sábado, dezembro 02, 2006

Há vinte semanas.

Há cinco meses eu começava esta divertida terapia de doido, neste blog. Vez ou outra, quando eu me sentia um traste, corria para uma nova postagem... Eu sei, senhores doutores da academia, é meio boba essa coisa de escrever, como se houvessem milhares de olhos e ouvidos solidários... Como se a minha febre de qualquer coisa pudesse interessar a alguém. Ora, mas eu já disse por aqui, há alguns meses: é o exercício que me agrada. Um exercício de escrever e pensar em coisas, suavemente. Sei que há um punhadinho de leitores, gente compreensiva comigo... Mas a brincadeira é uma bateria de flexões e polichinelos para o cérebro. Que afinal é de contas é também um músculo - e se há sedentários, os há também para o intelecto. Sedentários intelectuais incapazes de mover um metro de idéia.

72

E Marilyn não era somente o vulcão de erotismo e melancolia, era também esforçada atriz e cantora. Melhor que muita feia que há por aqui, nestes novos tempos. E justamente, uma coincidência epifânica, na 71ª colocação daquela minha lista, Bye Bye Baby, de Styne Robin, composta para Os Homens Preferem as Loiras. Na versão áudio, ouvimos também Jane Russell. No vídeo, o tal trecho do filme, numa versão um tanto diferente (e levemente inferior). De qualquer forma, um clássico.

20.


Chegamos à 20 edição de uma revista cheia de gente. Hoje, quase numa comemoração, a geminiana mais fabulosa da história: Marilyn Monroe. A criatura tinha mesmo um charme dos diabos, apesar de certa excessiva plasticidade - comum naquelas criaturas com ascendente em Leão. Pela rede, há milhares de sítios com imagens da moça. Este, por exemplo.

Vale dizer que ainda gosto de escrever por aqui. Vez ou outra eu me esqueço, me entrego a qualquer outra boba tarefa, deixo pra lá a consumação de alguma idéia que de repente aparece na frente dos olhos. Mas quando tenho precisado brincar só, feito quando eu tinha lá meus sete anos. Não tinha irmão à época e brincava só. Só, sem ninguém que me dissesse o que fazer.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Grande.

Posso até ser um pouco bobo, abobado de tanta chacoalhada, meio lesado - mas ainda tenho em mim aquele resto de consciência que não me permite rasgar dinheiro e julgar sem alguma reflexão. E há uma voz, lá no fundo dos escombros, que vive a me dizer que o inglês Sting é um gênio da música contemporânea... Da segunda divisão, tenho dito. Que primeira divisão no grupo de homens da música é pra Cole Porter, Paul MacCartney, Gershwin, Tom Jobim, Ray Charles, Ary Barroso e David Bowie - entre alguns outros raros nomes. Mas conquistar o topo na "Segundona" também é privilégio... Ora, algo me diz que neste grupo, junto a gente do porte de Michael Jackson, Elton John e David Byrne, Sting tem um lugar de relativa importância. Ao lado de Carlos Lyra e Caetano Veloso, rebaixado no último campeonato por causa da quase-bobagem que fez no último disco - entre tanta gente que há nesta gigante competição pela predileção humana.

Ouçamos, então, Sting, com duas de suas belas canções: English man in New York e Every Breath You Take.

Obs.: essa coisa de "competição pela predileção humana" deu-me uma idéia cretina que deixará o fim de ano deste blog mais divertido e mais cheio de polêmica. Pensarei.

Agora volta.

Continuado com a semana de vídeos de gente boa que anda ou tem andado esquecida pela mídia, Rod Stewart, um sujeito bem bacana, cuja obra transita bem por alguns diferentes estilos. E que compôs uma meia dúzia de clássicos do século passado. Certamente, bom leitor, um destes clássicos é I don't wanna to talk about it.

O homem subindo a ladeira.

