sábado, março 03, 2007

Férias e Cassino.


Outra semana de férias se esvai. Mas como poderia reclamar de uma semana que se esvai com tantos divertimentos? E se esvai, é verdade, como um gole de uísque e um bom cigarro que se fuma de madrugada. Como reclamar de uma semana em que vejo Cassino e New York, New York? Alguém até poderia questionar algo como "ora, você poderia bem ver qualquer um filme em qualquer época do ano". Eu responderia, apenas: New York, New York às 4 da manhã é bem mais interessante. Enquanto o mundo acorda, eu me regozijo.

A 24ª canção.

A Fantasia n.º 02 de Villa-Lobos seria a ocupante da 24ª posição naquela tal lista pessoal. No entanto, tenho em vinil a canção e as ocupações cotidianas me impedem de... Ouçamos, como compensação, Andrés Segovia interpretanto um estudo de violão de Heitor Villa-Lobos - o topo musical dessa gente brasileira. Creio que a compensação é justa, até certo ponto.

Escolhas alheias.


Nelson Cavaquinho fez, Cazuza gravou e Luz Negra é a escolhida pela bela e bela Fernanda. Convenhamos que foi realmente uma baita escolha.

sexta-feira, março 02, 2007

Gene Kelly?


As fotos de Tori Praver são enternecedoras. São, como poderíamos definir, grande ternura aos olhos. Não que os nossos olhos andem precisando de colírios - ultimamente os colírios abundam! Mas nunca posso me desassociar de uma certa idéia: beleza! - e nem digo da beleza fotográfica, mas da beleza epidêmica - beleza é arte. Arte como qualquer outra arte que exija algum talento, alguma vocação e algum esforço.


Para algumas imagens da americana Tori Praver, modelo da Guess? Models, visite galerias aqui, aqui e aqui.

Escolhas alheias.

Seguindo com as escolhas alheias da semana, Bowie e Tina Turner e uma esfuziante interpretação de Let's Dance.

O tempo relativo.

Neste exato momento o relógio mostra 23h46min. Em alguns minutos, chegaremos todos, os bons e os maus, a mais uma segunda-feira. Mas o blog andou sem movimento - uma vez que há tanto o que se fazer quando se está de férias. Espero eu, se a preguiça não me tomar nas próximas horas, atualizar o que for possível.

A diretoria.


Não vi ou não me lembro de ter visto. Tento me lembrar e acabo caindo em A missão, filme símbolo de todos os filmes que tentam retratar portugueses e espanhóis naqueles séculos de colonização mal feita. Mas deve ser, 1492: Conquest of Paradise, um filme até instrutivo para alunos da 8ª série. Ou pode ser que seja um bom filme - não obstante o fato de ter plenamente sido deletado dos meus arquivos cerebrais. Tento me lembrar de Depardieu como Colombo mas só me vem o grande Cyrano. E de Sigourney Weaver, aquelas metralhadoras e alienígenas com baba ácida. Abaixo, o tema musical do filme com cenas diversas. E se, afinal de contas, eu não o vi, melhor não ver - que eu não tenho lá muita paciência para histórias contadas com plumas, inverdades e mitificação de mercenários e genocidas. Ou estarei sendo preconceituoso com a obra de Ridley Scott? E nela Cristovão Colombo levava toda a ambição de papas, pouco preocupados com a alma e suas elevações?

Histórias podem ser bem ou mal contadas, podem ser desagradáveis ou feias, tediosas ou estúpidas. Podem ser muito, menos desonestas. A desonestidade transforma a arte em negócio - e esta é outra arte, bem diferente.


quinta-feira, março 01, 2007

Escolhas alheias.

Joni Mitchell era um fenômeno. Instrumentos, voz, canções, letras e cabelos. Grande nome da música. Escolha alheia da vez, Joni Mitchell parece ainda mais tocar às mulheres - um tipo de comunicação direta, como os bons homens a tem com o amigo Frank Sinatra. Não me lembro de ter conhecido qualquer mulher nesta vida que ouvisse Frank Sinatra com obsessão. Ouvem até Dean Martin e Sammy Davis Jr. Mas Sinatra é coisa pra macho. O que não impede, uma verdadeira apreciação dos alheios. Tal qual a que tenho por Joni Mitchell, a qual suponho estar entre as cinco grandes louras da música. Abaixo, apreciemos California.


