sábado, fevereiro 03, 2007

Lacônico.


Mais outra semana que se esvai completamente, sem grandes comprovações de que a existência é realmente sublime. E continuo a acreditar que tudo isso é mesmo uma grande confusão, sem lá muito contorno.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A propaganda é a alma e a lama.

Duas excelentes e rápidas propagandas com a imagem de Claudia Schiffer. Associá-la a um produto necessariamente refinado me parece uma idéia das mais funcionais. Afinal, a imagem da moça é mesmo um símbolo forte de bonança, elegância e suavidade. E nisto está o que há de mais cafajeste neste mundo do marketing: associar um produto, seja um café, um carro ou pedaço de pano à mais abstrata forma de desejo que se possa conceber.


Escolhas alheias.

Finalizando com as escolhas alheias desta semana, o tal de Bon Jovi e a canção Dry Count. Agradeço à amiga Viviane, pelas indicações. E vale uma rápida observação sobre Viviane: poucas pessoas das quais conheço pessoalmente escrevem tão bem quanto ela. E olha que sou um sujeito pra lá de chato quando o assunto é "escrever seja lá o que for". Sou de rasgar papel e até pisar em cima, se preciso - tão somente para mostrar descontentamento. Como professor e escritor aprendi a admirar aqueles que possuem esse bom talento para escrever - porque sei, e como sei, o quanto é difícil se produzir um texto que agrade aos exigentes leitores. Há dificuldade em todas as coisas que se possa fazer nesta vida, mas creio que a mais complexa é justamente esta estranha arte de misturar conceitos, subjetividade, técnica, letras e sons que a gente não ouve com os ouvidos, mas ressoam pelos cantos da cabeça. E imagens que gente bem vê, sem usar os olhos.

32

Um absoluto clássico da música popular, Let's stay together, na voz de seu compositor, Al Green, ocupando a 32ª colocação entre as cem que mais me comoveram nesta longa vida. Pra ouvir e chorar - ou sorrir. Nunca cheguei a um bom termo.



Let's Stay Together

I'm, I'm so in love with you
Whatever you want to do
Is alright with me
'Cause you make me feel, so brand new
And I want to spend my life with you

Me sayin' since, baby, since we've been together
Ooo, loving you forever
Is what I need
Let me, be the one you come running to
I'll never be untrue
Ooo baby

Let's, let's stay together
Loving you whether, whether
Times are good or bad, happy or sad

Oooo oooo ooo ooo, yeah
Whether times are good or bad, happy or sad

Why somebody, why people break up
Oh, and turn around and make up
I just can't see
You'd never do that to me
(Would you baby)
'Cause being around you is all I see
It's why I want us to

Let's, let's stay together
Loving you whether, whether
Times are good or bad, happy or sad

Let's, let's stay together
Loving you whether, whether

(Al Green)

O casamento enlouquece. O celibato definha.

"O casamento é um edifício que deve ser reconstruído todos os dias". (André Maurois)

"Casar é dividir os seus direitos e duplicar os seus deveres". (Schopenhauer)


Viviane Ponstinnicoff, amiga jornalista. se casará em alguns meses. Alexandre Lara, um velho comparsa de pensamentos fecundos, se casará no próximo sábado. Todos se casam em algum momento. Com a devida exceção daqueles solteiros eternos, os quais me parecem detestar a hipótese de passar os seus dias nesta batalha de olhos e bocas. E bem ignorando as bobagens ditas por muitos salafrários, os quais ganham muita grana dizendo o óbio e escrevendo livros cretinos, associando mulher e homem às cobras, percevejos e sei lá mais o quê, meto-me a propor um leve apontamento: casamento é a mais declarada guerra - mas, ora, não se trata de uma guerra sexual, como costumeiramente se ouve por aí. A guerra não é um "homem versus mulher", a luta é mesmo interna, em cada um, encalacrada em nossos pessoais temores. Há em cada um de nós uma dezena de batalhões guerreando entre si, causando mortos, feridos, sem que os nossos parceiros muitas vezes o percebam.

