sábado, outubro 12, 2024

Rir é muito diferente de sorrir.

De muitos modos, sou exatamente o mesmo desta foto. Claro, sou eu há exatos quarenta e cinco anos. Mas além dos quarenta e cinco anos que me separam daquele instante em que um impaciente e simpático fotógrafo me pediu para dizer “abacaxi” para que um sorriso qualquer finalmente surgisse no meu rosto, há um mesmo homem, de um mesmo olhar para as coisas todas.

Estava sentado no gira-gira, no fundo da escolinha, um prezinho que havia no Jaguaribe, zona sul de Osasco, e o fotógrafo e as professoras que acompanhavam a sessão já haviam tentado me fazer sorrir de muitas maneiras.

Eu não estava sorrindo e ainda hoje se precisasse ser fotografado no gira-gira da Justiça Federal, onde trabalho, eu também não estaria sorrindo.

Sou ainda um sujeito que gosta de gargalhar. Rir como um celerado cínico que ri de tudo. Mas sem sorrir. Acho que nem sei, afinal, além de simular com as bochechas. E todas as vezes em que alguém me pediu um sorriso, eu me lembrei daquele “abacaxi” que eu disse, que simulou um sorriso que não teria e não tenho.

Rir é muito diferente de sorrir. E toda vez que vejo esta foto que sobreviveu, eu me lembro disso. A gente vive tanto — e no entanto — somos o que éramos aos cinco anos de idade, quase nos mesmo termos. Quase que completamente.