sábado, janeiro 27, 2007

Fim do mês.


Ah! Janeiro é mesmo um mês amarrotado de compromissos. E é quando a gente tenta se preparar para a longa caminhada anual. No entanto, sempre reclamei dessa coisa que a gente ouve de "ouvir dizer" e que muitos até, folcloricamente, assumem bem fazer: planejamento! Ora, não sei se é apenas comigo, mas a vida anda numa velocidade dos diabos que pouco me sobra tempo para as atividades mais triviais. Como planejar o futuro se estamos a nos equilibrar neste turbilhão que somente cessa quando a gente está a dormir ou quando nos pegamos tão cansados que é impossível pensar em seja lá o que for? Ora, sei lá como. E, ao menos aqui, os planejamentos parecem como as escolhas que fazemos diante de prateleiras de uma vídeo locadora. Olhamos a caixa, reconhecemos algum nome; pensamos no que nos diz a sinopse; procuramos por alguma cena que nos faça bem aos olhos. E escolhemos às vezes com certa insegurança, às vezes ignorantes e iludidos, às vezes bem satisfeitos e certos de que a melhor escolha foi feita. Mas nem sempre há Hitchcock e Billy Wilder disponíveis nas rasas prateleiras de locadoras.

Nem todo título obscuro é ruim. Alguns são maravilhosos. Nunca soubemos de sua existência ou nem jamais pensamos na hipótese, mas nos surpreendem com até algum exagero. Assim é essa tentativa vã e penosa de levar a vida como bem achamos correto. Num momento o espanto. Noutro a confirmação.

Escolhas alheias.

Finalizando com as escolhas alheias da semana, Ecos Falsos e a esquisita Réveillon. Abaixo, Vanguart, com Cachaça. Aliás, posso estar sendo bem ignorante, a formular uma pergunta tão leviana mas, afinal, Vanguart é uma banda cover do Radiohead? Ou é somente a recapitulação de um estilo tão interessante, lá do hemisfério norte, que alimenta 8 entre 10 bandas deste Brasil - já tão sem personalidade? Bah, mas não quero parecer um chato. Mesmo porque há coisas muito piores nesta terra. Há coisas tão ruins, mas tão ruins, que até uma banda brasileira que é efetivamente uma franquia de outra, estrangeira, acaba por merecer certo respeito! E aproveito para agradecer a escolhedora da semana, Juliana Arruda, jornalista apaixonada pela música underground deste mundo de tantos degraus.


35

Chegamos à 35ª colocada! Logo a lista acaba e começa outra, bem já escolhida. Mas ainda nos restam, além desta, 34 canções - e, independentemente de serem minhas mais apreciadas, são bacanas pra muita gente. Ora, perdoem-me o chauvinismo, mas sou mesmo um velhaco de bom gosto. E So Much In Love, do grupo The Tymes, ó céus, poderá ser por alguém objeto de asco? Poderá alguma criatura desdenhar dessa poesia tão suave? Ora, se há quem se espante com a irmã, porque esta está a ouvir Elis Regina! Chegando ao surreal de dizer algo como "eu teria vergonha de escutar esta velharia!". Não é mesmo fácil a vida em sociedade, sobreduto quando há gente tão estranha. Mas já que citei o nome de Elis Regina, So Much In Love é bem uma canção que ela poderia ter cantado, lá pelo começo dos anos 60. E teria sido mesmo muito bom de se ouvir.



So Much In Love

as we stroll along together
holding hands walking all along
so in love are we two
that we don't know what to do
so in love (so in love)
in a world of our own (so in love)
as we walk by the sea together
under stars twinkling high above
so in love are we two
no one else but me and you
so in love (so in love)
so much in love (so in love)
so in love (so in love)
so much in love (so in love)

we stroll along together
i tell you, i need you oh so much
i love, i love you my darling
can you tell it in my touch

as we walk down the aisle together
we will vow to be together till we die
so in love are we two
just can't wait to say i do
so in love (so in love)
in a world of our own
(so in love) so in love
(so in love) are you and i
(so in love)
baby, i hope you realize
that you mean so much to me(that u mean, that u mean so much)
you're everything i ever wanted in a woman(your everthang,everthang,everthang,)
touch to feel your body close to me(I love, I love u my darlin)
and i just want to hold you in my arms forever
can you tell it in my touch

as we walk down the aisle together
we will vow to be together till we die
so in love are we two
are we two just can't wait to say i do

so in love (so in love)
are you and i (so in love)
so in love (so in love)
are you and i (so in love)
(so in love) so in love...

