quinta-feira, setembro 20, 2007

Pressa.

    Meus amigos e leitores imaginários, estou eu novamente deixando o blog de lado, uma vez que voltei ontem a me dedicar ao meu segundo romance, o qual revelo se chamar Aiana tem gosto de uva, texto que se tratava de uma peça que eu nunca consegui terminar, uma vez que o palco me limitava e impedia de prosseguir com a coisa como bem me interessava. Talvez eu explique tudo de maneira mais clara, em algumas semanas. Ou não, uma vez que tais coisas nem precisam de muita explicação. Basta enfim que eu confesse: desconfio que estou a escrever um belíssimo e triste romance e toda a minha dedicação poderá resultar num clássico da literatura osasquense (ora, a modéstia não me permite ir além no desejo, se bem eu possa dizer que ando em grata harmonia com os meus talentos). 
    Assim, amigos, volto em algumas semanas. Estarei concentrado e apaixonado por um universo que sai de mim, num parto bem desgastante. Abraços.

segunda-feira, setembro 17, 2007

O cansaço leva ao movimento.

    Meus queridos leitores imaginários, 

    Estou farto. 
    Tenho vivido mal, há anos e anos, por conta de um problema sutil em meus ouvidos, o qual parece estar sempre tampado, feito se eu vivesse numa imaginária Serra do Mar. Estou farto e finalmente procurei ajuda médica. O que, creiam-me, nem sempre significa muito.
      Mesmo porque há mazelas sem cura e algumas das quais a ciência jamais se atentou.
    Bom, disto isto, um desabafo deveras inútil, volto-me à reflexão, com o interesse de encontrar uma idéia: um vídeo-blog seria-me algo de doce fartura. E neste caminho vou. Mas ainda me debato em complexas contrariedades. Sobretudo complexas, uma vez que busco associar a inventividade, a penúria e a preguiça num mesmo ramo de criação. 
    O que, convenhamos, não é mesmo fácil e é atributo tão somente dos gênios, aqueles que com adversidades enormes ainda podem se dar ao luxo de criar.
    Isto bem me lembra o meu compadre Dostoiévski, o qual escreveu Crime e Castigo quase todo em pé, por culpa das muitas hemorróidas, faminto e escondido dentro da própria casa, por conta do proprietário do imóvel que lhe cobrava o aluguel nao pago. Ora, se o escorpiano Feodor escreveu tão magnânima obra em tais condições, bem posso eu, na minha pobreza quase semelhante, dores de dente e ouvido estragado escrever também alguma obra de tão rica natureza!
    Se bem que as comparações são de grande injustiça, uma vez que eu nunca estive preso e nem sou epilético. E o nosso grande gênio russo também, que eu saiba, não soube jamais da existência de Osasco, nem engoliu tanta poluição quanto eu, nem jamais foi um pálido funcionário público.
    Pois digressionando se chega à sabedoria, nos diria alguém, e volto ao que nos interessa. Estou em vias de descobrir o tal modo revolucionário de nos comunicarmos, ó grande mundo. E são tantas as adversidades que mais eu me sinto confortável. "A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas", nos lembra o bom Horácio. Arre! Então eu, já entediado de tudo, peço-me mais meia dúzias de adversidades, as quais me sirvam mesmo de vento e escada. "Dificuldades reais podem ser resolvidas; apenas as imaginárias são insuperáveis", ensina aquele empresário da telefonia Theodore Newton Vail, a cuja insistência devemos esta coisa de telefone que tanto nos agrada nos tempos modernos. Assim, boa Fortuna, que as malditas dificuldades imaginárias se esgotem, ó céus de setembro!
    E, por fim, como bem sei da solidão que este poeta enfrenta - a maior das adversidades! - devo entreter-me com os meus botões, os quais talvez me ajudem a encontrar a tal idéia. Encontrando-a, bem sei, todas as muitas adversidades serão apenas portas e janelas que eu abri, sem qualquer vergonha.

O labirinto.


Com injustificável atraso, pude assistir, ontem, a dois filmes que há tempos eu desejava ver, por motivos óbvios. Os Infiltrados, de Martin Scorsese, o qual considerei mesmo muito bom, e O Labirinto do Fauno, o qual amei, não tendo outra coisa que dizer além de um "bravo!", tal qual aqueles da ópera bem executada. Não seria nenhum exagero dizer que se trata de um dos dez melhores filmes desta década, tanto por sua beleza estética quanto por sua capacidade rara de associar a fantasia e a realidade.

sábado, setembro 15, 2007

Semana breve e muito o que pensar.


Ora, neste meu confessionário escancarado, em que muitas vezes os leitores deste mundo desconhecido podem bem saber das minhas mazelas, não obstante a dose de vaidade que se possa obter desta mesma exposição, tenho aplicado sempre alguns elementares conceitos, misturando arte e lirismo, imagens e sons, os quais bem cairiam em qualquer blog de razoável prumo. Mas deve já o leitor imaginário, meu tão caro e invisível leitor!, que ando já insatisfeito com as limitações operacionais desta página. E este é sempre o demônio que nos incita, com boas doses de insensatez, a buscar por renovações que nos levem, enfim, a alguma glória que nos perpetue na história imaginária de nossa própria capacidade de inventar histórias. Não sei exatamente o que quero com toda esta conversa-mole, nem mesmo com todas as minhas vontades, o que é bem certo. Assim, tenho me esforçado para ter alguma nobre idéia, a qual me dê conforto e me possibilite fazer o que faço aqui, neste blog, e que tanto me apraz, porém em melhor canto, com mais possibilidades e recursos e cores. Ando, em verdade, insatisfeito - e nada me tira das idéias que devo, seja como for, buscar por novos modos de levar ao mundo toda a minha capacidade de entreter, tal qual um trovador de raras melodias que canta suas mágoas sob uma janela fechada.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Nothing gonna change my world.

Nesta semana toda cheia de idéias, algumas das quais nada me renderiam, visto levarem consigo a insígnia da impraticabilidade, apesar de criativas, eu me quedei a observar melhor o que me cerca e aquilo que melhor me assessora na realização das demais idéias que tenho tido pela vida. Do julgamento, enfim, pouco me resta e creio que eu deveria mesmo e tão somente escrever meus romances e peças, sem me enveredar pela música e por qualquer outra coisa que de mim exija o aprendizado das mais jovens tecnologias.

Mas além de paciente, me diriam, sou teimoso. E persisto. Ainda na última quarta-feira, fui tocado por uma idéia possivelmente deliciosa: transformar esta revista-blog numa vídeo-revista, mensal, feito um programa de televisão, editado no generoso Sony Vegas e com tudo aquilo que se vê por aqui, com ainda mais, e cujo teor chegaria aos meus imaginários leitores por meio de algum melhor youtube. Ou por meio deste próprio blog, conforme as possibilidades técnicas me permitissem tamanha realização.

Mas a natureza deu asa às galinhas e aos pombos, ignorando as serpentes e os porcos. Assim, a cada idéia que me aparece, com elas cem quilos de complicações num anexo pesado e profundamente chato. E visto que sou excelente para as idéias e péssimo para a organização e planejamento, fico por vezes num embaraço dos mais cruéis: se, num exemplo cotidiano, preciso que meu PC se mostre valente e renderize meus vídeos, então se mostra ele um verdadeiro anêmico ao levantar um saco de cimento. Noutro exemplo, se o mesmo PC precisa gravar dados num DVD, com a finalidade de esvaziar um pouco a parca largura de seu disco rígido, eis que a gravação falha. Coisas do gênero.

Assim, me justifico. E portanto, como estive e estou a pensar em meios de realizar aquilo que desejo, sem gastar um único centavo e com um computador que anda moribundo, natural que este blog fique sem conteúdo novo. Mas segunda-feira, voltarei. E como todo retorno traz as marcas das novas reflexões, espero eu carregar alguma novidade que mereça crédito.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Consideração sobre a parvoice.


