sábado, agosto 19, 2006

Agosto.

Termina a semana. Um destaque para a publicação de A Primeira Vez que Ouvi Latim, texto que andei escrevendo em 2002 e que revela a minha devoção pelos mitos que nos explicam - e tornam mesmo a nossa miséria um tanto mais bela.

sexta-feira, agosto 18, 2006

"O amor é grande mas cabe no breve espaço de beijar." (Carlos Drummond de Andrade)

Moça tão simpática, a atriz e modelo Josie Maran. Até me fez lembrar de uma jovem que andei conhecendo nesse grande mundo. Moça de lábios que jamais cheguei a beijar. Tinha eu apenas 11 anos de idade e, naquela época, beijar era ainda um prêmio que somente me seria concedido meia década depois. Mas a tal moça - que era ainda tão menina quanto eu - foi aquela que primeiro me pareceu ter boca. Jamais olhara para os lábios de ninguém, antes daquela tarde úmida, quando falávamos qualquer coisa que se fala aos 11 ou 12 anos. Hum... De repente, notei-lhe o entreabir de dentes, o modo como pronunciava, o estalar... Coisa frustrante é o passado. Sempre. Não podemos alterar o encaminhamento das coisas, nem beijar as bocas que flutuam hoje apenas na memória. À época, senti aquele apelo da ignorância - o beijo era um mistério dos diabos. E mesmo hoje, não me envergonho em dizer que beijar me é mais lascivo que qualquer outro pormenor sexual - e a mais grave responsabilidade.
Uma pena que ande banalizado... Há quem veja o beijo quase como um aperto de mão - e vai distribuindo ósculos a qualquer um que se apresente... Para outros um beijo é um escândalo. Um ato dos mais ferozes. Uma batalha de línguas pela sede alheia. Algo assim. Para alguns neuróticos, é um pouco de nojo e troca desmesurada de microorganismos. Aos meus olhos e boca, beijo é canônico e merecedor de todo o respeito. E de alguma homenagem: talvez alguém se escandalize com o vídeo abaixo. Mas é tão somente um carinhoso beijo, que leva tão somente 50 segundos. Aliás, antes que alguém me mande pra fogueira, levanto a questão: se um beijo entre duas belas moças é subversivo, creio que a subversão deveria ser a lei.

Obs.: Aliás, para muitas galerias de Josie Maran, vá clicando aqui, aqui ou aqui.

Utopia.

Ei, caro e imaginário leitor, a semana já vai indo pelo ralo e não coloquei nem um terço das muitas cantoras que desejei colocar neste espaço, obdecendo ao tema proposto. Ou porque o tempo é mínimo ou porque não há, por enquanto, em youtubes e genéricos, vídeo de muita gente que deveria aqui comparecer: Betty Carter - a minha mais querida cantora de jazz - por exemplo, não tem qualquer vídeo! Sarah Vaughan tem um ou outro - mas nada com a devida qualidade sonora. Mas isso é da vida. Nem sempre realizamos, como imaginado, aquilo que tão inocentemente nos propomos. Nunca!, creio eu. Abaixo, Timi Yuro, interpreta a pedra aveludada What a Difference Day Makes, canção que já molhou os meus olhos brutos - logo eu, que sou quase um Conan, O Bárbaro dos sentimentos humanos.

Enfim.