E como a escolhedora da vez é uma linda menina, merecedora de tantas oferendas, dedico-lhe mais dois vídeos de Joni Mitchell. Primeiro, Big Yellow Taxi, em clássica apresentação em Woodstock, em 1970.


E, afinal, Blue. Clássico de Joni Mitchell, num vídeo com passagens em que a compositora nos conta da criação de tão melancólica melodia.

23


Eu era pequeno e não havia ainda sido contaminado pelo pessimismo ou pelo cinismo. Era pequeno e nada mais. Meu cachorro, meus pais, o quintal da casa, uns certos brinquedos, as bisnaguinhas com geléia de uva. Eu era pequeno e me espantava com a tristeza do mundo. Por que havia então a tristeza? Por que havia a solidão ou o choro? Hoje eu sei que o ser humano gosta de apanhar e de bater. Mas naqueles anos gigantes - tudo me parecia demorar uma infinidade - eu assistia sempre um tal seriado e em cada final de capítulo, a mesma música, o mesmo personagem entristecido, em diferentes estradas que levariam a novos mundos, sem intolerância e sem desordem. No entanto, a cada capítulo, um outro complexo e decadente mundo surgia.

Como resultado, o Homem racional, científico, educado, transforma-se na fera. Transforma-se no monstro - tão raivoso quanto infantil. Como um cão ou como um urso. E diz a sabedoria que a vida boa se leva quando o homem aprisiona o monstro, dele se utilizando quando o bom senso pede. Aquele personagem que sempre se perdia em bestialidade e força - jamais porém se tornando mau - queria aprisonar o monstro que dele se nascia. E nunca o conseguiria, uma vez que a vida sempre nos põe à prova.

Na 23ª colocação entre as cem músicas que mais me comoveram nesta vida de aprisionamentos e fugas, o denominado Tema do homem solitário, ou The Lonely man, do pianista Joseph Harnell. Soa um tanto piégas, é bem verdade, mas meus ouvidos reconhecem nela um tipo de fatalidade e sofrimento que sempre me pareceram apaixonantes. Ou como poderia bem esclarecer, é a Marcha Fúnebre da integridade humana.


Acima, Bill Bixby, falecido em 1993. E no detalhe, verde, Lou Ferrigno.

Que dia?

Em férias, me perco na desordem do tempo. Nunca sei as horas. Nunca sei exatamente o dia da semana. Me desassocio de tudo o que tem havido. Não leio os jornais, que há alguns dias vem se acumulando, sem que eu tivesse qualquer vontade de saber do mundo. Em verdade, não tenho agora férias melhores tão somente porque não me veio uma forte amnésia. Nossas férias deveriam ser acompanhadas de uma amnésia que durasse exatamente trinta dias. Não deveríamos nos lembrar de que há coisas que devem ser pagas, que muito deve ser feito. Não deveríamos - quando seria apenas o momento de se dedicar ao ócio purificador, aos divertimentos frívolos, ao sono jamais durmido, ao tédio provocador de idéias.

Mas não nos deixa a cabeça aquela infinidade de números, de gente que se conhece, de planos para o futuro e o risco que a gente corre diariamente. Deveríamos, em pleno gozo de férias, nos alienarmos a ponto de esquecermos o próprio nome.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Pés.

Coletânea divertida de gols e jogadas interessantes. De Ronaldo a Maradona, de Seedorf a Roberto Baggio.

Escolhas alheias.

Seguindo com as escolhas alheias da semana, Aerosmith e a melodiosa I don't wanna miss a thing.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Jazz, jazz.


Por acaso, quando procurava por Billy Eckstine, encontrei Herman Leonard, legendário fotógrafo do jazz americano. Para começar o deleite, uma ótima galeria e, para bem mais, seu sítio oficial.

25


Sabe quando a gente mete na cabeça um certo desafio - mas como a preguiça e as circunstâncias nos são contrárias, legamos o desafio para a próxima década? A 25ª canção entre as minhas cem preferidas me é um desafio. Canção dificílima de se cantar bem, sobretudo levando-a no violão. Arriscaria dizer que, em seu gênero, é a mais difícil. Mas um dia eu me apegarei a ela, desvendarei cada respiração e nota. Aos 50 anos, me prometo interpretá-la com dignidade. Até lá terei bastante tempo para treinar. Por enquanto, portanto, ouçamos I apologize na interpretação de Billy Eckstine. Canção de um tempo em que os cantores cantavam coisas que não se cantam em qualquer chuveiro.