Nada mais incompreensível para a população pobre deste mundo que a ópera, o cinema experimental e a moda. E se existe neste mesmo mundo um parvo que almeje a elegância - desejando absorver alguma cultura, tais elementos são de apreciação fundamental. Se ouço, e é certo que muito já ouvi, que poesia é coisa de fresco ou que o tal cinema experimental (e muitas vezes nem tão experimental como se pode supor) é coisa de chato ou que ópera é coisa de quem nasceu velho, eu mantenho-me calmo - apesar da cólera me subir pelas ventas. Se ouço, como já ouvi tantas vezes, nesta infame inversão de valores de nossos tempos, que leitura empobrece a vida, quase me enfureço. Mas nada me parece mais cretino que não notar a importância e beleza dos desfiles de moda, os quais nos trazem verdadeiras riquezas artísticas, traduzindo a época em que vivemos. Pois pensemos: a ópera está por vezes em italiano e o cantor se comunica de modo diferente. O cinema experimental exige filosofia e dose certa de paciência. A própria poesia exige grave educação, tal qual a literatura pode bem nos estouvar, como o fez a Bovary e ao fidalgo Quixote. Sim, são argumentos que deveríamos levar em conta, antes de alguma condenação. A moda, porém, é o que vê e se veste, sem mais impedimentos! Se houver nesta esfera, um parvo qualquer, desejoso de melhor compreender a arte, siga-me este conselho: a apreciação de desfiles de moda é essencial.

Quase parafraseando o meu grande e querido amigo Honoré, francês de muito faro, uma verdadeira apreensão da arte não deveria ignorar jamais o que se vê na moda. E vale dizer que o meu tal amigo francês referia-se com toda propriedade aos gatos, os quais, na natureza, carregam em si a fineza da arte e da elegância e nem precisam de roupas para lhes cobrir as vergonhas. E se as exigências para a apreciação da moda são maiores que os meus olhos podem ver, largo comigo que nada me parece mais elementar: que roupas daquelas que vejo eu gostaria de ver cobrindo a pele da senhora minha musa? Acima, por exemplo, três peças da L.A.M.B., as quais eu chamaria de fantásticas. A tal senhora minha musa bem vestiria tais peças, tivesse eu alguns centavos a mais em minha carteira. Abaixo, mais exemplos do que anda aparecendo na semana de Nova York deste ano. Do desfile inspiradíssimos da Lacoste:



E ainda mais, abaixo, peças de Betsey Johnson:


Ó quão graciosa minha Gala Éluard ficaria nestas peças, a andar comigo por alguma melhor praça que aquelas a que estamos devidamente habituados, moradores de tão desajustada cidade. Abaixo, para cessarmos com as demonstrações, peças de Michael Kors, as quais tornariam tão elegante minha Lésbia quanto posso eu imaginar, em meus mais elegantes sonhos de enriquecimento fortuito.


Diante dos exemplos acima, não creio que seja exatamente difícil convencer algum desavisado da importância da apreciação estética que se possa fazer dos panos e cores que podem vestir uma mulher e um homem, não obstante eu não ter lhes apresentado exemplos do gênero masculino, o que não o fiz por um motivo pouco elevado: é mais verossímil sonhar com a elegância alheia que exatamente com a própria, uma vez que me contento mesmo com a minha simplicidade deselegante de suburbano intelectual, sabedor de que meus bolsos andam mesmo vazios, num vácuo que me lembra o infinito do espaço cósmico.

terça-feira, setembro 11, 2007

Então.


Sem mais delongas, Stan Getz, John Coltrane e Wynton Kelly. O resto fica para depois. Bem para depois.

La moglie.


Justificando a presença de Laura Chiatti, atriz italiana, de boniteza tão natural, na capa que farei nesta semana, recorro a expediente dos mais invulgares. Não vi qualquer um de seus filmes, embora siga abaixo trailer de seu filme de maior projeção, creio eu. Nem saberia o que dizer, além de ponderar sobre a beleza das mulheres, coisa que já o fiz inúmeras vezes. E, sem embargo, fiz num átimo, novas poderações que eu deveria colocar neste blog de leitores inexistentes, a fim de seguir com o meu treino nesta arte difícil que é escrever com sagacidade. Mas a verdade, além dos motivos acima expostos, é que já não me suporto com tanta verborragia. Então, mesmo desconfiando que diria algo de alguma graça, visto que me recordaria de um tal velho viajado pelo mundo e as descrições que fez das mulheres do vasto mundo, por algumas horas me calarei - e calarei mesmo o meu cérebro, não me permitindo pensar por algum tempo em nada que se refira às filosofias acidentais deste mundo. E, em hora oportuna, volto ao caso, o qual deverá ter algum elevado ensinamento àqueles cuja devoção à beleza é maior que à devoção aos instintos.


Aquilo que nos silencia: um elogio ao egoísmo.

Dedico esta crônica a alguns sujeitos, os quais ainda tentam, feito o fidalgo Quixote, consertar ou ajustar as coisas deste mundo. Em especial àqueles cuja benevolência e ideal lhes permitem ainda crer, com esperança e ardor, na transformação social e cultural deste mundo por meio de alguma ação singela que se desdobraria depois em milhares de novos efeitos gloriosos, atingindo mesmo aos mais corruptos e egoístas vilões de nosso tempo.

Há cerca de quinze anos, participei - por acaso e com algum enfaro - de minha única ação de caridade em todos estes anos. E tenho por caridade aquilo que se faz a estranhos, sem interesse de que haja retorno, de qualquer natureza, e cujo empenho seja de fato causador de algum prejuízo próprio. Portanto, quaisquer das vezes em que presenteei amigos com livros, mesmo com o propósito de lhes oferecer vasta cultura, ou perdoei as falhas grotescas de outros supostos amigos, mesmo imerecedores, não deveriam, creio eu, ser anotadas em prontuário como prova de minha capacidade caritativa. E nestes doze mil e oito dias de vida, por uma única vez, que eu tenha por registro em minha memória, estive presente numa ação comunitária promovida por alguém de coração cristão e piedoso. A mãe de um velho amigo fazia naquele tempo uma grande quantidade de alimento, com qualidade indiscutível, e distribuía-o, em recipientes cuja vulgaridade nomeia como marmitex, um nome profundamente feio, como quase todos os inventados por obra do comércio, aos mendigos do centro da cidade.

Naquela vez, acompanhei aquela atividade, sem que no entanto eu tivesse feito qualquer coisa além de olhar o pânico de muitos famintos, a cara-de-pau de outros, os quais nem eram mendigos, mas gente de querer comer a comida fresca que era servida com gratuidade, e ainda uma ou outra esquisitice no comportamento humano que não merece, por ora, comentário. Depois disso, eu não negaria, jamais estive a participar, mesmo que em vigilância ociosa, de qualquer outro evento similar. Nem dei esmola a ninguém. E gorjetas, tão somente uma única vez, para uma garçonete de sorriso maravilhoso e olhos negros.

Disto, concluímos todos, que sou um verdadeiro ateu, no sentido mais indesejável do termo, e que não sou merecedor de qualquer felicidade, uma vez que reneguei a tal benevolência cristã, ignorando diariamente os suplícios de dezenas de infelizes, dos mais diversos, que me solicitam algum trocado. Cegos, aleijões, desempregados, velhas, velhos, crianças magras, alguns músicos!, mudos, surdos, dementes e mais um número vasto nesta galeria de criaturas, cujo destino (ou a impiedosa debilidade social) levou à mendicância como forma de sobreviver e, em alguns casos, viver sem esforços além de grande ousadia e interpretação, digna de prêmio da Academia. Mas não obstante o fato de que eu realmente concordo com a conclusão, devo eu me justificar com o interesse certo de fazê-lo tão somente para alardear para a posteridade algum ideal, visto que minha consciência nada sofre e nem creio que, além da posteridade, possa eu influir nos interesses alheios no momento presente.

