sábado, setembro 02, 2006

Que nada!

A moça da capa, apesar das semelhanças, não é uma modelo italiana. Nem mesmo uma daquelas atrizes que esteve em filmes de Bertolucci. Que nada. É tão somente aquela moça que tem a sorte de ter um escritor ao seu lado - porque escritores, caso as inocentes leitoras não saibam, são os melhores amantes, os mais compreensivos e divertidos. Tudo bem que também sejam os mais chatos, cínicos e sedentários - mas não vem ao caso a face feia da moeda. A moça de bela efígie, sempre fotografada por mim, é de uma fotogenia a dar inveja a muita moça pretendente à carreira de modelo. Mas Fernanda tem mesmo outros amores: o desenho e a pintura. Ufa! Sorte a minha. À ela, as minhas homenagens.

Ao leitor, os meus agradecimentos. A audiência vem aumentando sempre a cada semana, causando-me a mais decente das satisfações. Agradeço aos testemunhos e às sugestões dadas. Aliás, alguns leitores disseram-me que, por aqui, tem havido muitas postagens e palavras. Que o ritmo é muito! Pois então devo confessar que A Revista é feita com toda a naturalidade. Dá-me na telha escrever, escrevo. Haverá uma semana em que a verborragia dará lugar a algum silêncio, seja por cansaço, seja por melancolia, seja por quizila. Vez ou outra, o silêncio vem. Ele sempre vem.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Nenhuma chuva de groselha.

Acima, a atriz americana Jessica Biel. Para fotos da moça, aqui ou em seu simples sítio oficial. E neste exato momento uma chuva que não é de groselha despenca por sobre a urbe, molhando todo concreto. Chuva feia que servirá, ao menos, para retirar o pó de todas as coisas.

Melhor que chuva de groselha.

Um sujeito que admiro e talvez nem gostaria de ter seu nome citado aqui, neste víl espaço, uma vez que é reservado e avesso às badalações, estará por estes dias conhecendo a complexidade deliciosa do casamento. Tema sempre freqüente nas minhas elocubrações, nunca dei por encontrar sugestões além das óbvias idéias que todo mundo anda careca de saber.

Mas se não chego a ser especialista, poderia, pela experiência, arrolar algumas das coisas que os homens jamais devem fazer num casamento, sob pena de ter a noite estragada. Tal "numa briga, nunca fale palavrões novos. Os novos podem assustar e indicar muita raiva. Faça os xingamentos de sempre, os quais os ouvidos estão acostumados. Mesmo cabeludo, um palavrão freqüente não provoca pânico". Ou talvez "ao vê-la acordar, espere. Não diga nada. Primeiro veja qual mulher acordou: se aquela rabugenta, se aquela eufórica, se aquela carinhosa. A cada dia, um novo jeito. Depois de percebido o humor da patroa, siga com o melhor modo de dizer bom-dia." Ou ainda "nunca vá dizendo "não", sem mais nem menos. Concorde, com aquela cara de complascência. Depois, sossegue. Mulheres odeiam o "não", mesmo quando é caso de "não, nem morto". Ufa!

É assim. Precisamos daquela habilidade que só a prática ensina. Saber, por exemplo, que toda semana, sem falta, mesmo que a grana seja curta, devemos comprar agradinhos. Um chocolate, algumas flores, rocambole, coisas de inocência. Nada é mais certeiro que chegar, ver-lhe o rosto bravo, e estender-lhe a mão, oferecendo-lhe um tablete de Diamante Negro ou Galak. Quase que instantaneamente ela sorrirá. Ou que homem que não leva a mulher para as baladas mais interessantes, ou não leva à balada nenhuma, acabará com chifres maiores que o Cristo Redentor. Mulher gosta tanto de dançar e passear pela madrugada quanto gato gosta de leite.

Ter um relacionamento é bom, muito bom. Sobretudo quando acordamos e olhamos para a amável companhia, a roncar bonito, suave, ao nosso lado. Bom é vê-la também a preparar aquela sopa de coisas, que a gente come com alegria. Bom é ter com quer falar - se bem que mulheres em geral falam mais que os ouvidos masculinos suportam ouvir: como se o silêncio fosse feio. Mas a gente, homens de poucas e feias palavras, acabamos por nos acostumar.

Sobretudo porque nada é mais saboroso que a voz da mulher que nos faz carinho. Aquele grunhido de felina a ecoar por tudo, numa velocidade pouco compreendida. E casamento é também uma guerra de retórica. Sugiro fazer como eu e a patroa: numa partida de Winning Eleven 10 ou numa partida de Rouba Monte a gente resolve todas as disputas, todas as diferenças. Às vezes ela ganha, às vezes eu ganho. Assim são os amores. Um chora enquanto o outro ri. Na simulação, apenas. Que se esvai após um pouco de riso.