(The Tymes)

sexta-feira, janeiro 26, 2007

A atriz.


Homens vivem enjaulados. Enjaulados dentro de uma cela construída nestes nossos poucos milênios de existência, cujo nome até poderia ser "sociabilidade", ou "moralidade" talvez. Ou ainda, com certa lógica, "cultura". Enjauladas a fera bestial (que o homem inclusive já foi e ainda persiste, sob toda as camadas de educação e consciência), a vida em sociedade é possível. O Homem é um animal mamífero que já matou outros animais com os dentes e não teve, por um longo tempo, qualquer noção do que seria família, regras e boa conduta. E esta irracionalidade ainda persiste em nós. Crimes, violência, gula e muitos mais do há neste mundo é sinal de que o homem, mesmo no salto alto de sua evolução, ainda é bem animalesco.

Qualquer churrasco com barrigudos e gente a gritar bem me parece uma reminiscência dos velhos jantares de crua carne e grunhidos sem frase. Outra marca bem forte é o cio que nos toma. O Homem ainda - apesar da maldita culpa cristã! - vive ainda pelo seu voraz desejo de foder, devorar e expelir líquidos. Ora, quem é que não se sentiu assim? Entregue à líbido, sem se dar conta de pensar com prumo, somente tomado por um furor que mais nos lembra o pânico do cachorro e da cadela quando precisam procriar?

A camada sexual criada pelo homem, para o bem da civilização, foi o erotismo, em suas diversas possibilidades e cores, que vem para acalmar a fúria de tantos animais bípedes. A pornografia, notemos, com seus filmes de tantos posicionamentos e fetiches, vem para simular o que todos nós bem gostaríamos de fazer, diariamente. E é bem certo que há coisas que vemos nos filmes, naturais e nuas, que não nos permitiríamos fazer - ao menos sem um certo engodo filosófico.

Jenna Jameson, atriz famosa, ganhadora de prêmios e evidentemente competente, é bem uma figura desta arte de criar "válvulas de escape" sexuais. O que a moça faz, a sorrir, é bem o que qualquer moça até gostaria de fazer, se já não estivesse totalmente tomada pela civilidade. Lembro-me sempre de um amigo a reclamar que a tal fulana era "desenvergonhadamente civilizada", por não lhe ter cedido os favores.

E sei lá se a tal fulana, consciente ou não, evitou-se a fúria. Mas cabe a nós, homens e mulheres, sabermos bem que o nosso sucesso e gosto pelo sexo, depende exclusivamente de nos permitimos sermos animais, permitindo-se levar pela fúria - mesmo que jamais nos descuidemos daquela camada fundamental que é a Sofisticação.

Para fotos de Jenna Jameson, espetacular atriz XXX, clique aqui. E não se preocupe, jovem leitora, não haverá nada de mais. Este blog é infelizmente bem civilizado. Abaixo, por fim, uma simpática propaganda. Bem simpática.

Intimações.

Bem, a questão é simples. Estou cada vez mais atarefado (e em breve me obrigarei a escrever um novo drama ou finalmente terminar um de meus sempre inacabados romances, o que não me permitirá profunda dedicação ao blog). E não obstante a liberdade que tenho por aqui, fico vez ou outra contemplativo, sem palavra que poderia interessar ao leitor. Assim, intimo a alguns leitores, alguns amigos e, eventualmente, alguns doutores da ciência humana, para que também escrevam por aqui. O sistema é simples e apenas solicito que, semanalmente, a coluna seja postada - ou mais que uma vez por semana, mas é coerente que haja uma boa freqüência, uma vez que a publicação aqui é semanal.

