sábado, fevereiro 17, 2007

Férias e inatividade.


Volto para o trabalho, naquela repartição de ar rarefeito da Rua Líbero Badaró, tão somente no dia 26 de março. Tenho, portanto, um bom tempo para me dedicar a este blog, além do usual. Mas ainda é mesmo cedo para me comprometer com alguma produção, alguma realização qualquer. Ainda é cedo para que eu me envolva em tarefas ou faça arrumações e consertos. Em verdade, é cedo para qualquer coisa. Sobretudo para reflexões, planejamentos, para o exercício do tédio. É cedo. Definitivamente é.

Cell Block, Chicago.


Clássica cena de Chicago, com Catherine Zeta-Jones. E por esta semana basta. Sempre haverá tempo para novas divagações.

Um poema agora nascido.

São 05h55min. A madrugada logo dará lugar à manhã. Eu me encontro ainda sem sono, atônito em verdade, como a esperar por uma notícia, uma idéia, uma palavra qualquer que mereça a minha atenção. Em verdade, sinto-me como há muito tempo, numa tensão pré-natal criativa; sinto-me grávido, esperando na barriga um novo texto. Desde maio de 2005, nenhuma idéia me atrai, nenhum...

...por alguns minutos boiei. Lapsos temporais. Nada exatamente concreto. Imagens dos últimos anos, meses - não sei ao certo. E mesmo sabendo que não é a primeira vez que passo tanto tempo longe da produção de um texto, não devo...

...cismei novamente. Uns cinco ou dez minutos se passaram... talvez mais. A fumaça do cigarro despertou-me do leve transe, fruto de um sono mal resolvido, de um cansaço que não me atinge por completo e, sobretudo, fruto do mais elementar desinteresse. Assim me vejo: um escritor desinteressado, sem par com isso tudo. Alheio.

Mas que afinal me seria interessante escrever agora? Tudo o que poderia me aborrecer neste mundo não me serviria de mote, não me permitiria desesperar por um punhado de versos. Escrever, então, sobre a utopia, sobre a fuga? Sobre a moralidade ou imoralidade desta sociedade? Tudo tem me parecido extremamente aborrecedor - ora, os problemas todos andam tão complicados e desagradáveis que me pareceria quase um masoquismo se debruçar por semanas, meses, construindo um texto que contivesse a raiva e o pessimismo necessários.

Mas há tempos todos nós sabemos que um grande escritor é antes de tudo um "interessado convicto", alguém que tem do mundo um deslumbramento, uma rediviva busca pelo entendimento. E, nestes meses que se passaram, não tenho tido mesmo interesse pela explicação das coisas, pela compreensão, pelo ser humano e seus pavores...

...o relógio marca agora 07h07min. O sol já bem raiou. E continuo desinteressado. Percebo que o dia será belo. Da janela de meu escritório, percebo que um bom punhado de pessoas já se levantou e enfrenta a manhã depois de noite dormida, sonhada. Eu escrevo a esmo - sentido o tempo se esvair depressa... A esmo já escrevi tantos poemas. A esmo contribuo com a banalidade do mundo.

E continuo a esperar que talvez, a esmo, uma idéia venha me seduzir.

Escolhas alheias.

Pra terminar a semana de ótimas escolhas alheias, Willie Nelson e a suave Crazy. Quanto à identidade do escolhedor da semana, deixemos tudo em segredo. Mas agradeço assim mesmo - porque não é todo dia que Willie Nelson canta Crazy num blog.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

A mulher que nos acompanha.



Além de alguns trabalhos marcantes, Michael Douglas me faz lembrar do matrimônio e de suas alegrias. Afinal o ator é casado há alguns anos com Catherine Zeta-Jones, beldade desejada por homens e mulheres de todo o globo terrestre. Veja alguns papéis de parede aqui.