Espero que os recém-casados possam compreender que tudo pode um dia terminar em conflito e desânimo, mas que cada um pode de alguma maneira seguir o compasso, com a lealdade e o prazer assumindo seus devidos lugares, perfazendo uma espécie de cumplicidade, seja para o concreto, seja para o absurdo. Não é fácil. Mesmo para um velho que tem batido a cabeça na parede pra aprender a viver bem com as mulheres - seres tão belos quanto complexos. Muito mais complexos que toda a matemática do mundo.

Misoginia.

Clássica cena de O Dono do Mundo, novela de Gilbeto Braga, com Malu Mader e Antônio Fagundes, o qual interpreta aquele que creio ser o melhor cafajeste das novelas, Felipe Barreto. Não chega a ser vilão porque não sai sequestrando criança ou matando gente. Apenas conquista quem bem deseja. Um Valmont daqueles tempos de Collor e Lazaroni. A cena acima não está bem copiada, mas vale mesmo a revisitação desta baita cacetada misógina.

Notícia daqui, de perto...

Amados leitores. Como posso não ter pensado nisso antes? Afinal, nesta assessoria de imprensa em que ganho meus trocados, vez ou outra, notícias das mais interessantes são divulgadas aos veículos de comunicação. Na Justiça Federal, meu tão nauseante local de trabalho, muito ocorre que nos diz respeito, julgamentos dos mais curiosos. E quando, por ventura, achar que a notícia pode dizer respeito aos nossos vícios, publicarei aqui. Esta semana estivemos um tanto preocupados com o destino de nosso tão querido Orkut. Abaixo, release escrito pela sempre competente colega jornalista Viviane Ponstinnicoff:

"JF ORDENA QUEBRA DE SIGILO DE USUÁRIOS DO ORKUT

O juiz federal da 17ª Vara Cível, José Marcos Lunardelli, deferiu o pedido de antecipação de tutela para ordenar que a GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA. forneça os dados de perfis do site de relacionamentos ORKUT indispensáveis à identificação dos usuários do serviço do GOOGLE, que são objeto de investigação penal.

A ação civil pública, de nº 2006.61.00.018332-8, foi proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) para obrigar a GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA a fornecer os dados dos usuários do GOOGLE que têm praticado crimes contra os direitos humanos, como pornografia infantil e racismo. Segundo o MPF, mesmo quando cumpridas as ordens de quebra de sigilo, o braço brasileiro da empresa fornece os dados de maneira incompleta, o que impossibilita a identificação dos criminosos.

A GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA, por sua vez, alega que todos os dados do ORKUT estão hospedados em servidores localizados nos EUA, que são gerenciados pela empresa GOOGLE INC. e aos quais a GOOGLE do Brasil não tem acesso.

O juiz entendeu, no entanto, que "(...) os documentos acostados aos autos demonstram que a empresa GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA não tem cumprido com a presteza necessária as ordens judiciais de quebra de sigilo de dados ou, quando tem prestado informações, tem-nas fornecido de forma insatisfatória".

A decisão judicial diz ainda que "(...) não há relevância o fato de os dados estarem armazenados nos EUA, já que a totalidade das fotografias e das mensagens investigadas pelo Ministério Público foram publicadas por brasileiros, a partir de conexões de internet feitas no território nacional".

Para o juiz Lunardelli, não há fundamento a escusa da Google do Brasil em não atender a ordem judicial pelo fato de os perfis estarem sob gerência da GOOGLE INC, pois a primeira é controlada integralmente pela segunda.

A GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA alega restringir suas atividades ao marketing e às vendas. Sobre isto, diz o juiz: "(...) para vender serviços no Brasil a Google está presente, mas para colaborar na elucidação de crimes, não! Trata-se de postura cômoda e complacente com os graves crimes praticados no serviço ORKUT por nacionais, e que não encontra respaldo no ordenamento jurídico brasileiro, além de refletir um profundo desprezo pela soberania nacional ao facilitar que se subtraiam da jurisdição criminal os brasileiros que utilizam o anonimato do serviço ORKUT para cometer crimes de pornografia infantil e racismo".

O juiz concluiu que é dever da GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA cumprir as ordens judiciais, entregando os dados dos perfis solicitados e fixou o prazo de 15 dias, sob pena de multa cominatória diária de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) para cada decisão judicial não atendida pela ré."
(Assessoria de imprensa da Justiça Federal de Primeiro Grau em São Paulo.)

quinta-feira, agosto 31, 2006

Santa euforia.