Bem raso ou bem tolo é aquele cuja cabeça não seja um emaranhado confuso de teias. Que tudo toma por objetividade e fáceis correlações. O que não é o caso de qualquer um de meus amigos leitores. E durante um relacionamento, estamos lá, praticamente nus, sem máscaras - a não ser que a criatura seja daquele tipo canalha de fingidores convictos - e muitas vezes ocorre o que poderíamos chamar de "intersecção de paranóias". Junta-se a insegurança inexplicável da moça, o desajeitado falar do rapaz, o ciúme de ambos, os mais estapafúrdios pensamentos... Pronto: eis a confusão.

Ainda hoje me pergunto se tal desacerto teria cura. Mas me parece bem certo que um relacionamento perfeito somente seria possível se ambos fossem de alguma forma perfeitos - mas alguém supõe haver alguém assim? O que literalmente fode um relacionamento não é a tal idéia de que homem e mulher são diferentes e blá blá blá. Até considero tal observação uma grande cretinice. Somos diferentes, ora, e esta diferença é justamente o que nos agrada e nos movimenta! Culpar a genética, neste caso, parece mesmo um habeas corpus, o qual livra de culpa o marido e a esposa por qualquer eventual insucesso, como se ambos fossem grandes seres humanos, livres de falhas e fraquezas. A culpa não está no sexo, está no caráter, na nossa própria dificuldade em nos entendermos e aceitarmos muito do que desejamos.

Homens e mulheres se relacionam há algum tempo - desde a macaquice milenar, quando nem sabíamos acender uma fogueira ou escalpelar um frango. E nestes milhares de anos não conseguimos aprender absolutamente nada? Seria um grande absurdo e um grande motivo para se condenar de vez a espécie.. Mas pessoalmente, nós, dentro desta evolução desenfreada, sabemos bem de nossa fraqueza, nossa miséria e neuroses. Somos fracos, muito fracos. e precisamos mesmo compartilhar tanta complexidade. Enfim, sem que eu tenha conseguido uma definição mais precisa, o casamento consiste em apoio, em mútua fragilidade - chegará um dia em que um homem perdirá uma mulher em casamento da seguinte forma:

"Bem... estive pensando... Eu a vejo, sinto um contentamento muito forte... Há algo em você - sem que eu exatamente compreenda - que me faz melhor, me ajuda a seguir adiante, me perturba e me conforta... Eu adoraria compartilhar minhas neuroses, meus fracassos, meus pavores, meus desejos e desajustes com você... Prometo a você que tentarei também mostrar-lhe, quando possível, alguma boa qualidade minha... E torço para que tal qualidade não incite em você qualquer inveja ou insegurança... E tentarei, sempre que possível, demonstrar o quanto sou grato por você estar ao lado, diariamente, de uma criatura tão cheia de confusão."

A moça, emocionada, responderia: "Eu aceito ser sua mulher. Tentemos não fazer de nossas vidas um inferno, por culpa de erros em nossa formação, e nem joguemos um no outro a lama que a gente sente nos pés. Que saibamos, afinal, que somos tão somente dois humanos, inflados de sangue, tesão, insegurança e fome. Certamente nos magoaremos infinitas vezes - mas sempre atentos ao que nos disse aquele velho poeta: melhor se sofrer junto... que viver feliz sozinho".

Aos amigos que logo se casarão, boa sorte. Tentem, a todo custo, não perturbar a vida de seus parceiros com um punhado de coisas que só cabem em suas próprias cabeças. A mim, que sou mesmo um macaco velho neste ramo e ainda me pego em situações das mais cretinas, paciência - que nenhuma tarefa neste mundo exige mais paciência que a busca pela tranqüilidade. Não a minha, que esta realmente não me importa - mas a busca pela tranqüilidade daquela que amo, a quem eu desejo tão somente uma vida livre de desacertos.

Grite! Grite! Seja insano!