Sextas-feiras são dias recheados de certa apreensão. Sempre temos aquela sensação de que o sábado nos trará aventuras das mais gostosas. Mas em geral, concordemos todos, sábados são desanimados. Ao final talvez, quando já é quase domingo, as coisas começam a melhorar. Pensando nisso, como sou de coração mole e sempre tenho em mente aquelas criaturas que já agonizaram de tédio, recomendo a leitura de um romance dos mais reveladores. Em 1869, Joaquim Manoel de Macedo escreveu A Luneta Mágica, em que um sujeito encontra a tal luneta (que nada mais é que um óculos de uma única lente) que o permite ver tão somente o lado bom de cada criatura. E outra luneta, que permite ver o que todos têm de deplorável. Uma obra muito boa e divertida, bem cínica e crua. Aliás, Joaquim Manoel de Macedo, apesar de toda a crítica que é feita aos autores românticos, é um sujeito dos mais talentosos. Foi, em verdade. Faz tempo mesmo que ele deixou de escrever, seja lá o que for.
Aproveitemos, então, a ocasião e façamos uma reflexão: quem se mete a ler um livro, seja ele qual for, neste mundo sem olhos, já é um bom aventureiro. Se este livro não é algum best-seller para ajudar, melhor. Porque, caro leitor, há algo que deveria ser por todos sabido e deveria estar escrito em nota de dez reais: literatura boa é aquela que o atrapalha. Briga com você - ou faz de sua cabeça um redemoinho torto. Um livro daqueles que a gente lê e sente uma certa confortabilidade preguiçosa - "ai, como este autor diz sempre algo bom...", ""que palavra amiga..", "que palavras fáceis" - nos servem tanto quanto aqueles folhetos que nos entregam na porta do metrô, com anúncio de loteamento em Jandira ou plano de saúde. Um bom livro é aquele que nos atrapalha e nos faz desconfiar, ter alguma ânsia, ter alguma inveja, ter alguma dor, ter medo. Ter a idéia, clara, do obscuro - e ver que transitar entre a luz e a escuridão é "viver de olhos abertos". Ser Dante no inferno, ser Enéias no inferno - sem a ilusão de uma vida plena de paz e basófia. Ora, temos já - e esta é uma das mensagens certeiras do livro indicado - uma luneta mágica nos olhos: vemos alguém e podemos, com pouco esforço, escolher como a desejamos ver. Todos carregam em si a ambigüidade dos maniqueistas. Ou como eu sempre digo, "paraíso e inferno são camas de um mesmo quarto".
Bem. Quem desejar ler o livro, o faça. Se desejar, baixe-o aqui. Mas sempre recomendo mesmo que a leitura seja feita em papel - o livro é o objeto que simboliza mesmo a fertilidade intelectual. É o falo do abstrato.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Dinheiro... Carros.. Mulheres..

Um velho clássico do todo perturbação Pica-Pau. Aproveite e visite um ótimo arquivo de Walter Lantz, criador deste e de muitos outros personagens coloridos e inteligentes.

Há portas e janelas.

Há alguns anos, a USP me apresentou o belo latim. Fiquei atordoado e queria mesmo aprender toda e qualquer palavra. Mas veio depois a constatação: latinistas são criaturas abnegadas, organizadas e pacientes. Tudo o que eu nunca fui. De todo modo, passei meia década a ler - quase todos os dias - qualquer bom texto que evocasse a língua-mãe do Português. Naqueles tempos eu acabei escrevendo a peça A Primeira Vez que Ouvi Latim. Um de meus primeiros textos para teatro e que ainda vem cheio de toda aquelas características do início da carreira de qualquer escritor. No entanto, vale dizer que o estranhamento se deva pela temática, obscura para muitos. A partir do encontro entre Diana e Acteão, busquei apresentar minha metáfora da paixão e do tal desespero que acomete a todo homem (e eventualmente, mulheres). Um amigo mesmo chegou a dizer que o texto nada tem de farsa ou comédia. Que é um drama quase trágico. Sim, eu até creio que ele não é de morrer de rir. Mas se trata mesmo de um texto bem humorado tão somente para quem já vislumbrou aquelas boas histórias de antigos deuses e suas manias. Creio que a sua graça está justamente na deturpação... Em verdade, penso bobagem: nem mesmo sei qual a reação de um leitor - em qualquer hipótese. Tanto faz. Deu-me na telha fazer, fiz. Não creio que haja mais belo mito - e nenhum me mostrou mais sobre aquilo que sempre mesmo me importou: a paixão.
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Entre em Literatura Rodriana e leia, se esta for a sua vontade, amado leitor, a íntegra de A Primeira Vez que Ouvi Latim, farsa sentimental em 3 pequenos atos, prólogo e epílogo. No mínimo, o meu velho e judiado Cupido o fará sorrir - vez ou outra.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Julie existiu.