Termina a semana musical, dedicada à mulher que corajosamente suporta minhas esquisitices. Resolvi finalizar com uma música que nem sei ao certo se ela gosta. Mas se não gostar, mando internar. Coisa assim. Afinal, veremos aqui uma das mais entusiasmadas vozes da canção dos tempos de Woodstock. Joe Cocker, naquela que foi a grande balada da história. Melhor que qualquer Rock In Rio ou Festival de MPB. Melhor que a melhor das raves. Melhor que qualquer aumento de salário. E não bastasse tanto, Joe Cocker vem cantando uma música dos impolutos The Beatles. With a Little Help From My Friends. Clássico de fazer até o mais cafajeste dos meus amigos chorar.

Disco Rígido.

Boris Vallejo, grande pintor peruano, desde a década de 70 vem brindando seus admiradores com sua belas mulheres e seu fantasioso universo. Galerias excelentes aqui e aqui. Mas há mais, muito mais que isso. Basta procurar pelo amigo Google.


E que nesta tarde sem graça todos os que precisam mesmo encontrar um jeito de esvaziar o HD dos pensamentos, eliminando os arquivos inúteis, duplicados, corrompidos, possam descobrir um teclado imaginário, com um único botão: delete. Enquanto a limpeza não vem, vou tentando desfragmentar as idéias. Somente espero não travar novamente. Estou farto de apertar o reset a cada noite.

O peso das coisas.

Tudo o que posso dizer hoje é: há dias em que a cabeça parece uma bigorna. Tudo é peso e ausência de vento. A vontade é enfiar a cabeça entre os travesseiros, deixar por lá, esquecer por horas. Mas infelizmente carregamos sempre a cabeça, a qual não desliga, não parece entrar em modo de espera, funciona sempre, calculando possibilidades pra tudo; pensando nos outros, nas idéias, nos colapsos; encontrando modos de vencer o medo e a inércia que o corpo ganha a cada dia.

E a cabeça não desliga. Não tem botão de pausa e nunca encontra um ópio que a deixe andar tranqüïla. Tudo é confusão de perguntas aos montes, sem resposta, sem precisão. É dúvida após dúvida, anotação de possibilidades, sem filtro que nos retire as inutilidades - pois como diria aquele poeta-mestre, Alberto Caeiro, "Pensar é estar doente dos olhos". Sim, hoje é um dia agradável para a leitura de Alberto Caeiro. Aquele que nos dá lições de alta raridade:

"Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas."

Meus olhos doem. Estão doentes, talvez. Por querer ver em tudo uma explicação boa. Por olhar no fundo escuro de cada sensação. Por querer ver de perto o que brilha nas coisas. Doem e espero por um tempo em que meu olhar me pareça aquele olhar nada preocupado de minha infãncia. Não olhava para o mundo em busca de nada. Apenas olhava. Isso era o prazer da suavidade. Hoje a cabeça é uma pedra enorme, empoeirada. E os olhos bailam, com certo descompasso. Pensar enjoa.

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."

Alberto Caeiro ensina mais, muito mais. Mas mesmo este poeta - que julgo com o olhar bastardo de acadêmico - deveria me aparecer de outro canto. Sem as teses e os confrontos . Estou farto, por ora, deste excesso de tudo.

Por fim, para acabar com o ranço das palavras, a bela toda bela Paula Toller acompanha o medalhão Rita Lee, numa agradabilíssima versão de Desculpe o Auê. Coisa fina. Tipo de canção que não pesa em minha cabeça, nem me leva a conclusão alguma. Apenas embala. Agrada.


quarta-feira, agosto 30, 2006

Causa e sintoma.

Pois é. Mau-humor tem sempre a mesma origem: a boca. Comemos uma porrada de lixo e acabamos com as entranhas alteradas. Se até morremos pela boca, como diria aquele velho filósofo, não seria espanto algum surgir de repente uma raiva do mundo apenas por culpa de certo alimento indigesto. Se estrago há no estômago, há no humor. Pesquisando um universo de sítios, encontramos soluções, receitas e mesmo indicações de alimentos que nos melhoram o dia. Alguns até indicam o que não se deve fazer, o que se deve pensar. E vai assim, muitas indicações para deixar o dia sorrindo: mas se há tanta receita, de tudo o que é lado, para levarmos a vida, porque ainda fazemos tudo do mesmo judiado jeito? Talvez porque as lições de chineses antigos, gregos sábios, medievais filósofos não nos sirvam muito. E quase tudo o que se intitula auto-ajuda moderna não presta nem pra fazer piada. Ninguém tem mesmo algumas dicas realmente certeiras para atrapalhar com o nosso mau-humor de qualquer hora. Ninguém nos diz: "chupe laranja, nu, vendo ou ouvindo Morena D'Angola. Uma sessão de 20 minutos resolverá." ou "escreva numa folha de papel, com caneta vermelha, todos os palavrões conhecidos em nossa língua. Uns 30 palavrões podem resolver." ou ainda "imite o seu cão, lambendo o próprio braço. Somente o braço direito já é suficiente.".