Dez simples provérbios latinos, devidamente traduzidos, para que o leitor atento os decore - e os diga pela vida afora. Caso leve a sério o que acabo de dizer - e tiver eventualmente alguma dúvida quanto à pronúncia, pergunte-me. Sempre é bom rememorar que afinal sou desse mundo de professores de português e latim que trabalham como revisores nalgum órgão de imprensa. Pode ser que eu mesmo algum dia me esqueça em que me formei...

...e pode bem parecer piégas, mas ando bem saudoso da paisagem bucólica da USP. Das árvores cheias de amoras, da farofa que nos serviam no bandejão central. E, sobretudo, saudade daquela tão graciosa biblioteca da FFLCH.

Ad paenitendum properat, cito qui iudicat.
Quem cedo se determina, cedo se arrepende

Agere, non loqui.
Atos, não palavras.

Vas malum non frangitur.
Vaso ruim não quebra.

Satis loquentiae, sapientiae parum.
Muito falar e pouco saber.

Mors tua, vita mea.
Tua morte é minha salvação.

Occasio furem facit.
A ocasião faz o ladrão.

Grata rerum novitas.
Toda coisa nova apraz.

Cito maturum, cito putridum.
O que cedo amadurece, cedo apodrece.

Conscientia mille testes.
A consciência vale por mil testemunhas.

Inter dictum et factum multum differt.
Do dito ao feito vai grande distância.

Obs.: as frases acima e muitas outras encontram-se na muito boa página Provérbios latinos, com variações de cada provérbio latino também em francês, italiano, espanhol, inglês e até mesmo esperanto.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Definitivamente, jeans para as louras.

Primeiro, uma sessão de fotos de Claudia Schiffer, em 99 segundos de boa apreciação. E, abaixo, uma esplendorosa dose de beleza capaz de enternecer mesmo o mais bruto dos olhos. Não sei ao certo, mas quando a gente vê este tipo de coisa, mais raiva devemos sentir da condição humana: como pode haver guerras, fome, sede, violência - se o mundo tem tanta beleza pra se ver e ficar em paz?



Viu o segundo vídeo? Pois é. O que falta neste mundo é uma loura desta em cada uma das casas onde há discórdia... Ou afinal de contas tamanha beleza causaria ainda maiores colapsos neste planeta de esfomeados? Hum... apenas tenho a única certeza: Claudia Schiffer é de receber oferenda, tal qual Diana e Vênus, e enquanto houver feiúra, haverá tristeza - nada é mais simbolo da tristeza que a feiúra encalacrada.

Escolhas alheias.

Seguindo com o que foi escolhido por Viviane, nestas novas "escolhas alheias", o indefectível Bruce Dickinson e a canção Tears of the dragon. Ainda, Iron Maiden e Wasting love. Aliás, quase me obrigando a algo comentar, devo dizer que sempre reconheci a qualidade técnica da banda e mesmo a boa voz de Bruce Dickinson. No entanto, para o desagrado de alguns amigos, naqueles estranhos anos 80, sempre os detestei. Mas um detestar, reconheço, diferente do detestar costumeiro. Há coisas que a gente odeia e pisaria em cima, se possível. Mas há coisas das quais não gostamos que, necessariamente, devemos reconhecer o valor. Lembro-me, sobretudo, de Metallica. Alguns destes meus amigos ouviam a citada banda com certa euforia e devoção que me pareceriam inexplicáveis, não fosse um óbvio apontamento: a qualidade técnica destas bandas era algo de se espantar. Sepultura, outro bom exemplo, me agradava tanto quanto dor de dente - mas, ora, os sujeitos eram (ou são, não sei ao certo) grandes músicos, sabiam exatamente o que estavam a fazer e foram maravilhosos em seu gênero. Ou talvez seja tão somente isso: o gênero, com seus cabelos longos, solos estridentes, letras apocalípticas e vozes agudas, certamente não me agrada. Ainda prefiro Beethoven, o primeiro dos grandes metaleiros deste mundo. Ou Stravinsky, o qual põe todas as citadas bandas "no chinelo", quando é o caso de provocar o pânico ou a biles do ouvinte...


Uma tarde agradável em Moscou.


