Pudesse eu escolher, naturalmente, teria tido nos últimos dias, dias melhores. Mas não obstante o fato de vivermos numa roda-viva amalucada, ainda me conservo tomado de ânimo. Pois, além de mim e de meus recônditos limiares, há a sociedade e a bosta de país que vivo. Ou seja, nada é animador quando eu olho para o lado e vejo que por aqui, neste canto desajustado do mundo, a miséria vai-que-vai num crescimento de encantar. Já não me bastassem as complicações pessoais (e poéticas), ainda há um mundo todo torto que não tem muito a nos oferecer.
sábado, setembro 08, 2007
quinta-feira, setembro 06, 2007
Por fim, que o calor me obriga a correr.
Por ter na vida o corpo e o espírito - este como metáfora daquilo que é mesmo do corpo, da mesma forma que os dentes e as unhas - numa montanha-russa como aquela que nos deliciamos no Playcenter, cujo nome é Boomerang, por vezes estamos a subir, por outras estamos a descer, mas sempre num desassossego que nunca nos permite um relaxamento.
Mas chega do velho filosofar e do muito entristecer, numa melancolia de poeta siberiano. Chega. Que é calor e amanhã é feriado de Independência, neste país dependente e servil.
E quem me vier com chateações, neste próximos dias será por mim condenado, de maneira grosseira. Ao menos, espero eu, que nada venha a ocorrer, obrigando-me a desdizer-me. Assim, pra terminar a semana, uma pérola do mundo musical, cuja alegria é alta: Lucille com o esfuziante Little Richard.
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A presença da morte: breve confissão, a qual poderá servir a outros desajeitados.
Por toda a minha infância, não pensei jamais na morte e nem senti dela qualquer bafejar pela minha nuca. Nem dela tive notícia, se apartando de mim e chegando ao passamento tão somente aqueles que me eram distantes ou já velhos o suficiente para ter da morte a naturalidade de quem cumpre uma obrigação, conforme nos é obrigado, quando pequenos, a aprendizagem da leitura e raciocício matemático. E mesmo que me entristecesse diante da morte de alguns destes velhos, não chegava a ter da morte a sua presença, rasteira, nem sequer dela fazia qualquer reflexão, apesar de, é bem certo, me entreter naqueles tempos a raciocinar sobre assuntos extravagantes para uma criança.
Como o tempo que me separa daquela época é bem razoável, posso mesmo estar a subjugar, por esquecimento, aquelas minhas reflexões pueris, que bem podem ter abarcado a morte e assuntos relacionados ao mundo oculto - o qual, à época, também não me parecia existir, mas me dava o medo necessário para que dele eu não fizesse qualquer julgamento, o que ainda hoje permanece em idêntica situação. Por volta dos meus seis anos, um incidente forneceu-me a primeira, bem imagino, sensação da fragilidade da vida: um assassinato de um comerciante, cujo rosto ainda guardo e a qual me tratava com muita atenção, vendendo-me naqueles tempos umas tatuagens removíveis de personagens da Marvel e Hanna-Barbera. Tratava-se de um dono de bar e por vingança ou motivo fútil, conforme sempre se dá, foi baleado sucessivas vezes numa noite de semana. Naquele mesmo dia, durante a tarde, estive eu naquele bar para comprar qualquer coisa que me foje à memória. Minha própria mãe esteve naquele bar, poucos minutos antes do crime, para comprar um maço de cigarros.
É bem provável que eu tenha feito, por ocasião deste crime, os quais ouvi os disparos, uma vez que o tal bar ficava a menos de trinta metros de minha casa, toda sorte de reflexão sobre esta coisa de morrer. Mas jamais, naqueles tempos, a minha própria morte serviu-me de tema.
Não sei ao certo a primeira vez que me vi apavorado diante da morte. E melhor escrevo: não sei ao certo a primeira vez que me vi apavorado diante um pensamento que trouxesse o hálito amargo da morte. Assim, melhor explico, uma vez que não tive, nestes mais de doze mil dias, daquelas sensações que devem nos atingir diante de um acidente de carro ou doença grave. Creio que por volta dos vinte anos, e desde lá tem sido assim, não há dia que a morte não me diga algo como "estou aqui, não se esqueça que eu posso a qualquer hora lhe abraçar, tal qual a sua esposa o faz, pela manhã, ao se despedir". Não houve dia, tenho certeza disso, que esta sensação de que posso bem deixar de viver a qualquer segundo, por motivo dos mais diversos, não tenha se ajustado ao meu pensamento.
Ora, brava neurose a minha. Brava. E estar a conviver com ela, sem que eu tenha tomado qualquer providência, faz-me tão covarde quanto à passividade que assumo por conviver com um dente quebrado, o qual fere-me a bochecha direita há sei lá quantos anos. Não sei o que me dá, por desta sensação não me enraivecer, querendo dela distância, não obstante o incômodo que me provoca. Da mesma forma, que me dá tal sensação ruim? Não estivesse eu ainda tomado de uma certeza, estaria eu ainda mais perplexo: quanto mais me é uma hora feliz, mais esta sensação funérea me abraça. Nos momentos de edílio - aqueles de gozo pleno e felicidade apaixonada, a tal sensação vem me tirar parte daquilo que eu deveria provar tão somente com alegria. E vem sem que eu me dê conta ou a chame ou a deseje. Vem, simplesmente, proporcional ao tamanho de minha festa.
