sábado, agosto 26, 2006
Engorda.
sexta-feira, agosto 25, 2006
Versos distantes.
e que ela, suave
entre seus seios carrega.
A canção,
pequena e delicada,
assim a proclama:
“Falta-lhe um bosque?
Um punhado de terra fresca
onde, entre tantos felinos,
possa deitar o corpo?
Falta-lhe a brisa?
Um viçoso regato
onde molhe a rociada face?
Ah! Que lhe falta, ninfa?
Carvalho, escaravelho,
Suçuarana, frutos
Fadas, um Fauno, amarantos
Galhos, begônias, gruta, juncos?
Faltam-lhe os deuses, minha pagã?
A flauta de Pã que lhe encante os ouvidos,
a sua fábula entre a doce relva fria?
Falta-lhe? Vá!!
Nada. Nada lhe falta.
É a preferida de Cibele, Baco e Diana;
E transformado em sereno
todas as manhãs, inebriado, Júpiter a possui.”
(Gérri Rodrian)
Um poema, escrito em 2001. Num tempo em que eu precisava encontrar uma floresta.
Fim da atualização.
Concluindo a semana de atualização musical, apresento um agradável vídeo: a digna banda brasileira Skank, com a boa Dois Rios. Não se trata de uma banda exatamente nova. Nenhuma novidade. Mas a recém lançada canção é bem simpática. E ando com profunda preguiça. Não quero saber de mais nada novo nos próximos meses. Voltemos logo aos clássicos, que já ando bem entediado.
Rio de Janeiro
Cada vez mais me incomoda esta coisa de dormir. Ontem mesmo eu ouvia boa música, escrevia e comia pão de milho com requeijão. Mas era tarde e logo logo eu deveria acordar e seguir com o destino de sempre, levando toda a minha preguiça e sono ao trabalho. Assim, quando me vejo injuriado, jogo na loteria - as mais diversas - e fico sonhando com o dia em que ganharei uma fortunazinha qualquer. Nem penso em grandes conquistas do tipo iates e férias em Madrid. Apenas me vem o privilégio de não dormir, ficar feito um morcego por toda a madrugada, fazendo o que me der na telha. Depois, lá pela manhã, umas quatro horas de sono e tudo estaria bem.
Aliás, ganhando alguns milhões, prometo uma televisão 29 polegadas, tela plana, da Sony, que faz os televisores mais bacanas - a todos que deixarem algum testemunho nesta postagem. Aqueles que me fizerem sorrir, levarão de brinde um ventilador.
(Obs.: reedito a mensagem para avisar que me esqueci de apostar e não ganhei nada. Fiquei até mais pobre. Portanto, nada de televisores e ventiladores. Quanto ao pedido por comentários, o faço tão somente por vício retórico. Quase nem se incomode, compreensivo e imaginário leitor, se por vezes lhe pareço pedir - mesmo porque sei bem que não se pede ao leitor alguma palavra. Escritores e leitores vivem juntos - num firme acordo tácito. Em suave silêncio.)
quinta-feira, agosto 24, 2006
Números.
Outra boa surpresa, nesta semana de atualização musical, é a banda The Magic Numbers. Faz um som dos mais agradáveis - como a canção "eu já escutei isto antes" Forever Lost.
When I'm Sixty-Four.
Mas se nada disso ocorrer, nada realizado, nenhum registro de meu nome em qualquer lista de escritores importantes - mesmo na lista de Osasco e região, eu tentarei ainda uma coisa, uma paixão de infância: uma banca de jornal. Sempre as admirei - aquilo de caleidoscópio, de janela para um mundão muito colorido, aquilo de me trazer a arte de minha infância, as figurinhas e os gibis onde aprendi a ler... Hum... E a internet é uma banca como aquelas de minha infância, em que os grandes tesouros repousavam, se reproduziam...
Encontrei hoje um sítio que me agradou profundamente. Muitas capas de revista - as mais importantes inclusive: Vogue, Bazaar e Elle, entre muitas outras. Aqui.
Amanuense inseguro.
Há o resto da vida. Todas as complicações deste mundo. Mas o trabalho nos rouba metade de nosso tempo e quanto mais rápido nos livrarmos dele, lá pelo final da tarde, melhor. São carimbos, são formulários, são conferências, são ofícios e memorandos, são as ordens do senhor Diretor, são as conversas de corredor, poderando sobre as novas idéias do Governo. Sempre uma repetição quase esquizofrênica. E certa vocação é necessária. Ou depois de um tempo logo mandaríamos tudo às favas, sairíamos pela porta, em gritos, desejando trabalhar depois em qualquer outra coisa um tanto mais saborosa. Não é por acaso que funcionários públicos são identificáveis - seja pela palidez de repartição e gavetas, seja a lentidão para falar seja lá o que for, seja pela sutil corcova que nos vai nascendo - tanto o tempo que se passa aqui, sentado, a olhar para papéis e vento.