Quase cinco horas da tarde. Não me cabe tanta preguiça. E nem me espanta este tédio vespertino, o qual já é freqüente companheiro neste cotidiano paulista, em que trens e metrôs andam cada vez mais cheios, em que engarrafamentos são vistos aos domingos pela manhã, em que nenhuma notícia realmente boa nos chega. É só aquela velha ladainha de gente impune, de tragédias e assassinatos, de gente despencando em ruína e miséria. Sei bem que as fotos acima podem comover o leitor que, como eu, adorariam agora partir para um passeio em Moscou. Um passeio, apenas. Não nos importando se Moscou tem lá a sua pobreza, a sua favela de esperanças, o seu PCC angustiante. Mas é longe - e longe está o paraíso, bem além do horizonte, como nos diz o poeta naquela linda canção de utopia.

Apenas um passeio. Uma olhadela para um mundo tão diferente deste Brasil de sambas e crioulos doidos... E se o seu caso, nobre leitor, bem se aproximar do meu, nos resta um punhado de fotos, neste excelente sítio. E quem sabe um dia, talvez, a gente se encontre em tão longe paraíso - sobretudo para que vejamos o que as fotos não mostram. E saber que tudo é mesmo a mesma merda.

33

Ocupando a 33ª colocação entre as cem canções que mais me comoveram nesta caminhada estranha, uma bela e suave e lírica e exageradamente simples música de Ritchie Valens, We belong together. Um exemplo de como a simplicidade pode ser extremamente saborosa e permanecer como um símbolo agradável de devoção - afinal, esta canção é tão somente uma espécie de oração ao bem sucedido amor. Que afinal também deveria ser (ou é e eu não sei) uma coisa também definitivamente simples, sem qualquer devaneio.




We belong together

You're mine and we belong together
Yes, we belong together, for eternity

You're mine, your lips belong to me
Yes, they belong to only me, for eternity

You're mine, my baby and you'll always be
I swear by everything I own
You'll always, always be mine

You're mine and we belong together
Yes, we belong together, for eternity.

(Ritchie Valens)

O irritado pequeno diante de tão vasto planeta.


Não é primeira vez que me sinto pequeno. Naturalmente. Não é nem a milésima vez. É mais, muito mais. Possivelmente a 2.356.879ª vez. Mas tal miniaturização pessoal não provém de fracassos ou angústia. Vem tão somente da consciência de que este mundo é grande além da conta. De que há tanto pra se ver, pra se saber, pra se olhar, experimentar - mas sou, oras, apenas um pequeno sujeito de dois olhos desgastados e dois ouvidos curiosos. Como caber em mim tanto conhecimento se me pego sempre a cair de cansaço, dia após dia, de tanto que me vejo como louco, tentando enfiar duas toneladas de cimento num pote de margarina? Não sermos um Super-homem já não seria o suficiente? Por que não nos permite a natureza que sejamos como um Fausto, vendedor de sua alma a Mefistófeles, recebendo em troca todo o conhecimento humano? A mim, me bastaria menos. Conhecimentos em botânica e enologia podem ficar de fora, uma vez que pouco me apetecem. Em verdade, me bastaria saber sobre arte, mulheres, esportes e algo de filosofia...

Mas se nos é impossível saber de toda a literatura brasileira, ainda mais impossível (se fosse possível algo ser ainda mais "impossível") seria saber de toda a arte deste mundo. É tanta coisa. Tanta gente. Tantas obras que mereceriam nossos olhos... Se Picasso, Monet e Renoir já nos ocupariam a vista por décadas... Se Bach, Mozart e Schubert já ocupariam nossos ouvidos por pelo menos uma vida... Ah! Tão breve a vida, tão pequenos somos... Quanta arte boa, coisa de nos cativar, impressionar, transformar!, e jamais teremos o tempo para conhecer!

Tal parafernália neurótica chega a me tolher diversas vezes a produção. Já há tanto o que merece ser lido neste mundo - que poderia eu acrescentar neste turbilhão sem começo e fim que está a todos disponibilizado? Hum... Mas como saber o que se passa no centro destas nossas cabeças desordenadas? Melhor é seguir adiante, resignado, dolorosamente resignado.