E também há aquele velho axioma: um homem só é bem sucedido quando a sua mulher é uma Catherine Zeta-Jones, consagradas as devidas proporções. Alguém até poderia me dizer que uma mulher bem sucedida é aquela casada com um Michael Douglas, mas nada me convence que o "prêmio" seria ele. A mulher é sempre a recompensa, o auge para a vida de um homem, que entre tantas disputas travadas, almeja sempre pela mais bela, sempre pela mais Catherine Zeta-Jones. Afinal, é fácil ter um bom emprego. É fácil ter um bom carro. É mais fácil ainda se entupir de diplomas e credenciais. Difícil, nesta vida, meu amigo, é ter uma mulher que cause inveja, que nos faça profundamente arrogantes quando o assunto é "a arte da conquista". Difícil é ter uma Catherine Zeta-Jones, mulher que é bonita e tem caráter, brilho e talento.

Difícil é - mas não é impossível. Uma vez que até eu, um pobre diabo de muitas palavras, já tem a sua Catherine Zeta-Jones. Uma recompensa que eu tenho por merecimento e por explícita e pura competência.

A diretoria.


Seguindo com a carreira de Ridley Scott, primeiro cineasta a "participar" desta seção em que - quando motivado - faço os meus comentários sobre cada filme lançado por um determinado diretor, respeitando a sua cronologia. O sexto filme do diretor inglês é Black Rain, sucesso razoável com Michael Douglas e Andy Garcia - o qual naqueles tempos era um tanto mais envolto com o sucesso.

Não encontrei o trailer do filme em lugar nenhum da rede, mas o amigo Youtube tem praticamente o filme inteiro. Posto abaixo uma das cenas do filme, escolhida quase a esmo.


O filme, se bem me lembro, é bem interessante. Mas nada profundo posso mesmo dizer de um filme que está quase totalmente apagado de minha memória. E, se quase apagado está, provavelmente não deve ter me empolgado com a devida pompa naquele distante ano de 1989. Em verdade, naqueles tempos eu não me simpatizava com a figura de Michael Douglas. Não sei ao certo o porquê, talvez seu cabelo um tanto ridículo, talvez o seu talento menor - se comparado ao pai Kirk Douglas, o homem que viveu Spartacus e mais uma boa dezena de personagens magníficos.

Não me agradava a cara de Michael Douglas - apesar de ter certamente adorado o bom Guerra dos Roses (The war of the roses), também de 1989, e ter até tido certa simpatia por Tudo por uma esmeralda (The jewel of the Nile), de 1984. Mas minha admiração atual pelo ator veio somente quando pude ver Garotos Incríveis (Wonder boys), de 1995, excelente obra em que Michael Douglas mostra um baita talento representando um estupendo personagem, o Professor Grady Tripp. Acho até que não seria exagero dizer que me identifiquei bastante com o tal professor.

Aliás, se o amigo não viu Wonder Boy, corra! Tem também Tobey Maguire e Katie Holmes. E um punhado de lirísmo e decadência.


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Nunca escondi de ninguém. Nem jamais tiver vergonha de ser. Sou desde sempre um velho romântico. Canções me comovem, me deixam a boiar, a pensar confuso, no passado, no futuro, no presente. Em mim, afinal, em todas as deventuras e acertos, em como trilhei caminhos, em quantas vezes amei, odiei, desprezei, espirrei palavras... Ora, quem me conhece mesmo sabe que eu sou capaz de chorar um choro doído ou sorrir um sorriso de doido ao ouvir algo como Unchained Melody - canção que já possui mais de 500 versões! Aff! Que canção é está, ó céus! Que facada sonora a nos repartir! E esta versão, ocupando a 27ª posição entre as cem mais de minha existência, me parece a mais terrível, a mais... Ora, sei lá eu. The Righteous Brothers traduziram em 1965 todas as minhas tristezas melódicas. Uma linda música, pra se ouvir naqueles dias de profunda melancolia - e só eu sei em que condições já pude ouvir esta canção.



Unchained Melody

Oh, my love, my darling,
I've hungered for your touch
a long, lonely time.
And time goes by so slowly
and time can do so much,
are you still mine?
I need your love,
I need your love,
God speed your love ..... to me!

Lonely rivers flow
to the sea, to the sea,
To the open arms of the sea.
Lonely rivers sigh,
"Wait for me, wait for me!"
I'll be coming home, wait for me!