Por exemplo, caberia ao talentoso diretor e desbravador das sete raças David Rock nos indicar uma bendita peça de teatro. Não conheço criatura mais indicada para tamanha responsabilidade. Ele vê anualmente mais montagens do que eu poderia ver em toda a vida. Ou Hélio Martins, cinéfilo das modernidades (que eu sou cinéfilo das antigüidades), roteirista sabedor do que é afinal um roteiro (coisa que o leigo sabe apenas por instinto), bem poderia nos indicar um filme pra se ver no cinema ou na tela do televisor. E ainda o eternamente ocupado Alessandro Romio, desenhista dos longos traços, bem poderia nos indicar sítios de bons museus virtuais. Ora, bem poderia. E até seria bom que houvesse quem nos escrevesse sobre as baladas desta longa São Paulo. Ou sobre o que se passa nos subterrâneos. Ou sobre o crime organizado!

E quem mais quiser escrever, mas eventualmente possa se sentir enferrujado nesta arte complexa que é escrever e "blogar", lembre-se que eu me ocuparia em revisar e reajustar o que fosse necessário. Sei bem que poderíamos fazer deste blog uma revista com discursos diferentes, a agradar ainda mais gente - mesmo aquelas que me detestam.

Hum... creio estar em devaneio. Mas se os amigos estiverem vivos, creio que logo a coisa toda será melhor.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Escolhas Alheias.

Caetano Veloso canta Alegria, Alegria, no famigerado festival de 1967, naqueles tempos em que a emissora Record ainda merecia alguma visitação. Aliás, vídeos como o que agora publico nos remetem a um passado agitado da história da cultura deste país tantas vezes desanimado e nos dão então motivos para inúteis diacronias. Ora, o que nos espanta mais é que toda esta gente era popular, acontecia na televisão e auditórios. Não havia ainda a invasão de manipuladores do tipo canhestro de Gugu, um sujeito que é execrado (e com toda a justiça) por dez entre dez pessoas alfabetizadas. Tem ainda um cartaz com a parte da população que é incapaz de ler uma crônica de jornal (e compreendê-la) ou de simplesmente desconfiar do caráter de tanta gente, que a mim, ao menos, só não possuem os cornos e o rabo do tal "Coisa Ruim" por exigências de mercado.

Quanto aos festivais, hoje ainda se comenta se, na citada edição, Alegria, Alegria deveria ter vencido. À sua frente ficaram Domingo no parque, Roda-Viva e a vencedora, Ponteio. Ora, cada um terá a sua preferida e as suas devidas justificativas - mas é bem certo que não é fácil escolher entre tanta demonstração de inteligência e criatividade. Apenas não nos metamos a comparações. Se os nossos tempos são controlados por sujeitos que exploram a miséria, e dela montam investimentos, é até louvável que ainda haja gente disposta a ouvir um chamamento tão esplendoroso quanto o que fizera Caetano, para um país que ainda se vestia de preto e branco.

36

Ocupando a 36ª posição, entre as cem canções que mais me comoveram neste mundo grande, Johnny Mathis e a suave It's Not for Me to Say, clássico do cancioneiro norte-americano, de 1957. Um tipo emblemático de pedrada que nos faz pensar um pouco naquela tristeza, que feito um resto de doce, grudou no fundo da panela e não sai mesmo se esfregássemos todos as palhas de aço e detergentes possíveis. E jogar a panela seria levemente inviável.



It's Not for Me to Say

It's not for me to say
You'll love me
It's not for me to say
You'll always care
Oh, but here for the moment
I can hold you fast
And press your lips to mine
And dream that love will last
As far as I can see
This is heaven
And speaking just for me
It's ours to share
Perhaps the glow of love will grow
With every passing day
Or we may never meet again
But then it's not for me to say

(Robert Allen & Al Stillman)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Escolhas alheias.

Duas novas escolhas de Juliana, a esperta estagiária do setor em que tento trabalhar, na nobre e séria Justiça Federal. Assistamos algo chamado Kassabian, com a canção Club Foot.


E, também, outro algo, chamado Interpol, a interpretar Slow Hands. É bem provável que eu, um trintão de extravagâncias gerais, não tenha a devida competência para avaliar o que se ouve atualmente. Reconheço uma ou outra coisa, das baladas que faço, mas é bem certo também que durante uma balada torta, todo som tem sua leveza.

