sexta-feira, março 01, 2024
Nada a fazer
quarta-feira, fevereiro 28, 2024
De novo, em anos bissextos.
Em anos bissextos, a cada 29 de fevereiro, eu comemoro o aniversário do Big Bang da minha maior obsessão. Aquele que foi o instante em que, em míseros microsegundos, me vi completamente entregue e devoto.
Tal qual aquele personagem Acteão, representado naquela minha tragicomédia. O sujeito que vê a deusa Diana e fica amalucado.
Certo, a minha deusa da lua não estava nua tomando banho entre ninfas, mas eu era já o Acteão cansado das velhas florestas.
Os jovens de hoje em dia, sobretudo quem não foi criado ouvindo Roberto e vendo comédia romântica no Corujão, duvidam da existência desse acontecimento: "Amor à primeira-vista é bobagem de novela da Globo", diriam revoltosos.
Eu estou aqui para jurar de pé junto. Dou meu testemunho. Existe.
Tem amor que demora uns dois dias pra contaminar, outros uns dois anos, outros, bem sei, chegam em 2 milésimos de segundo e se espalham feito um contágio de zumbi, tomando tudo o que é célula.
É certo também que tem muito biguebanguezinho safado, que vem parecendo a recriação do cosmos e acaba antes de aparecer a primeira molécula de carbono.
Não é o presente caso. Já zeramos a tabela periódica por aqui.
É o quinto 29 de fevereiro em que posso relembrar a toda gente deste acontecimento que se deu comigo.
Mas diriam os jovens descrentes: "só aconteceu com você, por ter predisposição e ser alvo de risco para sentimentos exulberantes". De fato.
É preciso ser destemido e um tanto otimista para pular em abismos, sem paraquedas e sem pressa de chegar ao chão.
Ainda me sinto em queda. Depois de vinte longos anos, ainda perplexo por uma deusa da Lua que — de deusa da Lua — só não tem o arco e a flecha.
domingo, fevereiro 25, 2024
O anjo torto: desafio ou destino?
Quando nasci veio um anjo torto a me dizer, com seu riso de besta sádica: "ninguém se importa".
Dizia e ria.
Eu era bebê no berço quando me apareceu essa figura a zombar de mim. Não compreedia muita coisa, o que era essa figura, se era pra ser maldição, se era pra ser aviso. Eu era bebê no berço, muito cedo para compreender o que era o anjo torto a rir feiamente, a dizer me o tal "ninguém se importa".
Quase chego a me lembrar da máscara ou rosto deste anjo chato. Eu era bebê no berço, chorava de medo. Nada entendia nada da vida mas o tal anjo torto eu entendia bem, como se ele usasse uma linguagem que até um bebê pudesse facilmente desvendar, na clareza plena. "Ninguém vai ouvir". Mais alto eu chorava, mais ele ria: "ninguém vai".
Me perguntei muitas vezes se é comum isso acontecer aos bebês. Mas me aconteceu.
Alguém vai logo me lembrar que eu — o mais notório dos céticos da minha cidade — sou cético. Ora, sei lá se isso foi sonho que eu tive depois e que — como outros — passou a ser incorporado como realidade ou se foi coisa dos mistérios que o cérebro dá de conceber? Ou até se aconteceu mesmo de alguém dizer isso ao bebê, rir, e disso eu carregar algum trauma que se reflete noutras imagens?
Tanto faz. A mensagem é que me perturbou.
Ora, não há dia que os ecos desse diabo não reapareça e eu não me recorde daquele homem a repetir que ninguém se importa. Eu sei, já sei. Tantas vezes na vida eu tentei, aceitei a dica, larguei isso de escrever, fazer trova, viver de férias de minhas obsessões.
Um astrólogo até me disse certa vez que "o problema era eu ter Saturno na sétima casa". E eu me interei nos assuntos de Saturno para saber se havia saída. A saída era eu desobedecer Júpiter e a Lua que gira tanto. De fato, é aquela sábia anotação: "se ficar o bicho come, se correr o bicho estraçalha".
O anjo, aquele, ria era disso talvez.
O problema, afinal, é que eu ainda não saquei uma coisa importante nisso tudo: se era o anjo a botar no nível hard um jogo que eu ainda posso vencer nos acréscimos. Ou se era o anjo a tirar sarro da minha cara, sabedor do desfecho que o jogo teria.
Bastante chato isso. Me obriga a refletir sobre espiritualidade, psicologia e no danado do Saturno.
O Homem Que Ouvia Tom Zé
E se a humanidade toda, em todos os cantos do planeta, ouvissem juntos, num mesmo instante, um mesmo som, complexo e indefinível, por alguns segundos? E se apenas um único sujeito não o ouvisse? E como este fenômeno afetaria a gente simples do povo? O Homem Que Ouvia Tom Zé é um drama para teatro que passeia entre o realismo e o absurdo, a fantasia e o cinismo.
Obra um tanto de 2006, outro tanto de 2023. Uma que eu, pobre de mim!, considero um clássico (entre as minhas desconhecidas obras, reafirmo! — antes que me acusem de lunático.).
Agora, estará ao escrutínio de toda a gente. A partir de 23 de março. Lá no Amazon.