sábado, novembro 04, 2006

Então é isso.

O tempo vai, bem depressa. Melhor quando há feriados. E pra quem ainda não compreendeu, em fevereiro teremos a estréia de "Fumaça nos Olhos". Um punhado de músicas, num daqueles teatros para gente calma. Mas até lá há chão demais para se pisar. Acordes demais para se decorar.

A charada, o conselho e o convite.

Está nas telhas, na casa em que moras; está na água e na cachaça que nos alegra. Mas não se vê no leite, nos cobertores, no homem. Não está no rosto, mas na boca, na língua e na palavra. Se vê nas ruas, nas putas, nos cigarros até. Nas revistas, nos jornais. Nunca houve no beijo. Ou na dor. De que vos falo?

"O talento é feito na solidão; o caráter, nos embates do mundo". (Goethe)

Veja, o quanto antes, qualquer um dos filmes abaixo:


Obs.: Sim, espantado leitor. Há quem não saiba o que é a obra de Alfred Hitchcock. Que, vive sei lá como, a acreditar que sabe o que é cinema. E nem digo de Antonioni ou Chabrol, Buñuel ou Fellini. Digo mesmo de Hitchcock. Há quem não saiba. Que jamais... Pois há, muitos.

A Cocaína, a sopa e a fome.

Para compensar a minha ausência destes dias, por causa dos ensaios de "Fumaça nos Olhos", três rápidos (e estupendos) momentos do ainda hoje insuperável Charlie Chaplin.

O braço e a morada.

Nada teria sentido, não fosse a esperança. Seja a esperança de que a qualquer hora teremos uma vida mais confortável, mais bem guarnecida, seja pela esperança de que teremos de repente aquele reconhecimento, de que mesmo os mais contundentes inimigos um dia darão as mãos à palmatória, reconhecerão um valor que a gente supõe ter. E às vezes tem. Ou como nesta vida de múltiplas dimensões há sempre um modo novo de se ver um determinado objeto, esperamos por aquele momento em que nos veremos e seremos vistos de jeito bem mais interessante.

Nada teria mesmo sentido. O cansaço, o empenho, quase obsessivo, aquela fé que depositamos numa idéia... Pra quê? Não seria mais fácil calar e levar a vida em total endonismo, pensando apenas naquilo que não nos trouxesse qualquer pesadelo? Acabamos por deixar de lado toda uma sorte de prazeres tão somente por uma quimera que, não obstante o delicioso desafio, nos pode trazer um quilo de tristezas... Ora, este risco não teria sentido, não fosse mesmo a esperança.

A tal "Esperança" se manteve na Caixa de Pandora. E por isso mesmo, eu e um punhado de malucos ainda preferimos a Arte a ficar com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Semana Curta, afinal.

Ora, a semana é bem curta. Feriados preguiçosos e muito ensaio para "Fumaça nos Olhos", com estréia prevista para 24 de fevereiro. 25 canções e alguma prosa. Até lá há muito o que se fazer e treinar.

E se houver quem tenha lido, há algumas postagens, algo sobre dieta, devo dizer que foram já quase sete quilos... Fácil, fácil. Mais alguns e já me sentirei novamente em total acordo com o meu corpo.

Semana curta, afinal. O presidente reeleito. Promessas de algum desenvolvimento. Os perdedores reclamam e acusam os eleitores rivais. Natural que seja assim.

Semana em que houve já aquele calor estrondoso de nosso verão. E aquelas chuvas abusadas. Tempo em que é bom, aconselhável ao menos, inflar-se de alguma esperança. Pelo menos de algum bom otimismo para o fim de um ano que, ao que me parece, foi cheio de idas e vindas, de conquistas e mudanças. Mas é cedo, muito cedo para considerações do gênero.

Lembro-me inclusive de uma retrospectiva que fiz num dia 30 de dezembro, há cerca de 15 anos. Havia toda uma série de acontecimentos que ignoravam a catátrofe emocional que se revelaria tão somente no dia 31. Hum... esta catástrofe me faz lembrar de Hedy Lamarr. Atriz que fazia suspirar Groucho Marx e o Pica-Pau.