O egoísmo é tão justo quanto a caridade, se o pesarmos numa balança em que não se permita pesar qualquer transcendência. Nos livremos todos da culpa, de qualquer espécie. E devo confessar que de culpa eu nada tenho, sendo assim um verdadeiro egoísta sem culpa. E o que se vê, aos montes, são egoístas que se sentem culpados e praticam a caridade como forma de compensação diante da própria consciência e do julgamento das divindades em que depositam suas fichas. Pensemos depois em nos livrarmos de qualquer retorno - pois é certo que muitos caridosos o são por pensar no céu e inferno, o que não deixa de ser a mesma coisa que culpabilidade. Mas nos livremos, então, de toda e qualquer culpa pelas mazelas do mundo, sabedores nós de que somos contra tudo aquilo que torna este mundo um miserável desconcerto. Que somos contra a guerra, contra o preconceito, contra as religiões, contra o interesse irrestrito pelo dinheiro, contra aqueles cujo interesse é explorar os demais, como forma de conseguir o seu objeto de desejo. Ora, tal coisa nos dá alguma paz. Depois, ainda, veja o ser humano com olhos aguçados, bem sagazes, enxergando-lhe todos os vícios e faltas, a sua preguiça, a sua incapacidade de cuidar da sua vida, sem incomodar a dos outros. Veja com todo o carinho possível se há na raça humana, afinal, exemplos grandes de que a mesma raça tem ainda algum crédito, tendo comprovado sua superioridade. Veja se há, entre o egoísmo dos ricos e o egoísmo dos cristãos alguma semelhança com aquele a que me refiro aqui: Oscar Wilde, nos disse que “egoísmo não é viver como queremos, egoísmo é querer que os outros vivam como queremos que eles vivam” e que pensamento poderia haver de mais justo? Não querem os religiosos que todos sigam o mesmo profeta, num padrão de comportamento?

A verdade é que não usaria vasta filosofia para defender-me, o que soaria pedante e coisa de gente culpada, mas não sou tolo para não ter em conta que o mundo é todo errado, a começar por aquilo que menos nos parece errado, e que tais anotações são mais antigas que a filosofia socrática. E tudo aquilo que eu faria para ajudar a contribuir com o mundo não receberia de ninguém, deveras, o título de caridade. Teria enorme honra de ensinar literatura e música a quem quer fosse, ensinaria a amar a poesia e mesmo a ler qualquer coisa, fosse eu capaz de alfabetizar alguém. Ensinaria o que sei de história da arte, das manhas de nosso vernáculo e o que mais me fosse possível. Tais atividades me caberiam e eu as faria certamente, tivesse eu a certeza de encontrar gente de verdadeiro interesse – o que o meu ceticismo não me permite supor.

Mas o que se vê, bem o sei, é que há uma legião de caridosos que distribuem suas esmolas a todo canto, mas seriam incapazes de compartilhar algum conhecimento. Há muitos que, sinceros, levam comida e roupas aos pobres, mas contribuem de outro modo, para a mesma miséria humana, seja alimentando alguma seita propagadora de preconceitos, seja elegendo os mesmos políticos que perpetuam a miséria entre nós. Por fim, que já me estendi além do aconselhável: ninguém deveria arrotar sua caridade quando o faz por crer na bondade humana ou no conserto das coisas. Ou quase como nos diria aquele provérbio chinês que diz “antes de dar comida a um mendigo, dá-lhe uma vara e ensina-lhe a pescar”. Coisa assim, não obstante a fome sincera impedir o aprendizado de qualquer coisa. Mas seria certo evitar que a mendicância continue em níveis tão fartos, para o bem de muitos caridosos.

O egoísta, para esta gente, é o ímpio ateu que nunca prega a salvação etérea de porcaria nenhuma. E neste caso, não vejo diferença alguma entre o que faz e o que não faz. Uma vez que a miséria sempre é a mesma, quando alimentada para a salvação daqueles que nela se sustentam.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Som e imagem.

Interessante vídeo que une Bach e imagens do espaço. No entanto, mesmo considerando que o vídeo é realmente de muito merecimento, nota-se aqui um confronto entre as excelências das imagens e a maravilha daquilo que se ouve. E para um mortal de bom senso não é salutar entender Bach como uma música incidental para imagens - mesmo as mais nobres. E nem é razoável se considerar que fotos do universo possam servir de pretexto para que se ouça Bach. Em verdade tal consideração somente poderia povoar a cabeça de um pensador neurótico como eu. Veja o vídeo, ó meu imaginário leitor, e dê consideração para o que lhe parecer melhor. No meu caso, devo confessar, por mais que veja a beleza em estrelas e planetas coloridos, não pude deixar de fechar os olhos e me dedicar tão somente ao que me invadia os ouvidos.

Posted Apr 23, 2007Bach's timeless work, performed on original instruments by Voices of Music and accompanied by a montage of the most beautiful images of deep space. Featuring Elizabeth Blumenstock and Katherine Kyme, baroque violins; Lisa Grodin, baroque viola, Joanna Blendulf, baroque cello; William Skeen, violone; Hanneke van Proosdij, chamber organ; David Tayler, theorbo. NB: This looks and sounds fabulous in high resolution video and stereo: http://stage6.divx.com/user/Walvis2007/videos/


Assuntos esparramados para um dia de calor.

Aniversário.

Daqui a aproximadamente quarenta dias, devo eu completar trinta anos, caso não me ocorra qualquer tragédia - que bem pode acontecer, uma vez que os vivos, todos eles, sofrem dos perigos da probabilidade. Mas o comentário, o qual parece sem eira, serve-me mesmo para que eu me prometa alguma comemoração, alguma autopromoção: pois o sujeito taciturno e melancólico que não se permite, vez ou outra, alguma folia despropositada, está certamente fadado à infelicidade eterna. E, longe de mim ser um otimista, espero por alguns novos encantos nesta minha nova idade, a fim de ter da vida um pouco mais de leveza.

Assim, pelas razões apresentadas, convido aqueles meus amigos de sempre, a planejarem comigo um evento de alguma monta, cuja finalidade seja a de me devolver alguma estima e algum êxtase - daqueles que eu já tive nalguns minutos desta vida. Na sexta-feira, dia 26 de outubro, que eu, sei lá como, esteja tomado por algum contentamento. Façamos algo, ó céus, que não me custe os olhos, mas que me faça crer nos poderes mundanos dos rituais.


Suicídio.

A vida não é fácil para qualquer um de nós? Ora, esta pergunta tem todo o sentido possível e é plausível que nos metamos a nos comparar com os demais, quando o caso é de verificar se tão somente nós estamos um tanto enfadados com a existência. No meio de uma reflexão do gênero, quando eu me sentia um tanto confuso, quedei-me por fazer uma breve pesquisa sobre o suicídio e encontrei diversas notícias, as quais me tranqüilizaram: eu não sou o único a, amiúde, sentir que a vida é um tanto pesada e escorregadia. Mas, antes que se espante o meu imaginário leitor, não sou dos que já pensaram no suicídio, amante que sou de Mozart, Beatles e Balzac - apenas para citar três motivos para que eu viva ainda mais mil anos.

"A OMS - Organização Mundial da Saúde estima que um milhão de pessoas cometeram suicídio no ano de 2000 em todo o mundo, e que ocorre uma morte para cada 100 ou 200 tentativas de suicídio. Em todos o países esta é uma das três maiores causas de morte na população entre 15 e 34 anos. O Brasil vem acompanhando a tendência mundial de aumento deste índice, principalmente entre a população jovem. No município de São Paulo, considera-se que as estatísticas oficiais subestimem a ocorrência de suicídios . Mesmo assim, o suicídio foi a quarta causa de morte na população entre 10 e 24 anos em 2001, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. No período de 1996 a 2002 foram registrados de 400 a 500 suicídios a cada ano em São Paulo, sendo que 80% deles na população com até 54 anos de idade".

O trecho acima foi retirado de uma notícia do sítio do CVV. E qualquer pesquisa frívola em nosso sábio Google pode dar ao interessado um panorama razoável do tema. Em geral, o que se vê é uma sinistra concordância: não há estatísticas confiáveis em relação ao suicídio, por motivos dos mais diversos, e o que se supõe é haver cerca de um suicídio a cada quarenta segundos, em todo o planeta.

Estava eu a refletir na chatice de horas mornas da vida e concluí que deve mesmo haver um número alto de gente que se cansa desta brincadeira. Sobretudo para aqueles cujo vazio apenas se preenche com ilusões do tipo culto em igreja ou mãos erguidas para o céu. Nisto, aliás, as religiões tem o seu farto papel, salvando da morte uma vasta legião de infelizes. Ontem, num curto espaço de tempo, tive duas visões que ainda mais me levaram a tal conclusão, as quais serão abaixo exemplificadas.


Personalidade.

Não sei o que se passa na cabeça desta muita molecada. E poderia mesmo dizer que não me interessa. Mas o que leva tanta gente a ser tão igual? Todos com bonés na cabeça! Todos procurando por uma identidade? Que estranheza! Não seria certo que cada um buscasse sua marca, seu estilo pessoal, numa antropofagia de muitos elementos? Passava eu diante da saída de uma destas baladas, quando me deparei com centenas de rapazes e todos vestiam-se com os mesmo trajes: bonés, camiseta larga, calça larga e tênis, os quais me pareceram, sem exceção a mesma triste figura.