Oh, my love, my darling,
I've hungered, for your touch
a long, lonely time.
And time goes by so slowly
and time can do so much,
are you still mine?
I need your love
I need your love,
God speed your love...... to me!

Additional verse:
Lonely mountains gaze
at the stars, at the stars,
Waiting for the dawn of the day.
All alone, I gaze
at the stars, at the stars,
Dreaming of my love far away.

Oh, my love, my darling,
I've hungered for your touch
a long, lonely time.
And time goes by so slowly
and time can do so much,
are you still mine?
I need your love,
I need your love,
God speed your love to me!

(Alex North & Hy Zaret)

Escolhas alheias.

Agora em escolhas alheias, vídeos do grupo sueco ABBA. Gimme Gimme e a famigerada e realmente bela Dancing Queen, canção que merece estar em qualquer lista de clássicos do século passado.



E já que tudo vale a pena se alma ou o blog não são pequenos, mais um vídeo sugerido. Take a chance on me.


A entrevista que não houve.

Jornalista: O Brasil tem acerto?

Abnegado: Não. Ao menos, agora. O mundo se transforma, vez ou outra. Talvez em algumas centenas de anos haja alguma evolução. No momento, a “miséria humana” é maior que a tal “civilidade”.

J.: Como poderíamos avaliar o nível de “miséria humana”, na atual sociedade brasileira?

A.: Qualquer estatística, qualquer levantamento numérico poderia bem nos deixar a par dos reais níveis da pobreza intelectual e educacional deste país. No entanto, o que vale tão somente é uma coisa esquecida há muitos anos por aqui, se é que chegou a existir: o bom senso.

J.: Assim o senhor quer dizer que são inúteis tais pesquisas...?

A.: Inúteis, não. Desnecessárias – uma vez que toda a miséria é evidente. Realmente inacreditável que alguém ainda precise de “números e gráficos” para se certificar da incapacidade de nossas escolas, por exemplo.

J.: Tal miséria é econômica, sobretudo?

A.: Não.

J.: Que é afinal a tal “miséria humana”?

A.: É quando um sujeito apenas consegue ver soluções pobres e estéreis para a sua vida, quando o que ouve, vê, pensa, sente, sonha e deseja é de algum modo desesperançado, estúpido, sujo da mais suja mediocridade. Há quem busque caminhos para a sua vida – mas todos os caminhos pensados o levam a ainda mais pobreza e tristeza. Ou levam ao enriquecimento, ao sucesso - às custas do empobrecimento e do fracasso alheio.

J.: Em geral, a população toda é assim?

A.: De forma alguma. Em geral as pessoas todas buscam por uma vida melhor, buscam e lutam por crescimento. Desde pequeno ouvíamos – ao menos a minha geração ainda ouviu – um papo cacete sobre evolução pessoal, sobre alcançar um objetivo, ter sonhos. Eu os tive aos montes (e ainda os tenho, apesar de me encontrar hoje mais terreno e pessimista). Isso nos torna mais fortes, resistimos e sempre seguimos adiante. Mas quando uma criatura apenas vê como meta e devaneio um punhado de... de...

J.: ...”soluções difíceis”?

A.: Exatamente. Ou soluções realmente inviáveis ou inférteis. E nem digo de criminosos, de viciados agressivos ou de moças que se prostituem. Digo mais é de diversas parcelas da população – alguns ricos, outros de classe média, outros pobres – em que há quem seja incapaz de pensar com equilíbrio, sensatez. É a tal “eterna complicação” de um problema – seja ele qual for. Ou, como se diz por aí, “o tolo tem a grande capacidade de escolher sempre o pior modo, o pior caminho e os piores amores”.

J.: Educação resolveria?

A.: Seriam necessárias, no mínimo, algumas décadas de bonança econômica – mas tão somente se a tal bonança fosse partilhada, o que particularmente duvido. O teatro, a literatura e toda a arte não teriam papel fundamental – pois a arte não rasga o coração de grandes miseráveis. As escolas poderiam mesmo trazer alguma contribuição, mas tão somente se voltassem a ser um ambiente austero e para um número menor de pessoas. Infelizmente, há algumas décadas o ensino era bom, mas não atingia a todos. Hoje, talvez atinja a maioria, mas é um lixo. As escolas, hoje, não mais educam.