Acreditem, Julie London existiu. E não bastasse tanto, tem uma das melhores versões de Cry me a river.

Nudez argentina.



Conheça a extensa obra do jovem fotógrafo argentino Walter Bosque. Muita nudez. Quem andar avesso à nudez feminina, que fuja da galeria. Aliás, foi-me dito estes dias algo como "este blog tem muita mulher pelada". Ora, cabe aqui uma rápida explanação. Para que serve um blog? Bem, é a mídia pessoal. Único lugar público que cabe a qualquer um. Você diz. Eu digo. Todos dizem. O que bem nos aprouver - apesar de um nem sempre útil patrulhamento. Se o eventual interlecutor não nos apreciar, vai logo clicando noutros cantos. Sem culpa ou desaforo. Respondida a primeira pergunta, respondo a segunda sem mesmo apresentá-la: desde o berço eu tenho devoção pelas mulheres - os totens reais da Terra. E da mesma maneira que um poema, um belo afresco de Rafael, os traços de Will Eisner, a simples visão da beleza feminina já me deixa ligeiramente embriagado. E terceiro e último: estranho seria se eu não colocasse mulheres nesta página. Se acontecer, façam o favor de me chamar num canto e perguntem, suavemente: "existe algum problema?". E ninguém pode negar que neste blog sempre há o devido deferimento.

P.S.: Estou vendo a final de Libertadores e uma pergunta me vem: por que cargas d'água o povo do Sul gosta tanto de chimarrão? Deve ser porque bebem desde pequinos e aquilo que a gente toma quando criança, vai acabar gostando depois. Somente isso explica certas porcarias que a gente bebe, e defende, como café com leite, chás amargos e Q-Suco.

Um viva aos paradoxos!

Não vou apresentar-lhe, leitor astuto, desta vez, uma galeria de muitos poemas. Apenas um poema. Um único. Aquele escolhido por uma comissão de notáveis, há alguns anos, como o mais belo poema brasileiro. Geralmente eu discordo. Mas desta vez seria bobagem. A Máquina do Mundo é uma obra daquelas de botar muito T. S. Eliot e Rimbaud no chinelo. Aliás, quer saber? Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Fernando Pessoa e Guimarães Rosa são melhores escritores que James Joyce, Ezra Pound, Jack Kerouak e mais uma dezena de autores americanos ou europeus. Infelizmente, porém, brasileiros e portugueses estarão sempre numa segunda divisão da literatura - segundo os critérios de pensadores felizes do primeiro mundo. Critérios que em geral perpassam as bases econômicas... Assim vai. Valorizamos, nós, os leitores do fim do mundo, muita arte mediana que os mais ricos nos emprestam. Como recusar algo premiado pela Academia Real dos bricabraques? Ora, nem tudo o que reluz é ouro. Nem tudo o que fede é lixo. Nem tudo o que é verde é alface. Aníbal Machado, por exemplo, põe muito nobel quietinho: um "senta, lê e aprende". E quem é que vai ler? Quem vai notar? Os acadêmicos e meia dúzia de arqueólogos literários.

Paradoxalmente, essa coisa torta de ficar comparando obras de arte como se fossem laranjas não é coisa que me agrade sempre. Apesar de dizer e jurar de pé junto que o livro de novelas Corpo de Baile é uma coisa melhor que qualquer coisa que Günter Grass ou Samuel Beckett já sonharam em fazer na vida, e dizer aos quatro cantos que Grande sertão: veredas é comparável, em beleza e profundidade, à Divina Comédia, de Dante Alighieri, sei bem que estas comparações são injustas. Alguém poderia dizer que um hífen de Shakespeare é melhor que tudo que já escrevi e ainda vou escrever nesta vida. Eu responderia: merda! Shakespeare não nasceu em Osasco, não trabalha como funcionário público da Justiça Federal e nem morreu mil vezes de tédio. Natural que tudo seja realmente diferente. Assim, meio que rebolando no paradoxo, afirmo e reafirmo a hierarquia das coisas.