I apologize

If I told a lie, if I made you cry
When I said goodbye, I'm sorry
From the bottom of my heart, dear
I apologize

If I caused you pain, I know I'm to blame
Must have been insane, believe me
From the bottom of my heart, dear
I apologize

I realize I've been unfair to you
Please let me make amends
Don't say that you forgot the love we knew
After all, we were more than friends

Give me back your glance, give me back romance
Give me one more chance, forgive me
From the bottom of my heart, dear
I apologize

If I made you blue, I've had heartaches too
Now I beg of you, forgive me
From the bottom of my heart, dear
I apologize

Escolhas alheias.

As escolhas alheias da semana são daquela cujas escolhas profundamente me importam. Minha mulher, Fernanda, finalmente, atendeu ao meu chamado e participou um pouco desta minha brincadeira editorial. Digo sempre a ela que isto é como brincar de rabiscar no papel, um exercício sem fim específico. No fundo, sei bem, ela me compreende. Sabe bem o quanto um homem preserva sua infância em funções diversas. Aliás, a ocasião me permite dizer que somos mesmo moleques e descaradamente nos divertimos com videogames, cócegas na cama e videokê de bolero. Só ficamos sérios se a hora é de briga - e aí a coisa é delicadamente feia.

Mas amor bom é assim, cada um diverte o outro e o ajuda a levar a vida, o ajuda a enfrentar o tédio e o imponderável. Poderia até dizer, parafraseando alguém, que viver é bom, mas viver com uma bela mulher que faz uma lasanha de berinjela maravilhosa é bem melhor.

Comecemos a semana com Elis Regina em estupenda interpretação de Me deixas louca.

domingo, fevereiro 25, 2007

Crônica Dominical

Estou de férias. Tentando arrumar o escritório e tomando fôlego para escrever um novo texto. Mas sem muita obstinação. Que há tarefas deliciosas para se fazer, diariamente. Há o que se fazer, de bom, de útil, sem que eu me veja lá muito disposto a dedicar horas de meu dia a buscar por um drama que nem se sabe quando será montado.

O escritor de teatro é o único que depende de específicos leitores, das condições e produções e mais um número absurdo de relações que podem, enfim, levar seu texto aos palcos. O poeta só precisa de olhos. Os romancistas só precisam dos olhos e de certa disponibilidade. Contistas, cronistas e todos os demais almejam o livro, objeto, a concretizar em matéria, finalmente, as idéias pensadas. O dramaturgo precisa de gente, atores, atrizes, diretores e gente que se empenhe nesta tarefa maravilhosa, mas pouco rentável de levantar uma produção.

Tudo começa aqui, na cabeça distraída do escritor, o qual em dramas tenta entender ou decodificar o mundo e seus desacertos. Tudo começa na idéia pequena, bem pequena, do dramaturgo, que vislumbra uma imagem. Meses depois, anos ou décadas depois - séculos até - o espectador na platéia apreende a coisa toda, trabalho de muitos, vê e sente o que muitas vezes somente o autor sabe bem como começou.

Tenho aqui na mente uma ou outra idéia. Pequenas, pequeninas, que poderiam até se tornar um dia a grande imagem no palco, iluminada para os olhos de todos que a notam, atentos. Tenho idéias, mas não me vejo cercado de paixão pelo teatro... Mas o que me perturba sempre é uma certa quimera que evetualmente contamina os escritores: a atemporalidade da obra. Acredita-se que a obra hoje feita, até de certo modo desprezada, discreta, pode bem vir a ser importante ou adorada noutra época. Um texto escrito em 1997 pode bem ser montado em 2043, tal qual hoje se monta Eugene O'Neill ou Nelson Rodrigues.

Crê-se que a obra tem, depois de pronta, boa longevidade, que pode despertar a atenção depois, num ambiente diferente, em outras gerações de eleitores. Todo os escritores se apegam a isso, sustentam sua sempre opaca esperança no futuro que a obra terá. Há aqueles que vivem de seus livros ou tenham apenas o agora como finalidade. Mas para a grande maioria, kafkas como eu, resta crer na sua obra, dedicar-lhe todo o possível suor, ajustar-lhe em tudo, justificando-lhe a vida.

E saber talvez que o drama escrito agora, neste março de 2007, pode bem ser a coqueluche do verão seguinte. Sem esta confiança, caro leitor, não haveria a arte - e não haveria a arte que se faz nas sombras, longe das convenções que o Mercado ou o bom senso acabam por ditar.