37

Quando era ainda pouco conhecedor da poesia, em meus primeiros contatos com o que havia nos livros, logo apaixonei-me pelo lirísmo romântico, cuja tristeza e a melancolia eram a face mais evidente. Gostava, acima de tudo, de Lord Byron e Musset. Conheci depois, ainda naquela época de adolescência curiosa, uma obra que me fez compreender, finalmente, o sentido mesmo da poesia - que até aquele instante estava por demais relacionado aos fracassos humanos. Era Via Láctea, de Bilac. Um longo poema cujo mote não era a tristeza e, para meu espanto, nos trazia um eu-lírico até bem contente! Ora, eu era um moleque que começava, a todo o custo, a apreender esta coisa difícil e enigmática que é a poesia. E notara então que a poesia é sobre o Todo, sobre o tédio, sobre a morte e a vida, sobre o desconcerto do mundo, sobre a mulher, as mulheres, o corpo, o tesão e tudo o que desse estranhamento ao poeta. E parcial deve ser a visão de quem está profundamente distante dos versos: que a poesia é o choro, o pranto exaltado do homem. Não, a poesia é ainda mais que o pranto, o sorriso ou qualquer outra manifestação sintomática. A poesia é o pensamento ritmado, concreto e pontual, cujo mote pode ser qualquer um - inclusive a felicidade.

Anos mais tarde, na USP, cheguei a trabalhar tal assunto, a partir de um poema do bom poeta português Eugênio de Castro e Almeida, o que me trouxe notas das mais interessantes. Naquele meu exercício, pude analisar alguns efeitos que o poema nos causaria - não nos entorpecendo a alma de pessimismo, tal um verso de Florbela Espanca - mas nos trazendo um tipo de conforto todo suave e uma crença nos idílios... Ou como bem poderíamos resumir: lemos no poema (e reconhecemos) a euforia apaixonada que nos toma quando nos vemos amantes de quem nos ama. Simples, sem a dramatização ou a tragicidade que sempre acompanharam a poesia que primeiro conheci.

A partir de Via Láctea, quando Olavo Bilac ampliou-me as noções de lirismo e verso (muitos mais que Bandeira e João Cabral, poetas que somente mais tarde eu passaria a admirar com a devida intensidade), eu comecei a reconhecer na obra de alguns compositores, já freqüentes em minha discoteca, a busca por um discurso que exaltasse o amor, a mulher e a paz de um sorriso - sem que houvesse um pedaço ruim de frustração ou devaneio. Ora, a vida é um inferno? Sim, quase sempre. Mas é também, e também quase sempre, um lugar de se admirar e sentir sensações comtemplativas e doces.

E Roberto Carlos, pra variar, trouxe-nos algumas pérolas do gênero "canções que a gente somente pode cantar sorrindo" e, entre elas, Na paz do seu sorriso. Um poema leve, quase frívolo - mas que, feito aquele grande poema de Bilac ou os versos difíceis de Eugênio de Castro, causa ao leitor uma sensação de deliciosa graça.




Na paz do seu sorriso

Na paz do seu sorriso
Meus sonhos realizo
E te beijo feliz

E na ânsia mais louca
No céu da sua boca
No alto as estrelas me dizem
Meu bem
Que a vida é isso
Que eu vivo por isso
Que você me dá, me dá

Na paz do seu sorriso
Meus sonhos realizo
E te beijo feliz

E a beleza é nada
Se for comparada
Com tudo que eu vejo em você
Meu bem
O amor é perfeito
Me amarro no jeito
Que você me dá, me dá

Tudo isso que você meu bem me dá
Tudo isso que você meu bem me dá

E nós dois num abraço
Rolamos no espaço
Me perco no amor com você
Meu bem
E perco o juízo
Pois o paraíso
É o que você me dá, me dá

Tudo isso que você meu bem me dá
Tudo isso que você meu bem me dá

(Roberto & Erasmo)

terça-feira, janeiro 23, 2007

Escolhas alheias.

The Strokes e a animada (ou desanimada, não sei ao certo) Juicebox, em mais uma escolha alheia. Confesso que a música me empolgou tanto quanto um copo de água morna. Mas o vídeo tem cenas rápidas que bem agradam aos homens e mulheres de boa vontade - o que o torna, até, bem classificável.

Give yourself a gift.