Quase me esquecia de uma anedota, hoje ocorrida logo pela manhã. Acabava de deixar o metrô Anhangabaú, pela saída que leva à rua José Bonifácio, no centro desta longa cidade. Era ainda nove horas e meu sono e desesperança me tomavam por completo. Eu era ainda o que podia se chamar de autômato, levado pelas pernas e pela obrigação de chegar logo à repartição. Caminhava claudicante e levava entre as mãos o caderno que restava para ser lido da Folha de São Paulo. O vento balançava as folhas de jornal e eu, confesso, pouco me interessava pelas novas alianças do Governo. Queria logo chegar e beber aquela dose suicida de café, tradicional e diária.

A ladeira que subia é daquelas de se evitar, mas o autômato não escolhe o caminho, apenas segue. Logo no começo da subida, avistei ao longe uma obesa senhora, meio que escondida atrás de um velho Voyage sujo, logo ao final da rua... Não saberia descrever de modo que o ângulo ficasse realmente claro ao leitor, uma vez que sou escritor de talento sazonal, mas no começo eu pude vê-la, lá no alto, sentada num banco pequeno (que naquele momento eu presumia existir).

Considerei aquela coisa um tanto estranha, mas minha única e possível reflexão foi "ela está escondida". E definitivamente estava, sem que eu soubesse de quem ou de quê. Eu segui com o esforço de subir, como é difícil subir!, e eu quase não me importava mais com a leitura do bagunçado jornal. Ventava e era manhã. Eu subi, sem mesmo me importar com nada, com a velha, comigo e com qualquer coisa. Era o café sonhado a ocupar minha mente.

Quase ao chegar ao final da ladeira, dei-me conta que havia aquela velha branca... Voltei a face para ela, apenas por notar, por um registro natural de observar mesmo o que se é feio. Lá estava, a também olhar pra mim, com um rosto impassível, sério e cheio de sofrimento acumulado. Lembrou-me Clint Eastwood quando interpreta algum homem vencido pelo fracasso. Notei então que ela tinhas as calças arriadas. Que não havia banquinho ou almofada. Notei-lhe a bunda branca, magra... Ora, naquele instante nem me dei conta que ela estava a defecar e que, inclusive, parte de sua obra já estava a se dissolver pelo chão. Pensei apenas que era um corpo estranho, gorda de bunda magra. As banhas da barriga sossobravam, mas a bunda era magra feito a bunda do John Lennon naquelas fotos com a Yoko. Não, ainda mais magra. E lisas. Nem me dei ao luxo de avaliar mais nada. Virei o rosto e segui o meu caminho, menos autômato. Ansiando por um gole ainda maior de café.

Cagava-se, assim, como se a manhã fosse um resto de vida, um fim de história, uma bela merda. O homem sobe a ladeira, esforçosamente. E alguém que não se sabe, caga - por precisão ou por pirraça.

73

Astor Piazzolla, genial como sempre, na 73ª colocação entre as 100 que mais me comoveram nesta longa estrada de sede e pedregulhos no meio do caminho. Fuga n.º 9 - e quem jamais ouviu, prepare-se.

Hoje, o velho impaciente.

Vez ou outra, fico a olhar para uma imagem. E busco me encontrar na imagem. Num pé. Num pedaço de cadáver. Numa árvore. Na imagem acima, me reconheço no velho. E só. Hieronymus Bosch é um sujeito de imagens cuja decodificação nos oferece muitas surpresas. Clássico do non sense universal. Um universo aliás que é puro non sense, loucura e falta de bom juízo. Para mais algumas imagens de Bosch, clique aqui.

74

Já que falei em pranto, um velho clássico brasileiro ocupa a 74ª posição nesta interminável lista. Aliás, vale lembrar que há mais de 15 anos o disco Chega de Saudade mudava minha maneira de ouvir música... Os detalhes minha gente, os detalhes... E que João Gilberto continue a revolucionar os os ouvidos alheios. No meio daquela maravilha musical, havia Aos pés da santa cruz, bela e terna, pra deixar toda a rapaziada em frangalhos.


