terça-feira, abril 09, 2024

O homem diletante









Há uns vinte e poucos anos, uma moça me disse, meio que do nada: “Gérri, você é um diletante!”. Naquele exato momento eu não sabia se estava sendo ofendido ou elogiado. Fiquei confuso e, por alguns segundos, estático, apalermado. Eu mal sabia o significado certo da palavra e isso me confundiu. Diletante é o sujeito que pratica uma determinada arte de modo amador, por paixão ou hobby, sem viver profissionalmente dela. Por amor. Por outro lado, pode ser alguém que se dedica superficialmente a várias atividades, sem se aprofundar verdadeiramente, sem a dedicação ou o compromisso necessários para se tornar realmente proficiente. Um reles amador. Eventualmente, até um amador na vida, sujeito que não leva nada a sério, que vive sem responsabilidade. Eu ainda considerava, erroneamente, que diletante fosse sinônimo de intrometido, abelhudo. Aquele sujeito que dá pitaco em assunto que não sabe nada. Me lembro da conversa. Acabei desconversando, levando o assunto para longe. Enquanto puxava outro assunto, matutava como eu deveria me posicionar em relação ao diletante da moça que, afinal, era alta, elegante e me olhava de cima para baixo, com olhos de querer uma resposta, como se a resposta fosse — de fato — importante. O assunto passou, o semestre passou, passou tudo e nunca mais a vi e ninguém mais me veio com essa questão profunda. Mas, vinte e poucos anos depois, ainda me pego a pensar no meu diletantismo de servidor público federal, criando qualquer extravagância, muitas vezes descompromissado com a vida real, obedecendo a uma criatividade que muitas vezes me parece vinda de um subconsciente atemporal. Cada vez mais, a arte profissional precisa atender às necessidades imediatas dos consumidores, precisa recorrer a similaridades e não desviar demais dos temas que a sociedade debate. A arte diletante se dá ao luxo de ignorar o consumidor, os temas vigentes, as crises sociais, ir na direção do inédito e do experimental, apenas pela vontade do autor. Corre o risco de ser classificada como amadora e extravagância de desocupado? Sim. Corre o risco de ser ignorada e classificada como fora de contexto? Sim. Mas a arte diletante também pode, desobedecendo as receitas, trazer algo que tenha nova forma e nova textura, um sabor inesperado.

(Obs.: imagens geradas por IA, prompt: "faça imagens que sirvam para ilustrar uma crônica sobre o potencial da arte diletante em comparação à arte profissional".)

domingo, abril 07, 2024

Sobre o nome Osasco

 


Existe Osasco há quase mil anos.

“Um documento de 1246 apresenta-nos Osasco dotada de igreja e pároco e de feudo da Abadia de Cavour. Há quanto tempo foi feudo da abadia de Cavour, reconstruída pelo bispo de Turim Landolfo, em 1037, não fica claro nos documentos, provavelmente dos anos que se seguiram à expulsão dos sarracenos, por volta de 985.”

A “Comune di Osasco”, no extremo noroeste da Itália, que nos deu o nome, passou por complexas situações, como podemos ver neste resumo:

- “A destruição e incêndio de Osasco em 1334 por inimigos do Príncipe”; 

- “Julgamentos inquisitoriais do padre dominicano Antonio da Settimo di Savigliano, que criou o tribunal da inquisição em San Donato di Pinerolo no ano de 1387, parece que naquela época havia muitos hereges valdenses em Osasco”; 

- “O cerco de Osasco em 1396: Osasco sob o domínio de Amedeo da Acaia, no ano de 1396 registra um longo cerco, que durou mais de seis meses, pelas mãos de seu irmão Filipe II”;

- “Osasco, poupada da peste de 1486, não foi poupada de invasões desastrosas na primeira metade do século XVI, primeiro as espanholas por volta de 1520-25 e depois as francesas em 1536”;

- “Muitas tristezas foram combinadas com tristes fenômenos naturais como o terremoto de 1525, a fome de 1540 devido à seca e em 1543 nuvens de gafanhotos pastavam nos frutos e nas folhagens e eram tão numerosas que, quando não havia comida, pereciam e infestavam o ar com os seus fumos”;

- “O Município certamente não estava em condições prósperas, já se tinha declarado em extrema pobreza em 1584”;

- “A partir de 1646 sucederam-se três excomunhões e quando não bastava foi lançado o interpello, um grave castigo da Igreja, que foi reconfirmado no ano seguinte”.

- “Entre 1690 e 1692 Osasco foi submetida à passagem das tropas de Catinat, que reduziram a vila à ruína total, levando tudo embora”;

- “No entanto, em 1808, um terremoto desastroso e assustador causou danos consideráveis. Os primeiros tremores foram sentidos no dia 2 de abril e até o oitavo dia ocorreram mais de quarenta tremores, que se atenuaram e depois recomeçaram com força no dia 12 de maio. Os tremores nunca pararam completamente e duraram cerca de sete meses”.

Estes são alguns tópicos escolhidos da desassossegada história de Osasco e de seus osaschesi.

O nome "Osasco", aliás, pode estar associado ao nominativo latino "Ausus", que significa "ousado" ou "corajoso". Acredita-se que o nome da cidade tenha se desenvolvido a partir da palavra latina, pelo piemontês, evoluindo para "Ausascus".”

Tanto lá, como cá, cabe dar ao osasquense a plaquinha de corajoso. Cada um nos seus enroscos, a lista biográfica da Osasco tropical é bem mais breve, mas já teve tragédias e tristezas dignas de honrar a matriz. 

Aqui a coragem é um aplicativo que se mantém aberto. Mesmo que hoje tudo esteja mais bem iluminado e asfaltado, tem muito audacioso de gaiato por aí.

E também é certo dizer que a Osasco daqui também tem seus hereges. Que repensam. Na ousadia. 

(Fonte: https://www.comune.osasco.to.it/.../index/index/idtesto/206)