Falando em como vencer o mau-humor, nada como cantar bem alto uma música que lhe pareça boa. A canção e cantora abaixo não são das minhas preferidas, mas vale lembrar que esta semana a postagem das músicas tem o propósito de satisfazer ao gosto da aniversariante. Cássia Eller, falecida, canta uma das melhores músicas daquele falecido Renato Russo. Por enquanto, é isso.

Tecidos inteligentes e o mau-humor.

Hoje mesmo o sítio UOL publicou notícia espantosa. Já inventaram a porra do tecido inteligente. Um pano de fibras óticas que pode transmitir imagens diversas. A coisa toda anda um tanto insipiente e é natural que seja. Mas não nos custa imaginar o que será esta roupa tecnológica daqui a alguns poucos anos. Compraremos uma camiseta. Com um cabo USB, conectamos a roupa ao computador. Baixamos as imagens ou textos que bem desejarmos ter estampados e pronto. Uma camiseta, aliás, serviria para diversas situações. Num dia, estampamos um porco, no outro um relógio, no outro uma abóbora de dia das bruxas. Qualquer bobagem que nos der na telha. E haverá calças e blusas e quiçá cuecas e calcinhas com poemas alterados a cada dia. Creio até que esta parada será até mais revolucionária que a roda, o clipe de metal e o palito de fósforo.

Se já tivêssemos destas roupas programáveis, seríamos todos "blogs" ambulantes. E pessoas, nos trens e metrôs, passariam a ler as notícias nas costas, braços e pernas de todos. Aposentaríamos os jornais e as revistas. E nem precisaríamos mais de explicações - apresentações - teríamos a nossa página do orkut estampada para quem quisesse ver. Seria mais simples fazer amizades. Ufa! Esses inventores são mesmos geniais! O único problema seria colocar algo tão bacana, como um conto de Machado de Assis, e uma aglomeração de leitores se formar à nossa volta. Até que a leitura tivesse terminado, os curiosos nos seguiriam. Alguém até poderia dizer, de repente: "pára de se mover, diabo!".

Certamente teríamos mais trabalho para se vestir - as mulheres, então!, demorariam não mais duas, mas quatro horas! Afe! Ainda mais quando fosse a hora de escolher a cor certa do vestido. Seriam centenas ou milhares de opções... Realmente divertido será viver nas próximas décadas, em que muita sorte de parafernálias serão desenvolvidas.
Hoje mesmo eu teria na minha blusa, em minhas costas, alguns palavrões intraduzíveis, alguma imagem que desse nojo em todo mundo. Algo que demonstrasse, sem ambigüidade, todo o mau-humor que andou me acometendo, sem mais nem menos. Uma nuvem negra e fria passou por aqui, envolveu a minha cabeça e ficou. Coisa assim. E isso de mau-humor me lembra sempre uma certa criatura que conheci. Seu mau-humor era tanto que até o analista deu-lhe um basta.

(Apenas tenho uma dúvida: quando é que vão inventar cigarros que fazem bem, com doses de vitamina C e fluor para os dentes?)

terça-feira, agosto 29, 2006

Piada que faz muito pouca gente rir.

Todo mundo sabe que eu detesto piadinha. Essas gracinhas que a gente recebe por e-mail, quase nunca abre, deleta sem questionar. Pior mesmo é quando a piadinha vem em "*.ppt". Não creio ter rido de nenhuma, em toda a minha vida. Mas isto não significa que eu deteste rir. Fomos todos, de minha geração, apresentados ao hedonismo logo aos cinco anos de idade. Era a utopia dos palhaços a cantar "sempre rir, sempre rir, pra viver é melhor sempre rir..", versos transformados de Be a Clown, de Cantando na Chuva, obra citada neste blog há algumas semanas. Rir é o melhor remédio e entorpece bem. Agora há pouco, meu amigo e conterrâneo Zé, o qual mantém o blog Zénaveia, indicou-me este genial vídeo do grupo Monty Phyton, ícone do humor inteligente. Rir assim é melhor, mais garantido.

A gente muda. Quase sempre pra melhor.

Esta música muito agrada à aniversariante. E talvez seja a canção que mais me faça lembrar dela. Um pouco por contar das nossas coisas, um pouco por ser uma melodia delicada e leve, como ela. Elton John nos doa a obra-prima romântica Your Song. Chegamos até a sentir certa raiva.