Aos pés da Santa Cruz

Aos pés da Santa Cruz
Você se ajoelhou
E em nome de Jesus
Um grande amor você jurou
Jurou mas não cumpriu,
Fingiu e me enganou
Pra mim você mentiu
Pra Deus você pecou.
O coração tem razões
Que a própria razão desconhece
Faz promessas e juras
Depois esquece
Seguindo esse princípio
Você também prometeu
Chegou até a jurar um grande amor
Mas depois esqueceu.

(Marina Pinto e José Gonçalves)

O malabarista de circo entorpecido.

Nesta porra de mundo, há o que se perder. Há o que se ganhar. Quem não chora, provavelmente não mamará dos seios melhores e ficará a chorar, depois. O problema, tão somente, é que há aquele choro sem um bom objetivo... E sozinho. Se choramos para atrair a atenção... eu sempre fui um homem de chorar desavergonhadamente. Até comercial de margarina me enche os olhos... bem, deixando os exageros, confesso que, para manter a minha fama de bárbaro e inabalável, vez ou outra respiro fundo... Ora, quem é assim como eu, me entenderá... No mp3, aquela balada arrasadora; à sua volta, um universo que vem caótico e vazio; canta Lennon, do seu jeito irônico e sério...
*

Mas malabarista sou eu. É qualquer homem. Porque assim nos obrigam as mulheres. É um eterno desmando, desvio, desengano... Num determinado momento, ora, o x² é exatamente igual a y... Noutro, um deus nos acuda, um absolute nothing dos infernos, uma outra coisa qualquer sem a menor combinação.

Lembro-me, inclusive, de ter já alertado um velho amigo desta característica notória no cotidiano feminino. Mas, mesmo um macaco ancião e especialista em amores como eu, ainda me surpreendo e chego a perder, literalmente, o rumo. Não que eu queria definitivamente reclamar do que tem me aparecido neste fim de 2006, mas quando é hora de beber a água doce da fonte da juventude, eis o eterno desfazer pra novamente construir.

É o preço, meu caro neófito, me diriam Obi Wan Kenobi e Yoda, ao meu lado, fantasmas de sabedoria e nenhuma intimidade com mulheres. Ao menos jamais se soube de...

*

Vez ou outra eu adoraria sair chorando, como fazia quando criança, balançando os braços e reclamando que a mulher me judiou... Mas pra quê? Quem é que vai me dar atenção? Naqueles tempos tudo me era bem mais fácil...

segunda-feira, novembro 27, 2006

The Rise and Fall.

Vê-se na vida uma alternância quase programada de dias bons, médios, ruins, secos, chuvosos, cansados, famintos. Dia após outro, a queda e a elevação de um conceito, de um ideal. E sempre, assustadoramente, aquele vai e vém de absurdos, de amores, de metáforas... Num dia, um tal amigo nos vem sorridente, noutro vem chorando e tremendo os beiços. Num dia, a mulher acorda serena e noutro uma abrupta desconfiada.

Nada como ser paciente - a paciência é mesmo um bom remédio. Não fosse, aliás, a paciência, eu já estaria naquele hospício (vaticinado, inclusive, por um velho colega de teatro!) em que os sujeitos falam sozinhos, inconformados de tudo. Acho até que falaria tudo a uma caixa de fósforos...

Algumas bandas, como disse na postagem de ontem, sobem e descem. Mesmo aquelas que nem mais existem. Vez ou outra, The Everly Brothers volta a tocar nas rádios! O próprio Duran Duran ainda voltará a ser moda... Noutra o Radiohead será cafona - como alguns que hoje acham cafonas os Bee Gees ou o próprio Queen. Havia mesmo quem achasse The Smiths meio bobo, lá pelos anos 90. Há. Chaplin será cultuado em breve. Chegará um tempo em que nem haverá mais essa bobagem de considerar velha uma arte feita há cerca de um século... Sempre há de se retornar, voltar, avançar, parar, andar. Esse é o movimento. Não foi a arte grega reconsiderada cerca de 14 séculos depois? Não foi Molière um ressurgimento de Plauto? Logo haverá Dante num século que virá... tenho certeza.

