sábado, setembro 01, 2007

Nada a dizer.


Costuma-se proclamar, a toda hora, que é bem difícil a quase toda criatura dizer um simples "não sei", o que seria indicativo de ignorância e tudo o mais. Eu, cá no meu canto, já disse "não sei", tomado de alguma vergonha, e já disse "não sei", tomado de certeza e nenhum incômodo. Mas a mim, eu que sempre sou de declarar, incomoda mais a hora de "nada tenho a dizer". Sim, pois me parece uma certa obrigação que, num mundo tão devasso e complexo, em sociedade tão cheia de defeitos e num mundo de tantas belezas e contrariedades, eu simplesmente sussurre um "hoje nada tenho a dizer". Sim, pois com a recordação de um poema de Brecht que dizia algo como ser vergonhoso falar de flores em tempos de guerra, considero vergonhoso nada ter o que dizer neste século de graves disparidades.

Mas mesmo assim, tomado de algum frágil acanhamento, sou obrigado a dizer que, hoje, realmente nada tenho a dizer. E que eu possa me dar algum perdão, noutra hora.

sexta-feira, agosto 31, 2007

A importância da leitura.


Passa dia, passa mês, passa ano, passa vida, mais o mundo corre, mais esta sociedade ganha novos ares, com tecnologia e miséria coexistindo aos montes, mais é necessário se entregar à leitura de clássicos livros, de romances que investigaram esta coisa esquisita que é o ser humano. Mesmo que nesta internet muito se possa ver, muito se possa conhecer, e mesmo que a televisão nos dê muita informação, por meio de seus bem barbeados jornalistas e comunicadores, todos sempre bem barbeados!, e mesmo, por fim, que se leia os jornais todos, sobretudo aqueles de muitas páginas e farto peso e colaboradores distindos e notórios, nada nos faz tão bem, nem por uma única fração, quanto à leitura de um grande e maravilhoso livro.

Vez ou outra, queixam-se a mim, este professor de língua portuguesa não-praticante, das dificuldades com a escrita e de como não é fácil se escrever e isso e aquilo, mas eu não tenho mesmo qualquer outra resposta, além desta: leia, ó criatura de olhos cerrados! Tão bem nos faz, por nos aprimorar a crítica, o pensamento, a escrita e a leitura seguinte, e nos dando, em acúmulo, mais e mais consciência para a compreensão de todo este mundo externo - uma vez que o interno, sei não se é compreensível, seja porque via.

E ainda há o prazer - um duplo prazer, de se regozijar com a história e com a simples dificuldade vencida de se ler uma obra que nos ofereceu dificuldades e questionamentos dos mais diversos. Na semana passada, tive a delícia de ler Ivanhoé, romance estonteante de Walter Scott, maravilha com Robin Hood e Ricardo Coração de Leão. Nesta semana, O Asno de Ouro, obra de Apuleio, um dos mais interessantes e engraçados livros da história da literatura, alegrando leitores desde o século primeiro depois do surgimento daquele tal Cristo nazareno. Mas não estou, ó meus imaginários leitores, a fazer disso qualquer auto-elogio. Apenas posso afimar que, pelo prazer obtido, venci os bobos obstáculos que me cercavam.

Entrentanto, a verdade seja reafirmada: pareço um pobre Quixote, a defender a leitura, neste país de muita preguiça e hipocrisia. Tanta gente vive a arrotar que isso e aquilo, alguns inclusives, para a minha mágoa, professores de português, também incapazes de se dedicar à leitura! E alguns, com força de bradar que são espertos, repuldiam a leitura, como se esta fosse mesmo tarefa de desocupados e ociosos.

E sem o propósito de me repetir, uma vez que já escrevi tal coisa uma centena de vezes, termino a conversa, que hoje é sexta-feira e não quero rancor intelectual, sendo melhor ter resignação onde deveria haver inconformidade. Assim, recomendo hoje a leitura dos livros abaixo, disponíveis para download. Apesar de, naturalmente, recomendar a leitura em papel, por centenas de motivos. Mas que o custo da aquisição de um livro, para aqueles de bolso vazio, não sirva de desculpa.

A foto acima é de Visconde de Taunay, bravo escritor do delicioso Inocência. Para baixar esta obra realmente agradável, clique aqui.


Um romance de cavalaria fabuloso é Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano. Para baixá-lo, clique aqui.


Por fim, se o leitor desejar mistério e suspense, com linguagem mais acessível, conheça o gênio João do Rio e o seu fundamental Dentro da Noite. Aqui.

