sábado, novembro 25, 2006

Retro Models.

A moça da capa desta semana esquisitamente veloz é Dita Van Tesse, outra bela e competente modelo retrô. Trata-se de um modo bastante enternecedor de divulgar a beleza mundo afora. Creio mesmo que a tendência bem se justifica.

De resto, vai quase tudo como sempre. Alternando entre goles de pessimismo e euforia, a boca nunca acaba por ficar amarga, uma vez que o açúcar é constante e inacabável.

76

Outra aparição de Roberto Carlos nesta lista pessoal. E nem me atrevo a escrever mais. Há poucos instantes eu finalizava esta mesma postagem. Mas uma imperícia digital me fez apertar um cretino botão que há neste teclado. E o computador resolveu desligar... Creio que o leitor me entenderá.
Proposta

eu te proponho nós nos amarmos, nos entregarmos
neste momento tudo lá fora deixar ficar
eu te proponho te dar meu corpo
depois do amor, o meu conforto
e além de tudo, depois de tudo
te dar a minha paz

eu te proponho na madrugada, você cansada
te dar meu braço no meu abraço fazer você dormir
eu te proponho não dizer nada
seguirmos juntos a mesma estrada
que continua depois do amor
até o amanhecer...

(Roberto e Erasmo)

sexta-feira, novembro 24, 2006

Três fundamentos.

Três trailers genais. De filmes que são mais que fundamentais para o cinema. São fundamentos. Daqueles que fundaram um tipo, uma imagem, um conceito formal e subjetivo. Pensemos apenas que a arte cinematográfica existe há pouco mais de cem anos. Pouco tempo. O teatro, em sua mais curiosa decadência, agoniza e se rasteja para sobreviver. E antes que julguem o que acabo de dizer, informo aos novos leitores que sou um teimoso dramaturgo, apaixonado pelo palco como um sujeito que ama uma desavergonhada interesseira. Em geral, é somente desgosto e prejuízo, mas é ainda uma delícia

Quanto ao cinema, novo novo, coube a alguns grandes diretores, apresentar um modus operandi e constituir a premissa básica e subjetiva de uma arte que ainda restará - enquanto o Homem não resolver acabar com a huminadade. Ou seja, em breve.

Blow Up.

The Apartment.

Ieri, Oggi, Domani..

Mas como eu sou profundamente indeciso, apresento mais dois... Triste de quem não pode ter acesso ao Youtube... Malditas empresas!


Bocaccio 70'.

It's a wonderful life.

Vintage e os sabores do tempo.


Se a máquina do tempo fosse inventada, teria naturalmente uma porção de utilidades. Mas como tal máquina nem me parece possível, esqueçamos as possíveis e engraçadas elocubrações acerca de seu uso. Fiquemos portanto com essa onda deliciosa, denominada Vintage, que tem cada vez mais adeptos pelo mundo afora.

Uma mulher vintage é antes de tudo um prazer que rompe as limitações espaço-temporais e nos deixa, homens de boa índole e imaginação, a sentir uma certa expansão... meio como ter um livro impresso em 1890 ou ouvir um disco gravado na década de 20. Ou beber um absinto daqueles dias... Não. Não sei exatamente a definição. Mas que é, é.

Mulheres, mais vintage para a beleza de todas!

Acima, nas fotos, Bernie Dexter, moça destes tempos de luxúria revisitada. E há mais, há a loura Lana Landis. Pra ver e refletir. E pensar na beleza que a mulher sempre inventa e reinventa. Mulher é mesmo uma maravilha.

Energia para o corpo adormecido.