Apesar do salário não ser dos piores, vale dizer que é bom meditar quanto à possibilidade de seguir este rumo. Trata-se de um emprego que prejudica a saúde e a estima. A falta de produção concreta - que tem o sapateiro com os seus sapatos - pouco nos deixa saborear algum orgulho do tipo "veja só o que fiz esta semana" ou "consegui o tal objetivo". É um trabalho de quase ou nenhuma satisfação que possa ser contada aos amigos, numa roda de bar. É seguir as ordens de alguém, assinar aqui ou ali, fazer meia dúzia de mesuras, esperar, esperar e esperar.
Com tudo isso, o pobre escritor amanuense vai ficando inseguro, achando-se um tanto sem graça - desprovido de qualquer tipo de glamour - e acaba sonhando, tão somente sonhando, com função mais nobre, tipo piloto de testes da NASA, fotógrafo da Vogue ou locutor da Cultura FM.
É a tal história da barata. Kafka, gênio e autor daqueles que jamais douram a pílula dos fracassos, em A Metamorfose, descreve muito bem a transformação pela qual vamos passando, entre um dia e outro. Vamos ficando pequenos, quase nada. Bom mesmo restar alguma esperança de que tudo isso valerá alguma coisa, quando já velho eu puder avaliar o quanto eu me dediquei a esta minha quimera e ter a certeza que tão somente obedeci alguma curiosa lógica.
quarta-feira, agosto 23, 2006
Genérica beleza.
Obs.: Visite o bom sítio oficial da moça. E para bons papéis de parede, clique aqui.
Entre o surpreendente e o ridículo
Não sei se deveríamos rir, com as bochechas a balançar, ou chorar, com os lábios a tremer. Não sabemos, em verdade. Ninguém poderá definir se saberíamos viver sem estas doses de humor e escárnio. Não aqui, neste país em que rir ou criticar dá mesmo na mesma. Eu, cá por mim, gosto da maneira farsesca que a sociedade tomou para si, criando um enorme e populoso cenário de Comedia dell'Arte, em que todos se divertem um pouco.
Sim, pois a escrota corrupção não é exclusividade nossa. Nunca foi. Foi até aprendida com ratos bem mais graúdos e discretos. E as tais mazelas deste lugar não se devem ao nosso bom humor. Vejamos pois que em outros países, políticos são sisudos e mascarados. Sempre um par de sobrancelhas atentas, um ar de preocupação constante com o girar do planeta.
Nem precisamos disso. O Brasil evoluiu tanto que dispensa já a mentira de muitos. Dá um basta na hipocrisia. Permite a transparência de qualquer um. Quem deseja ser profundamente cara-de-pau, é. Nunca ouvimos tanto a frase "Eu preciso do seu voto!", dita com certo pânico do tipo "me coloquem no esquema!". E chegará um tempo em que algum sequestrador aparecerá no horário nobre, com um slogan tal "Vote naquele que sabe conquistar o que deseja". Aqui, o sujeito não precisa mais mentir, inventar tipos, maquiar dados, parecer heróico, parecer honesto, parecer inteligente. Nada disso. Qualquer marmota pode bem exigir o nosso voto, sem mais delongas. ACMs, Serras, Bispos, Valdemares, Euricos, Paulos e Severinos. Péssimos atores, nenhum deles tem a menor preocupação em bem atuar, preparar um papel decente. O fingimento que às vezes aparece, acreditem, é apenas uma troça. Como quando a gente brinca de ser gago, mentecapto ou bêbado.
terça-feira, agosto 22, 2006
Gente grande e os outros.