Obs.: ainda, se houver inocente que não saiba, há uma coisa chamada e-book, livros para serem baixados. O Igler e o Livro para Todos são dois bons exemplos.

quinta-feira, agosto 30, 2007

15


Ocupando a 15ª posição entre as cem canções que mais me comoveram nesta vida de poucos rumos, Mr. Acker Bilk e a espetacular Strange on the Shore. Nem mesmo Átila, o huno, ou o Maníaco do Parque ou ainda o terrível Eurico Miranda seriam capazes de não se enternecer com tal melodia. Seria preciso muita surdez (dos tipos possíveis de surdez que acomentem à alma humana) para não permitir alguma apreciação desta obra-prima do século XX.


Dance, sobrevivente.


Gloria Gaynor e a simpática I will survive. Para o delírio de alguns de meus imaginários leitores. Sobretudo aqueles de gosto fácil pelo rebolado.

E a beleza prevalece.

    
 
Depois da acachapante beleza de Scarlet Johanson, a nova coqueluche estética do momento é Megan Fox, atriz de Transformers, filme que a minha curiosidade não me permitiu ainda ver. E cujo trailer abaixo eu coloco. Mas como o interesse dos calilatras (expressão esta explicada há alguns meses) é sempre pela mais bela, jamais deixaríamos de notar os evidentes dotes que Megan Fox tem em seus lábios, olhos e por todo o conjunto de sua graciosa face. Em seu sítio oficial, o meu imaginário leitor poderá encontrar punhados de imagens desta tão deleitosa figura e comprovar que a moça, sejá lá por qual possível julgamento, tem beleza além do comum.


quarta-feira, agosto 29, 2007

Altas imagens.


No Artcyclopedia, em MasterScans, 284 imagens em grande tamanho. Acima, Salvador Dali e sua obra Muchacha en la ventana. E cada vez mais a rede me fascina: o que não é possível ver na tela Samsung que se encontra diante dos meus olhos? E para aquele que venera a arte, muito regozijo há.

Masterpiece e a tradição das cartas.


Ontem, minha beatífica mulher completou vinte e dois outonos, o que me motivou a escrever-lhe, segundo a minha tradição de devoção e respeito, a anual carta em que digo de meus sinceros desejos e esquadrinho o momento em que vivemos. Tal carta, extensa sem demasia, é guardada, creio bem, junto às demais cartas de anos anteriores, nalgum secreto baú em lugar não sabido e incerto. Não creio que haja tão interessante modo de se mostrar respeito a alguma criatura de valor que lhe ofertar uma sincera missiva. Mas nestes tempos de analfabetismo crônico e preguiça intelectual por parte de grande parte da humanidade, creio eu que muitas moças ganham de seus amantes tão somente um presente e um abraço de forte aperto - se tanto.

Ora, uerba uolant, scripta manet, já bem sabemos, há um bom punhado de séculos! Dizer que se quer bem, que se espera isto ou aquilo, que, conforme nos diz aquela clássica canção de Eden Ahbez, "the greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return". Dizer é fácil, é um abrir de lábios e as palavras com o oxigênio ganham os ouvidos alheios em furiosa velocidade. Mas escrever é se dedicar, escolher melhores termos, encontrar filosofia naquilo que se vive e é permitir, sem receio, que aquilo que se afirmou ganhe uma quase eternidade, podendo servir de ridículo ou orgulho em algumas décadas.

Há algumas décadas, aliás, desde os primeiros e desencontrados amores, escrevo cartas. E algumas, poderosamente imbecis, continuam talvez nalguma gaveta jamais arrumada. Outras, talvez, cujo meu punho deu-lhes melhor valor, transformando-as em lirismo de razoável qualidade, já talvez estejam amareladas, mordiscadas por traças, e em breve ganharão a lata do lixo - do que não posso, aliás, reclamar. Se para o lixo foram os relacionamentos, que qualquer lembranças destes mesmos relacionamentos, ganhem também o mesmo destino, se for a vontade da parte interessada.

E, assim, por este mesmo risco, de perpetuar uma ilusão que se sentia, uma amor cuja sorte fôra logo malograda, por este risco de dar a alguém - algumas imerecedoras, aliás - um testemunho escrito daquilo que lhe era caro, não vejo mais desafiadora prova, nestes tempos melífluos e inconstantes, de carinho e dedicação que a produção de valorosa carta.

No entanto, alguns de meus imaginários leitores, etéreos e disformes, devem se queixar de minha tão honesta proposta. E seria evidente que, aqueles a quem o mundo privou dos talentos para a escrita, que é incapaz de colocar em versos aquilo que se sente, que vá procurar um modo seu, pessoal, de expressar seu sentimento. Mas que seja um modo em que se afiance, com assinatura e data, o que se sente. Pois o tempo passa, numa velocidade de nos atordoar, e leva consigo todas as poeiras do chão. Quem jamais se perguntou: como pude gostar daquela, daquele? Como pude sentir tal coisa neste peito hoje tão diverso? Nós nos mudamos, constantemente. Mas tudo o que se viveu, de qualquer modo, nos vale muito, por todo o sempre.