Já lhes disse nalgum dia. Alguns empregos exigem do pobre trabalhador um dinamismo e uma ambição fora do comum. Outros exigem força. Outros exigem concentração. Mas há aqueles que exigem paciência e bom humor, ou o cérebro e toda a carcaça vão se derrotando em letargia e sono. Horas e horas a esperar por algo que nem sempre vem. E quando vem, em poucos minutos se esvai. Não é mesmo fácil. Mas não quero me repetir. Lembro-me de ter escrito uma simpática crônica sobre o trabalho que me remunera.
Mas acontece que a letargia por vezes se estende pelo resto do dia. Pela noite, quando em casa eu deveria pular e gritar feito um Jerry Lee Lewis tresloucado. Letargia danada de pesada. Um sono que vai se tornando crônico. Que se há de fazer?
Esta semana, Algo me fez rememorar velhas soluções adolescentes. Ora, pra que serve o Rock afinal? Justamente nasceu pra tirar o mundo de uma cruel modorra que o capitalismo impôs a toda gente, pelo trabalho árduo. Pela precisão de grana.
E ouvindo Sheer Heart Attack, terceiro álbum do Queen, num dos vagões feios dos trens do subúrbio, veio-me a iluminação: somente uma canção energizadora, como a que o Queen fazia, para salvar-me de uma nova depressão física e intelectual. E pra finalizar: trata-se de um dos melhores discos de todos os tempos. Indubitavelmente.

O último panda marrom e branco.

Morre na China o único panda branco e marrom do mundo

Pequim, 24 nov (EFE).- Qin Qin, o único panda branco e marrom do mundo, morreu sem deixar filhotes num zoológico da província chinesa de Shaanxi, no norte do país, informou hoje o jornal "China Daily".

A morte repentina do animal, na madrugada de quarta-feira, surpreendeu os tratadores do zôo. Na véspera, ele não mostrou nenhum sintoma de doença, brincou como era seu costume e comeu frutas e pasta de arroz. Os médicos da reserva acreditam que Qin Qin, um macho de 17 anos, pode ter morrido de um edema pulmonar. Uma autópsia vai determinar a causa exata de sua morte.

Qin Qin pesava 100 quilos e media 1,72 metro. Ele era filho de Wan Wan, um panda macho branco e preto, e Dan Dan, uma fêmea branca e marrom. Apesar de sua idade, Qin Qin nunca tinha cruzado. Os cientistas do Parque de Qinling, em Xian, começaram em fevereiro a busca de uma possível "namorada" para o raro animal, com a esperança de preservar os seus genes.

A busca não deu resultados. Então, os especialistas tinham decidido inseminar artificialmente alguma fêmea de outra reserva com o esperma do panda. O projeto estava agendado para a próxima primavera, período de maior atividade sexual dos pandas. Segundo a Administração Florestal Estatal e o grupo ambientalista WWF, cerca de 1.600 pandas gigantes, uma das espécies em maior perigo de extinção do planeta, vivem nas montanhas da província de Sichuan (sudoeste) e nos montes Qinling. (Fonte: UOL)
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A notícia acima nos enerva. Que morram 220 criaturas humanas no Iraque, Irã ou sei lá mais onde. Que soldados americanos e ingleses se explodam em granadas, seja lá em que merda de fim de mundo. Que aviões e barcos e trens e automóveis se convertam em tragédia. Que milhões de seres morram de overdose, todos os dias. Que tantos outros se suicidem, com tiros na têmpora ou que se joguem pelos viadutos do mundo.
Que muitos se envenevem. Que muitos amargurados sofram dos cânceres possíveis. Que se percam em florestas e desertos e colinas. Que morram de fome e sede. Que comam merda e veneno. Que se danem, profundamente. Mas quando uma outra espécie desaparece do mapa, permancendo em livros e fotos, tão somente - e justamente uma espécie tão bela - ah! leitor, podemos realmente dizer: o ser humano não vale nada. É um parasita que destrói todo o planeta, tão somente porque este é o seu propósito.
O ser humano não vale nada. Nada. Nunca valeu. Nunca valerá.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Os antepassados, ano I: Maldição secular.

Um velho antepassado espanhol, cujo nome é incerto, cometeu graves crimes naquela península tomada pela cegueira cristã. A Ibéria toda tremeu a cada fúria deste violento inquisidor. Moças queimadas vivas. Guerras e vilas devastadas. Gente assassinada em nome de uma péssima ilusão. Em nome de algum poder. O cruel antepassado cometeu crimes bárbaros e promoveu o ódio e a violência. Foi odiado, com toda a mágoa possível, por mouros, portugueses, bascos, catalães e por toda a gente de Castela. Odiado. Por miseráveis, por intelectuais, por quase toda a gente. Menos por ignorantes que se acreditavam abençoados por um deus que nem mesmo existe.