Há, no mundo, uma hierarquia. Coisa natural, sem muitos critérios ou paradoxos. Um sistema tácito que nos mostra a superioridade de Mozart, Pelé e Shakespeare - quando relacionados aos demais companheiros de talento. Ou que seja a superioridade de Beethoven, Maradona ou Moliére. Muitos são os gênios, todos tão fartos de particularidades que chegam efetivamente à unidade. Dante não é tão somente o melhor de seu tempo - é também uma entidade única, estranhamente paradigmática. Quase avessa às comparações. Um exemplo? Comparar Carlos Alberto Torres e Cafu é tão somente uma ofensa ao primeiro. As moças talvez não entendam a metáfora futebolística. Pensem assim: comparar Moschino e Giovanna Baby seria tão somente uma ofensa ao primeiro. Um exemplo de gênio, muito vivo entre nós, é Paul MacCartney, um sujeito de interminável talento. Ouçam o seu último trabalho, Chaos and Creation in the Backyard, e duvido que discordarão. Ele é um dos caras que eu chamo de "gente grande"... Bem, todo o lenga-lenga acima me veio apenas para dizer que os caras da banda The Verve são bacanas. Desnutridos. Mas bacanas. Acima, Bittersweet Symphony.
Ave Cezar.
segunda-feira, agosto 21, 2006
Ouro.
Gatos.
Seguindo com o tema desta semana, Fat Boy Slim e a simpática e ordinária The Joker. Neste vídeo, aliás, há muitos daquele bicho que, depois da mulher, é a mais bela criatura deste planeta. Ou o leitor atento não concorda e dirá que depende de que mulher falamos, uma vez que há uma meia-dúzia que parece do avesso e que os gatos estão sempre belos... Hum... Pois bem. O argumento me parece justo. Que seja.
Um sorriso.
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
quando
com o meu aceso archote e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui embaixo?
senão colher com a repentina
mão do delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?
(Ferreira Gullar)
domingo, agosto 20, 2006
Museu, eu.
Crônica Dominical
Num domingo em que me vi obrigado a arrumar o meu tão aconchegante e bagunçado escritório, uma vez que já começava a perder até o mouse por entre o entulho, uma iluminação cívica me toma. Como o assunto preferido da maioria é a tal eleição de felizardos que faremos em outubro, apresentarei um velho esquema para a escolha de candidatos – sem que o leitor seja obrigado a fazer avaliações por demais complexas. Pensemos, afinal, que pouco importará escolher um ou outro, uma vez que a corrupção não está no indivíduo, mas nas oportunidades oferecidas por um sistema político dos mais ridículos do mundo. Assim, seguem cinco princípios básicos, infalíveis:
- Como neste país, os deputados ganham uma supimpa aposentadoria depois de oito anos de trabalho – e pensar que ainda me faltam... 26 anos – vote em candidatos com mais de 80 anos. Assim, a aposentadoria terá algum sentido. Imagine que um sujeito de uns 40 anos já poderá ter um benefício que é no mínimo inexplicável.
- Nossas câmaras, seja ela qual for, tem um número também inexplicável de vereadores, deputados e assessores espertos. Uma cidade com cerca de 600 mil habitantes tem uns 40 vereadores. O país tem mais de 500 deputados federais e não há o menor sentido nisso tudo. Ao menos, cabe gente de todo tipo e setor da sociedade. Vote então num daqueles candidatos representantes de algum setor jamais presente nas assembléias. Alguém que represente os catadores de latinha ou escultores em sabonete ou guardadores de carros.
- Os salários são bons. Muito bons. Há benefícios diversos. Muitas delícias da praticidade. E a responsabilidades é pouca ou dependerá dos conchavos feitos com algum Mefistófeles. E como o trabalho não exige muito de qualquer um, vote naquele que lhe parecer menos inteligente, esperto e educado. Em verdade, vote naquele que lhe parecer mais imbecil.
- Os anos passam e nos perguntamos: onde estão as leis realmente revolucionárias – aquelas que mudam mesmo o nosso cotidiano. Melhor escolher um candidato que tenha como idéia algo extravagante: como proibir o casamento entre pessoas da mesma classe social, para uma boa distribuição de renda, ou legalizar todas as drogas conhecidas pela humanidade, criando opiários e centros de acompanhamento com músicas de Bob Marley e Emerson, Lake & Palmer, com bons sepulcros para os exagerados.
- Por fim, ninguém deveria ser político como profissional, tal qual se é advogado ou sapateiro. Há quem tenha sido senador por vinte anos – deputado por outros trinta. O quanto pôde acrescentar ao país esta figura? No dia em que a carreira vier a ser condenada, impedindo que um sujeito seja deputado mais do que uma única vez, talvez a coletividade consiga algum proveito. Acabemos com a reeleição de seja lá quem for. Votemos em quem nunca foi candidato – nem mesmo para o grêmio estudantil.
Como pôde notar, amigo leitor, não é muito difícil obter êxito, neste jogo esfuziante que é brincar de escolher entre os iguais. Pensemos em quais candidatos atendam ao itens acima e não anulemos o nosso tão útil voto.