Há uns vinte e poucos anos, uma moça me disse, meio que do nada: “Gérri, você é um diletante!”. Naquele exato momento eu não sabia se estava sendo ofendido ou elogiado. Fiquei confuso e, por alguns segundos, estático, apalermado. Eu mal sabia o significado certo da palavra e isso me confundiu. Diletante é o sujeito que pratica uma determinada arte de modo amador, por paixão ou hobby, sem viver profissionalmente dela. Por amor. Por outro lado, pode ser alguém que se dedica superficialmente a várias atividades, sem se aprofundar verdadeiramente, sem a dedicação ou o compromisso necessários para se tornar realmente proficiente. Um reles amador. Eventualmente, até um amador na vida, sujeito que não leva nada a sério, que vive sem responsabilidade. Eu ainda considerava, erroneamente, que diletante fosse sinônimo de intrometido, abelhudo. Aquele sujeito que dá pitaco em assunto que não sabe nada. Me lembro da conversa. Acabei desconversando, levando o assunto para longe. Enquanto puxava outro assunto, matutava como eu deveria me posicionar em relação ao diletante da moça que, afinal, era alta, elegante e me olhava de cima para baixo, com olhos de querer uma resposta, como se a resposta fosse — de fato — importante. O assunto passou, o semestre passou, passou tudo e nunca mais a vi e ninguém mais me veio com essa questão profunda. Mas, vinte e poucos anos depois, ainda me pego a pensar no meu diletantismo de servidor público federal, criando qualquer extravagância, muitas vezes descompromissado com a vida real, obedecendo a uma criatividade que muitas vezes me parece vinda de um subconsciente atemporal. Cada vez mais, a arte profissional precisa atender às necessidades imediatas dos consumidores, precisa recorrer a similaridades e não desviar demais dos temas que a sociedade debate. A arte diletante se dá ao luxo de ignorar o consumidor, os temas vigentes, as crises sociais, ir na direção do inédito e do experimental, apenas pela vontade do autor. Corre o risco de ser classificada como amadora e extravagância de desocupado? Sim. Corre o risco de ser ignorada e classificada como fora de contexto? Sim. Mas a arte diletante também pode, desobedecendo as receitas, trazer algo que tenha nova forma e nova textura, um sabor inesperado.
(Obs.: imagens geradas por IA, prompt: "faça imagens que sirvam para ilustrar uma crônica sobre o potencial da arte diletante em comparação à arte profissional".)