Obs.: Acima, Betty de Gerhard Richter. Maravilhosa imagem retirada da página MasterScans, da Artcyclopedia. Página da qual falarei mais tarde, com o pretexto de postar novas imagens e deixar meu tão humilde blog bem mais bonito.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Um teste.

Somente hoje notei que havia neste Blogspot querido a possibilidade de postar vídeos direto do meu PC. Uma novidade bem recente, creio eu. O que seria, de qualquer modo, uma revolução, sendo que eu não mais dependeria sempre do Youtube, do iLife, do Dailymotion e de sei lá mais quem. Um teste, o qual trazendo alguma alegria, servirá-me para um novo tempo na postagem de divertidas mídias. E o teste vem com The Beatles e o clássico A Day in Life.

Clássicas imagens.



Estava eu peregrinando pela internet, sem lenço e documento, quando deparei-me novamente com o glorioso Cover Browser. E nesta maravilhosa página, a qual reúne capas de milhares de revistas e gibis, dos mais variados estilos e épocas, acabei por encontrar todas as capas de Girls' Romances, antiga revistinha da DC para as moças de bom coração, com historietas apaixonadas. Das histórias, nenhum julgamento faço. Mas das capas, arre!, uma mais magnífica que a outra. Tanto que eu fiquei alucinado, sem saber o que colocar por aqui. Vale a visita: pura arte.

Um pouco mais.

Um pouco mais interessante é Cult of personality, do extinto Living Colour. Coisa do ano de 1989 - quando eu chegava aos quinze outonos. Boa música e bastante simpatia nostálgica.


Mais ou menos.

Pensava eu se deveria dedicar esta semana toda a alguma único artista ou tema e, não tendo encontrado conclusão, começo sem muito esforço. Cindy Lauper e Time after time. Divertido, mas não chega a comover os meus ouvidos.


Lamúrios, lamúrios.

Depois de um final de semana fracassado, chato, desconexo, infértil, resta-me desejar por melhor sorte nesta nova semana de agosto. E meus leitores inexistentes, cuja etérea forma não lhes permite dar opinião, clicando com o rato ou escrevendo com o teclado, bem poderiam tecer os seus relatos sobre o que lhes tem acontecido por estes dias de nenhuma graça. Assim, saberia eu, que não sou o único a sofrer dos dissabores cotidianos cujos epicentros sempre se dão aos sábados, quando seria hora de se esvair em gozo nalguma orgia, conforme expressão antiga, a qual designava a festa em que todos se esbaldavam.

Aliás, disto me vem um certo pensamento, o qual vem me torturando há mais de vinte anos: existirá um tempo grande de fertilidade, de muita satisfação, para a vida que tem sido de fartas esperanças? Pois eu me lembro de alguns versos de um antigo poema, o qual se referia àquele Dom Sebastião. Digo, não me lembro mais, com exatidão de palavras, mas ficou em mim a sensação certa do que sinto agora. Com a ligeira diferença: não espero por salvadores, espero por um tempo de fartura, sem desencontros e de muito vinho derramado pelo canto da boca.

Ademais, já me disseram que a vida não é feita apenas de sufoco, trabalho e pagamentos. E que chegará a hora da colheita... Ora, falo em incógnitas e é bem capaz de meus imaginários leitores, os quais também não possuem olhos, nada compreenderem dos meus tão complexos pensamentos. E londe de ser um esquizofrênico, desejo ao leitor que a sua compreensão seja pelo menos razoável destas angústias de um sujeito a pensar no século XXI. A vida, o destino, o mundo ou sei lá que porcaria de essência, bem poderia oferecer-me, assim sem muito aviso, uns momentos de inacreditável fúria e regozijo.

Mas que venha de graça. Isto de tudo ter um preço é algo que me desagrada profundamente. Ó santo protetor dos ateus, que para o melhor da vida eu tenho bem me preparado, revelo-te um certo desejo - de muita humildade e devoção: permita-me que eu, este trabalhador honesto, intelectual dedicado à literatura, bom esposo de ciúmes e carinhos, ateu sem pregações e sem par com o louvor de salafrários, tenha lá os meus dias de nababo, de Casanova que não se ocupa em iludibriar a ignorância alheia - que isto mesmo não me apetece. Que tudo o que eu ganhe, de mais profano, seja ganho na mais ampla verdade de minhas palavras.

E em tantos paradoxos, outro mais me aborrece: se sou honesto e sincero, como posso conquistar alguma coisa que no mundo apenas se conquista com conversa-mole e grandes e coloridas mentiras? Se aqueles que conheço, cuja mania de ser sincero nada lhes tem trazido além de profundas mágoas e aqueles de língua esperta e cara-de-pau vivem a saborear do mel certo de algumas plantas? Não sei mesmo qual o acerto das coisas e me resta então acreditar, tão ateu que sou, no paraíso de mil virgens e fartas ambrosias.