sexta-feira, agosto 23, 2024

Em vão.



Curiosidade. Escrevi “Em vão”, num sábado solitário em 15 de março de 2003. 

Além de tudo o que representam pra mim, filhas, minhas 190 músicas são fotografias do meu álbum. Cada uma delas me leva a cantos da minha vida, alguns até bastante desagradáveis e muitos das quais eu já teria me esquecido por completo, não fosse a filha nascida.


“Em vão”, balada romântica, tem três partes que nasceram cada uma em diferentes tropeços e épocas, e que só puderam receber letra e forma nesse tal sábado citado em que me senti triste o suficiente para forjar a unidade com as três melodias.


Hoje, vinte e um anos depois, talvez eu tivesse motivo para estar triste o suficiente para finalmente gravar e produzir uma canção que seria, afinal, o supra sumo dos meus dissabores.


Mas não. Não estou triste hoje, nada disso. 


Estou é querendo livrar-me de tanto sentimento de abandono, vibração démodé que os jovens de hoje acham até caso para psicanalista.


Quem é que em pleno 2024 ainda morre de amor? Eu?


Que a canção pelo menos vá para os catálogos, como fotografia de um lirismo que se perdeu.


Quem é que ainda é tão bobo capaz de morrer de amor, afinal?

quinta-feira, agosto 22, 2024

Poema Honesto


Foram tantos os caramelos e torresmos,

tantas as tigelas de mingau,

que eu deveria hoje ser morbidamente gordo.

Mas não sou e tenho fome ainda.


Foram tantas as substâncias,

tanta boemia e festas,

que eu deveria ter perdido o senso e me dar por satisfeito, 

já sereno em cansaço.


Foram tantos os amores e carinhos,

tantas as bocas em delírios,

que eu deveria hoje estar pleno por tanto amor que me deram.

Mas não estou.


Eu não deveria reclamar e maldizer a vida.

A vida me deu pouco,

que tudo o que tenho, se tenho

conquistei em aventuras de Hércules.


Eu não deveria me sentir pobre, maltrapilho.

A vida me deu muito

e sei bem dos tesouros que vi pelos olhos 

e guardo comigo.


Sou um milionário das experiências doces.

Lembranças não alimentam a boca

mas iluminarão as noites que virão.

Lembranças, tantas, que eu deveria por aí andar feito bobo sorrindo.


Mas não. 

Vez ou outra só, distraído.