sábado, agosto 05, 2006

Fast Week.


A semana acabou e vejam a estampa que lhe dei. Muitas idéias, mas o meu tempo me parece curto, cada vez mais curto. Os dias correm feito um guepardo de muita fome. No entanto, num esforço agradabilíssimo, mantive a semana recheada de boas coisas. Quiçá a semana seguinte ainda nos permita alguns instantes de divertimentos elegantes e frívolos. Quiçá!

sexta-feira, agosto 04, 2006

Não bata a cabeça no monitor.

Hoje, meu irmão calilatra, o talentoso diretor de teatro, David Rock, dedicou-me uma postagem, sabedor da minha apreciação quase obsessiva pelos tais personagens da Marvel Comics. Em retribuição, como não sou de poupar homenagem quando de fato devo uma, já lhe apresento um vídeo que é pra ele se sentir homenageado pelos próximos seis anos. Elvis, bem pouco tempo antes de sua morte, profetiza Unchained Melody, ao vivo, num teatro enorme. Aliás, David vive se gabando por ter ido a uma porção de shows de bandas das mais diversas. Deveria mesmo é se gabar garantido se tivesse estado lá, vendo e ouvindo os últimos cantos de um sujeito que nada mais é do que a voz materializada de algum deus.

Calilatra.


Sou um calilatra. Sejamos todos! "Calilatria" não está em dicionários. Aliás, se houver algum bom entendedor de grego entre os meus inúmeros leitores, faça-me o favor de indicar se a forma do termo está correta... Há algum tempo cunhei este termo para explicar a paixão que eu tenho pelo que é belo. Uma adoração à beleza de todas as coisas. E que todos saibam: a beleza é o patrimônio único dos românticos. Seja a beleza que há nos focinhos gelados dos cães, seja a beleza que há em um verso como "pisava nos astros distraída". E da mesma maneira, com igual intensidade, odiemos tudo aquilo que é violento e destrói a harmonia que deveria existir em cada canto deste planeta. Hoje mesmo tive o dissabor de ler matéria sobre a prisão de mais uma besta quadrada que esfaqueava gente sem o menor pudor. Bom, resta-nos saber que este mesmo assassino ficará preso em algum de nossos "eficientes" presídios por algum tempo. O infeliz mata e fere e agora todos nós, vermes que pagam impostos, o sustentaremos e lhe daremos bons pratos de comida e oportunidades para que se drogue e jogue emocionantes partidas de futebol com os colegas. Não estou aqui declarando que defendo a pena de morte - mas deveríamos inventar alguma pena um pouco mais justa. Talvez a lobotomia, talvez o congelamento dos pés, talvez trabalhos forçados na Antártida. Sei lá. Mas que algo me parece errado, parece. Para aliviar a nossa tensão, visite o famigerado Calendário Pirelli. Em seu sítio oficial, ou aqui, outra boa galeria. Como eu tenho sempre dito "lutemos pelo que ainda nos resta de elegância, ou a feiúra e a violência tomarão os nossos dias pela eternidade...".

quinta-feira, agosto 03, 2006

Típico de quintas-feiras.


Bjork canta Hidden Place, em belas imagens.

King Kong e o verdadeiro monstro.




Jill Greenberg é um baita fotógrafo. Faz fotografia de macacos e outras, assustadoras, que não ouso mostrar aqui. Conheça o seu extravagante e ótimo trabalho aqui.

Cabeças falantes.


Uma música perfeita. Talkings Heads e a lúcida Road To Nowhere.

Certa soberba.

Caros leitores. Por vezes me sinto um Van Gogh. Um merda. E que por sorte serei lembrado por alguns netos como um escritor que nunca leu ou lerá. Noutras me vejo um Picasso, homem de estonteantes mulheres e profunda excentricidade, admirado e invejado. Noutras me sinto tão somente uma barata kafkania, que todos os dias "pensa na vida pra levar" e se cala com a boca de feijão. Neste momento mesmo, sinto-me tomado por uma empáfia de monarca francês. Coisa assim. Há menos de duas semanas publiquei aqui, o primeiro ato de Aiana tem gosto de uva, meu último drama. E publiquei apenas o primeiro ato, não tendo a menor idéia de quando publicarei as demais cenas. Porém, para meu espanto, minha leitora e amiga Ale Valese apresentou hoje uma versão em espanhol: Aiana tiene gusto de uva. Uau! Meu primeiro texto teatral em espanhol - eu outrora tive uma canção e uma música vertidos para a língua dos mexicanos por outras tradutoras. Tão raras nesta existência são as horas de gozo, como não me inflar de altivez? E como comemoração inauguro o link Literatura Rodriana, página onde estarão os textos que não caberiam inteiros na Revista. Clique abaixo e confira.


