Não sou amargo e por vezes me parece que a amargura é mais um desvio de caráter que uma condição natural. Sempre andei de bom humor, até nas chamadas horas impróprias. Busco a leveza e trago comigo aquela proposição do carteiro Jaiminho e evito a fadiga e os desassossegos.
Foi também aquele poeta Ricardo Reis quem me ensinou. Noutras palavras, ele dizia “não esquenta”. Aliás, pena que pouca gente se lembre daquele personagem genial de Tony Ramos, o Edgar, em A Comédia da Vida Privada, de 1994, que vivia metendo o copo de uísque na testa dos outros, dizendo “não esquenta”.
Disseram que era eu encarnado na televisão.
E de fato eu não me importo mesmo com muita coisa. Não me importo com o que falam de mim, o que pensam, julgamentos. Não me importo se me consideram um imbecil ou um gênio.
No entanto, uma coisa me traz questionamento: os supostos amigos que jamais fizeram qualquer apontamento, comentário, observação, qualquer palavra, sobre os meus trabalhos como escritor e músico.
Não digo de elogios, que isso nunca é coisa de se esperar, mas qualquer anotação, um “você que fez?” ou um “você, heim!” ou um “orra, que esforço”. Ou qualquer mísero grunhido ou miserável like.
Gente que me conhece há vinte, trinta anos, que despreza e não vê aquilo que é, efetivamente, o combustível e finalidade de minha vida.
Já disse, não esquento. Mas há algo a me dizer que o desprezo ofertado a minha obra deve ser traduzido sempre em algum outro tipo de desprezo, uma vez que não convém a amizade com quem nos enxerga pela metade.