Esta mesma sensação, e a esta altura algum leitor poderá ter se identificado com a minha inquietude, por sofrer dos mesmos achaques, motivou-me a escrever muitos de meus poemas primevos. A morte tinha sua presença certa, como topus lírico obrigatório ao meu universo literário. Deste tema tentei me remover, buscando mais frescor, por diversas vezes, mas por diversas vezes fui por ele novamente atingido. E, nunca soube o porquê, mais eu me afasto, mais sinto que dela tenho medo - e muito do que escrevi parece dar sintoma de cada dia desta evolução.
Tem sido assim, há muitos anos. E disto eu faria alusão alguma ao mundo, sob pena de ser considerado um demente ou algum sofredor de síndrome, da qual eu não sofra, apesar de - a olhos clínicos, parecer realmente ser tomado, dos cabelos aos ossos. No entanto, há pouco tempo, tal sensação tem me roubado inclusive o gosto pela frivolidade, coisa da qual sempre gostei, no entretenimento de meus dias. Tenho me mostrado tacirturno, de seriedade de me doer o queixo, de semblante a fazer inveja a Werther, aquele personagem triste de Goethe. Tenho estado sempre numa confusão de não querer confusão: e como vai a mocidade não querer confusão, arriscando-se mais aos fortuitos acasos e às emoções? Arre, de tudo o que pode minar uma vida, nada mais é danoso que a extrema seriedade, que tudo vê com pavor de querer e tocar!
A presença da morte pode, neste paradoxo exemplar, nos obrigar ao Carpe diem et nocte, nos desesperando a ponto de nos motivar a andar, a correr pelos caminhos que se abrem diante de nossos olhos. No entanto, este mesmo sufoco nos dá o motivo, mas nos tira a força e a criatividade, tal qual uma paixão ardente que nos motiva a escrever uma longa carta apaixonada, mas nos dá tanto pavor e insegurança que a tal carta jamais chegará à metade da folha, onde depositaríamos palavras justas e sinceras.
Ai, ó grande Byron, vantagem a nossa, de ao menos desimportar-se com o mundo, escrevendo aquilo que nos perturba - tentando não mais fomentar na quietude de nossa solidão aquilo que muitas vezes é tão comum e vulgar que mesmo aos mais nobres ou miseráveis deverá atingir. Pudera, contudo, depois de ter escrito o que se está escrito, sentir esvair-se do peito o nó tão bem apertado. Pudera nos apaziguarmos a cada verso escrito e cuja finalidade não chega a ser o elogio das musas ou o alcance da glória, mas tão somente um canhestro desabafo.
O que me resta, nesta minha ignorância que nunca finda, é supor que eu não difiro dos demais. Que sofro em verdade dos mesmos importúnios que a todos, ricos ou pobres, mesquinhos ou caridosos, pacatos ou pervertidos, experimentam quando, por acaso, amam a própria vida, sabendo que nela, afinal, se goza e se jubila mesmo nas horas mais incertas. E que, eu, este frágil e sobejamente angustiado sujeito, estou mesmo a dar importância extrema a uma ânsia que não merece atenção.
Ou estarei eu dando de ombros a algo que merece minha mais sincera preocupação? Tais questões, deveras, irritam-me.
Como o tempo que me separa daquela época é bem razoável, posso mesmo estar a subjugar, por esquecimento, aquelas minhas reflexões pueris, que bem podem ter abarcado a morte e assuntos relacionados ao mundo oculto - o qual, à época, também não me parecia existir, mas me dava o medo necessário para que dele eu não fizesse qualquer julgamento, o que ainda hoje permanece em idêntica situação. Por volta dos meus seis anos, um incidente forneceu-me a primeira, bem imagino, sensação da fragilidade da vida: um assassinato de um comerciante, cujo rosto ainda guardo e a qual me tratava com muita atenção, vendendo-me naqueles tempos umas tatuagens removíveis de personagens da Marvel e Hanna-Barbera. Tratava-se de um dono de bar e por vingança ou motivo fútil, conforme sempre se dá, foi baleado sucessivas vezes numa noite de semana. Naquele mesmo dia, durante a tarde, estive eu naquele bar para comprar qualquer coisa que me foje à memória. Minha própria mãe esteve naquele bar, poucos minutos antes do crime, para comprar um maço de cigarros.
É bem provável que eu tenha feito, por ocasião deste crime, os quais ouvi os disparos, uma vez que o tal bar ficava a menos de trinta metros de minha casa, toda sorte de reflexão sobre esta coisa de morrer. Mas jamais, naqueles tempos, a minha própria morte serviu-me de tema.
