Escrever peças de teatro é uma insanidade.
Há muitas insanidades na vida humana, das mais diversas. Mas se meter a escrever peças de teatro é especialmente uma atividade despropositada.
Primeiro, um texto para teatro só existe para ser montado, num palco, com ator e plateia. Sem isso, uma peça de teatro é um fantasma vagando sem corpo.
Poemas poderão ser lidos a qualquer tempo. Declamados.
Contos, claro. Romances, certamente.
Mas peça de teatro quem lê é ator curioso e produtor em busca do que montar.
E se eventualmente montada, com ator e plateia, estaremos sempre nas mãos da interpretação do senhor diretor, nas mãos do talento do ator e no empenho do senhor produtor.
Num país em que o povo tem medo de teatro — que quando dá pra ser enfadonho é um pesadelo, muitas vezes traumatizando o espectador por toda a vida.
Num país em que os artistas intelectuais descolados estão sempre fissurados por autor inglês, alemão, russo, ui, traduções de mundos distantes.
Num país em que cada centavo conta. Como arriscar nome e dinheiro numa peça de um escritor desaforado?
Dito isto, escrever peças de teatro é uma insanidade.