Vez ou outra eu converso com gente que é pura impaciência. Com quem ama, com quem odeia, com quem despreza. É impaciente consigo próprio, incapaz de saber tomar o tempo com boa amizade, sabendo dele aproveitar até o caroço. Por isso, digo apenas: tome um bom sorvete e não se afoite, o tempo de colher virá - as sementes boas exigem tempo...

Escutemos então Led Zeppelin, com a pancada Whole Lotta Love. Como isso pode andar tão fora de moda?

domingo, novembro 26, 2006

75

Em sua penúltima aparição nesta lista das cem canções que mais me comoveram nesta vida danada, Tom Jones, o sujeito que tem a voz que eu gostaria de ter, interpreta Let It Be Me, grande elogio ao amor que teve dezenas de boas interpretações.


Let It Be Me

I bless the day I found you
I want to stay around you
And so I beg you
Let it be me

Don't take this heaven from one
If you must cling to someone
Now and forever
Let it be me

Each time we meet love
I find complete love
Without your sweet love
What would life be

So never leave me lonely
Tell me you'll love me only
And then you'll always
Let it be me

Each time we meet love
I find complete love
Without your sweet love
What would life be

So never leave me lonely
Tell me you'll love me only
And then you'll always
Let it be me

(Gilbert Bécaud, Mann Curtis, and Pierre Delanoé)

Obs.: Tom Jones volta para a 10ª colocação.

Semana das canções raras.

Voltando àquela coisa bacana de escolher um tema semanal para os vídeos aqui postados, teremos nesta nova semana alguns clipes de bandas eventualmente esquecidas nesta década. Pouco apresentadas aos jovens desta geração que, neste sobe e desce de tendências, apreciam canções um tanto diferentes. É bem o caso de muito boas bandas, como Yes, Emerson, Lake & Palmer e mesmo o The Police, graciosa obra inglesa. Abaixo, pra começar, o injustiçado e elegante Supertramp, com a clássica The Logical Song.

Crônica Dominical

Dohla, uma de minhas personagens, diz em certo momento que é uma grande besteira recusar a embriaguez por medo da ressaca. E depois de uma noite bela, muito proveitosa, de uísque e alhures, num domingo chuvoso que é a verdadeira representação de uma ressaca nauseante, volto a pensar naqueles versos escritos há cerca de cinco anos. A ressaca é fundamental, parte essencial da própria embriaguez.

Nem digo que a ressaca precise ser feito um vendeval de ânsia e baixa pressão. Nem que precisemos de manchas pela pele, como aquelas que tive após um famoso porre de Miguelão, péssima e deliciosa pinga de coco cuja garrafa deve valer no máximo uns dois reais. E muito menos digo que deveríamos ficar por horas numa cama, a balbuciar toda sorte de arrependimentos e palavrões.

Não se louve o arrependimento na ressaca. Ressaca arrependida é coisa para gente muito, mas muito desencontrada. Pra quem não sabe da importância da transgressão e dos delírios induzidos. Ora, ficar a dizer "por que bebi tanto?", "por que cheirei mais?", "por que fumei daquele jeito?", é algo que o ajudará de alguma forma? Ressaca é pra curtir também, com serenidade de filósofo estóico, sem pesar as mazelas do mundo.

Curtir, como curtira antes, a embriaguez ou o "efeito", sabendo da importância desse antagonismo de sensações... Em ressaca, jamais criei. Jamais tive idéia alguma, nem procurei por isto. Jamais pensei em qualquer entrave da vida, nos amores tristes, nos arrependimentos. Em nada. Jamais briguei. Sempre soube transformar aquele período num leve coma, em que me sentia alheio a todo o mundo, inerte e absorto num vácuo imaginário.

É o que me dizia um velho professor: o nirvana de bêbado. Aquele momento em que se está só, purificadoramente só. Como hoje, neste domingo de céu escuro, em que compartilho tal solidão com a minha mulher que, neste momento, dorme um sono pesado e restaurador.