Não sei ao certo a primeira vez que me vi apavorado diante da morte. E melhor escrevo: não sei ao certo a primeira vez que me vi apavorado diante um pensamento que trouxesse o hálito amargo da morte. Assim, melhor explico, uma vez que não tive, nestes mais de doze mil dias, daquelas sensações que devem nos atingir diante de um acidente de carro ou doença grave. Creio que por volta dos vinte anos, e desde lá tem sido assim, não há dia que a morte não me diga algo como "estou aqui, não se esqueça que eu posso a qualquer hora lhe abraçar, tal qual a sua esposa o faz, pela manhã, ao se despedir". Não houve dia, tenho certeza disso, que esta sensação de que posso bem deixar de viver a qualquer segundo, por motivo dos mais diversos, não tenha se ajustado ao meu pensamento.
Ora, brava neurose a minha. Brava. E estar a conviver com ela, sem que eu tenha tomado qualquer providência, faz-me tão covarde quanto à passividade que assumo por conviver com um dente quebrado, o qual fere-me a bochecha direita há sei lá quantos anos. Não sei o que me dá, por desta sensação não me enraivecer, querendo dela distância, não obstante o incômodo que me provoca. Da mesma forma, que me dá tal sensação ruim? Não estivesse eu ainda tomado de uma certeza, estaria eu ainda mais perplexo: quanto mais me é uma hora feliz, mais esta sensação funérea me abraça. Nos momentos de edílio - aqueles de gozo pleno e felicidade apaixonada, a tal sensação vem me tirar parte daquilo que eu deveria provar tão somente com alegria. E vem sem que eu me dê conta ou a chame ou a deseje. Vem, simplesmente, proporcional ao tamanho de minha festa.
Esta mesma sensação, e a esta altura algum leitor poderá ter se identificado com a minha inquietude, por sofrer dos mesmos achaques, motivou-me a escrever muitos de meus poemas primevos. A morte tinha sua presença certa, como topus lírico obrigatório ao meu universo literário. Deste tema tentei me remover, buscando mais frescor, por diversas vezes, mas por diversas vezes fui por ele novamente atingido. E, nunca soube o porquê, mais eu me afasto, mais sinto que dela tenho medo - e muito do que escrevi parece dar sintoma de cada dia desta evolução.
Tem sido assim, há muitos anos. E disto eu faria alusão alguma ao mundo, sob pena de ser considerado um demente ou algum sofredor de síndrome, da qual eu não sofra, apesar de - a olhos clínicos, parecer realmente ser tomado, dos cabelos aos ossos. No entanto, há pouco tempo, tal sensação tem me roubado inclusive o gosto pela frivolidade, coisa da qual sempre gostei, no entretenimento de meus dias. Tenho me mostrado tacirturno, de seriedade de me doer o queixo, de semblante a fazer inveja a Werther, aquele personagem triste de Goethe. Tenho estado sempre numa confusão de não querer confusão: e como vai a mocidade não querer confusão, arriscando-se mais aos fortuitos acasos e às emoções? Arre, de tudo o que pode minar uma vida, nada mais é danoso que a extrema seriedade, que tudo vê com pavor de querer e tocar!
A presença da morte pode, neste paradoxo exemplar, nos obrigar ao Carpe diem et nocte, nos desesperando a ponto de nos motivar a andar, a correr pelos caminhos que se abrem diante de nossos olhos. No entanto, este mesmo sufoco nos dá o motivo, mas nos tira a força e a criatividade, tal qual uma paixão ardente que nos motiva a escrever uma longa carta apaixonada, mas nos dá tanto pavor e insegurança que a tal carta jamais chegará à metade da folha, onde depositaríamos palavras justas e sinceras.
Ai, ó grande Byron, vantagem a nossa, de ao menos desimportar-se com o mundo, escrevendo aquilo que nos perturba - tentando não mais fomentar na quietude de nossa solidão aquilo que muitas vezes é tão comum e vulgar que mesmo aos mais nobres ou miseráveis deverá atingir. Pudera, contudo, depois de ter escrito o que se está escrito, sentir esvair-se do peito o nó tão bem apertado. Pudera nos apaziguarmos a cada verso escrito e cuja finalidade não chega a ser o elogio das musas ou o alcance da glória, mas tão somente um canhestro desabafo.
O que me resta, nesta minha ignorância que nunca finda, é supor que eu não difiro dos demais. Que sofro em verdade dos mesmos importúnios que a todos, ricos ou pobres, mesquinhos ou caridosos, pacatos ou pervertidos, experimentam quando, por acaso, amam a própria vida, sabendo que nela, afinal, se goza e se jubila mesmo nas horas mais incertas. E que, eu, este frágil e sobejamente angustiado sujeito, estou mesmo a dar importância extrema a uma ânsia que não merece atenção.
Ou estarei eu dando de ombros a algo que merece minha mais sincera preocupação? Tais questões, deveras, irritam-me.