Uma sacada fundamental é aceitar que paradoxos estão em tudo e todos. Esta é lei primeira. Agora há pouco por exemplo, num rápido passeio, desta Praça da República, lugar em que trabalho, até o Sindicato Brasileiro de Autores Teatrais, localizado na velha Avenida Ipiranga, fui tomado por diversas não-conclusões. Uma velha bem vestida e magra pediu-me dinheiro. Não estivêssemos ao lado de uma dezena de Bingos, eu teria alguma pena dela. Uma mendiga das mais extrovertidas cuspia nas costas de uma pouco atenta transeunte. Sei lá. coisa de mendiga. Moças entregavam folhetos que diziam: compre uma cerveja e ganhe uma c*. Sei lá. Coisas destas casas de perversão inocente e pobre. Como diria uma personagem minha, "perversão sem elegância é um nojo". Vi também... Deixa pra lá. Nada novo.
Sei que nem todos os visitantes deste blog moram nesta mesma e aturdida cidade. E até acharão que se trata da terra da besta encarnada. Mas São Paulo é apenas um antro de paradoxos.
E paradoxos são coisas bacanas. Posso assim dizer e desdizer e nada saber e de tudo duvidar. Posso afirmar que algo "é", mesmo sabendo que a afirmação é nada. Paradoxo é a aceitação de diversos pontos de vista. E tudo é realmente uma disparidades de olhos! A afirmação contraditória nos permite filosofar sem medo. Como quando a gente era pequeno e berrava com a cara na chuva, gritando sem qualquer necessidade.

Soul, jazz.

Seguindo adiante, que já é quarta-feira, Aretha Franklin canta Chains of Fools.

terça-feira, agosto 15, 2006

O iluminado.

Neste exato momento, vem-me aos ouvidos, sem que haja rádio, voz ou walkman ao meu redor, uma canção. Aquela do final inebriante e esquisito de O Iluminado. A música parece estar sendo sussurrada por... Sei lá. Talvez nem seja a mesma música. Mas o efeito de "quê?" é o mesmo. Talvez nem seja nada. Há dias em que acordamos meio desconfiados, acreditando que o dia reservará alguma surpresa sinistra. Em geral, nada é. Merdas acontecem de repente, sem iluminação prévia. Ainda bem mesmo que há um boa britadeira a estraçalhar o chão da minha vizinha Praça da Répública. Um barulho constante e elástico. A manhã está mesmo sendo daquelas em slow-motion, meio macabra - mas macabra como nos filmes que não metem medo a ninguém. Comi até dois pães de queijo - o que inviabiliza qualquer profunda esquisitice. Pães de queijo são a minha âncora.
*
Um corno está deixando uns comentários em meu blog. Comentários em inglês, elogiosos e falsos. Se algum curioso decide clicar numa seta logo abaixo ao seu testemunho, como fez a minha sempre curiosa mulher, logo somos direcionados a uma página das mais sujas de vírus. Pacientemente, vou deletando os comentários. Mas a pergunta que me faço sempre é: que leva uma besta quadrada a fazer algo tão cretino? Não seria melhor beber um copo de vinho ou fumar um quilo de cânhamo ou pular numa piscina cheia de boa água? Ou o sujeito não tem mesmo a menor consciência e é daqueles que vieram ao mundo tão somente para espalhar a chatice pelo mundo. Sim. Tem gente que é feito um vírus de computador. Não houvesse computadores, o infeliz seria um daqueles malditos pichadores de muros e paredes ou daqueles torcedores de organizadas destruidores de bancas de jornais - destruir bancas de jornais deveria ser um crime máximo, com pena de morte e espancamento público.
Ou alguém ganha a vida pra isso? Hum... Eu, cá no meu canto, tentando me divertir um pouco, fazendo meu bloguizinho humilde, quase como um brinquedo de meninice mal curada, e ainda tenho que perder parte do meu precioso tempo apagando comentários cuja única finalidade é torrar a paciência alheia.