Maxfield Parrish é outro grande ilustrador norte-americano. Jamais dele havia tido notícia. De repente, apaixonei-me por sua obra. E até reconheço uma ou outra de suas obras. Mas somente agora pude bem observá-la. E a pergunta que renitente me vem é: quanta coisa há pra se ver - como alguém pode viver trancafiado num mundo de mesmice e pobreza intelectual, sem se exaltar, sem se exaltar?!

(Sim, eu ainda sou, apesar de tudo, um entusiasta. E ainda hoje, apesar de tudo, não compreendo o ser humano que vive por viver, ouvindo e vendo apenas o que lhe enfiam goela abaixo).


Para um pouco de apreciação de Maxfield Parrish, visitem este e este.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Propaganda, então.

Dois comerciais com a presença loura de Claudia Schiffer. Aliás, vale dizer que eu sempre gostei mais de Pepsi.


Escolhas alheias.

Nova escolha alheia, Bob Geldof e Bon Jovi e a canção I don't like mondays. E vale, neste momento, frisar: escolha alheia!


Não que eu queria, assim, dizer que a canção me é um terror - longe disso. Acho tão somente que é inocente. Existem, neste universo musical indefinido em que vivemos, modos diferentes de classificarmos as canções. Podemos classificar com o julgo subjetivo do "gosto/não gosto", ou pela complexa taxonomia "pop/clássico/erudito/jazz/rock/blues...". Mas podemos vez ou outra classificar de outra forma: há canções inocentes, inofensivas, "bacaninhas"; há outras conscientes, incitadoras, belos gritos de humanidade. Há, ainda, aquelas que são tristes, demasiadamente tristes, feito lâminas. E há o que bem nos aprouver, contanto que sejamos (ou tentemos ser) justos. E saibamos que todas têm seu lugar, em ouvidos que tantas vezes ouvem diversamente a mesma e única canção.

34

Ah! Como seria bom ser possuidor de máquinas atemporais, que nos permitissem, num sábado qualquer, migrar para algum baile nos anos 40. Em verdade, ainda me pegarei listando os 10 momentos da história do mundo que eu gostaria de visitar, caso tivesse o poder de retornar por décadas, séculos ou milênios. E a canção que ocupa a 34ª colocação entre as cem que mais me comoveram nesta vida sem rupturas no espaço-tempo, me leva a fantasiar: vestiríamos uma roupa que não ferisse o decoro, ajustaríamos os consoles e logo poderíamos beber um bom uísque e dançar por entre casais, ao som de alguma notória orquestra. Não que as baladas destes novos tempos me pareçam ruins. Muito pelo contrário. Mas o que mais me interessaria, além do óbvio, seria ouvir atentamente um delicioso clássico como You made me love, em interpretação de Harry James. O cabelo engomado, a mulher de ombros expostos, elegante e suave. Todo aquele glamour aparentemente ajuizado - e profundamente nuerótico - dos anos 40...


(J. Maccarthy - Monaco)

terça-feira, janeiro 30, 2007

Claudia.

Veja a alemã Claudia Schiffer no vídeo abaixo e reflita, a partir do que nos disse Oscar Wilde: "a arte é a ciência da beleza, assim como a matemática é a arte da exatidão". Ora, estou farto de rememorar o quanto a beleza humana, sobretudo a feminina, seja ela fruto da natureza (e bem estimulada pela engenharia da vaidade), seja ela obra de fotógrafos e cinegrafistas de olhares suaves, seja ela ocasional, pode bem ser equiparada à poesia, à música, à própria arte pictórica, a qual vem eternizando mulheres desde que o homem aprendeu a controlar as mãos e o pincel. Seria como dizer que a mulher carrega em seus seios a arte - tal qual as notas e acordes de uma sinfonia carregam tantas sensações e idéias que nos seria impossível descrevê-las e definitivamente entendê-las.