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quarta-feira, setembro 05, 2007
Dresden Dolls.
Dresden Dolls! Que bacana esta banda que há pouco somente eu conheci. Um barulho bom de se animar a cabeça conturbada e quase a adormecer pelo tédio profissional e pela clima ameno e plácido desta cidade. Uma sonoridade que cai bem ao meu gosto, ó meus imaginários leitores, tais quais espíritos errantes de nenhuma pronúncia. Assim, tomado pelo entusiasmo, publico três vídeos da referida banda, sem no entanto nomear as canções, por um motivo de nobreza apalermante: preguiça.
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The girl on the next door.
Pois como eu dizia, noutra hora, volto a Elisha Cuthbert para novos comentário superficiais, com o propóstio evidente de dar ao blog - e a mim, um pouco mais de colorido, mesmo que eu, não sendo o estúpido que alguém evetualmente poderia me dar como julgamento, saiba perfeitamente que não se sustenta uma fome meã tão somente com cores. Mas, da mesma maneira, qualquer um deverá saber da importância da estética para o reequilíbrio das coisas. Estando eu, por fim, melancólico, balanço a cabeça em busca de oxigenação e ideias de me deixarem mais contente. E tento abrir mais os olhos para a luz que invade a janela, às minhas costas. Pudera mesmo toda melancolia de quarta-feira ser devorada pela simples visitação daquilo que nos é inatingível.
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Uma reflexão sobre o Tempo, a qual jamais será lida, bem o sei.
"Dá-me mais vinho, porque a vida é nada!", nos dizia Fernanda Pessoa, num poema cuja constatação era esta, elucidando-nos mais que a vida, ao menos a dele (e a minha), não era mesmo de grande e esfuziante alegria. "Há dores que não doem, nem na alma, mas que são dolorosas mais que as outras", e existirá, portanto, melhor definição destes nossos humanos tormentos? Mas bem como dizia Shakespeare, não devemos "pôr o mundo em nossa pessoa" e é bem certo que há quem ignore por completo tais angústias inomináveis e viva em frescor e regozijo de muitas diversões. Assim o creio, visto que há fartos exemplos de superficialidade ou sensatez por entre a gente deste mundo. Outra vez, assim, me pego com os pés brancos atolados em grossa melancolia, por meio corpo de motivos, neste caminho pela floresta escura - neste vagar em busca por riachos de água fresca, por pousadas de cama quente e boa comida e por tendas de se deitar com bela campônia. Mas, amiúde, meu vagar tem me levado às feras, às areias de prender o pé, às áreas de muitas saúvas, moscas rudes e riscos de febre. Meu caminhar, que me pareceu certa vez um velejar por mar inerte, agora se mostra ter sempre sido em verdade um velejar por oceano de empurrar sempre para a mesma e inóspita praia. No entanto, ou velejando ou vagando, com as próprias e indecisas pernas, ou por qualquer medíocre metáfora que eu venha a dar cor e sentido a tão cretina melancolia, não me sentirei, creio, tomado de qualquer súbito refresco, nem angariarei maior compaixão por parte de qualquer leitor – o quais, de qualquer modo, jamais chegariam a esta frase, seja por absoluta incompetência de um escritor, preocupado agora tão somente com a sua própria e desinteressante existência, seja pelo desinteresse alheio pela desventura alheia, uma vez que todos já se ocupam com a própria.
Porém – e felizmente a vida é cheia de “porém”, se para muitos a tal dificuldade na produção de endorfina, conforme nos diria algum químico, ou a estranheza da vida, confome nos diria um poeta, ou, ainda, a imaturidade, conforme nos relataria alguma senhora de conhecimento em psicologia, poderia ser um estrago infrutífero para muitos, aqueles que se dedicam aos versos e às canções podem bem colher vez ou outra algum fruto, mesmo pálido e insosso da semeadura de sentimentos tão divergentes quanto incômodos. Porém – e infelizmente a vida é cheia de “porém”, muitos semeadores colhem seus tantos frutos e com amargor e impotência os vêem apodrecer, por obra de uma vida que nos exige bem mais que o suportável.
“Tem muito tempo aquele que não o perde”, disse-nos algum sujeito. Ora, eu responderia de modo exasperado: somente um desocupado ou afortunado cujo trabalho lhe permite glórias sucessivas, seria capaz de tão baixa constatação. A mim, que não sou o condenado nem o escolhido, resta-me o trabalho e o mísero tempo que me resta para um gozo que nem sempre eu sei ter. Mais eu vivo, menos tempo em tenho para quaisquer de meus desejos e descanso. E do pouco que me resta, por vezes, sinto-o esvair-se de mim por culpa da intolerância e do desassossego alheio. A verdade é, numa única e derradeira sentença: ESTOU FARTO, MAS ME RESIGNO MAIS UMA VEZ.
