Quando vejo um filme francês, quero que ele seja falado em francês. Como é. Não quero filme francês dublado em português, nem ver adaptações em piadas. Não quero que o filme pareça brasileiro, local. Vejo, aliás, o filme francês justamente para ver a arte alheia, que o francês faz. Como viajar até lá, experimentar este intercâmbio de culturas. A legenda é o preço a pagar.
E se for inglês, coreano ou russo, cada obra em seu idioma, sua identidade. Como ouvir em português algo que é de outro canto, de outros povos? Isso é em verdade falsear o filme. Misturar as coisas. Al Pacino não é de Sorocaba.
E, sendo um tanto sincero, me parece que essa mania de dublar qualquer filme há tanto tempo resultou em tão pouco incentivo ao cinema realmente em português, acessível. E ainda há prejuízos para a distinção cultural que se possa fazer entre as sociedades, nestas matérias de imperialismo e vira-latismo.
A dublagem, no Brasil, se tornou hábito, há muitas décadas, por necessidade das emissoras que transmitiam em branco e preto para televisores pequenos e de baixa resolução, onde ver uma legenda era, de fato, custoso.
Mas hoje em nossas telas planas, a escolha por legenda para qualquer filme estrangeiro, além de ser um incentivo à leitura, tem um sentido educacional fundamental para nossos brasileiros: o que é do Brasil, nosso? O que é de outros?
Embora dublar seja uma arte que respeito e que reconheço como fundamental, em muitos aspectos, num país de muita dislexia, seria preciso desacelerar, desincentivar um pouco que seja.
Que sentido há num coreano ver O Auto da Compadecida dublado em coreano, se a arte é justamente levar o que há em nós para os outros?
A legenda é a fronteira que não deveria cair. O idioma é a nossa pátria.
Tanto brasileiro achando que The Avengers é coisa nossa; alguns ajoelhados para a bandeira dos USA, alguns venerando qualquer trolha cantada em inglês, alguns até venerando nazifacista, sem nunca entender que não passam de legítimos tupiniquins, como todos, que se confundiram pela dublagem excessiva de vozes alheias, a ponto de confundi-las com a própria voz.