A gente muda, com o tempo. Melhora vez ou outra. Vê que coisas e idéias do passado, que a gente defendia tanto, agora são imensas bobagens, estupidez de cabeças mal formadas. Existe até certo arrependimento. Pouco. Apenas uma agulha fina. No dedo indicador. Olhamos pra trás e vemos a bobice da adolescência, aprendendo a se ver nas coisas. Vem mais tarde a chama de alguma maturidade, bem fraca e irregular. Vem o tempo. A gente muda. Muda a forma de ter saudade e a forma de ter raiva. Muda a maneira de reconhecer os amigos e o modo de beber cachaça. Contamos até as vezes em que fomos realmente débeis, falhos; aquela rata fantástica cometida na frente de quem não devia; aquelas palavras engasgadas no momento chave; a vez que sentimos medo, muito medo, quase de mijar. Lembramos. Quase passa a ser muito natural: se lembrar. Não havia "tanto" antes, a cabeça era fresca. Lembranças eram poucas. Tragédias quase nenhuma. Sonhos, inúmeros. Agora percebo mesmo que a gente muda. Mesmo sendo a mesmíssima criatura que nada percebe de novo, o imudado, o reconhecível. Mas muda. Sei lá como.

Disse bobagens na vida. Muitas, de tudo o que é jeito. Sobretudo se os ouvidos eram femininos. Tanto bobo, quanto empojado. Não gostava de muita coisa, nariz empinado, intérprete ruim de intelectual. Mas somos todos por fazer, a adolescência é um asco. Ainda bem que há muitas cacetadas na nuca.

Disse que não gostava de Elton John. Que achava piégas, opaco. Inclusive aquela canção de O Rei Leão. Hoje bato em quem discordar: o cara, além de compositor jupteriano, é um intérprete poderoso. Fez uma dúzia de clássicos. Inclusive aquela, de O Rei Leão.

E imaginar que há tanta vida pela frente... Que estaremos ouvindo em 2039?

Mais.

Vez ou outra eu leio um texto que considero espetacular e me bate uma vontade esperta de postá-lo aqui, dividindo-o com o leitor. Mas sempre tem aquilo de direito intelectual, restrições e comércio. Há duas semanas, no caderno Mais!, do jornal A Folha de São Paulo, foi publicado um texto do sempre lúcido historiador Boris Fausto. Um texto realmente muito bom, acerca dos problemas e conseqüências da democracia. Fica-me a dúvida: postá-lo aqui, neste blog tão humilde, poderia eventualmente me desgraçar? Seria eu censurado e processado? Seria eu marginalizado pelo amigos e colegas de trabalho? Ora, tanta gente faz coisa tão pior que isto e nada mesmo acontece! Tem gente que copia a revista Veja toda e sai distribuindo pela rede. Tem gente que divulga as fotos da Playboy antes mesmo da edição estar nas bancas. Tem gente que falsifica remédios. E outros... Bem. Tenho dúvidas quanto à moralidade de divulgar um texto esclarecedor, bem escrito, cujo teor não é de maneira alguma banal. Se a inteligência, tão rara neste país, aparece, escondê-la numa edição de jornal do dia 13 de agosto, lá pelas últimas páginas, não me parece muito justo. Sim, concordo com o irritado leitor. Assinantes do jornal podem acessar a matéria. Os outros todos que se lasquem. Portanto, se alguém reclamar - basta me mandar uma singela mensagem eletrônica - e eu retiro o texto abaixo, como qualquer outro que eventualmente me parecer interessante colocar.

"O vácuo da democracia

Embora sem o culto à personalidade das ditaduras, regime marcado pela "mediocridade" também não consegue abolir lideranças e símbolos