Continuação da crônica, não obstante eu ter escrito que se tratava de uma “única e derradeira sentença”:
Devo dormir ainda menos? O que certamente me roubaria ainda mais a vitalidade, levando-me a um cruel acordar – cada vez mais ofegante, em todas as manhãs. Deveria eu abandonar o trabalho? O que certamente me levaria à miséria o mais rapidamente possível, privando-me de vez de tudo aquilo que quero. Deveria eu viver em total solidão, me vendo desobrigado inclusive de falar a quem quer que seja, feito um indócil eremita? O que certamente me pouparia alguns desgostos, provocados sempre pela vida em sociedade, mas tal hipótese, convenhamos, é tão estapafúrdia quanto difícil de se imaginar. Que devemos nós, imbecis honestos, os quais trabalham, trabalham, sacodem-se nos trens e caminham pelas calçadas irregulares da cidade, fazer para ter da vida mais que um maquinal cotidiano, de repetições e impedimentos que beiram à tortura? Que devemos, ó deuses todos, alcançar para ter da vida o tempo, o uso e o sabor, sem que no entanto nos privemos do sono, do ócio eventual, das pausas para o nada, em que podemos refletir sobre a imensa complexidade da vida?
Diante disso, além daquele velho apanágio que dizia que “quem tudo quer, tudo perde” e diante de outro, o qual nem sei ao certo se existe assim, como o digo, que “morre cedo o angustiado”, tento agora me livrar de tal cruz, elevando o meu pensamento a qualquer frivolidade. Pudera eu reencarnar meu reverso cínico e epicurista e dar de ombros para tudo o que sinto. Mas, sabemos todos, que mesmo para a mais fresca atividade, para o mais tolo pensamento, para a mais lúdica brincadeira, são necessários tempo, ânimo e dinheiro: tudo o que, notadamente, por ora, eu não tenho.
Porém – e felizmente a vida é cheia de “porém”, se para muitos a tal dificuldade na produção de endorfina, conforme nos diria algum químico, ou a estranheza da vida, confome nos diria um poeta, ou, ainda, a imaturidade, conforme nos relataria alguma senhora de conhecimento em psicologia, poderia ser um estrago infrutífero para muitos, aqueles que se dedicam aos versos e às canções podem bem colher vez ou outra algum fruto, mesmo pálido e insosso da semeadura de sentimentos tão divergentes quanto incômodos. Porém – e infelizmente a vida é cheia de “porém”, muitos semeadores colhem seus tantos frutos e com amargor e impotência os vêem apodrecer, por obra de uma vida que nos exige bem mais que o suportável.
“Tem muito tempo aquele que não o perde”, disse-nos algum sujeito. Ora, eu responderia de modo exasperado: somente um desocupado ou afortunado cujo trabalho lhe permite glórias sucessivas, seria capaz de tão baixa constatação. A mim, que não sou o condenado nem o escolhido, resta-me o trabalho e o mísero tempo que me resta para um gozo que nem sempre eu sei ter. Mais eu vivo, menos tempo em tenho para quaisquer de meus desejos e descanso. E do pouco que me resta, por vezes, sinto-o esvair-se de mim por culpa da intolerância e do desassossego alheio. A verdade é, numa única e derradeira sentença: ESTOU FARTO, MAS ME RESIGNO MAIS UMA VEZ.
Continuação da crônica, não obstante eu ter escrito que se tratava de uma “única e derradeira sentença”:
Devo dormir ainda menos? O que certamente me roubaria ainda mais a vitalidade, levando-me a um cruel acordar – cada vez mais ofegante, em todas as manhãs. Deveria eu abandonar o trabalho? O que certamente me levaria à miséria o mais rapidamente possível, privando-me de vez de tudo aquilo que quero. Deveria eu viver em total solidão, me vendo desobrigado inclusive de falar a quem quer que seja, feito um indócil eremita? O que certamente me pouparia alguns desgostos, provocados sempre pela vida em sociedade, mas tal hipótese, convenhamos, é tão estapafúrdia quanto difícil de se imaginar. Que devemos nós, imbecis honestos, os quais trabalham, trabalham, sacodem-se nos trens e caminham pelas calçadas irregulares da cidade, fazer para ter da vida mais que um maquinal cotidiano, de repetições e impedimentos que beiram à tortura? Que devemos, ó deuses todos, alcançar para ter da vida o tempo, o uso e o sabor, sem que no entanto nos privemos do sono, do ócio eventual, das pausas para o nada, em que podemos refletir sobre a imensa complexidade da vida?
Diante disso, além daquele velho apanágio que dizia que “quem tudo quer, tudo perde” e diante de outro, o qual nem sei ao certo se existe assim, como o digo, que “morre cedo o angustiado”, tento agora me livrar de tal cruz, elevando o meu pensamento a qualquer frivolidade. Pudera eu reencarnar meu reverso cínico e epicurista e dar de ombros para tudo o que sinto. Mas, sabemos todos, que mesmo para a mais fresca atividade, para o mais tolo pensamento, para a mais lúdica brincadeira, são necessários tempo, ânimo e dinheiro: tudo o que, notadamente, por ora, eu não tenho.