Para que o leitor compreenda a admiração de tantos nobres senhores, há quase 60 anos!, algumas fotos de uma moça morena, de nariz delicado e olhar melancólico. Um verdadeiro relicário.

terça-feira, outubro 31, 2006

Ideologia em tempos de estranhamento.

Cazuza e Ideologia. E há quem não perceba. Mas é preciso ter o que pensar, além do cotidiano. Além dos limites.

Espetáculo e fúria.

Longe dos palcos há algum tempo, chega um momento que a fúria me consome. E com uma idéia boa não se brinca. Começaram os reais ensaios e produção de um novo espetáculo musical. Ainda não entrarei em detalhes, sobretudo quanto à data de estréia, mas todos os meus lindos e sensuais leitores serão avisados, aqui, neste blog de mil e uma inutilidades agradáveis. Posso adiantar que Thélio Romagnolo ficará com a direção musical e Fábio Jerônimo com a direção de cena e cenário. Outros ainda serão convidados, conforme a produção evoluir. Ontem, após estafante reunião, decidimos pela escolha do repertório - provavelmente a mais difícil fase de qualquer projeto musical.

Coisa do meu agrado. A voz, os violões, o intimismo que me faz ter a platéia junto a mim, aquela suave parceria entre os meus e os seus devaneios.

Portanto, ao menos inicialmente, o blog ficará levemente menos verborrágico. Não é fácil decorar e reaprender tantas velhas e difíceis canções. Ainda mais para um homem de memória judiada como eu. Nesta fase, que durará cerca de duas semanas, estarei quase que tomado pela tarefa. A ansiedade, aliás, me mata. Tão bom cantar à boa gente que me vê!

Bom demais aliás. E será também, como sempre é, uma oportunidade para rever os rostos que eu sempre vejo, naquele escuro intenso da platéia. Logo, logo, "Dianae, sumus in fide..."

segunda-feira, outubro 30, 2006

Charada.

Conforme eu havia adiantado, gosto de charadas. Gosto de desafios intelectuais. Pensei em solicitar que alguns leitores me desafiassem com algum tema, para uma crônica ou até um poema. Aliás, se alguém desejar, que o faça. Muitas foram as coisas que escrevi e compus por causa de um desafio proposto. Sinto uma espécie de "macacos me mordam", fico atônito e, em geral, dou o coração para concluir a obra que nasce assim, de vontade alheia.

E desde sempre fã de palavras-cruzadas e afins, passei toda a vida a desenvolver coisas do gênero. Portanto, se alguém descobrir o que está escrito abaixo, terei o prazer de encaminhar um presente de minha coleção. Um livro, talvez.

1. Bem elementar. Cada letra é substituída por um outro símbolo. Por exemplo:

"89 g8 176!" (Eu te amo!")

Para a resolução desta questão, basta notar que duas palavras têm duas letras. A primeira começa com 8, que é o fim da segunda palavra. Logo, quais as letras encontradas em finais de palavra, em Português? A, E, I, O, U, L, M, N, R, S e Z. Por tentativa, chegaríamos a "A9 gA 176". Ou até "E9 gE 176".

Toda oração precisa de um verbo? Hum... Em geral, sim. Qual o verbo da frase acima? Há alguma conjugação de apenas duas letras? Há: ri, vi, li e mais um ou outro. E com três?

Se acreditarmos que "g8" seja o verbo "ri", teríamos então "i9" como primeiro termo. Algo como "is ri" ou "im ri". Não há sentido algum, em qualquer hipótese.

2. Este exercício nos obriga a pensar na Língua Portuguesa. Na frase acima, há um verbo e mais um sujeito. Um pronome talvez? Ora, é simples demais!. Bem, se houver quem tenha paciência como eu, sem o que fazer nesta semana de feriado e estiver um tanto estressado, mãos à obra. Que o leitor imagine-se, afinal, envolto em alguma trama de espionagem clássica. E aliás, "a" e "ã" e "c" e "ç" são representados com um mesmo símbolo, respectivamente.