BORIS FAUSTO
COLUNISTA DA FOLHA

Um traço que caracteriza regimes totalitários ou autoritários, com suas respectivas gradações, é a capacidade de produzir rituais, mitos, símbolos e paixões. Isso ocorreu em regimes como os de Hitler, Mussolini, Stálin, Mao Tse-tung. Não faço referência aos casos atuais de [Fidel] Castro e de [Hugo] Chávez, este último encarnando uma situação autoritária em via de converter-se em regime autoritário, porque merecem uma análise à parte. Os exemplos referem-se a regimes em que se destaca uma personalidade extraordinariamente forte, por mais que possamos ter horror ou nos opor visceralmente a ela; falam de rituais esteticamente muito bem encenados ou pelo menos eficientes nos seus efeitos cênicos; falam da manipulação de símbolos que calam profundamente em amplos setores da população. Inspirado no seu passado de militante socialista, Mussolini soube martelar na técnica da Itália "nação proletária", diante das grandes potências do mundo, combinando-a com o mito do ressurgimento do Mediterrâneo como o grande lago romano; Hitler encontrou quem encenasse os grandes rituais dos congressos partidários em Nuremberg, explorando também o tema da desforra de uma nação humilhada pelo Tratado de Versalhes [1919], sob ameaça da conspiração judaica internacional. Stálin encarnou o mito da revolução proletária mundial. Revelou-se um gênio na construção da máquina partidária e do Estado totalitário, mas, ao contrário dos outros citados e de seu rival Trótski, não possuía dotes de oratória. A rudeza, a violência sem limites e, ao mesmo tempo, o encanto pessoal em doses calculadas foram armas de seu poder absoluto. Em contraste, os regimes democráticos, por sua natureza, não têm tais características, e há mesmo quem assinale que eles contenham como um de seus traços principais a mediocridade. Assim, Ian Buruma e Avishai Margalit, no pequeno e sedutor livro "Ocidentalismo" (ed. Jorge Zahar), salientam essa circunstância, acrescentando que o heroísmo revolucionário, o espírito de sacrifício e os horizontes de um futuro radioso encantaram muitos intelectuais do ocidente e os levaram a glorificar a União Soviética de Stálin, a China de Mao, o Irã dos aiatolás etc. Buruma e Margalit citam o historiador nacionalista alemão Arthur Moeller van den Bruck (1876-1925), para quem as sociedades liberais dão a todas as pessoas o direito de serem medíocres, pois seu objetivo principal reside em promover a vida rotineira, e não a vida excepcional. Eles dizem, com justeza, que essa observação não é inteiramente equivocada e lembram Tocqueville, que, fascinado com ressalvas pela democracia americana, já por volta de 1835, fazia considerações semelhantes.

Discurso e jogo

Lembrei-me, a propósito, da utilização do tema numa revista de propaganda inglesa, no curso da Segunda Guerra, editada em várias línguas, inclusive em português. Aí se contrastavam, com a força das imagens, um discurso de Hitler na Alemanha e um jogo de cartas num pub inglês, encimando as respectivas legendas: "O discurso do Führer que nunca acaba; o jogo de cartas que nunca acaba". Uma das questões mais significativas que essas comparações suscitam é a de que a "mediocridade democrática" não prescinde de lideranças nem de símbolos, embora ambos devam ser, por sua natureza, essencialmente diversos dos que caracterizam regimes totalitários ou autoritários. Em especial, uma democracia de massas, como a existente em alguns grandes países, de que são nítidos exemplos o Brasil e a Índia, não pode abrir mão de uma simbologia que expresse suas virtudes, embora não seja fácil de ser elaborada. Parece mesmo que só em situações excepcionais os líderes democráticos têm tido essa capacidade, como mostra o exemplo do "v" da vitória figurado nos dedos de Churchill nos momentos mais críticos da Segunda Guerra Mundial. A necessidade da formação de lideranças democráticas, que pela natureza da democracia não se perpetuam no poder nem tentam transformá-lo em condomínio familiar, salta também aos olhos. Lideranças que se expressem com clareza e com respeito à dignidade do cargo que ocupam, que traduzam aspirações e metas, que não hesitem em tomar medidas impopulares quando necessárias, explicando à população as razões dessas medidas. Infelizmente, no panorama internacional, há uma carência dessas lideranças. O presidente Bush dispensa maiores comentários, num texto curto; Tony Blair, outrora líder da terceira via, acomodou-se à sombra de Bush, selando, aliás, seu destino pessoal; [o presidente francês] Jacques Chirac não é nem a sombra de um De Gaulle; o respeitável [premiê italiano] Romano Prodi não chega a despertar entusiasmo e, quanto a seu rival Berlusconi, é melhor nem falar. E nosso país? Estaríamos correndo o risco de ressuscitar a frase atribuída ao ministro de Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha, para quem o Brasil, em sua época, era "um deserto de homens e de idéias"?

BORIS FAUSTO é historiador e preside o conselho acadêmico do Gacint (Grupo de Conjuntura Internacional), da USP. É autor de "A Revolução de 1930" (Companhia das Letras)."

O texto acima foi publicado no sempre útil caderno Mais!, da Folha de São Paulo, no dia 13 de agosto.

Boas razões.


