quarta-feira, setembro 11, 2024

Audiolivro do Prólogo de "A Primeira Vez Que Ouvi Latim"


Este audiolivro é apenas um possível ponto de vista sobre o prólogo de “A Primeira Vez Que Ouvi Latim”, dos muitos que eu, como o pai da obra, pude imaginar para esta obra ao longo de 22 anos, desde a sua criação.

Inclusive, por conta disso, não é recomendado ao próprio autor, produzir montagem do próprio texto, pois surge a falsa sensação de que haveria uma “montagem do autor”, um paradigma na interpretação, e isso é bastante falso.

Mas me bateu uma vontade de produzir este prólogo, de repente desenvolver uma linguagem ou um novo produto para divulgar, afinal, minha literatura e música.

Analisei o que havia de positivo em gravar tudo sozinho, fazendo todas as vozes, tentando dar características próprias para cada personagem.

Não sou ator e nem tenho memória para tanto, mas desde cedo tenho verdadeira paixão por interpretar versos e minha voz é maleável o suficiente para se disfarçar. Com a aplicação da textura de vozes diferentes, pelo eficiente Moises, creio que acabo por encontrar um modo de interpretar vários personagens.

Evidentemente, no entanto, pretendo trabalhar com outros atores nos próximos trabalhos que pretendo produzir. 

Embora exista um certo prazer em fazer isto sozinho, o que revela um tanto meus talentos cênicos, terei muito mais prazer quando estes audiolivros estiverem abraçando muito mais artistas. 

Osasco, recordista de uma desgraça

“Melhor clima do mundo! Aqui, o calor que só nos delicia em medida e nem nos sobe a pressão; frio que gostamos de sentir na pele; garoas salvadoras e chuvas abundantes”, eu ouvia e pensava na sorte que tinha. 

Como seria viver na Londres cinzenta ou no Cairo acalorado? Ou nos terremotos de Tóquio ou na friaca de Moscou? 

Minha Osasco tropical, lugar fresco, que recebia de banda os ventos que chegavam do Oeste, vindo lá dos pés do Rio Paraná, cortada por um rio vigoroso de tantos córregos afluentes, separada da triste Capital pelos bosques do Butantã.
 
Eu, pequeno, morando nos limites do Jardim Sindona, tomava minha coordenada geográfica como um privilégio e via aquela linha imaginária no mapa-mundi, o tal Trópico de Capricórnio, passando tão perto, como uma justa compensação por viver no fim do mundo. 

Até o cantor na televisão cantava com orgulho um “moro num país tropical”, refrão exaltado por toda a gente, sorrindo com o privilégio de estar na sala terrestre mais bem climatizada. Que sorte a nossa.

Todos, quando voltavam de viagem pra qualquer lugar, voltavam reclamando do clima do lugar visitado. Qualquer outro canto do mundo era mais quente ou frio, ou mais árido ou úmido ou insuportável de alguma maneira. 

Voltar para Osasco era voltar para o melhor dos refrescos, onde a respiração naturalmente respirava.

As décadas voaram e hoje esta cidade é agora o epicentro do pior ar respirável em todo o planeta Terra, essa enorme bola onde cabem oito bilhões de humanos, geralmente equivocados.

Oito bilhões de humanos equivocados sujam o planeta todo, o que é inclusive compreensível, visto a quantidade exagerada deste tipo de animal.

Mas chega a ser incompreensível que a Osasco tropical de minha infância encontre-se agora recordista de uma desgraça. De berço tropical, agora é cidade de distopia. 

E, em verdade, cá entre nós, mesmo se só estivéssemos apenas entre as mil piores, já seríamos ridículos. Mas alcançar o topo?!