Neste 24 de setembro, completo exatos 25 anos como servidor da Justiça Federal. E quase a completar 50 anos de idade ao final de outubro, vejo minha vida repartida ao meio certo entre os anos de desassossego árduo e os de trabalho árduo.
Um trabalhador honesto e paciente, como eu, leva na flauta mesmo as mais densas responsabilidades que o cargo nos exige. E, em verdade, o trabalho ao lado de profissionais inteligentes é geralmente tranquilo.
Sempre controlei meus destinos todos para ter tranquilidade e energia para escrever, reescrever e reescrever de novo, e seguir exercendo este meu sacerdócio.
Mesmo os caminhos que trilhei na instituição, passando pela área de treinamento e criação multimídia, seguiram a estratégia.
Cada livro que abri e fechei, meu bacharelado em Letras na USP, meu estilo de vida, o casamento inclusive, em que a esposa é também numa mesma mulher as nove musas do Olimpo, cada experiência e extravagância, tudo foi de alguma forma planejado.
Sou um sacerdote de minha própria invenção. Um sacerdote de uma coisa atemporal, sem pressa e vaidades. Tenho só a minha natureza dizendo desde que eu era pequeno: vá.
A vida roda em turbilhão, uma bagunça entre doidos, e nem sempre estou de pé. Entre o sobreviver e o realinhar, escrevi poemas dramáticos, dramas de costume, sátiras, romances, canções populares e infinitas crônicas como esta.
A vida é só barulho de vozes e buzinas e vento e mal conseguimos raciocinar qualquer coisa. Ouçam se puderem a minha voz e pensamento entre tantos ruídos.
Se no entanto a gritaria do mundo não nos permitir, nenhum mal há. Há sacerdotes que dedicam suas vidas a deuses que nem existem.
O que vale mesmo é estar tão bem iludido aos 50 anos. Apto. Eventualmente estúpido e ansioso, sim. Mas coerente e seguindo por uma estrada que eu mesmo tento pavimentar.