E se alguém desejar traduzir Aiana tem gosto de uva para o aramaico, me avise.

Escreva mais e melhor.

Alguns leitores talvez ainda não saibam. Mas, entre outras coisas, sou um professor... E já tive todas aquelas cretinas experiências que um docente tem ao se dedicar a esta profissão tão dolorosa. Sou formado pela amiga USP e desde os meus tempos universitários eu já conheço bem aquelas... Ora, alguém ainda crê que a educação deste país possa transformar-se em algo minimamente útil? Eu confesso a todos: admiro muito quem ainda, quixotescamente, acredita na salvação... seja lá do que for. Mas antes que me condenem, novamente informo: desesperançado, sempre. Apático, jamais. Este humilde blog mesmo tem lá alguma função cultural. E condena todo e qualquer tipo de vulgaridade. "A beleza é a salvação dos miseráveis", já diria algum filósofo apreciador de estética e história. Abaixo, motivado talvez por um sopro de nostagia, apresento-lhes algumas obviedades, escritas para responder uma recorrente pergunta: "como aprendo a escrever melhor?". Talvez sirva a algum jovem inocente.

1. Leia mais e melhor. Experimente: a cada mês, escolha um clássico da Literatura nacional. Em seis meses, perceberá surpreendentes resultados. Revistas, alguns jornais e, sobretudo, literatura duvidosa, não contribuem em nada para o desenvolvimento de sua escrita. Leia os clássicos.

2. Não se desespere. Leia com calma e saboreie cada passagem. Perceba a forma, mais que o conteúdo. Uma página de Guimarães Rosa vale mais que toda a obra de... Deixemos os nomes. Não devo perder meu tempo citando o que não me agrada.

3. Leia poesia. Fernando Pessoa, Mário de Andrade e Manuel Bandeira nos ensinam mais sobre a Língua Portuguesa que qualquer professor. Em alguns casos, uma vírgula de Drummond ensina mais que dez professores.

4. Freqüentemente, escreva cartas ou mensagens eletrônicas para amigos, ou para a pessoa amada, ou para o amante, ou para desconhecidos. Mas não economize nas palavras. Expresse-se. Filosofe. Crie um tratado de volúpia. Ou escreva do ódio, das andanças. Ou simplesmente relate elegantemente a sua última miragem...

5. Estude outra língua românica: espanhol, italiano, francês ou romeno. Ou Latim.

6. Não acredite em fórmulas mágicas ou que cursos rápidos transformarão a sua escrita. O que funciona é prática e constante leitura. Apenas.

7. Apenas confie no Acordo Ortográfico vigente, em bons dicionários e em Gramáticas. Não se meta a tirar suas dúvidas com qualquer criatura. Muitos acreditam saber e pouco sabem. Aliás, quem não tem dicionário em casa pode certamente ser daqueles que cometem gafes dissolutas...

8. Veja filmes com legenda, por favor.

9. Faça Palavras Cruzadas.

Em breve, apresentarei alguns textos, roteiros de aulas ou ensaios. Alguma coisa sobre vírgulas ou metáforas ou paragrafação. Qualquer coisa. Há muito o que se dizer... Talvez.

quarta-feira, agosto 02, 2006

A jóia russa.


Anna Netrebko é uma beleza de cantora, em diversos aspectos, como podem notar, aqueles que tiverem olhos e ouvidos. Conheça-a clicando em seu nome ou neste outro ótimo sítio. Neste vídeo muito bem produzido, a moça canta ária da ópera Fausto, de Charles Gonoud.


Anos dourados.


As graciosas Pin Ups de Pearl Frush. Caso o imaginário leitor deseje conhecer novos desenhos, selecionei duas boas galerias: aqui ou aqui. No entanto, devo dizer que em consulta ao oráculo Google, encontrei um número inacreditável de sítios em que podemos ver a obra de Pearl Frush.