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terça-feira, setembro 04, 2007
Florbela.
Abaixo, dois poemas de Florbela Espanca, figura das mais importantes na poesia portuguesa. Para mais de sua obra, clique aqui, ó meu imaginário e curioso leitor, e se deleite com tão melancólicos versos. Quiçá alguém tivesse os dedos de clicar - e mais os olhos de ler! Que nestas horas mais eu sei que a poesia vai ganhando lugar no vasto esquecimento dessa gente que nasce e morre a cada segundo.
VAIDADE
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...
DIZERES ÍNTIMOS
É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!
E logo vou olhar (com que ansiedade! ...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebês doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!
E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!
E os meus vinte e três anos ... (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! ...”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”
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14
Chegando à décima quarta colocada entre as cem canções que mais me comoveram nesta vida de doze mil e um dias vividos entre o gozo e o tédio, entre a filosofia e a estupidez, uma explêndida obra de Ennio Morricone. E agora, logo há cerca de um minuto, outra vez a ouvi. E não estivesse eu num local de trabalho, cercado por outros sujeitos que talvez não compreendessem a minha manifestação efusiva de gratidão ao tal compositor, eu teria mesmo dado um "urra!", com os braços erguidos e os olhos tomados de lágrimas, pela devoção e pela inexplicável coisa que nos atinge o peito, na oitiva de uma música tão dardejante e triste. Ouçamos, portanto, Cockeye's Song, canção do filme Era uma vez na América, obra obrigatória, para dizer o mínimo, de Sergio Leone.
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O inquérito sobre a vaidade em tempos de blog.
A internet tem proporcionado uma larga dose de frustração a muitos, bem como tem elevado a estima de outros. E nesta observação nenhuma novidade poderá o leitor notar, a não ser que compreenda o quanto é nova esta mesma internet e esta coisa de blog, MySpace e Orkut, em que a vaidade, nossa velha conhecida, pode praticar seus exercícios das maneiras mais diversas. É facilmente perceptível, mesmo pelos néscios ou inocentes de coração, que a cada página pessoal visitada nos esbarramos com aquele sufoco de querer alcançar algum sucesso (nos sentidos diversos desta abrangente palavra) que muitas vezes a vida pessoal, concreta, vivida longe e independentemente dos computadores, não ousou ainda alcançar.
Com a possibilidade, ainda, de verificar, por algum dos modos diversos, a quantidade de visitações ou o tempo de permanência de internautas em nossas páginas, nos entregamos ao gozo ou ao infortúnio, como se disso ganhássemos algum proveito. Não obstante o fato desta coisa toda ser bem novidade para esta humanidade insaciável por novidades, o futuro breve nos dará novas relações entre o usuário e o universo virtual.
Pois há, deveras, um tipo diferente e pouco compreendido de criador, o qual, tão diverso do que se espera, não espera mesmo por audiência, cônscio de uma solidão que lhe apraz, uma vez que o isolamento criativo é também um tipo de liberdade com a qual pode, efetivamente, entregar-se de fato aos exercício livre de fazer aquilo que quer e tão somente como quer. Naturalmente, dirão os críticos, que o exercício jamais convive com a ausência daqueles a quem se destina o mesmo exercício: o leitor! Dirão, sem embargo, que a arte se desenvolve justamente no conflito entre o fazer e agradar e o desagradar e este complexo jogo, muitas vezes gratificante, de desenvolver o que se quer e como se quer, com o objetivo ainda de agradar àquele público específico que fizemos por eleito.
Nem há nesta crônica esparsa, como aliás são todas as demais, qualquer mérito ou desejo de se chegar a algum acordo. Mas tenho sentido falta, por um lado, de um grande diálogo em que recebo críticas e pedradas justas, sem que, no entanto, também tenha me aprazido neste ascetismo, sabedor de que faço aqui, o que fazia na minha infância solitária, conforme o editorial ao lado.
De qualquer modo, ainda, reemprimindo a importância dos paradoxos, e a consciência destes, para o nosso livre poder dialético, não nos devemos convencer da falta de múltiplos caminhos. Há muitos modos, infinitos talvez, de se chegar a um mesmo e desejado canto. Seja para o pavão, seja para a tartaruga, não se deseja outra coisa além de uma satisfação expressiva. Se alguns exigem platéia e se adaptam, conforme as nuvens do céu, que assim se acostumem aos amorfos aspectos. Se alguns, cantando sós, feito eremitas numa caverna. matendo-se na fidelidade de suas idéias, jamais entregando-se à tentação de mudar o sopro tão somente por desejo de abarcar a caverna alheia, preferirem tão somente os elogios ou as raivas do eco, que se acostume a não ter julgo algum daquilo que tão dedicadamente fez.