Que nada.

Acabei de voltar do bom Hospital Sino-Brasileiro. Uma junta médica, formada por especialistas de todo o país, decidiu - em uníssono - que eu não tenho tendinite, nem porra nenhuma, com o perdão do termo. Tenho uma inflamação eventual, tão somente. Talvez uma pancada recebida num dia de bebedeira ou desarranjo do eqüilíbrio. E sei que neste momento de alegria, milhares de pessoas agradecem a algum deus ou pagarão promessa para o santo dos escritores, se santo houver para uma categoria em geral tão cética. Eu agradeço a todas as correntes... ahahah A piada é tão boba que eu mesmo me ponho a rir. Deixemos pra lá. Apenas comemoremos com toda sorte de refrescos - que hoje o dia é quente. E com o impávido colosso da fotogenia, Adriana Lima. E como miséria pouca é bobagem, amor só é bom se doer e gargalhar sem barulho é sacanagem, duas galerias, aqui e aqui.

Dianae.

Seguindo com a semana dedicada às vozes femininas do Jazz, Diana Krall interpreta Devil May Care, delicioso clássico de Johnny Burke and Harry Warren. E para que não pense, querido visitante, que sou de me deslumbrar com facilidade, veja o vídeo e depois repita comigo: "Que maravilha!".

Devil May Care

No cares for me
I'm happy as I can be
I learn to love and to live
Devil may care

No cares and woes
Whatever comes later goes
That's how I'll take and I'll give
Devil may care

When the day is through, I suffer no regrets
I know that he who frets, loses the night
For only a fool, thinks he can hold back the dawn
He was wise to never tries to revise what's past and gone

Live love today, love come tomorrow or May
Don't even stop for a sigh, it doesn't help if you cry
That's how I live and I'll die
Devil may care.

(Johnny Burke and Harry Warren)

Tendinite de outrora.


Na minha tão imaculada infância, pouco sabia sobre talento. Ou sobre nada, creio eu. Mas desde os seis ou sete anos eu já bem desconfiava que esse tal Jack Kirby era um desenhista espetacular. Eu fui daqueles alfabetizados por gibis e, entre outros, Jack Kirby me mostrava mesmo um mundo de um colorido e forma que deveriam, segundo aquela minha filosofia insipiente, ser o colorido e a forma deste mundo real. Imaginava pais, primos, vizinhos com os traços de Kirby, casas e ruas e tudo o mais (Quanto às as mulheres, as belas tão somente, deveriam todas ser desenhadas por um outro sujeito, da qual falarei na próxima semana). Minha devoção pelos quadrinhos, à época, era tanta que vez ou outra eu sentia algumas dores no braço, de tanto me apoiar nos cotovelos... daquele jeito quase oficial de ler gibis. Era uma quase tendinite de uma época em que não havia ainda um corpo que começa agora a cair pelas tabelas. Hoje os gibis são de outro formato, há um monitor à minha frente e eu já estou quase desalfabetizando. Mas o jeito de apoiar a pesada cabeça nos cotovelos... Hum... Não há muitas galerias organizadas - ou não tive a sorte de encontrá-las. Aqui estão algumas, onde o leitor curioso poderá saborear um pouco da obra deste mestre: aqui, aqui, aqui e aqui. Vale mesmo uma visita ao ótimo Marvel Masterworks. E se algum leitor eventualmente souber de algum outro bom sítio, com a obra de Kirby, deixe abaixo o seu precioso testemunho.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Duo de gente grande.

Sem meias palavras, Billie Holiday, canta The Blues are Brewin'. E vem acompanhada do negrão mais invocado daquela Nova Orleans.