J.: Logo, seria melhor se voltássemos ao analfabetismo?

A.: Exatamente. Parte da solução deste país está em seguir em direções jamais pensadas. Se não é possível educar a todos, por não haver professores, escolas, material e verba... Que se eduquem poucos, mas com qualidade.

J.: Mas não seria exclusão...?

A.: Excluir de quê, minha cara jornalista? De quê? Hoje a maioria absoluta é mesmo analfabeta... Muitos chegam à oitava série, chegam ao colégio e são incapazes de ler, incapazes de escrever. Excluir de quê? De uma ilusão? De uma estatística que satisfaça aos estúpidos órgãos internacionais? Ora, bolas. A hipocrisia mora neste “socialismo de capital” em que se acredita ser possível dar tudo a todos.

J.: Qual a medida governamental que resolveria tal problema de distribuição?

A.: Tão somente uma. O controle de natalidade. Muitos podem achar que se trate de loucura, mas há gente demais neste planeta. Em breve não haverá água, em breve não haverá comida, não haverá empregos, escolas, e a miséria crescerá ainda mais. Curiosamente, pensa-se em tudo, em todas as soluções “impossíveis” e “bárbaras”. Mas ninguém se dedica ao óbvio, à solução mais eficaz. Acabemos com o excesso de gente, em todas as esferas. E logo teríamos a recuperação deste país. E, creio eu, teríamos a recuperação de todo o mundo – sobretudo no que diz respeito ao meio-ambiente.

J.: Qual a configuração sugerida para a sociedade?

A.: Incentivo à vida agrária; cotrole rígido e sensato da natalidade; educação para um número menor de pessoas, mas com decência; fim de qualquer moradia obscura, com a remoção de populações para outros cantos do planeta. Tudo isso causaria um mal menor para as nossas vidas: a desaceleração tecnológica e o desrespeito aos direitos individuais. Ou é isso, ou algo semelhante, ou logo tudo se transforma num lixo irrecuperável.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Escolhas alheias.

Esta semana musical está realmente boa. Ouçamos agora o grande Charles Aznavour em interpertação magistral de La bohème, sublime chanson francesa. E, pra variar, tal audição me leva a pensar em como somos colonizados e recolonizados pelos norte-americanos. Há tantas e tantas maravilhas para se ouvir, de tantos cantos diferentes do mundo e, por aqui, em rádios e ouvidos formatados, ouve-se apenas o que um único povo faz. Deprimente. Resta a sensação de que a tal globalização não se expande em todas as direções.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Nick Black? Tal coisa existe?

Na página central de Real Doll há um link para o clipe abaixo, de um tal de Nick Black, com a barulheta Sorry. Confesso não ter percebido a menor relação entre as coisas, mas o vídeo chega a ser divertido de tão podreira que é.

Quando o silicone chega aos ossos.



Parece piada - e talvez seja - mas as fotos acima são de bonecas para uso sexual. São as tais Real Dolls, criaturas feitas de silicone, aço e sei lá mais o quê. Possuem todos os orifícios necessários para a diversão de quem possuir uns oito mil dólares e tiver um tesão que não encontra fim. Chegam mesmo a nos contar histórias. Navegue pelo sítio Real Doll e confira - inclusive os detalhes - desta evolução da espécie das bonecas infláveis. Além da semelhança, o comprador pode bem customizar cada detalhe, de tamanho dos pés, cabelos, cores de olhos e tudo o que for possível na composição do que seria uma mulher ideal. Visite o sítio e conheça mais esta perversão humana.