Syd & Nancy. Bonnie & Clyde. Ela e eu, dois notívagos. Dois sonâmbulos a penetrar a noite, entre raios de fumaça e pedaços de queijo, a jogar sem nos darmos conta de cansaço ou sono. Somos dois viciados, felizes, junkies bem alimentados, a gastar muitas e muitas noites a jogar. Ela, assassina virtual impiedosa, mata quem lhe aparecer no caminho, seja em Black, seja no gigante GTA San Andreas. E mata a todos também num novo Call of Duty, num novo Medal of Honor, e bem mataria em qualquer outro. Mas ela mesmo tem desgosto se a morte é de monstro ou máquina. Não a agrada matar se não for gente, em guerra ou violência urbana. Ás vezes minha menina parece saída de Natural Born Killer. Eu, menos concentrado, andei a matar, confesso. Mas a minha agilidade no gatilho nem sempre me poupa a vida. Me agrada mais deslizar tranquilamente pelas montanhas geladas do perfeito SSX 3, ouvindo tão somente o ruído forte do vento. Ou balançar imperturbável entre os prédios, no belíssimo Spider-man 2. Não me agrada o excesso de velocidade ou as disputas por demais caóticas. Sou um sujeito de pensar profundo, mesmo que tartarugamente lento.

Mas nossa paixão maior, que nos toma noites e noites e tardes e tudo o mais, é o insuperável Winning Eleven, maior jogo da história dos consoles todos, uma vez que nele qualquer um se sente um atleta, treinador, torcedor e mesmo um maluco cartola, sedento por craques e prêmios. Ela, esperta e ambidestra, me entorta fácil. Sou obrigado a recorrer à mais masculina concepção de futebol para que, eventualmente, eu ganhe.

Somos dois seres grudados. Um ao outro. Ambos ao joystick. E viveríamos pela noite, todas elas - ou quase todas, uma vez que pela noite também se dança e se conhece a extensão da velha boêmia - a jogar qualquer coisa no Playstation 2. Não há melhor diversão tecnológica, nem melhor passatempo para um casal, naquelas horas de ócio e riso. Ademais, a inveja de alguns se justifica: além de bela feito uma Sophia Loren, minha mulher ainda joga melhor que qualquer um que já tenha visto.

Assim, recomendo a qualquer um: tenha um bom console. É praticamente impossível que não haja um único jogo ou estilo que o agrade, afável leitor, tão imensa são as ofertas e as possibilidades que, por vezes, um mesmo jogo pode oferecer. Mesmo um desajeitado como eu consegue se divertir e ainda ganhar meia dúzia de campeonatos e deslizar tranqüilo por uma longa e inebriante montanha.

A não ser, naturalmente, que o leitor não tenha a sorte de ter uma companheira que compreenda e compartilhe a apreciação de novos jogos e tecnologias. Neste caso, melhor é continuar a jogar buraco ou ludo.

Um poeminha distante.

Lúbrica


Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais,
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu neles sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas…

Teus olhos imorais,
Mulher que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!

(Cesário Verde)

38

Não, eu não preciso dizer nada. Ashes to ashes é pouco classificável. É melodiosa e é confusa. É bela além da conta. E eu não preciso novamente dizer qualquer palavra sobre David Bowie, o qual já foi dedivamente (e definitivamente) colocado em especial posição naquele panteão de criadores, que já conta com a presença, entre outros, de Vivaldi, Chopin e Cole Porter.


Ashes to ashes

Do you remember a guy thats been
In such an early song
Ive heard a rumour from ground control
Oh no, dont say its true

They got a message from the action man
Im happy, hope youre happy too
Ive loved all Ive needed love
Sordid details following

The shrieking of nothing is killing
Just pictures of jap girls in synthesis and i
Aint got no money and I aint got no hair
But Im hoping to kick but the planet its glowing

Ashes to ashes, funk to funky
We know major toms a junkie
Strung out in heavens high
Hitting an all-time low

Time and again I tell myself
Ill stay clean tonight
But the little green wheels are following me
Oh no, not again
Im stuck with a valuable friend
Im happy, hope youre happy too
One flash of light but no smoking pistol

I never done good things
I never done bad things
I never did anything out of the blue, woh-o-oh
Want an axe to break the ice
Wanna come down right now

Ashes to ashes, funk to funky
We know major toms a junkie
Strung out in heavens high
Hitting an all-time low

My mother said to get things done
Youd better not mess with major tom
My mother said to get things done
Youd better not mess with major tom
My mother said to get things done
Youd better not mess with major tom
My mother said to get things done
Youd better not mess with major tom

(David Bowie)

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Escolhas alheias.