Diversão Masoquista

Ler jornais é coisa pra masoquista. Pelo jornal, que decididamente nos considera tão somente um bando de imbecis. Pelas notícias, cada vez mais desagradáveis e infindáveis. Pela pobreza dos cadernos de cultura - e guerreiros são os jornalistas que os produzem. O problema está mesmo nesta apatia terrível. Na televisão, nada realmente presta. Nas rádios... Alguém ainda ouve rádio? Somente se salvam aquelas que não se apóiam em novidades... Esta fase, para a tal MPB, pode ser considerada a mais sem graça da história. O que chega a ser engraçado - uma vez que o Brasil sempre ou quase sempre teve gênios a rodo. Tudo anda aliás sem a menor graça, o que é paradoxo na certa. Os cadernos de política são engraçados. Mais nada. Geraldo Alckmin é uma figura cômica. E repete aquele velho lenga-lenga que só os que tem muito boa vontade acreditam. E como os jornais paulistas tentam nos enfiar o sujeito! Chega a ser irritante - se não fosse antes engraçado. E engraçado também é um país com um número inexplicável de deputados, os quais trabalharão uma ou duas vezes por mês até a eleição em outubro. Ganharão para não largar o osso. Seria espantoso - se não fosse antes engraçado. O meu aumento, inclusive, está lá, parado, aguardando que a pauta... E nisso não vejo graça nenhuma. Que cousa! A gente trabalha quatro ou cinco meses por ano apenas para pagar impostos e no máximo ganhar umas trinta piadas diárias, as quais desafiam o mais surreal dos comediantes. Os jornais douram a pílula e nos apresentam todas elas, em cada página. No entanto, sei lá como, leio os malditos jornais todos os dias. Agrada-me a falsa sensação de ser informado. Eu me chateio e me divirto. Se não fosse antes engraçado, eu diria que se trata de um grande masoquismo dos infernos. Falando neste curioso eixo entre conhecimento e desilusão, indico o sítio de uma das únicas revistas brasileiras que prestam. Uma leitura que não nos diverte nem um pouco - e neste mundo tão cheio de graça, isso é quase um prêmio.

domingo, agosto 13, 2006

Nancy.

Agora á vez de Nancy Wilson e uma delicada A Song For You. Aproveite e visite seu sítio oficial, onde inclusive ouvirá um bom punhado de suas poderosas interpretações.

Paris-Lapa (Via Centro).


A beleza está em todo canto. Mas bem que Paris poderia ficar entre Ibiúna e Piedade. Seria só passear atento pela Raposo Tavares e depois descansar, bebendo um forte café, naquele bom lugar que é a Torre Eiffel. Ou melhor ainda seria se ficasse aqui ao lado, no lugar que é Carapicuíba, cidade das desilusões estéticas. Aqui, sítio oficial da citada torre. Veja também o suntuoso FromParis, que tem imagens de toda a distante Paris.

Nota Explicativa

"Sr. das Nove Horas,

Este blog tem tão somente duas funções:

  • O lugar onde deixarei, de modo agradável, tudo aquilo que escrevo e preciso eventualmente mostrar a alguém. Até o final do ano tudo estará aqui, todas as vírgulas. Assim aquela coisa de imprimir, grampear, sedex será bem aposentada. E os livros não publicarei tão cedo. Eventualmente, alguém, por motivos seus, me dá a honra de sua preciosa atenção. Mas não tenho ilusões. Sou um macaco velho e desdentado.
  • O lugar onde a minha criatividade se masturba. Só. Vou postando aleatóriamente aquilo que eu bem gostaria de ver postado em alguns blogs. Aquilo que me parece bom, de que tipo for. Eventualmente, alguém, por motivos seus, me dá a honra de sua preciosa atenção. E curte comigo as mesmas paradas. Mas não tenho ilusões. Tenho lá gostos extravagantes para os olhos de muita gente."