Alguém tentará me lembrar que tal coisa é comum e que noutras épocas a mesma coisa se dava. Eu responderia que jamais o igual foi tão igual e os diferentes despareceram por completo. São bonés e bonés e bonés. E disto, por bem, temos a conclusão de que está faltando personalidade e auto-estima (e mais um punhado de esperança) para a juventude deste canto do planeta.


Igreja.

Não sei o que se passa na cabeça desta gente mais madura. E poderia mesmo dizer que não me interessa. Mas o que leva tanta gente a ser tão igual? Tantos a levantar as mãos para as alegrias do pastor! Todos procurando por uma identidade? Que estranheza! Não seria certo que cada um buscasse seu entedimento da espiritualidade, seu convicção pessoal, numa antropofagia de muitos elementos? Passava eu diante um gigantesca igreja e pela porta pude ver um número inacreditável de seres a bradar um aleluia ao som de uma canção ruim, com evocações das quais eu fiz o favor de me esquecer. Culpa por uma vida inóspita? Uma tentativa de preencher aquele mesmo vazio de tudo, o qual atormenta a todos nós?

A qualquer hora eu mesmo deterei um desses fiéis ouriçados e lhe perguntarei: esta sua pajelança é séria? Ou você assim se entrega por preguiça de melhor empregar a sua fúria? Ora, os moços de boné, os crentes, religiosos de louvores fervorosos, quanta gente que me é estranha! Se em minha mocidade eu me esforçava para fugir da moda e do invisível, se nesta vida tenho buscado por conhecimento que me faça ateu ou me misture em fé sincera e justa, como posso ter par com estes absurdos?


Mais suicídio.

Tudo se amarra por fim, nesta minha nova crônica em pedaços. Preciso me entregar a algum ritual pagão, de muito vinho e canções de doce melodia, em meu próximo aniversário. Devo me convencer que grande parte de minhas agruras não são minhas, mas de toda a gente que passa por este século de muitos vazios. Devo saber disso, não me culpando demais por não saber aproveitar a vida com toda a melhor graça. Pois eu vejo, afinal, que tudo se explica: o número de suicídios que só aumenta, as igrejas e templos que mais enriquecem, os bonés que mais cobrem as cabeças ocas, cada vez mais distantes de ideais e sonhos.

sábado, setembro 08, 2007

Uma semana de uivos.


Pudesse eu escolher, naturalmente, teria tido nos últimos dias, dias melhores. Mas não obstante o fato de vivermos numa roda-viva amalucada, ainda me conservo tomado de ânimo. Pois, além de mim e de meus recônditos limiares, há a sociedade e a bosta de país que vivo. Ou seja, nada é animador quando eu olho para o lado e vejo que por aqui, neste canto desajustado do mundo, a miséria vai-que-vai num crescimento de encantar. Já não me bastassem as complicações pessoais (e poéticas), ainda há um mundo todo torto que não tem muito a nos oferecer.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Por fim, que o calor me obriga a correr.

        Por ter na vida o corpo e o espírito - este como metáfora daquilo que é mesmo do corpo, da mesma forma que os dentes e as unhas - numa montanha-russa como aquela que nos deliciamos no Playcenter, cujo nome é Boomerang, por vezes estamos a subir, por outras estamos a descer, mas sempre num desassossego que nunca nos permite um relaxamento. 

        Mas chega do velho filosofar e do muito entristecer, numa melancolia de poeta siberiano. Chega. Que é calor e amanhã é feriado de Independência, neste país dependente e servil.

        E quem me vier com chateações, neste próximos dias será por mim condenado, de maneira grosseira. Ao menos, espero eu, que nada venha a ocorrer, obrigando-me a desdizer-me. Assim, pra terminar a semana, uma pérola do mundo musical, cuja alegria é alta: Lucille com o esfuziante Little Richard.



A presença da morte: breve confissão, a qual poderá servir a outros desajeitados.

Por toda a minha infância, não pensei jamais na morte e nem senti dela qualquer bafejar pela minha nuca. Nem dela tive notícia, se apartando de mim e chegando ao passamento tão somente aqueles que me eram distantes ou já velhos o suficiente para ter da morte a naturalidade de quem cumpre uma obrigação, conforme nos é obrigado, quando pequenos, a aprendizagem da leitura e raciocício matemático. E mesmo que me entristecesse diante da morte de alguns destes velhos, não chegava a ter da morte a sua presença, rasteira, nem sequer dela fazia qualquer reflexão, apesar de, é bem certo, me entreter naqueles tempos a raciocinar sobre assuntos extravagantes para uma criança.

Como o tempo que me separa daquela época é bem razoável, posso mesmo estar a subjugar, por esquecimento, aquelas minhas reflexões pueris, que bem podem ter abarcado a morte e assuntos relacionados ao mundo oculto - o qual, à época, também não me parecia existir, mas me dava o medo necessário para que dele eu não fizesse qualquer julgamento, o que ainda hoje permanece em idêntica situação. Por volta dos meus seis anos, um incidente forneceu-me a primeira, bem imagino, sensação da fragilidade da vida: um assassinato de um comerciante, cujo rosto ainda guardo e a qual me tratava com muita atenção, vendendo-me naqueles tempos umas tatuagens removíveis de personagens da Marvel e Hanna-Barbera. Tratava-se de um dono de bar e por vingança ou motivo fútil, conforme sempre se dá, foi baleado sucessivas vezes numa noite de semana. Naquele mesmo dia, durante a tarde, estive eu naquele bar para comprar qualquer coisa que me foje à memória. Minha própria mãe esteve naquele bar, poucos minutos antes do crime, para comprar um maço de cigarros.

É bem provável que eu tenha feito, por ocasião deste crime, os quais ouvi os disparos, uma vez que o tal bar ficava a menos de trinta metros de minha casa, toda sorte de reflexão sobre esta coisa de morrer. Mas jamais, naqueles tempos, a minha própria morte serviu-me de tema.

Não sei ao certo a primeira vez que me vi apavorado diante da morte. E melhor escrevo: não sei ao certo a primeira vez que me vi apavorado diante um pensamento que trouxesse o hálito amargo da morte. Assim, melhor explico, uma vez que não tive, nestes mais de doze mil dias, daquelas sensações que devem nos atingir diante de um acidente de carro ou doença grave. Creio que por volta dos vinte anos, e desde lá tem sido assim, não há dia que a morte não me diga algo como "estou aqui, não se esqueça que eu posso a qualquer hora lhe abraçar, tal qual a sua esposa o faz, pela manhã, ao se despedir". Não houve dia, tenho certeza disso, que esta sensação de que posso bem deixar de viver a qualquer segundo, por motivo dos mais diversos, não tenha se ajustado ao meu pensamento.

Ora, brava neurose a minha. Brava. E estar a conviver com ela, sem que eu tenha tomado qualquer providência, faz-me tão covarde quanto à passividade que assumo por conviver com um dente quebrado, o qual fere-me a bochecha direita há sei lá quantos anos. Não sei o que me dá, por desta sensação não me enraivecer, querendo dela distância, não obstante o incômodo que me provoca. Da mesma forma, que me dá tal sensação ruim? Não estivesse eu ainda tomado de uma certeza, estaria eu ainda mais perplexo: quanto mais me é uma hora feliz, mais esta sensação funérea me abraça. Nos momentos de edílio - aqueles de gozo pleno e felicidade apaixonada, a tal sensação vem me tirar parte daquilo que eu deveria provar tão somente com alegria. E vem sem que eu me dê conta ou a chame ou a deseje. Vem, simplesmente, proporcional ao tamanho de minha festa.

Esta mesma sensação, e a esta altura algum leitor poderá ter se identificado com a minha inquietude, por sofrer dos mesmos achaques, motivou-me a escrever muitos de meus poemas primevos. A morte tinha sua presença certa, como topus lírico obrigatório ao meu universo literário. Deste tema tentei me remover, buscando mais frescor, por diversas vezes, mas por diversas vezes fui por ele novamente atingido. E, nunca soube o porquê, mais eu me afasto, mais sinto que dela tenho medo - e muito do que escrevi parece dar sintoma de cada dia desta evolução.