A escolha alheia da vez é Galaxie 500, com a canção When will you come home. Coisa moderna, com cores e acordes bem destes tempos. Mas somente me vem uma única questão: quando é que as bandas novas terão um vocalista que saiba cantar?

39

Ocupando a 39ª colocação entre as cem canções que bem me comoveram nesta vida de tanta comoção, uma nova aparição do Queen, banda visceralmente alocada nas minhas costelas. Em todas as épocas, desde a infância calma na pequena Osasco, passando por adolescência e chegando aos tempos atuais, em que os cabelos brancos começam a me irritar, o Queen sempre esteve presente, ocupando sazonalmente os meus ouvidos. Aliás, vale uma rápida explicação: como as estações do ano, há um leve predominância de uma determinada banda, a cada estação. Há uma fase de se reouvir Beatles, outra de se ouvir Elvis, outra de se ouvir Bowie e outra, naturalmente, de se ouvir Queen. E há também uma fase de se ouvir Roberto, como se eu jamais tivesse ouvido Detalhes antes. Estranhamente sou sempre atraído pelas citadas entidades... E creio que o leitor bem me compreende, uma vez que não deixo de ouvir as tantas outras coisas. Mas tais nomes talvez formem a estrutura básica e constante de minha apreciação musical. Ano passado, e lembro-me bem de ter escrito algo neste blog, tive a minha fase "Beatles again". Sinto que é chegada a hora de reconhecer Elvis Presley e ainda se admirar com o talento do sujeito.

Spread your wings, canção do álbum News of the World, foi-me apresentada lá pelas dobras dos anos 80, por um programa pré-MTV cujo nome era "Clip Trip", apresentado pelo bom sujeito Beto Rivera. e desde então a canção é daquelas que ficam no meu pequeno HD cerebral, aparecendo-me constantemente nos assovios ou no cantar alegre sob o chuveiro de água quente.



Spread your wings

Sammy was low
Just watching the show
Over and over again
Knew it was time
Hed made up his mind
To leave his dead life behind
His boss said to him
boy youd better begin
To get those crazy notions right out of your head
Sammy who do you think that you are?
You shouldve been sweeping up the emerald bar

Spread your wings and fly away
Fly away, far away
Spread your little wings and fly away
Fly away, far away
Pull yourself together
cos you know you should do better
Thats because youre a free man

He spends his evenings alone in his hotel room
Keeping his thoughts to himself, hed be leaving soon
Wishing he was miles and miles away
Nothing in this world, nothing would make him stay

Since he was small
Had no luck at all
Nothing came easy to him
Now it was time
Hed made up his mind
this could be my last chance
His boss said to him, now listen boy!
Youre always dreaming
Youve got no real ambition, you wont get very far
Sammy boy, dont you know who you are?
Why cant you be happy at the emerald bar?

So honey

Spread your wings and fly away
Fly away, far away
Spread your little wings and fly away
Fly away, far away
Pull yourself together
cos you know you should do better
Thats because youre a free man

(Freddie Mercury & John Deacon)

domingo, janeiro 21, 2007

Escolhas alheias.

As escolhas alheias desta semana são indicações de Juliana Arruda, jovem estagiária da minha tal repartição/redação. Juliana, não obstante a sua tenra idade, segue por um caminho nada recomendável. Esta coisa de inteligência e cultura em demasia deixam a moça ainda mais consciente e crítica. Lembro-me de um amigo que me dizia sempre "mulher inteligente tem mais dificuldade para achar namorado. Sobretudo porque é capaz de perceber que 98% dos homens são verdadeiros estúpidos. Os demais, no entanto, são estúpidos esporadicamente". Mas, sabendo eu bem destas coisas, afirmo que é impossível fugir, uma vez contaminado o cérebro.

