam bem aos nossos quadros de aquisições. Não sou contra a troca de arquivos pela rede, muito pelo contrário. Mas eventualmente um DVD ou um CD originais fazem bem ao organismo. Ou algum tapete, uma camiseta ilustrada, um perfume...


Conto nos dedos aqueles que valorizam e gostam do cinema brasileiro. Tentei até convencer muita gente de que, proporcionalmente, nosso cinema é muito melhor que o americano. Anualmente quantos filmes são rodados por lá? Quantos valem alguma coisa? Uns dez por cento? E por aqui? Quantos merecem uma visitação? Uns 60 por cento? De qualquer maneira, Terra em Transe é um filme que - cada vez mais distante do contexto que o justificou, cada vez se mostra mais belo.

Mas caso o leitor não esteja ainda por dentro da coisa toda, vale uma visita ao Tempo Glauber. E, eventualmente à loja da Fnac.

Obs.: afinal de contas, esta seção será um eterno baú de vontades que o cartão de crédito nunca terminará de saciar. E nem haverá tanto crédito para um insano consumista esclarecido.

Escolhas Alheias.

A escolha alheia da vez é Tom Waits. E ainda hoje não sei o que penso sobre a obra de Tom Waits. Tem um aspecto bacana, um certo ar trovadoresco. E tem identidade, a mais importante qualidade de um artista - e chego à comparação improvável: Tom Waits é a americanização de Tom Zé. Ambos carregam na voz e na face uma resistência à comercialização estérica da arte. São vozes de alguma forma brutas, o que chega a ser um refresco de dissonâncias num mundo em que a indústria musical afinal continua a investir em clones de boca macia e olhares vazios. Acima, Hold On. Abaixo, agradável cena de Domino, filme de Tony Scott, com participação de Tom Waits, em mais uma caracterização excêntrica.


48

A 48ª canção daquela já sabida lista, faz-me ter até certa saudade de uns velhos tempos. Baby é canção de esperança, canção que nos dá a sensação de que algo cresce, se transforma, rapidamente à nossa volta. Para um adolescente empolgado como eu, Baby era uma espécie de convocação (como o foi também Alegria, Alegria) para um tipo de vida que exigia sofisticação e curiosidade. Os versos "você precisa, você precisa" soam como um convite/desafio de Caetano Veloso. E creio que, naquela minha adolescência de exuberâncias, compreendi o recado. Comprendi o chamamento para uma vida que não poderia ser mesquinha ou sem interesses... Ora, "você precisa" ser novo, um maluco experimentador. "Você precisa aprender inglês/Precisa aprender o que eu sei/E o que eu não sei mais ". Precisa ver e ouvir, integrar-se, permitir-se a experimentação mágica de "um sorvete". Uma canção que se comunica descaradamente com aquele que se dá conta da força que tem a poesia. E o incita a, no mímino, ter alguma esperança.



Gal Costa canta Baby

Você precisa saber da piscina, da
Margarina, da Carolina, da gasolina
Você precisa saber de mim
Baby, baby, eu sei que é assim
Baby, baby, eu sei que é assim
Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete, andar com gente
Me ver de perto.
Ouvir aquela canção do Roberto

Baby, baby, há quanto tempo
Baby, baby, há quanto tempo

Você precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais
Não sei, comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa, você precisa
Não sei, leia na minha camisa

Baby, baby, I love you
Baby, baby, I love you

(Caetano Veloso)

Escolhas alheias.

Depois de um breve, mas merecido descanso, numa praia de poucas ondas e muita gente quase nua, voltemos às postagens - com alguma novidade. Desejando alterar a lógica deste blog, a partir de hoje, os vídeos musicais, sempre que possível, serão escolhidos por algumas outras criaturas deste mundo. E que publiquem o que bem desejar. No máximo algum comentário meu, alguma indagação. Estou ligeiramente farto daquilo que eu sei - do tão pouco que sei. Os ouvidos e olhos alheios podem bem colaborar com algumas postagens que eu jamais pensaria em fazer.

Se houver algum imaginário leitor que deseje participar, encaminhe os "embed" ou os "links" de aproximadamente sete vídeos que bem o comovam. Serão publicados por toda a semana, independentemente do que for enviado.

O ano começa com as escolhas do amigo Fábio Jerônimo, cenógrafo astuto e meu eterno freguês de Winning Eleven. Ele não vence uma partida há aproximadamente 63 anos. Há uma lenda chinesa que diz "o inimigo vencerá quando o ano do Javali vier. Mas vencerá com um gol contra e duas penalidades máximas".

Comecemos com um belíssimo vídeo de uma banda que eu apenas sei que existe, sem jamais me dar conta de ouvir. Placebo e a canção Special Needs. Me parece, como todas as outras destes novos tempos, desnutrida. Todos são uns magrelas desnutridos. Nunca se vê um que nos pareça bem alimentado, com bochechas e olhos brilhantes. Paul McCartney e John Lennon me pareciam bem alimentados. Até Elvis parecia um sujeito que bem se servia de um bom prato de feijão e toucinho. Outro dia citei Tim Maia. Este se alimentava além da conta e acabou sucumbindo. Mas se até Roberth Smith, branquelo e frágil feito uma velha albanesa, rebolava com bochechas sadias naqueles tempos de The Cure! Hoje todos me parecem magros em demasia. Thom Yorke, genial anorético, não deve gostar de chafurdar o rosto numa gigante melancia. Deve odiar um mingau de Neston. Nem o imagino desesperado por uma manga. Sim, a música anda mesmo sem fome. Todos têm certamente muita comida pra comer. Mas são todos estranhamente magros. Uma magreza infinitamente superior àquela dos anos 70.

O que não significa dizer que tudo é mesmo uma grande porcaria. É magro, apenas. E bom, na medida em que pode ser bom algo que a muito custo se sustenta de tão magro.