Quem é que passaria mais de quatro minutos ouvindo e vendo a santificada Nina Simone? Hum... Seguindo com a semana de divas do jazz, ouça I love you, Porgy.

Ora, sobrevivente leitor, deixe abaixo um testemunho. Okay, I'm a dreamer. But I'm not the only one.

Linha Imaginária.

De hoje até sábado, as grandes cantoras de jazz. Muitas. Aliás, vale dizer que este blog terá destas coisas. Temas semanais, seja lá de que tipo. Portanto, deixe a timidez e mande lá alguma sugestão, imaginário leitor. Pra começar, Ella Fitzgerald e a manjada (e ainda tocante) Summertime, de George e Ira Gershwin.

Obs.: alguns leitores olharão para a tela e dirão, estupefatos, "ah! preto e branco! Que chato!". Que fechem então os malditos olhos e ouçam, sem pressa, a voz da sapiente Ella.

Suavidade elevada ao cubo.

A jovem atriz Ali Larter. Aqui e Aqui. Uma moça que me parece suave. Lembro-me inclusive das velhas palavras de Ninon de L'enclos: "o que é atraente nem sempre é bom, mas o que é bom é sempre belo".

Crônica Dominical

Herdamos de nossos pais toda sorte de mazelas. E passamos mesmo o resto da vida tentando nos livrar de uma ou outra "natureza aprendida", que bem nos incomoda. E alguns há que retransmitem aos filhos muito do que resolveu condenar... É a tal transmissão cultural que segue seu rumo, levando de gente em gente características nem sempre elogiáveis. Feliz e forte aquele que sabe bem separar o que se deve: pais e mães não são criaturas perfeitas e, independentemente da admiração, gratidão e amor que tenhamos por eles, devemos percebê-los e procurar a todo custo nos encontrarmos neles, nos pontos de contato - e chegaremos às conclusões mais úteis. Arrogância, preconceitos, intolerância passam de um para o outro de modo às vezes imperceptível... Vide o filmaço A Outra História Americana, 1998, em que feito um vírus as "falhas" paternas formam o filho e o mundo que este vê. Imagino, por galhofa, um filho de um destes políticos corruptos e traiçoeiros: há algum deles que se envergonhe por tudo o que o pai faz? Alguns sentem um aperto no peito por notar que o pai vive sua vida a explorar e mentir? Ou todos desde o berço aprendem também a acreditar que o povo e as instituições não valem mesmo merda nenhuma e gozam sem a menor culpa daquilo que muitas vezes nem deveriam ter? Pais e filhos se sucedem nas minúcias, não nos ofícios. Lembro-me até de algumas pessoas que encontrei por esta vida. Que pensavam dos pais e nas tais “herdanças” eu não sei. Mas como seria saber que seu pai tem um quê de pedofilia sem classe. Ou que seu pai dá umas porradas em sua mãe ("mesmo que ela andasse merecendo", como diria um velho e bom personagem, "afinal em mulher só se bate na hora da graça, quando ela mesma pede, sorrindo"). Que pensará o filho de um sujeito que atropela cães por gosto? Num delírio criativo me imagino filho de um sujeito desses de desviar verba de um Hospital do Câncer. Eu me envergonharia e o delataria ao Ministério Público e aos jornais ou seria mais um sucessor, acreditando que o pai tudo fez por amor e zelo aos seus? Não sei. Eu não tenho disso. Tenho uma tranqüilidade das mais assustadoras. A honestidade de meu pai chega até o osso, entranhada, irrita a qualquer um daquela turma do "jeitinho", típico desta pátria. Um homem da qual não se pode levantar um "ai", em nenhum lugar, por ninguém. Mas com o bônus está o ônus e resta a certeza que herdei um punhado de distorções. Este é nosso julgo, filhos do mundo. Parte do mundo que a gente vê foi ensinado e ainda assim, estamos caminhando, transformando os erros, piorando-os. Apenas a velha história, reedidata.