O que me faz filosofar, neste caso, não é a tal tara pelo inanimado (Quando é que as andróides de Blade Runner estarão nas lojas?!), uma vez que o sexo não encontra limites na sua composição e recomposição. Cada um sente tesão pelo canto que melhor lhe coçar. O que realmente me intriga é: se posso tudo customizar, tudo escolher - da curva dos seios às formas do nariz - o que eu, tendo tanta grana, escolheria? Ora, seria um ótimo apetrecho para o meu escritório. Ficaria lá, sentada, sem me olhar, sem nada me dizer. Apenas isso, feito uma estátua de mulher, de musa, de personagem de cinema. Que mulher-relicário eu desejaria para permanecer aqui, por décadas sem perder a forma ou a cor?

Tenho por aqui um quadro do Quarteto Fantástico, uma pequena estátua de São Francisco de Assis e uma bandeira do Brasil, hasteada logo às minhas costas, ao lado de uma garrafa vazia de Cutty Sark que já deveria ter ido para o lixo há alguns meses. Chego a supor que deveria escolher uma real doll que bem se adequasse ao mobiliário...

Mas não devo me perder em tão inútil elocubração, uma vez que não me sobram oito mil dólares para a encomenda. Creio apenas que seria divertido ter tão real boneca e talvez até falasse a ela de algumas idéias cretinas que já tive na vida, as quais poupo minha mulher de ouvir. Aliás, eu poderia inclusive ter uma cópia fiel de minha própria mulher - para quando a verdadeira se encontrasse cansada de papo. Seria um simulacro fácil para a imaginação, bastando-me dar a ambas o mesmo perfume. E estou falando apenas de papo, malicioso leitor. Que sexo com bonecos é algo que eu jamais poderia supor - ao menos agora. Pois quando o assunto é decadência ou solidão - e nada transforma mais a mente humana - é melhor não se mostrar ufano.

Submarinos que afundam.

Já comprou, caro leitor, pelo tal sítio Submarino? Já? Não? De qualquer modo, eu não aconselharia. Não aconselharia, sobretudo, porque o caso é de um serviço em que "esclarecer o mínimo possível, trará certamente lucros". Lembra-me até a Telefônica e o atendimento da loja de congelados que há perto de casa. Quanto pior é, pior fica. E nos resta mesmo procurar por outras empresas, cuja "logística" - conforme termo apreciado pelo Submarino - não seja um caos ou uma patifaria.

Imagens de gente estranha.


Creio eu que todo mundo já deve saber, mas sempre vale rememorar o que nos parece interessante. Rock Star Gallery é um sítio muito bacana em que fotos das mais diversas podem ser encontradas. Todas elas, naturalmente, imagens dessa gente estranha que fez do rock'n'roll uma manifestação absolutamente poderosa, dentro da história da música. E conta ainda com músicos de outras praias, jazz e folk, por exemplo. Pra ver e se questionar: como esses músicos todos nos parecem ter saído de algum hospício, alguma clínica de esquisitos. Todos com seus olhos esbugalhados e cabelos espalhafatosos.

É afinal um bom entretenimento para uma quarta-feira tão sem brilho, como a que hoje tentamos vencer.


Escolhas alheias.


Ufa! Mercedes Sosa e a canção Como la cigarra. Uma beleza de música, de vídeo, de cantora, de violonista, de tudo. Só não direi que é imperdível, obrigatório ou outra adjetivação elogiosa porque sei que o meu leitor, todos eles, sabem muito bem que não se deixa passar a oportunidade de ver e ouvir tão bela obra.

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Canção que me envolve os ouvidos - feito mãos de moça calma - suave feito veludo. Earth Angel é também uma das mais deliciosas canções para se cantar, acompanhado de meu sempre amigo violão. Clássico absoluto e discreto do "doo wop american group" The Penguins. Estamos já numa fase da lista em que qualquer uma das músicas me faz perder o senso, me entristece ou me anima acima do que é comum. Esta, além de tudo, me remete a uma certa passagem de minha infância, quando eu começava a notar que a música também era um tijolo pesado e adorável. Desde aquela época - e lá se vão 22 anos desde a primeira vez que ouvi Earth Angel - sinto a mesma sensação, a mesma ternura melódica a me inflar de contentamento.