O que nos resta, talvez, é um equilíbrio dificílimo: se escreve o sujeito tão somente para si, sem audiência alguma, está em verdade a se masturbar, naquele gozo de imagem e sonho. Se está a se dedicar tão somente ao que interessa aos outros, está a se prostituir do modo mais vulgar que se possa imaginar. Busquemos, portanto, aquele amor, aquela paixão de grande entrega. Apenas os grandes artistas o conseguem, mesmo que tão somente conquistem um único e solitário coração.
Com a possibilidade, ainda, de verificar, por algum dos modos diversos, a quantidade de visitações ou o tempo de permanência de internautas em nossas páginas, nos entregamos ao gozo ou ao infortúnio, como se disso ganhássemos algum proveito. Não obstante o fato desta coisa toda ser bem novidade para esta humanidade insaciável por novidades, o futuro breve nos dará novas relações entre o usuário e o universo virtual.
Pois há, deveras, um tipo diferente e pouco compreendido de criador, o qual, tão diverso do que se espera, não espera mesmo por audiência, cônscio de uma solidão que lhe apraz, uma vez que o isolamento criativo é também um tipo de liberdade com a qual pode, efetivamente, entregar-se de fato aos exercício livre de fazer aquilo que quer e tão somente como quer. Naturalmente, dirão os críticos, que o exercício jamais convive com a ausência daqueles a quem se destina o mesmo exercício: o leitor! Dirão, sem embargo, que a arte se desenvolve justamente no conflito entre o fazer e agradar e o desagradar e este complexo jogo, muitas vezes gratificante, de desenvolver o que se quer e como se quer, com o objetivo ainda de agradar àquele público específico que fizemos por eleito.
Nem há nesta crônica esparsa, como aliás são todas as demais, qualquer mérito ou desejo de se chegar a algum acordo. Mas tenho sentido falta, por um lado, de um grande diálogo em que recebo críticas e pedradas justas, sem que, no entanto, também tenha me aprazido neste ascetismo, sabedor de que faço aqui, o que fazia na minha infância solitária, conforme o editorial ao lado.
De qualquer modo, ainda, reemprimindo a importância dos paradoxos, e a consciência destes, para o nosso livre poder dialético, não nos devemos convencer da falta de múltiplos caminhos. Há muitos modos, infinitos talvez, de se chegar a um mesmo e desejado canto. Seja para o pavão, seja para a tartaruga, não se deseja outra coisa além de uma satisfação expressiva. Se alguns exigem platéia e se adaptam, conforme as nuvens do céu, que assim se acostumem aos amorfos aspectos. Se alguns, cantando sós, feito eremitas numa caverna. matendo-se na fidelidade de suas idéias, jamais entregando-se à tentação de mudar o sopro tão somente por desejo de abarcar a caverna alheia, preferirem tão somente os elogios ou as raivas do eco, que se acostume a não ter julgo algum daquilo que tão dedicadamente fez.
O que nos resta, talvez, é um equilíbrio dificílimo: se escreve o sujeito tão somente para si, sem audiência alguma, está em verdade a se masturbar, naquele gozo de imagem e sonho. Se está a se dedicar tão somente ao que interessa aos outros, está a se prostituir do modo mais vulgar que se possa imaginar. Busquemos, portanto, aquele amor, aquela paixão de grande entrega. Apenas os grandes artistas o conseguem, mesmo que tão somente conquistem um único e solitário coração.
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Gérri Rodrian
segunda-feira, setembro 03, 2007
Para festejar.
Para comemorar, de modo correto, os meus doze mil dias, Frank Sinatra! Primeiro, com You Make Me Feel So Young. Depois, com Mind if I make love to you?, com participação da monumental Grace Kelly, uma das mais belas fêmeas do cinema, em toda a sua história. E qualquer comentário, quando canta Sinatra, é bem supérfluo.
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Gérri Rodrian
Terror.
Nada há que me irrite mais que filme de horror do tipo Jogos Mortais, cheios de cenas pitorescas e teoricamente nojentas. Em verdade, filmes deste gênero me levam apenas a alguma azia. E se a vida já nos dá tanto desgosto, filme de gente sendo cortada aos pedaços me parece tão somente um exagero no tempero ficcional destes nossos tempos. Compreendo quem goste, mas eu certamente prefiro ter um divertimento agradável e leve, feito um Can Can ou um Singin' in the rain. No entanto, como se precisasse justificar a presença de uma moça tão maravilhosa neste meu humilde blog!, publico o trailer do próximo filme de Elisha Cuthbert, Captivity, dirigido por Roland Joffe, o qual tem ao menos uma obra-prima em seu currículo: A Missão. Quanto à moça, que é realmente o que nos importa, neste blog de muitas reverências à beleza feminina, talvez me sirva para comentários noutra hora, como justificativa de lhe emprestar mais imagens, com o fim de dar beleza a esta virtual e íntima revista. Por ora, recomendo-lhe a visitação de sua página.
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Gérri Rodrian
Crônica dos 12000 dias.