Livro de Sebo

Nos tempos de Cícero e Sêneca, havia pouco mais de 1% de alfabetizados, mesmo entre aqueles considerados “cidadãos”. Roma, apesar de certa revolução educacional - que indicaria os rumos tomados (um milênio e meio depois) pelos gênios do Renascimento, não possuía tantos leitores como se presume. Tal cenário não era tão diferente na ainda mais antiga Grécia de Ésquilo. E, depois, durante toda a Idade Média, os níveis de alfabetização foram ainda piores. A Leitura, como elemento fundamental para o desenvolvimento crítico e intelectual de um indivíduo ou sociedade sempre esteve nas mãos de pouquíssimos sujeitos ou instituições. Somente depois dos ideais iluministas e, sobretudo, por necessidade comercial pós-revolução industrial, surge uma efetiva necessidade de “educar”. Alguns países, atualmente, nem possuem mais os chamados analfabetos. Outros, no entanto, inclusive o nosso tão querido e maltratado Brasil, são compostos por uma imensa maioria de iletrados que mal reconhecem uma frase como “Cuidado com o irritado cão”. Neste aspecto, Brasil, Camboja, Sudão, Etiópia, Moçambique e tantos outros estão juntos, nesta permanente Idade Média. Paradoxalmente, ler ou não ler talvez seja o menor dos problemas. Pior é realmente acreditar-se alfabetizado, quando em verdade muitos jovens em pleno colegial (ou seja lá o nome que hoje é dado a tal período escolar) mal conseguem produzir um único parágrafo! Quantos são os universitários que jamais conseguem saborear um texto qualquer, simplesmente por incapacidade! Houve até um analfabeto que passou num vestibular de uma faculdade deste país! E não se trata de uma anedota...

Voltando ao paradoxo acima citado, ler, alfabetizar, talvez nem sejam elementos tão primordiais. Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.), o afamado filósofo ateniense, conforme nos conta Platão, não apreciava a educação escrita. Considerava a palavra, assim, presa ao papel, o caminho para o emburrecimento humano. Talvez ele tenha mesmo razão – e estejamos nós brasileiros no caminho correto. O que nos falta, no entanto, segundo o mesmo filósofo ateniense, é de alguém que nos ensine a pensar. Antes de ler, pensar. Não o contrário, como se supõe...

A propósito, o inverno é um bom tempo para encontrar Sócrates e suas idéias encantadoras. Em qualquer sebo deste mundo, meu imaginário leitor, encontra-se uma obra de Platão, na qual reproduz diálogos e conceitos de Sócrates. Ou se um sebo não o agradar, vá ao sítio Domínio Público e procure pelo que bem desejar. Prepare-se para chorar com “Fédon” e “A Apologia”. Ao menos, um pouco de filosofia básica nos ajudará a pensar sobre os rumos que este mundo toma. E o ajudará, eventualmente, a compreender melhor as mal traçadas linhas desta resenha. Até.

terça-feira, agosto 01, 2006

Irritação momentânea.

Há muito perdi a minha paciência e nem me envolvo em debates, seja de que assunto for. Não me importo mais. Não tento esclarecer, nem ensinar. Sou um professor (que leva a vida de outra forma) que, no máximo, responde a alguma pergunta quando lhe é feita, moderadamente. Qualquer intervenção ou retruque e me calo, agradeço e vou embora, buscar o que fazer. Quer acreditar em qualquer asneira histórica, acredite. Quer levantar a mãozinha pra Jesus e doar os seus trocados a alguma organização criminosa universal, o faça. Quer votar em gente sem a menor vergonha na cara, vote. Alguns aliás, estão no poder há tanto tempo... que diferença nos faria? Quer passar seus domingos sendo lobotomizado por algum daqueles programas dominicais? Ótimo. Apenas não venham com lições. Não a mim. Eu peço. Imploro. Não me venham com cartilhas, que as mando às favas. Amo a dialética, mas tão somente se eu estiver ligeiramente bêbado e se não houver máscaras... Hum... Bem. Não me envolvo mais. Não quero. Mas antes que me chamem de monstro, vez ou outra me enterneço: apresento a alguns o sítio Transparência Brasil, "uma organização independente, fundada em abril de 2000 por um grupo de indivíduos e organizações não-governamentais comprometidos com o combate à corrupção", conforme descrição do próprio sítio. Há um desespero tão grande no ar, pelo salvamento da alma deste país atolado em fezes, que qualquer coisa já é alguma coisa. Apenas não me incomodem, por favor. Não quero nada. Já disse que não quero nada...

Fotografia lasciva.



Grande fotógrafo irlandês, Bob Carlos Clarke, nos legou uma das mais eróticas e elegantes obras fotográficas deste já distante século XX. Morto há alguns meses, Bob Carlos trouxe à arte fotográfica uma extravagância que é plena de lirísmo e dedicação à beleza feminina. Selecionei, além de seu portfólio oficial, três, entre tantas galerias, que devem ser visitadas imediatamente. Aqui, aqui e aqui.

De ilusão também se vive.

Poema VI

Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras cousas canto
Muito diversas das que outrora ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida... Portanto,
Meditais nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
Que mais aflijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive:
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
Que é dos loucos somente e dos amantes
Na maior alegria andar chorando.