As mulheres mais bacanas que conheci na vida gostam de Raul Seixas. Gostar de Raul é uma espécie de indicativo forte e certeiro, seja de um certo cinismo, seja de um bom-humor dos mais agradáveis. Mulheres que não gostam de Raul, em geral são desanimadas... Hum... Não gostar de Beatles e Roberto é imperdoável, mas nós, homens de boa esperança, vamos aos poucos confundindo, convencendo, aconselhando... até que de repente a moça está a ouvir Eleanor Rigby, cantando alto para a vizinhança. Mulher nenhuma passará a vida toda longe da voz de Paul MacCartney ou avessa aos versos suaves de Roberto Carlos. Mas com o Raul a questão não é de romance ou poesia. O que ele nos diz é ainda mais subjetivo, cheio de fúria e regozijo. Raul é antes de tudo um filosofo das vulgaridades. Assim, mulheres que ouvem Raul entendem bem o que mora nas "estranhezas", sabem da irreverência e do desconforto que o mundo tem. Sabem rir bem mais alto. Acima, ouçam Eu também vou reclamar.

O eleito. O lascado.

Formulamos, meus amigos e eu, uma espécie de teoria que define qualquer artista como um ponto X numa linha finita de 100 graus que tem como limite, à direita, Van Gogh, e à esquerda, Pablo Ruiz Picasso. Alguns artistas, seja de que tipo de produção, nasceram picassos. Terão muitas mulheres e reconhecimento em vida. Ganharão dinheiro e morrerão felizes, chegando a escrever talvez alguma biografia com um título tal qual fez Pablo Neruda em "Confesso que Vivi". Outros, sem orelha e conforto, serão van goghs lascados, vivendo tudo sem jamais ter qualquer tipo de merecido reconhecimento. Morrerão e o tal sucesso póstumo não lhes teria mesmo muita valia. Quem está a zero grau Van Gogh é daqueles sujeitos sem o menor rumo. Em geral, nós, pobres criadores, passeamos pela tal linha Picasso-Van Gogh sem contudo permanecer em algum determinado ponto por muito tempo. Eu, creio eu, estou a 6º Van Gogh, por ora, e cheguei já a 49º Picasso, próximo ao ponto meridional chamado de "nem fede, nem cheira". Que em verdade é melhor que nada. A teoria é complexa, mas nos conforta. Alías, antes que me chamem de presunçoso, por comparar um tanto de gente humilde com as duas figuras maravilhosas da arte, informo que a escala não é de talento - que somente poderá ser julgado pelo tempo e mais ninguém. A escala é de "nível de realização artística-social" e mede o quanto andamos danados ou afortunados. E mesmo eu, que não faço sucesso nem lá em casa, tenho lá minhas caras de Picasso. Pelo menos, somos escorpianos, amamos a beleza de tudo e somos amados pela mulheres mais generosas. Minha porção Van Gogh é aquela da loucura e do desarranjo da cabeça, desesperada - quase caindo pelas tabelas. Todos os dias corto as minhas enormes orelhas.

Picasso dispensa comentários. Provavelmente o grande artista do século XX. Passe um tempo, amigo leitor, revisitando as maravilhosas imagens de um mundo que é mais Van Gogh do que se possa imaginar. Aqui e aqui.

Obs.: surge um pequeno corolário: "Todo Picasso tem em si um Van Gogh domesticado. Todo Van Gogh tem em si um Picasso adormecido".

segunda-feira, agosto 28, 2006

Canção assassina.

Seguindo com os mimos, uma das canções que mais comove a moça homenageada. Killing me softly with his song, na voz certeira de Roberta Flack.

Seu corpo

No seu corpo é que eu encontro
Depois do amor, o descanso
E essa paz infinita

No seu corpo, minhas mãos
Se deslizam e se firmam
Numa curva mais bonita

No seu corpo o meu momento
É mais perfeito
E eu sinto no seu peito
O meu coração bater

E no meio desse abraço
É que eu me amasso
E me entrego pra você

E continua a viagem
No meio dessa paisagem
Onde tudo me fascina

E me deixo ser levado
Por um caminho encantado
Que a natureza me ensina

E embora eu já conheça bem
Os seus caminhos
Me envolvo e sou tragado
Pelos seus carinhos

E só me encontro se me perco
No seu corpo.

(Roberto e Erasmo Carlos)

Outra pequena obra-prima da dupla de românticos mais bem criativa que este país já viu. Caso o nobre e também romântico leitor queira ler algumas outras letras dos dois compositores, clique aqui. Aliás, quem não gosta de Roberto e Erasmo é ruim da cabeça ou doente do peito - que já deve andar mais duro que concreto.

A mulher.

