Foi minha última música por quase um ano. Desde que um chato espírito de trovador entrou no meu corpo, muito cedo, e passou a me mandar escrever canções, muitas vezes eu reclamei, parei.
Estava cansado de frustração. Ninguém parece ouvir minhas músicas com ouvidos abertos e, até então, não havia ganho nada com esta atividade complexa.
Já tive a impressão de ser uma maldição.
Já estava decidido que não daria mais atenção a estas “inspirações” e há alguns meses vivia em silêncio. Mas a canção me apareceu do nada em agosto de 1994 e pensei comigo: “somente mais esta”.
Trinta anos depois, apresento a faixa, exatamente como imaginada.
Muitas exaltações fiz ao arquétipo de Escorpião, em dezenas de músicas, ao longo desta longa vida. “Acordado”, produzida agora em junho de 2024, é o puro suco do sufoco emocional escorpiano. Frequência, tom e letra, tudo num uníssono grito daquele que se apaixona sem paraquedas. O martírio de ser feliz, a felicidade de morrer de amor.
“Acordado”, neste duplo sentido entre “acordo feito” e “consciência de algo”, traz o mesmo “coma meu coração”.
Mais uma canção soprada pelo espírito que só sabe fazer melodias tortas e que eu, sem tempo, sem verba e sem esperança, faço questão de materializar, como posso, com o amor que aprendi a ter por tantas canções de nenhum destino.