(Olavo Bilac)

Não houve neste país - e sei bem a polêmica que apresento - poeta maior que Olavo Bilac. Não obstante a genialidade de Drummond, a sensibilidade de Bandeira, ou mesmo a pruralidade de Mário de Andrade, este que é aliás o meu escritor preferido e aquele que mais eu invejo, Olavo Bilac é uma espécie de Roberto Carlos erudito, cujas canções (poemas, em verdade) falam mesmo ao coração, ainda solícito, de um tipo de sensação pura e idealizada que... Bah! Corações agrestes não o podem ver, eu sei, já foram transformado em Razão, intelectualismo existencial, escuridão! Somente quem ainda carrega um pouco daquela herança trovadoresca pode ainda "ouvir e entender estrelas...". Nesta maravilha moderna que é o Wikisource, irmão mais novo deste Hermes do século XXI, Wikipedia, encontramos toda a Via Láctea, série de poemas que insisto em classificar como "a definitiva ilusão de quem ama".

segunda-feira, julho 31, 2006

Dance na chuva.


Gene Kelly em uma das mais graciosas cenas do cinema. Aliás, se o amigo leitor ainda não viu Cantando na Chuva, não deve conhecer a atriz Debbie Reynolds, nem o esfuziante ator Donald O'Connor. Trata-se de um filme contagiante, que o deixará, pobre leitor melancólico, sorridente por algumas horas. E para tornar ainda mais agradável a audição deste pedaço de clássico, cante junto, dançando e sorrindo:

I'm singin' in the rain

Just singin' in the rain.
What a glorious feelin'.
I'm happy again.
I'm laughin' at clouds
So dark up above.
The sun's in my heart
And I'm ready for love.
Let the stormy clouds chase
Everyone from the place.
Come on with the rain.
I've a smile on my face.
I'll walk down the lane
With a happy refrain,
And singin', just singin' in the rain.

(Arthur Freed)

domingo, julho 30, 2006

Para os olhos e ouvidos aguçados.


Hoje, ouça e veja Nicole Kidman. Mulher que nos parece irreal. Veja algumas de suas fotos aqui, aqui, aqui e aqui. Ou aqui (ufa!). Abaixo, um vídeo com a agradável versão do clássico Something Stupid, sucesso de Frank e Nancy Sinatra. A musa Nicole vem acompanhada do simpático e competente crooner Robbie Williams.

Crônica Dominical

I

Eu sei. Blogs, em geral, não passam de certa "autopublicação" vaidosa. No meu caso, talvez se trate tão somente de uma masturbação criativa. Posso mostrar a alguns leitores distantes, bem poucos é verdade, algumas coisas que andei fazendo na vida. E uso assim um pouco da minha quase doentia vontade por criar - uma vez que a vida prosaica (e no entanto bela) me convoca a sobreviver, ganhar meus trocados como servidor público - e bem sabemos como uma vida de certos luxos e vícios acaba nos custando muito. Ora, muitos e muitos amigos sofrem da mesma e terrível enfermidade. Muitos sujeitos criativos vivendo num canto do mundo onde não há muita chance para o desenvolvimento de gênios. Muitos, amanhã, estarão amofinados nalguma tediosa repartição... Quiçá conheçamos novos tempos.

II

Como muitos devem saber, meu sobrenome não é exatamente Gérri Rodrian. Foi o nome que escolhi há quase vinte anos para assinar meus trabalhos. Rodrian vem de uma pouco inspirada associação de "Rodrigues de Andrade" e hoje me seria impossível ter qualquer outra alcunha. Sou Rodrian mesmo. Acho que sempre fui. E curioso por este nome, há alguns anos, pelo Google, encontrei uma excelente cantora de jazz cujo nome é Alexia Rodrian. Ela possui um sítio muito bom, onde inclusive podemos ouvir trechos de suas boas gravações.

III

Ela nasceu em Munique. Viveu em Roma, Paris e Nova York. Deve ter uma boa família. Deve achar um absurdo o que dizem dos países da América Latina. E nem deve estar acostumada à miséria que nós, brasileiros, tanto conhecemos. Viveu em lugares onde há o mínimo de respeito - de um lado e de outro. Em lugares tão diferentes daqui, onde políticos roubam verba destinada ao leite de pequenos carentes e ainda são reeleitos, onde parte inacreditável dos impostos são desviados sem que haja qualquer motim popular, onde tudo e todos chafurdam numa corrupção das mais descaradas. Inevitável imaginar que se trate de uma prima rica, de outros costumes, boa educação e casa grande. E que sou como o parente bastardo da senzala, que um dia resolve encaminhar uma carta, pedindo qualquer migalha. Nem que seja uma rápida visita a esta revista virtual. À minha tão humilde masturbação.

(Todos os domingos, enquanto me houver forças, uma nova crônica.)