Hoje, exatamente hoje, completo eu doze mil dias de vida. E nesta constatação de tão largo número sinto-me presa de sentimentos distintos e inconciliáveis. Se me atinge a alegria de sobrevivente, sabendo que passei por tanto, quase incólume e quase são, toca-me também a certeza de que os doze mil dias não me foram suficientes para que eu chegasse a qualquer canto de grande louvor. Confesso, e quem não confessaria?, que me orgulho por ter permanecido honesto àquilo que julgava de alguma correção - ao menos não saí pelas ruas a cantar o que me era funesto e nem precisei jamais usar de artimanhas escusas, detrantando, fingindo, mentindo o que quer que fosse para que eu obtivesse o quinhão que agora tenho. Disto me aprazo fortemente. Jamais precisei de máscara, o que me é motivo claro de satisfação, nesta data de tão longo tempo, suficiente para que muita máscara talvez fosse usada. Mas não as usei e a minha autenticidade é um escudo que carrego comigo a qualquer tempo. Se também deixei de muito ganhar, largando mão de artifícios vergonhosos, disto não faço alarde.
No entanto, não seria eu a me dedicar a louvor pessoal em tão claudicante segunda-feira: doze mil é pouco, ou foi-me pouco, uma vez que tenho dos meus retardos. Doze mil foi pouco e nem a mínima fração conheci daquilo que quero conhecer, nem nada ainda fiz - ou muito fiz, mas me é claro que somente agora, quando noto em mim assentar as doze mil poeiras de minhas vontades, consigo fazer como exatamente quero aquilo que meu talento, um velhaco de doze mil noites, ainda persiste em trazer à tona.
E doze mil noites, doze mil luas de prateado tão divergentes, doze mil vezes eu abri os olhos e desejei um dia de grande engenho e doze mil vezes eu abri os olhos e quis mais, com respiração ofegante e grande anseio! Hoje, exatamente hoje, eu me pego até melancólico - não por tristeza, frustração ou medo - porém pela fabulosa sensação de ter na memória um mundo vasto e vivido de coisas intangíveis, das quais eu posso tão somente ter reminiscência, vaga lembrança. Tantas vezes eu me vi feliz, tantas vezes eu me vi heróico - e tantas covarde, pequeno, trêmulo e coxo. Tantas vezes me vi perdido, confuso de quase parecer um débil sujeito, e nisto mais eu me ajeito para hoje gostar de mim. Assim, o que mais me gratifica nesta estradinha minha, meu leitor imaginário, é a superação que tive; é a minha paciência e a minha fé num deus complascente, tão distante de qualquer outro deus a qual alguém já tenho feito oração. Um deus de nenhuma existência além de mim e cujo rosto leva o meu próprio, em minha solidão existencial.
Assim, parabenizo-me. Contente e ufano, pela face limpa e pelo tanto que pude acumular de conhecimento e experiências que agradam aos intelecutais e ao lascivos. E enfadado e acabrunhado, naturalmente, pela certeza de que nenhum destes meus doze mil dias, mesmo os melhores, novamente me voltarão, para um deleite, para um conserto ou para uma mísera apreciação.
No entanto, não seria eu a me dedicar a louvor pessoal em tão claudicante segunda-feira: doze mil é pouco, ou foi-me pouco, uma vez que tenho dos meus retardos. Doze mil foi pouco e nem a mínima fração conheci daquilo que quero conhecer, nem nada ainda fiz - ou muito fiz, mas me é claro que somente agora, quando noto em mim assentar as doze mil poeiras de minhas vontades, consigo fazer como exatamente quero aquilo que meu talento, um velhaco de doze mil noites, ainda persiste em trazer à tona.
E doze mil noites, doze mil luas de prateado tão divergentes, doze mil vezes eu abri os olhos e desejei um dia de grande engenho e doze mil vezes eu abri os olhos e quis mais, com respiração ofegante e grande anseio! Hoje, exatamente hoje, eu me pego até melancólico - não por tristeza, frustração ou medo - porém pela fabulosa sensação de ter na memória um mundo vasto e vivido de coisas intangíveis, das quais eu posso tão somente ter reminiscência, vaga lembrança. Tantas vezes eu me vi feliz, tantas vezes eu me vi heróico - e tantas covarde, pequeno, trêmulo e coxo. Tantas vezes me vi perdido, confuso de quase parecer um débil sujeito, e nisto mais eu me ajeito para hoje gostar de mim. Assim, o que mais me gratifica nesta estradinha minha, meu leitor imaginário, é a superação que tive; é a minha paciência e a minha fé num deus complascente, tão distante de qualquer outro deus a qual alguém já tenho feito oração. Um deus de nenhuma existência além de mim e cujo rosto leva o meu próprio, em minha solidão existencial.
Assim, parabenizo-me. Contente e ufano, pela face limpa e pelo tanto que pude acumular de conhecimento e experiências que agradam aos intelecutais e ao lascivos. E enfadado e acabrunhado, naturalmente, pela certeza de que nenhum destes meus doze mil dias, mesmo os melhores, novamente me voltarão, para um deleite, para um conserto ou para uma mísera apreciação.
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