Tem sido assim, há muitos anos. E disto eu faria alusão alguma ao mundo, sob pena de ser considerado um demente ou algum sofredor de síndrome, da qual eu não sofra, apesar de - a olhos clínicos, parecer realmente ser tomado, dos cabelos aos ossos. No entanto, há pouco tempo, tal sensação tem me roubado inclusive o gosto pela frivolidade, coisa da qual sempre gostei, no entretenimento de meus dias. Tenho me mostrado tacirturno, de seriedade de me doer o queixo, de semblante a fazer inveja a Werther, aquele personagem triste de Goethe. Tenho estado sempre numa confusão de não querer confusão: e como vai a mocidade não querer confusão, arriscando-se mais aos fortuitos acasos e às emoções? Arre, de tudo o que pode minar uma vida, nada mais é danoso que a extrema seriedade, que tudo vê com pavor de querer e tocar!

A presença da morte pode, neste paradoxo exemplar, nos obrigar ao Carpe diem et nocte, nos desesperando a ponto de nos motivar a andar, a correr pelos caminhos que se abrem diante de nossos olhos. No entanto, este mesmo sufoco nos dá o motivo, mas nos tira a força e a criatividade, tal qual uma paixão ardente que nos motiva a escrever uma longa carta apaixonada, mas nos dá tanto pavor e insegurança que a tal carta jamais chegará à metade da folha, onde depositaríamos palavras justas e sinceras.

Ai, ó grande Byron, vantagem a nossa, de ao menos desimportar-se com o mundo, escrevendo aquilo que nos perturba - tentando não mais fomentar na quietude de nossa solidão aquilo que muitas vezes é tão comum e vulgar que mesmo aos mais nobres ou miseráveis deverá atingir. Pudera, contudo, depois de ter escrito o que se está escrito, sentir esvair-se do peito o nó tão bem apertado. Pudera nos apaziguarmos a cada verso escrito e cuja finalidade não chega a ser o elogio das musas ou o alcance da glória, mas tão somente um canhestro desabafo.

O que me resta, nesta minha ignorância que nunca finda, é supor que eu não difiro dos demais. Que sofro em verdade dos mesmos importúnios que a todos, ricos ou pobres, mesquinhos ou caridosos, pacatos ou pervertidos, experimentam quando, por acaso, amam a própria vida, sabendo que nela, afinal, se goza e se jubila mesmo nas horas mais incertas. E que, eu, este frágil e sobejamente angustiado sujeito, estou mesmo a dar importância extrema a uma ânsia que não merece atenção.

Ou estarei eu dando de ombros a algo que merece minha mais sincera preocupação? Tais questões, deveras, irritam-me.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Dresden Dolls.

Dresden Dolls! Que bacana esta banda que há pouco somente eu conheci. Um barulho bom de se animar a cabeça conturbada e quase a adormecer pelo tédio profissional e pela clima ameno e plácido desta cidade. Uma sonoridade que cai bem ao meu gosto, ó meus imaginários leitores, tais quais espíritos errantes de nenhuma pronúncia. Assim, tomado pelo entusiasmo, publico três vídeos da referida banda, sem no entanto nomear as canções, por um motivo de nobreza apalermante: preguiça.

The girl on the next door.



Pois como eu dizia, noutra hora, volto a Elisha Cuthbert para novos comentário superficiais, com o propóstio evidente de dar ao blog - e a mim, um pouco mais de colorido, mesmo que eu, não sendo o estúpido que alguém evetualmente poderia me dar como julgamento, saiba perfeitamente que não se sustenta uma fome meã tão somente com cores. Mas, da mesma maneira, qualquer um deverá saber da importância da estética para o reequilíbrio das coisas. Estando eu, por fim, melancólico, balanço a cabeça em busca de oxigenação e ideias de me deixarem mais contente. E tento abrir mais os olhos para a luz que invade a janela, às minhas costas. Pudera mesmo toda melancolia de quarta-feira ser devorada pela simples visitação daquilo que nos é inatingível.


Uma reflexão sobre o Tempo, a qual jamais será lida, bem o sei.

"Dá-me mais vinho, porque a vida é nada!", nos dizia Fernanda Pessoa, num poema cuja constatação era esta, elucidando-nos mais que a vida, ao menos a dele (e a minha), não era mesmo de grande e esfuziante alegria. "Há dores que não doem, nem na alma, mas que são dolorosas mais que as outras", e existirá, portanto, melhor definição destes nossos humanos tormentos? Mas bem como dizia Shakespeare, não devemos "pôr o mundo em nossa pessoa" e é bem certo que há quem ignore por completo tais angústias inomináveis e viva em frescor e regozijo de muitas diversões. Assim o creio, visto que há fartos exemplos de superficialidade ou sensatez por entre a gente deste mundo. Outra vez, assim, me pego com os pés brancos atolados em grossa melancolia, por meio corpo de motivos, neste caminho pela floresta escura - neste vagar em busca por riachos de água fresca, por pousadas de cama quente e boa comida e por tendas de se deitar com bela campônia. Mas, amiúde, meu vagar tem me levado às feras, às areias de prender o pé, às áreas de muitas saúvas, moscas rudes e riscos de febre. Meu caminhar, que me pareceu certa vez um velejar por mar inerte, agora se mostra ter sempre sido em verdade um velejar por oceano de empurrar sempre para a mesma e inóspita praia. No entanto, ou velejando ou vagando, com as próprias e indecisas pernas, ou por qualquer medíocre metáfora que eu venha a dar cor e sentido a tão cretina melancolia, não me sentirei, creio, tomado de qualquer súbito refresco, nem angariarei maior compaixão por parte de qualquer leitor – o quais, de qualquer modo, jamais chegariam a esta frase, seja por absoluta incompetência de um escritor, preocupado agora tão somente com a sua própria e desinteressante existência, seja pelo desinteresse alheio pela desventura alheia, uma vez que todos já se ocupam com a própria.

Porém – e felizmente a vida é cheia de “porém”, se para muitos a tal dificuldade na produção de endorfina, conforme nos diria algum químico, ou a estranheza da vida, confome nos diria um poeta, ou, ainda, a imaturidade, conforme nos relataria alguma senhora de conhecimento em psicologia, poderia ser um estrago infrutífero para muitos, aqueles que se dedicam aos versos e às canções podem bem colher vez ou outra algum fruto, mesmo pálido e insosso da semeadura de sentimentos tão divergentes quanto incômodos. Porém – e infelizmente a vida é cheia de “porém”, muitos semeadores colhem seus tantos frutos e com amargor e impotência os vêem apodrecer, por obra de uma vida que nos exige bem mais que o suportável.

“Tem muito tempo aquele que não o perde”, disse-nos algum sujeito. Ora, eu responderia de modo exasperado: somente um desocupado ou afortunado cujo trabalho lhe permite glórias sucessivas, seria capaz de tão baixa constatação. A mim, que não sou o condenado nem o escolhido, resta-me o trabalho e o mísero tempo que me resta para um gozo que nem sempre eu sei ter. Mais eu vivo, menos tempo em tenho para quaisquer de meus desejos e descanso. E do pouco que me resta, por vezes, sinto-o esvair-se de mim por culpa da intolerância e do desassossego alheio. A verdade é, numa única e derradeira sentença: ESTOU FARTO, MAS ME RESIGNO MAIS UMA VEZ.

Continuação da crônica, não obstante eu ter escrito que se tratava de uma “única e derradeira sentença”:

Devo dormir ainda menos? O que certamente me roubaria ainda mais a vitalidade, levando-me a um cruel acordar – cada vez mais ofegante, em todas as manhãs. Deveria eu abandonar o trabalho? O que certamente me levaria à miséria o mais rapidamente possível, privando-me de vez de tudo aquilo que quero. Deveria eu viver em total solidão, me vendo desobrigado inclusive de falar a quem quer que seja, feito um indócil eremita? O que certamente me pouparia alguns desgostos, provocados sempre pela vida em sociedade, mas tal hipótese, convenhamos, é tão estapafúrdia quanto difícil de se imaginar. Que devemos nós, imbecis honestos, os quais trabalham, trabalham, sacodem-se nos trens e caminham pelas calçadas irregulares da cidade, fazer para ter da vida mais que um maquinal cotidiano, de repetições e impedimentos que beiram à tortura? Que devemos, ó deuses todos, alcançar para ter da vida o tempo, o uso e o sabor, sem que no entanto nos privemos do sono, do ócio eventual, das pausas para o nada, em que podemos refletir sobre a imensa complexidade da vida?