Se souber o nome de ao menos cinco cineastas europeus, souber o nome de cinco cantoras dos anos 70, o nome de cinco poetas brasileiros... sei lá, se souber, afinal, o que é poesia, ora, não é tempo de lutar. A verdade é que a criatura já estará no grupo das meninas que ouvem Bowie e cantarolam Mozart. Um grupo de gente bem desconcertada. Lembro, até, de uma observação de uma velha amiga inteligente "na próxima encarnação quero vir loura, burra, levemente retardada - e que jamais tenha a precisa consciência do que são livros!". Sabemos todos. Era um chiste, uma brincadeira... (Ou não era?). Mas, não obstante as análises sociológicas e antropológicas do tema, há pessoas que são a prova prática da evolução da espécie humana, sobretudo pela consciência de que os humanidade se fez de "macacos sem pêlo que aprenderam a se divertir e matar". Uma grande responsabilidade esta de saber um segredo tão elementar.


Comecemos a seleção com o clássico Sunday Morning, dos evoluídos macacos cantores do Velvet Underground. Banda que eu, afinal revelo, achar tão saborosa quanto um prato de sopa de brócolis. Ou quanto salada de cenoura. Coisas que mesmo sem um gosto lá muito preciso, ainda é bom que a gente coma, vez ou outra.

Crônica Dominical

Há alguns anos, quando um dos amigos comprava um novo disco, não nos demorávamos a copiá-lo em fitas cassete BASF. Se o tal disco era merecedor, a gravação era feita em fitas cromo. E gravávamos tudo com todo o zelo possível. Quando era minha vez de comprar, chegava às vezes a preparar com antecedência algumas gravações, para que os amigos reproduzissem a fita já gravada, deixando o disco de vinil, frágil, guardado entre os outros discos, em local devidamente seguro. Tão seguro que ainda hoje, quinze anos depois da derrocada dos LPs e do estabelecimento dos CDs, todos estão aqui, algumas centenas, em meu escritório. Vez ou outra eu os vejo, inspeciono seus encartes. Ouvir, nunca. Que já não tenho ouvidos que suportem a péssima qualidade das pretas bolachas.

Atualmente, raramente alguém que conheço compra em loja algum CD ou DVD. Ou compra, como eu bem compro, pelo encarte, pela caixa - mas pelo conteúdo, naturalmente, não. Se pela mãe internet tudo nos pode chegar, em downloads famintos e velozes, pra quê nos preocuparmos? Justamente cabe aqui a nova discussão: trata-se de pirataria, criminosa, deslavada? Ou é afinal de contas a democratização antes jamais sonhada?

Será que afinal sou culpado e deveria disto me envergonhar, uma vez que nasci honesto, de participar de uma troca sem fim de dados e coisas que não me custam qualquer centavo? Esta semana, meu BitComet está a baixar todas (e repito, todas!) as HQs originais do Hulk; o jogo Brasil x Peru, da copa de 1970; Rebecca, de Alfred Hitchcock. Ora, quanto eu precisaria gastar do tão pouco que me sobra para o investimento intelectual para obter todas estas maravilhas?

Felizmente, a tal revolução da informação, e cujas conseqüências somente saberemos em muitos anos, trouxe um modo de infinita apreensão. Não é mais o caso de se deter por dias a ouvir o mesmo disco. Temos agora a discografia toda ou, como antes sonháramos, toda a loja de discos pra ouvir. Se nos der na telha ouvir Yo Yo Ma, cliquemos. Se a vontade for por Miles Davis, pronto. Se é o caso de ver e ouvir Julie London, pronto. Temos o que bem desejarmos. Somos donos da grande loja e nela nos perdemos.

Para quem é de uma geração em que bancas de jornais eram o portal para o universo, e que levou a vida a percorrer bibliotecas, sebos, livrarias, tal condição é um deleite, um fresco exercício de dúvida e cotentamento. Para quem sabe buscar - e sabe bem avaliar o que o alimenta, não existe melhor modo de crescer e conhecer ainda mais. Apenas não sei se é o caso da maioria. Os quais, sempre acostumados a consumir tão somente o que lhes é empurrado pela garganta, não saberiam o que colher, neste gigantesco pomar de arte e cultura.

Neste mundo de máscaras, o exagero de informações e caminhos nem chega a causar ainda mais estrago. Não creio que a facilidade possa nos servir de desculpa para o superficialismo. E, afinal de contas, crime ou não, creio que é bem a hora de darmos o troco. Os artistas são os menos prejudicados, neste mundo em que finalmente a comercialização da arte sofre algum reparo.