“7@ 1P2 6P1Z2 3926@9P9 329 P4$@70 W@7 07 H154P07

7 07Z02 620 2 37HK2 9P6XPÇ2,

2 629P6P2 Ç20H1PÇ2 7 P #2% 621$74PÇP,

7@ #2@ 07 ÇP9 2 4@Q2 Ç7 P0P9”

Trata-se de um trecho de uma canção. E devo dizer que está fácil, muito fácil. Da mesma maneira que adoro que duvidem de mim, duvido agora que algum dos meus imaginários leitores possa desvendar tão saboroso mistério. E se houver quem queria me encaminhar semelhante enigma, que o faça!

79

Ocupando a 79ª posição entre as cem canções que mais me comoveram nesta estranha existência, Tom Jones, em sua primeira aparição nesta lista, manda bem, muito bem, bem demais com Little Green Apples.


Little Green Apples

And i wake up in the morning with my hair down in my eyes and she says hi
And i stumble to the breakfast table while the kids are going off to school, goodbye.
And she reaches out and takes my hand and squeezes it and says how you feeling hon?
And i look across at smiling lips that warm my heart, and see my morning sun.

And if that's not loving me, then all i've got to say,
God didn't make the little green apples, and it don't rain in indianapolis in the summer time.
And there's no such thing as dr. seuss or disney land and mother goose, no nursery rhymes.
God didn't make the little green apples, and it don't rain in indianapolis in the summer time.
And when myself is feeling low, i think about her face and go and ease my mind.

Sometimes i call her up, at home, knowing she's busy.
And ask her if she can get away, meet me and maybe we can grab a bite to eat.
And she drops what she's doing and she hurries down to meet me, and i'm always late.
But she sits waiting patiently, and smiles when she first sees me, because she's made that way.

And if that ain't loving me, then all i've got to say,
God didn't make the little green apples, and it don't snow in minneapolis when the winter comes.
And there's no such thing as make-believe, puppy dogs or autumn leaves, no bb guns.
God didn't make the little green apples, and it don't snow in minneapolis when the winter comes.

(Roger Miller)

domingo, outubro 29, 2006

Crônica Dominical

Resolvidas as questões eleitorais, com toda a garantia que a democracia pôde nos dar. Aliás, torçamos todos para que a vontade da maioria seja mesmo respeitada. Não que esta maioria entenda alguma coisa de política, uma vez que nem a outra banda entende. Mas porque somente assim o país toma jeito. Depois de inúteis debates em que os presidenciáveis eram obrigados a responder sobre problemas meramente municipais, depois de muita campanha de um lado e de outro, de algumas desavenças até, entre amigos e parentes, eis que tudo se resolve e todos nós bem devemos seguir adiante com a nossa vida.

Torço, sobretudo, para que a opisição deixe o golpismo inócuo de lado. Que os deputados bem trabalhem, de segunda a sexta-feira, votando projetos de interesse do País, os quais se encontram às vezes com anos e anos de espera. Que votem contra qualquer proposta de aumento da própria remuneração, inclusive. Que finalmente as escolhas para os ministérios e secretarias obedeçam um critério razoável, de competência e experiência, que nada seja mais um eterno agradar político. Que o deputado eleito Clodovil se mostre um revolucionário, um contestador jamais ouvido e visto neste Brasil. Que o cão dos teclados, Frank Aguiar, se mostre um protetor violento e apaixonado de todos os direitos da população carente. Que o governador de São Paulo dê um jeito na segurança desta cidade e que tudo fique, de repente, limpo.

Que os milhares e milhares de mendigos... Ora! Se o leitor jamais esteve nesta cidade, certamente se assustaria com o número de gente que vive, dorme e se reproduz pelas ruas. Mas é bem certo que tudo mudará. Haverá flores em qualquer jardim. Haverá crianças educadas. O dólar cairá tanto que será possível que façamos uma viagem a Nova York a cada dois anos. E o acesso à cultura? Ora, será uma transformação! E a educação deste país? Logo logo não haverá quem não tenha um livro em seus braços. Serão milhões de leitores, conscientes de seus diretos e deveres.

E não haverá mais quem permita a existência de gente que se dá bem às custas alheias. Haverá, para cada desviado, um executor. Não haverá mais necessidade de que insistam em templos, igrejas, as quais existirão ainda apenas por respeito à tradição de tempos imemoriáveis.

E já que ando mesmo a delirar, nos resta cantar a canção abaixo...