Diante disso, além daquele velho apanágio que dizia que “quem tudo quer, tudo perde” e diante de outro, o qual nem sei ao certo se existe assim, como o digo, que “morre cedo o angustiado”, tento agora me livrar de tal cruz, elevando o meu pensamento a qualquer frivolidade. Pudera eu reencarnar meu reverso cínico e epicurista e dar de ombros para tudo o que sinto. Mas, sabemos todos, que mesmo para a mais fresca atividade, para o mais tolo pensamento, para a mais lúdica brincadeira, são necessários tempo, ânimo e dinheiro: tudo o que, notadamente, por ora, eu não tenho.

terça-feira, setembro 04, 2007

Florbela.


Abaixo, dois poemas de Florbela Espanca, figura das mais importantes na poesia portuguesa. Para mais de sua obra, clique aqui, ó meu imaginário e curioso leitor, e se deleite com tão melancólicos versos. Quiçá alguém tivesse os dedos de clicar - e mais os olhos de ler! Que nestas horas mais eu sei que a poesia vai ganhando lugar no vasto esquecimento dessa gente que nasce e morre a cada segundo.

VAIDADE

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...

DIZERES ÍNTIMOS

É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!

E logo vou olhar (com que ansiedade! ...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebês doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos ... (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! ...”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”

14


Chegando à décima quarta colocada entre as cem canções que mais me comoveram nesta vida de doze mil e um dias vividos entre o gozo e o tédio, entre a filosofia e a estupidez, uma explêndida obra de Ennio Morricone. E agora, logo há cerca de um minuto, outra vez a ouvi. E não estivesse eu num local de trabalho, cercado por outros sujeitos que talvez não compreendessem a minha manifestação efusiva de gratidão ao tal compositor, eu teria mesmo dado um "urra!", com os braços erguidos e os olhos tomados de lágrimas, pela devoção e pela inexplicável coisa que nos atinge o peito, na oitiva de uma música tão dardejante e triste. Ouçamos, portanto, Cockeye's Song, canção do filme Era uma vez na América, obra obrigatória, para dizer o mínimo, de Sergio Leone.


O inquérito sobre a vaidade em tempos de blog.

A internet tem proporcionado uma larga dose de frustração a muitos, bem como tem elevado a estima de outros. E nesta observação nenhuma novidade poderá o leitor notar, a não ser que compreenda o quanto é nova esta mesma internet e esta coisa de blog, MySpace e Orkut, em que a vaidade, nossa velha conhecida, pode praticar seus exercícios das maneiras mais diversas. É facilmente perceptível, mesmo pelos néscios ou inocentes de coração, que a cada página pessoal visitada nos esbarramos com aquele sufoco de querer alcançar algum sucesso (nos sentidos diversos desta abrangente palavra) que muitas vezes a vida pessoal, concreta, vivida longe e independentemente dos computadores, não ousou ainda alcançar.

Com a possibilidade, ainda, de verificar, por algum dos modos diversos, a quantidade de visitações ou o tempo de permanência de internautas em nossas páginas, nos entregamos ao gozo ou ao infortúnio, como se disso ganhássemos algum proveito. Não obstante o fato desta coisa toda ser bem novidade para esta humanidade insaciável por novidades, o futuro breve nos dará novas relações entre o usuário e o universo virtual.

Pois há, deveras, um tipo diferente e pouco compreendido de criador, o qual, tão diverso do que se espera, não espera mesmo por audiência, cônscio de uma solidão que lhe apraz, uma vez que o isolamento criativo é também um tipo de liberdade com a qual pode, efetivamente, entregar-se de fato aos exercício livre de fazer aquilo que quer e tão somente como quer. Naturalmente, dirão os críticos, que o exercício jamais convive com a ausência daqueles a quem se destina o mesmo exercício: o leitor! Dirão, sem embargo, que a arte se desenvolve justamente no conflito entre o fazer e agradar e o desagradar e este complexo jogo, muitas vezes gratificante, de desenvolver o que se quer e como se quer, com o objetivo ainda de agradar àquele público específico que fizemos por eleito.

Nem há nesta crônica esparsa, como aliás são todas as demais, qualquer mérito ou desejo de se chegar a algum acordo. Mas tenho sentido falta, por um lado, de um grande diálogo em que recebo críticas e pedradas justas, sem que, no entanto, também tenha me aprazido neste ascetismo, sabedor de que faço aqui, o que fazia na minha infância solitária, conforme o editorial ao lado.

De qualquer modo, ainda, reemprimindo a importância dos paradoxos, e a consciência destes, para o nosso livre poder dialético, não nos devemos convencer da falta de múltiplos caminhos. Há muitos modos, infinitos talvez, de se chegar a um mesmo e desejado canto. Seja para o pavão, seja para a tartaruga, não se deseja outra coisa além de uma satisfação expressiva. Se alguns exigem platéia e se adaptam, conforme as nuvens do céu, que assim se acostumem aos amorfos aspectos. Se alguns, cantando sós, feito eremitas numa caverna. matendo-se na fidelidade de suas idéias, jamais entregando-se à tentação de mudar o sopro tão somente por desejo de abarcar a caverna alheia, preferirem tão somente os elogios ou as raivas do eco, que se acostume a não ter julgo algum daquilo que tão dedicadamente fez.

O que nos resta, talvez, é um equilíbrio dificílimo: se escreve o sujeito tão somente para si, sem audiência alguma, está em verdade a se masturbar, naquele gozo de imagem e sonho. Se está a se dedicar tão somente ao que interessa aos outros, está a se prostituir do modo mais vulgar que se possa imaginar. Busquemos, portanto, aquele amor, aquela paixão de grande entrega. Apenas os grandes artistas o conseguem, mesmo que tão somente conquistem um único e solitário coração.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Para festejar.

Para comemorar, de modo correto, os meus doze mil dias, Frank Sinatra! Primeiro, com You Make Me Feel So Young. Depois, com Mind if I make love to you?, com participação da monumental Grace Kelly, uma das mais belas fêmeas do cinema, em toda a sua história. E qualquer comentário, quando canta Sinatra, é bem supérfluo.

Terror.



Nada há que me irrite mais que filme de horror do tipo Jogos Mortais, cheios de cenas pitorescas e teoricamente nojentas. Em verdade, filmes deste gênero me levam apenas a alguma azia. E se a vida já nos dá tanto desgosto, filme de gente sendo cortada aos pedaços me parece tão somente um exagero no tempero ficcional destes nossos tempos. Compreendo quem goste, mas eu certamente prefiro ter um divertimento agradável e leve, feito um Can Can ou um Singin' in the rain. No entanto, como se precisasse justificar a presença de uma moça tão maravilhosa neste meu humilde blog!, publico o trailer do próximo filme de Elisha Cuthbert, Captivity, dirigido por Roland Joffe, o qual tem ao menos uma obra-prima em seu currículo: A Missão. Quanto à moça, que é realmente o que nos importa, neste blog de muitas reverências à beleza feminina, talvez me sirva para comentários noutra hora, como justificativa de lhe emprestar mais imagens, com o fim de dar beleza a esta virtual e íntima revista. Por ora, recomendo-lhe a visitação de sua página.

Crônica dos 12000 dias.

Hoje, exatamente hoje, completo eu doze mil dias de vida. E nesta constatação de tão largo número sinto-me presa de sentimentos distintos e inconciliáveis. Se me atinge a alegria de sobrevivente, sabendo que passei por tanto, quase incólume e quase são, toca-me também a certeza de que os doze mil dias não me foram suficientes para que eu chegasse a qualquer canto de grande louvor. Confesso, e quem não confessaria?, que me orgulho por ter permanecido honesto àquilo que julgava de alguma correção - ao menos não saí pelas ruas a cantar o que me era funesto e nem precisei jamais usar de artimanhas escusas, detrantando, fingindo, mentindo o que quer que fosse para que eu obtivesse o quinhão que agora tenho. Disto me aprazo fortemente. Jamais precisei de máscara, o que me é motivo claro de satisfação, nesta data de tão longo tempo, suficiente para que muita máscara talvez fosse usada. Mas não as usei e a minha autenticidade é um escudo que carrego comigo a qualquer tempo. Se também deixei de muito ganhar, largando mão de artifícios vergonhosos, disto não faço alarde.