Morreu aos 56 anos. Assassinado por uma mulher jovem, irmã de outra, queimada aos 22 anos... cujo único problema era sofrer de uma certa histeria hormonal... naquelas fogueiras... Dizem que teria morrido envenenado... Não se sabe ao certo. Nunca se sabe... Teria sido seu corpo jogado numa vala qualquer, no meio de uns pedregulhos... Foi amaldiçoado. E seus decendentes... Deixara oito filhos. Todos bastardos. Jamais se casou. Jamais ocorrera qualquer notícia de algum amor ou amigo. Estuprou diversas moças. Nalgumas deixou um filho.

Depois de tantos séculos, a maldição ainda atinge seus inofensivos descendentes. Naqueles dias, um triste e furioso cigano vaticinou: as crias deste pária, até que o último esteja ainda vivo, terão tantas contas a prestar, tantos ofícios a expedir, tantas ocupações vulgares, que o cotidiano será um mar sem-fim de problemas ridículos, que jamais lhes permitirão saber do sossego. E, um dia, quando nascer seu 10º descendente direto nascer, surgirá um poeta, mas terá consigo toda a sorte de dificuldades com a documentação de seu automóvel, com as contas, com os cheques... com as vulgaridades... que a sua poesia se calará, vez ou outra, por culpa de uma secular maldição, presente em seu sangue, em sua cara.

domingo, novembro 19, 2006

Crônica Dominical

Quatro e vinte e seis da manhã. No televisor, uma loura de cabelos cacheados e lábios largos é literalmente lambida por um sujeito de calça jeans. No cinzeiro, um cigarro se esvaece em fumaça rala, descontínua. O sono não me acomete e me vem mesmo aquela vontade estranha de escrever sobre qualquer coisa que seja como a madrugada, silenciosa e fresca. Algo sobre a própria devoção à madrugada...

Mas acontece que a madrugada somente me permite alguns versos.

“Não há tristeza que a madrugada não provoque, incite.
Não há melhor morada para os pensamentos entrecortados.”

*

Houve madrugadas em nossas vidas em que estivemos sós. Mas sós além daquela solidão comum de todo dia. Sós sem qualquer ligação ou imaginária relação... Sós e tomados por um abandono desesperador. Houve uma ou outra madrugada assim. Não houve?

Houve aquela em que estivemos amparados por uma plenitude, um amor, uma boêmia amiga, risos e algum otimismo. E houve aquela também em que éramos cansados, maltrapilhos, em que tentávamos buscar por um sono que insistia em não aparecer. Houve.

Houve uma madrugada em que fizemos aquela canção, aquele verso, aquele projeto para o dia que viria, para a vida toda. Madrugada que servia de inspiração, sobretudo às mais difíceis ilusões.

Houve madrugada em que vegetamos um pouco, feito samambaias secas. Houve aquela em que procurávamos por algo. Um papel, um motivo, uma lembrança. E houve mesmo aquele momento de febre, de alguma dor, que transpassava a noite, a passos bem lentos.

*

Lembrei-me agora de uma certa noite, quente como esta, em que desejei saber o que seria de mim, num futuro distante... Entre a fumaça dos cigarros e um gole de uísque, a imaginação se associava ao pavor de ver na vida tão somente as mesmas redivivas imagens. De sentir os mesmos e poucos contentamentos... Hoje, noutra madrugada, tantos anos depois, volto a me atrapalhar com o que desejo do futuro, com o que temo para o futuro, com o que será resignação, com o que será surpresa.

Soubesse eu, naquela madrugada, o que hoje sei, não teria naquele tempo tanta angústia. Sucessivas e múltiplas madrugadas eu vivi. Tantas e tantas vezes acordado quando todos estão a dormir... Ora! Como somos bobos a temer pela nossa sorte! A temer... Resta agora uma sensação de “porra, tanto faz”, um desejo pela liberdade... É isso, meu imaginário leitor. A mais difícil das lições é justamente se libertar daquela preocupação cretina com o futuro e viver desinteressado. É fazer e fazer, correr e correr. Sem preocupar-se com o dia que virá. É amar a madrugada, sem inquietar-se com a hora de acordar, com o sono que poderá nos tomar, depois.

Mas eu sou teimoso, amiúde. E horas e horas são gastas em meditação sobre o caminho que, noite após noite, continuo a trilhar.