A mulher que parece criação de Manara.


Desde sempre louvado pela perfeição das mulheres que desenha, Milo Manara, caso fosse mesmo escultor de corpos, teria produzido Claudia Schiffer. Eu, cá no meu suburbano canto, não me lembro de ter visto jamais uma modelo tão bela e cujo corpo fosse tão "Manara", tão bem engendrado, equilibrado, imponente e límpido. E creio até que qualquer observação intelecutal seria estúpida, uma vez que os olhos instantaneamente notam o quanto Claudia Schiffer nos parece mesmo irreal, fruto da mente criativa de algum desenhista, de um gênio maior, profundamente competente.

As mãos que desenham o sexo.


Ainda estupefato, revejo as obras completas de Milo Manara - genial desenhista italiano. Estupefato, caro leitor, sobretudo porque as suas obras completas me chegaram via torrent, em algumas poucas horas. Apenas não sei se me restará tempo nesta vida, para tanta arte. Aliás, sendo a vida curta curtíssima (com a possibilidade sempre latente de que a vida seja ainda menor, por obra do acaso) não nos resta tempo para apreciar, a esmo e sempre, o que entendemos como "menores feitos". Seria como abdicar de conhecer a obra de Mozart, para ficar a ouvir repetidamente um disco de Richard Clayderman. Coisa sem cabimento, segundo alguma subjetiva lógica de amantes trágicos da música. Nos universo dos quadrinhos, Manara é feito um John Ford, um Bertolucci, um Kurosawa. É simples, irritantemente simples, sem mecanismos surpreendentes. Mas seu traço seduz e maravilha. Suas personagens nos parecem sonhos (e seria desnecessário dizer o quanto a beleza nos conforta, pobre humanos tantas vezes embebidos de feiúra).



Para que o leitor jovem, ainda desconhecedor da obra deste sujeito de traço estonteante, vale conferir algumas de suas histórias neste simpático sítio. E também seu sítio oficial. Manara é mesmo fundamental.

Lamber e limpar.

Febre, 40°

Pura? Como assim?
As línguas do inferno
São sujas, sujas como as três

Línguas do sujo e gordo Cérbero
Que arfa ao portão. Incapaz
De lamber e limpar

O membro em febre, o pecado, o pecado.
A chama chora.
O cheiro inconfundível

De um toco de vela!
Amor, amor, a fumaça escapa de mim
Como a écharpe de Isadora, e temo

Que uma das pontas ancore-se na roda.
Uma fumaça amarela e lenta assim
faz de si seu elemento. Não vai subir,

Mas envolver o globo
Sufocando o velho e o oprimido,
O frágil

Bebê em seu berço,
Orquídea pálida
Suspensa em seu jardim suspenso no ar,

Leopardo diabólico!
A radiação o embarque
E o mata em uma hora.

Engordurando os corpos dos adúlteros
Como as cinzas de Hiroshima que os devora.
O pecado. O pecado.

Meu bem, passei a noite
Me virando, indo e vindo, indo e vindo,
Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.

Três dias. Três noites.
Limonada, canja
Aguarda, água me deixe enjoada.

Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.
Seu corpo
Me ofende como o mundo ofende Deus. Sou uma lanterna –

Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele folheada a ouro
Infinitamente delicada e infinitamente cara.

Meu calor não te assusta. Nem minha luz.
Sou uma camélia imensa
Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.

Acho que estou chegando,
Acho que posso levantar –
Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu

Sou uma virgem pura
De acetileno
Cercada de rosas,

De beijos, de querubins,
Ou do que sejam essas coisas róseas.
Não você, nem ele,

Não ele, nem ele
(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha) –
Ao Paraíso.


(Sylvia Plath, em tradução de Rodrigo G. Lopes e Maurício A. Mendonça)

Fonte: Poesia Erótica.

domingo, janeiro 28, 2007

Escolhas alheias.