No entanto, não seria eu a me dedicar a louvor pessoal em tão claudicante segunda-feira: doze mil é pouco, ou foi-me pouco, uma vez que tenho dos meus retardos. Doze mil foi pouco e nem a mínima fração conheci daquilo que quero conhecer, nem nada ainda fiz - ou muito fiz, mas me é claro que somente agora, quando noto em mim assentar as doze mil poeiras de minhas vontades, consigo fazer como exatamente quero aquilo que meu talento, um velhaco de doze mil noites, ainda persiste em trazer à tona.

E doze mil noites, doze mil luas de prateado tão divergentes, doze mil vezes eu abri os olhos e desejei um dia de grande engenho e doze mil vezes eu abri os olhos e quis mais, com respiração ofegante e grande anseio! Hoje, exatamente hoje, eu me pego até melancólico - não por tristeza, frustração ou medo - porém pela fabulosa sensação de ter na memória um mundo vasto e vivido de coisas intangíveis, das quais eu posso tão somente ter reminiscência, vaga lembrança. Tantas vezes eu me vi feliz, tantas vezes eu me vi heróico - e tantas covarde, pequeno, trêmulo e coxo. Tantas vezes me vi perdido, confuso de quase parecer um débil sujeito, e nisto mais eu me ajeito para hoje gostar de mim. Assim, o que mais me gratifica nesta estradinha minha, meu leitor imaginário, é a superação que tive; é a minha paciência e a minha fé num deus complascente, tão distante de qualquer outro deus a qual alguém já tenho feito oração. Um deus de nenhuma existência além de mim e cujo rosto leva o meu próprio, em minha solidão existencial.

Assim, parabenizo-me. Contente e ufano, pela face limpa e pelo tanto que pude acumular de conhecimento e experiências que agradam aos intelecutais e ao lascivos. E enfadado e acabrunhado, naturalmente, pela certeza de que nenhum destes meus doze mil dias, mesmo os melhores, novamente me voltarão, para um deleite, para um conserto ou para uma mísera apreciação.

sábado, setembro 01, 2007

Nada a dizer.


Costuma-se proclamar, a toda hora, que é bem difícil a quase toda criatura dizer um simples "não sei", o que seria indicativo de ignorância e tudo o mais. Eu, cá no meu canto, já disse "não sei", tomado de alguma vergonha, e já disse "não sei", tomado de certeza e nenhum incômodo. Mas a mim, eu que sempre sou de declarar, incomoda mais a hora de "nada tenho a dizer". Sim, pois me parece uma certa obrigação que, num mundo tão devasso e complexo, em sociedade tão cheia de defeitos e num mundo de tantas belezas e contrariedades, eu simplesmente sussurre um "hoje nada tenho a dizer". Sim, pois com a recordação de um poema de Brecht que dizia algo como ser vergonhoso falar de flores em tempos de guerra, considero vergonhoso nada ter o que dizer neste século de graves disparidades.

Mas mesmo assim, tomado de algum frágil acanhamento, sou obrigado a dizer que, hoje, realmente nada tenho a dizer. E que eu possa me dar algum perdão, noutra hora.

sexta-feira, agosto 31, 2007

A importância da leitura.


Passa dia, passa mês, passa ano, passa vida, mais o mundo corre, mais esta sociedade ganha novos ares, com tecnologia e miséria coexistindo aos montes, mais é necessário se entregar à leitura de clássicos livros, de romances que investigaram esta coisa esquisita que é o ser humano. Mesmo que nesta internet muito se possa ver, muito se possa conhecer, e mesmo que a televisão nos dê muita informação, por meio de seus bem barbeados jornalistas e comunicadores, todos sempre bem barbeados!, e mesmo, por fim, que se leia os jornais todos, sobretudo aqueles de muitas páginas e farto peso e colaboradores distindos e notórios, nada nos faz tão bem, nem por uma única fração, quanto à leitura de um grande e maravilhoso livro.

Vez ou outra, queixam-se a mim, este professor de língua portuguesa não-praticante, das dificuldades com a escrita e de como não é fácil se escrever e isso e aquilo, mas eu não tenho mesmo qualquer outra resposta, além desta: leia, ó criatura de olhos cerrados! Tão bem nos faz, por nos aprimorar a crítica, o pensamento, a escrita e a leitura seguinte, e nos dando, em acúmulo, mais e mais consciência para a compreensão de todo este mundo externo - uma vez que o interno, sei não se é compreensível, seja porque via.

E ainda há o prazer - um duplo prazer, de se regozijar com a história e com a simples dificuldade vencida de se ler uma obra que nos ofereceu dificuldades e questionamentos dos mais diversos. Na semana passada, tive a delícia de ler Ivanhoé, romance estonteante de Walter Scott, maravilha com Robin Hood e Ricardo Coração de Leão. Nesta semana, O Asno de Ouro, obra de Apuleio, um dos mais interessantes e engraçados livros da história da literatura, alegrando leitores desde o século primeiro depois do surgimento daquele tal Cristo nazareno. Mas não estou, ó meus imaginários leitores, a fazer disso qualquer auto-elogio. Apenas posso afimar que, pelo prazer obtido, venci os bobos obstáculos que me cercavam.

Entrentanto, a verdade seja reafirmada: pareço um pobre Quixote, a defender a leitura, neste país de muita preguiça e hipocrisia. Tanta gente vive a arrotar que isso e aquilo, alguns inclusives, para a minha mágoa, professores de português, também incapazes de se dedicar à leitura! E alguns, com força de bradar que são espertos, repuldiam a leitura, como se esta fosse mesmo tarefa de desocupados e ociosos.

E sem o propósito de me repetir, uma vez que já escrevi tal coisa uma centena de vezes, termino a conversa, que hoje é sexta-feira e não quero rancor intelectual, sendo melhor ter resignação onde deveria haver inconformidade. Assim, recomendo hoje a leitura dos livros abaixo, disponíveis para download. Apesar de, naturalmente, recomendar a leitura em papel, por centenas de motivos. Mas que o custo da aquisição de um livro, para aqueles de bolso vazio, não sirva de desculpa.

A foto acima é de Visconde de Taunay, bravo escritor do delicioso Inocência. Para baixar esta obra realmente agradável, clique aqui.


Um romance de cavalaria fabuloso é Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano. Para baixá-lo, clique aqui.


Por fim, se o leitor desejar mistério e suspense, com linguagem mais acessível, conheça o gênio João do Rio e o seu fundamental Dentro da Noite. Aqui.

Obs.: ainda, se houver inocente que não saiba, há uma coisa chamada e-book, livros para serem baixados. O Igler e o Livro para Todos são dois bons exemplos.

quinta-feira, agosto 30, 2007

15


Ocupando a 15ª posição entre as cem canções que mais me comoveram nesta vida de poucos rumos, Mr. Acker Bilk e a espetacular Strange on the Shore. Nem mesmo Átila, o huno, ou o Maníaco do Parque ou ainda o terrível Eurico Miranda seriam capazes de não se enternecer com tal melodia. Seria preciso muita surdez (dos tipos possíveis de surdez que acomentem à alma humana) para não permitir alguma apreciação desta obra-prima do século XX.


Dance, sobrevivente.


Gloria Gaynor e a simpática I will survive. Para o delírio de alguns de meus imaginários leitores. Sobretudo aqueles de gosto fácil pelo rebolado.

E a beleza prevalece.

    
 
Depois da acachapante beleza de Scarlet Johanson, a nova coqueluche estética do momento é Megan Fox, atriz de Transformers, filme que a minha curiosidade não me permitiu ainda ver. E cujo trailer abaixo eu coloco. Mas como o interesse dos calilatras (expressão esta explicada há alguns meses) é sempre pela mais bela, jamais deixaríamos de notar os evidentes dotes que Megan Fox tem em seus lábios, olhos e por todo o conjunto de sua graciosa face. Em seu sítio oficial, o meu imaginário leitor poderá encontrar punhados de imagens desta tão deleitosa figura e comprovar que a moça, sejá lá por qual possível julgamento, tem beleza além do comum.


quarta-feira, agosto 29, 2007

Altas imagens.