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Eu me encontrava esperando. Naquela fase em que ficamos atentos, como se bem soubêssemos que algo espetacular vai nos acontecer a qualquer minuto. Um evento qualquer e inesperado que altera o caminho que a gente trilha. Assim eu me encontrava. E quando a vi, naquela noite em que tive duas doses de uísque como padroeiro, tive a visão que sempre esperei - aquela coisa pequena que é a devoção, a aparecer no pequeno peito, judiado já de tanto desacerto. Era aquela visão que nos conforta e nos faz eletrizar, perder a respiração de angústia e desejo. Aquela lua que nunca esteve no céu a brilhar, mas de repente se fez, nos fazendo esquecer do céu que antes era, sem lua, sem maravilha.
2
Era então o mundo que se encontrava transformado. Meio bobo, menos sisudo. Mundo que fica melhor - e nem digo melhor como querendo elogiar-lhe a simplicidade. Mundo mais rico de temores, mais farto em paz. O mundo numa forma e rosto que era a senha que me diria, enfim, que era tempo de saber do amor in media res. Um amor que não se vê crescer, tarde após tarde. Mas já nascido, mamado e crescido aparece, já sabendo desesperar, embriagar a cuca. Amor que se tem quando se vê aquilo que era idéia, quimera.
3
Quando eu a vi, tive a confirmaçao daquela coisa dos filmes bobos - aquela coisa de um personagem que vê a moça entre a multidão e antes que pisque os olhos já está bem arriado de amor, abobalhado, feroz. Amor que nem de conquista é, dispensa a lenta e medrosa gradação. Já nasce apurado.
4
Fernanda Ferreira, minha mulher, faz hoje aniversário. Há alguns anos estamos juntos a tocar a vida, a seguir com o rumo das coisas. Juntos, notando os detalhes, cada pequenina imagem que nos afigura; a alimentar a boca um do outro com açúcar, ininterruptamente..
5
Desde o primeiro segundo, ela dá à minha vida a beleza que tanto perturba quanto acalenta. A beleza que eu havia desejado ver tão de perto e que de repente me abraçou, colocou-me no colo, e suavemente tem me feito esquecer que o mundo é aridez e desencontro. Beleza que tem me dado água fresca, a cada sede.

Gosto.

Como o momento é de comemorações, por aqui, esta semana ouviremos tão somente aquilo que ela, a aniversariante, gosta e ouve. Uma seleção de mimos. Pra começar, U2 e a boa The Sweetest Thing.

domingo, agosto 27, 2006

Crônica Dominical

Reflexão acerca da frase dita por Lorne, personagem de meu último texto, cujo primeiro ato está disponível neste blog. Quando me pedem uma definição de "A vida é pura bosta enfeitada de açúcar", eu digo sempre:
  • nem sempre a vida é pura bosta efeitada de açúcar, muitas vezes é açúcar coberta de bosta. Pra chegar no doce, o paladar enfrenta muito asco;
  • o problema do açúcar é causar cáries, engordar e viciar. Faz mal tanto quanto qualquer conhecida droga. Viver de açúcar é feito viver de má cachaça, embriagado a qualquer hora. Além de estúpido, fica-se estragado cedo;
  • a bosta é também adubo. Fertiliza também os jardins. Ajuda a florescer as coisas todas que fornecem algum fruto;
  • no momento em que escrevia a passagem do texto, cheguei a pensar em mel, que além de delicioso e alimento poderoso, é um belo símbolo. Mas mel não vicia, creio eu. Nem é uma invenção que a gente teve. É a natureza - nossa também. Mel nunca foi narcótico.
  • a bosta é feito o lado obscuro que há em tudo. Aquilo que nos dá náusea, nos faz ter vergonha, nos faz querer morrer, às vezes; nos faz chorar, muitas vezes.
  • vive melhor aquele que sabe bem da merda do mundo. E não se importa, não sai amaldiçoando a vida, pisa, sem frescura, em tudo o que lhe degrada. Que vai jogando sementes de qualquer coisa em tudo.
  • vive melhor aquele que sabe bem morder do açúcar, sabe precisar dele - e o inventa a todo instante. Ninguém vive bem sem o vinho dos amores, da arte e da fé nos ideais mais belos.
  • na minha merda, semeio uma meia dúzia de plantas cujas flores são até simpáticas. Vou plantando. Tem vez que sai um broto amorfo e ridículo. Tem vez que sai uma flor que me enfeita a lapela. Tem vez que nada vive. O belo é semear - colher é obrigação;
  • meu açucareiro é grande. Pote de muitas ilusões. Muitas. Me entorpeço quando é bem chegada a hora de lavar as mãos, esquecer do odor, das feiúras que a vida tem. Me entorpeço de açúcar: seja num beijo da mulher que amo, seja nos versos de Goethe, seja na hora de me imaginar um escritor que o mundo abraça. Seja num copo de vidro, bem enfeitado de absinto.

Amigo leitor, sem ópio e consciência não se vive bem. Esse longo caminho não é fácil...