A seção interativa desta semana conta com as escolhas da jornalista - e também companheira de JF - Viviane Ponstinnicoff, moça que está de casamento marcado para breve, o que me incitaria diversas observações acerca dos matrimônios. Mas não hoje. Hoje estou tão infértil quanto um jegue, se me permitem tão grosseira metáfora. E nada a declarar também quanto aos dois vídeos abaixo. Já disse tudo o que poderia, ao longo destas semanas, sobre David Bowie. E mesmo Jennifer Connelly, uma das mulheres mais belas do mundo, já me serviu de motivo para odes e elogios. Apenas repito que é sempre bom revê-la. Sobretudo tão menina e ao som de As the world falls down, clássico pra se dançar bem junto. E de quebra, saravá, Heroes, som feito pra se ouvir junto, nem sempre dançando.


Crônica Dominical

Alguns profetas já nos anunciaram o fim da televisão - ao menos como hoje é. Alegam que a internet, o qual em breve já terá tudo o que as redes televisas apresentam, acabará por tomar todo o espaço de entretenimento, com qualidade e diversidade jamais imaginada (ou possível) para caber em simples televisores. Aliás, sobreviverão os televisores, conectados ao PC. O que acabará, segundo os tais vaticinadores, é a emissora, a escolher programação para o imóvel espectador.

Não sou de profetizar, mas sinto que as previsões têm sido alimentadas sobretudo pela horrível qualidade que as emissoras, cada vez mais dependentes da audiência, apresentam. Vejamos o caso do Brasil. Há alguns anos, esperava-se por um aperfeiçoamento do que era feito. Lembro-me de que havia uma certa esperança do tipo "hoje os programas que assistimos são ruins, mas a mídia é nova e logo saberá o que fazer, melhorando a cada ano". A tal melhora jamais chegou e as emissoras simplesmente definharam, chegando ao lixo que hoje nos espanta. A repetição de fórmulas, a permanência de certas manhãs e caras, a aposta na mesmice pouco educativa e mais um sem-fim de erros fazem da televisão, hoje, uma caixa estúpida e desanimada.

Há alguém que veja com respeito o que é feito pelo SBT? O que me espanta é que a tal rede não tenha ainda ido à bancarrota, por tantos e tantos desserviços à cultura deste país. E a Record? E a Rede TV, cuja programação chega a ser surreal (de tão cretina)? Alguém vê com respeito? Alguém ainda encontra esperança de que as emissoras sirvam para alguma coisa? A própria rede Globo, a qual se salva por apostar ainda em meia dúzia de programas razoáveis, talvez seja a que mais colaborou para a imbecilidade vigente neste país, investindo em novelas e séries que proliferam o vazio, num déjà vu interminável e cansativo.

Enquanto isso, não distante, a internet vem sendo feita por praticamente todos os internautas, com blogs, sítios de vídeos e compartilhamento de tudo o que é possível ser compartilhado. Assim, fica bem fácil vaticinar e decretar o fim da televisão. Não creio que fora do Brasil a coisa seja muito diferente. Ainda há quem se divirta com os seriados americanos - coisas do tipo Lost, que eu confesso achar tão empolgante quanto as "novelas da sete" feitas neste canto do mundo. Muda-se a língua, mantem-se o vazio.

E enquanto houver Big Brother, programas de auditório com apresentadores nitidamente cínicos e novelas com atores que jamais souberam o que é atuar, a coisa vai ladeira abaixo - e tão logo encontrará o seu tão miserável fim. Conforme o que se vê pelas emissoras da televisão paga, as únicas que nos importam, são aquelas de programação esportiva, filmes ou desenhos animados as quais parecem, creio eu, respeitar a inteligência alheia. Há ainda bom interesse - Canal Brasil, Sport TV, Espn Brasil e Telecine Cult são exemplos de que ainda é possível se fazer "televisão" inteligente.

Para o bem do pais, juntemos Cultura, SBT, Globo, Record, Rede TV, Gazeta e Band num único canal. E ainda assim seria difícil chegarmos a uma única emissora que merecesse algum crédito. Que as profecias logo se concretizem. Ou que logo a revolução chegue aos canais de nossa tão pobre televisão aberta.