No Artcyclopedia, em MasterScans, 284 imagens em grande tamanho. Acima, Salvador Dali e sua obra Muchacha en la ventana. E cada vez mais a rede me fascina: o que não é possível ver na tela Samsung que se encontra diante dos meus olhos? E para aquele que venera a arte, muito regozijo há.

Masterpiece e a tradição das cartas.


Ontem, minha beatífica mulher completou vinte e dois outonos, o que me motivou a escrever-lhe, segundo a minha tradição de devoção e respeito, a anual carta em que digo de meus sinceros desejos e esquadrinho o momento em que vivemos. Tal carta, extensa sem demasia, é guardada, creio bem, junto às demais cartas de anos anteriores, nalgum secreto baú em lugar não sabido e incerto. Não creio que haja tão interessante modo de se mostrar respeito a alguma criatura de valor que lhe ofertar uma sincera missiva. Mas nestes tempos de analfabetismo crônico e preguiça intelectual por parte de grande parte da humanidade, creio eu que muitas moças ganham de seus amantes tão somente um presente e um abraço de forte aperto - se tanto.

Ora, uerba uolant, scripta manet, já bem sabemos, há um bom punhado de séculos! Dizer que se quer bem, que se espera isto ou aquilo, que, conforme nos diz aquela clássica canção de Eden Ahbez, "the greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return". Dizer é fácil, é um abrir de lábios e as palavras com o oxigênio ganham os ouvidos alheios em furiosa velocidade. Mas escrever é se dedicar, escolher melhores termos, encontrar filosofia naquilo que se vive e é permitir, sem receio, que aquilo que se afirmou ganhe uma quase eternidade, podendo servir de ridículo ou orgulho em algumas décadas.

Há algumas décadas, aliás, desde os primeiros e desencontrados amores, escrevo cartas. E algumas, poderosamente imbecis, continuam talvez nalguma gaveta jamais arrumada. Outras, talvez, cujo meu punho deu-lhes melhor valor, transformando-as em lirismo de razoável qualidade, já talvez estejam amareladas, mordiscadas por traças, e em breve ganharão a lata do lixo - do que não posso, aliás, reclamar. Se para o lixo foram os relacionamentos, que qualquer lembranças destes mesmos relacionamentos, ganhem também o mesmo destino, se for a vontade da parte interessada.

E, assim, por este mesmo risco, de perpetuar uma ilusão que se sentia, uma amor cuja sorte fôra logo malograda, por este risco de dar a alguém - algumas imerecedoras, aliás - um testemunho escrito daquilo que lhe era caro, não vejo mais desafiadora prova, nestes tempos melífluos e inconstantes, de carinho e dedicação que a produção de valorosa carta.

No entanto, alguns de meus imaginários leitores, etéreos e disformes, devem se queixar de minha tão honesta proposta. E seria evidente que, aqueles a quem o mundo privou dos talentos para a escrita, que é incapaz de colocar em versos aquilo que se sente, que vá procurar um modo seu, pessoal, de expressar seu sentimento. Mas que seja um modo em que se afiance, com assinatura e data, o que se sente. Pois o tempo passa, numa velocidade de nos atordoar, e leva consigo todas as poeiras do chão. Quem jamais se perguntou: como pude gostar daquela, daquele? Como pude sentir tal coisa neste peito hoje tão diverso? Nós nos mudamos, constantemente. Mas tudo o que se viveu, de qualquer modo, nos vale muito, por todo o sempre.

Obs.: Acima, Betty de Gerhard Richter. Maravilhosa imagem retirada da página MasterScans, da Artcyclopedia. Página da qual falarei mais tarde, com o pretexto de postar novas imagens e deixar meu tão humilde blog bem mais bonito.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Um teste.

Somente hoje notei que havia neste Blogspot querido a possibilidade de postar vídeos direto do meu PC. Uma novidade bem recente, creio eu. O que seria, de qualquer modo, uma revolução, sendo que eu não mais dependeria sempre do Youtube, do iLife, do Dailymotion e de sei lá mais quem. Um teste, o qual trazendo alguma alegria, servirá-me para um novo tempo na postagem de divertidas mídias. E o teste vem com The Beatles e o clássico A Day in Life.

Clássicas imagens.



Estava eu peregrinando pela internet, sem lenço e documento, quando deparei-me novamente com o glorioso Cover Browser. E nesta maravilhosa página, a qual reúne capas de milhares de revistas e gibis, dos mais variados estilos e épocas, acabei por encontrar todas as capas de Girls' Romances, antiga revistinha da DC para as moças de bom coração, com historietas apaixonadas. Das histórias, nenhum julgamento faço. Mas das capas, arre!, uma mais magnífica que a outra. Tanto que eu fiquei alucinado, sem saber o que colocar por aqui. Vale a visita: pura arte.

Um pouco mais.

Um pouco mais interessante é Cult of personality, do extinto Living Colour. Coisa do ano de 1989 - quando eu chegava aos quinze outonos. Boa música e bastante simpatia nostálgica.


Mais ou menos.

Pensava eu se deveria dedicar esta semana toda a alguma único artista ou tema e, não tendo encontrado conclusão, começo sem muito esforço. Cindy Lauper e Time after time. Divertido, mas não chega a comover os meus ouvidos.


Lamúrios, lamúrios.

Depois de um final de semana fracassado, chato, desconexo, infértil, resta-me desejar por melhor sorte nesta nova semana de agosto. E meus leitores inexistentes, cuja etérea forma não lhes permite dar opinião, clicando com o rato ou escrevendo com o teclado, bem poderiam tecer os seus relatos sobre o que lhes tem acontecido por estes dias de nenhuma graça. Assim, saberia eu, que não sou o único a sofrer dos dissabores cotidianos cujos epicentros sempre se dão aos sábados, quando seria hora de se esvair em gozo nalguma orgia, conforme expressão antiga, a qual designava a festa em que todos se esbaldavam.

Aliás, disto me vem um certo pensamento, o qual vem me torturando há mais de vinte anos: existirá um tempo grande de fertilidade, de muita satisfação, para a vida que tem sido de fartas esperanças? Pois eu me lembro de alguns versos de um antigo poema, o qual se referia àquele Dom Sebastião. Digo, não me lembro mais, com exatidão de palavras, mas ficou em mim a sensação certa do que sinto agora. Com a ligeira diferença: não espero por salvadores, espero por um tempo de fartura, sem desencontros e de muito vinho derramado pelo canto da boca.

Ademais, já me disseram que a vida não é feita apenas de sufoco, trabalho e pagamentos. E que chegará a hora da colheita... Ora, falo em incógnitas e é bem capaz de meus imaginários leitores, os quais também não possuem olhos, nada compreenderem dos meus tão complexos pensamentos. E londe de ser um esquizofrênico, desejo ao leitor que a sua compreensão seja pelo menos razoável destas angústias de um sujeito a pensar no século XXI. A vida, o destino, o mundo ou sei lá que porcaria de essência, bem poderia oferecer-me, assim sem muito aviso, uns momentos de inacreditável fúria e regozijo.

Mas que venha de graça. Isto de tudo ter um preço é algo que me desagrada profundamente. Ó santo protetor dos ateus, que para o melhor da vida eu tenho bem me preparado, revelo-te um certo desejo - de muita humildade e devoção: permita-me que eu, este trabalhador honesto, intelectual dedicado à literatura, bom esposo de ciúmes e carinhos, ateu sem pregações e sem par com o louvor de salafrários, tenha lá os meus dias de nababo, de Casanova que não se ocupa em iludibriar a ignorância alheia - que isto mesmo não me apetece. Que tudo o que eu ganhe, de mais profano, seja ganho na mais ampla verdade de minhas palavras.

E em tantos paradoxos, outro mais me aborrece: se sou honesto e sincero, como posso conquistar alguma coisa que no mundo apenas se conquista com conversa-mole e grandes e coloridas mentiras? Se aqueles que conheço, cuja mania de ser sincero nada lhes tem trazido além de profundas mágoas e aqueles de língua esperta e cara-de-pau vivem a saborear do mel certo de algumas plantas? Não sei mesmo qual o acerto das coisas e me resta então acreditar, tão ateu que sou, no paraíso de mil virgens e fartas ambrosias.