Earth Angel

Earth Angel, earth angel
Will you be mine?
My darling dear, love you all the time
I'm just a fool, A fool in love with you

Earth Angel, earth angel
The one I adore
Love you forever, and evermore
I'm just a fool, A fool in love with you

I fell for you and I knew the vision of your love, loveliness
I hoped and I prayed that someday
I'll be the vision of your hap-happiness

Oh oh Earth Angel, earth angel
Please be mine
My darling dear, love you all the time
I'm just a fool, A fool in love with you

I fell for you and I knew the vision of your loveliness
I hoped and prayed that someday
That I'll be the vision of your happiness

Earth Angel, earth angel
Please be min
My darling dear, love you all the time
I'm just a fool, A fool in love with you

(Jesse Belvin, Curtis Williams & Gaynell Hodge)

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Escolhas alheias.


Já falei demais por hoje, já reclamei demais por hoje. Sigamos com as escolhas alheias de um personagem secreto cujo nome talvez nem seja revelado. Ouçamos Seal e a francesa Mylene Farmer, com a canção Les Mots. Um vídeo bem produzido, apesar da música me parecer um tanto enfadonha, um tanto esparramada.

A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome.

(Manuel Bandeira)

Modorra e raiva. Carnaval de quê?


Em relação à constatação de que a vida anda chata, nada mais a declarar. Não creio que sejam necessárias mais argumentações. E não se trata da minha vida ou da sua, trata-se da vida em sociedade. A arte, os passeios públicos, as festas, os eteceteras de tudo. Um grande porre de conhaque barato. Resta-nos, pobres saudosistas, nos afundar naquilo que o passado tem de bom...

Tarsila do Amaral me parece um bom calmante de se ver. Sua obra é colorida e simples. Em seu sítio oficial, muitas informações e algumas obras para revisitação. E, em verdade, nestes tempos em que o país está quase a ponto de implodir, toda a fuga será bem recebida. O carnaval, por exemplo, festa inexplicável e ocasião em que o maior número possível de alienados resolvem se reunir para pular, é mesmo um bom momento para se entreter com Fellini, Bach e Goethe.

Mas alguém poderá me condenar, considerar-me injusto quanto às manifestações populares... Ora, o que se tem por aqui não tem nada de tradicional, nada que possua história. É apenas uma pavonice, uma justificativa para que as pessoas se entreguem a alguma imoralidade - coisa que é bem interessante de se fazer em qualquer outra época do ano. Se há "festa popular" nalgum canto deste país, certamente não é aqui, em São Paulo. Imorais sejamos depois, quando a tal festa já estiver esgotada e enterrada; quando não houver samba-enredo com "manifestações de apreço ao Sr. Diretor".

Neste feriado, sejamos alheios, desacaradamente alheios. Enquanto o povo tenta se divertir e os bobos outra vez se despem.

No cu do mundo fede mais quem cheira bem.

Cada vez mais o tempo passa, mais a vontade pessoal/coletiva é viver em total alienação, indiferente a este mundo caótico, de tantas e tantas patifarias, de tanta violência e imbecilidade. Pois que me perdoem a franqueza, mas nada me convence que o país e o mundo melhorarão algum dia. Como pode melhorar se há tanta idiotia? Aliás, somente um profundo estúpido ainda pode ter alguma paciência e otimismo, seja de que forma. Hoje, pra piorar o meu sintoma, pude ler a frase mais cretina dos últimos cem anos, dita pela ministra Ellen Gracie, presidente do Superior Tribunal Federal - alguém que deveria ser, e não é, um tanto mais consciente do país em que vive. Disse, assim, cheia de tranqüilidade: "geralmente se discutem mudanças na legislação sob clima de tensão, de emoção. Essa não é a melhor forma de discuti-las".

Assim, de repente, um pobre diabo como eu fica a se questionar: quando é que não houve tensão? Quando ocorrerá o momento de paz e tranqüilidade, para que tomemos alguma medida? Quando? Em 2114? Às vezes me parece que essa gente nem vive neste país de merda! Chega a ser - não estivêssemos todos tão acostumados, motivo para que a tal criatura fosse enxovalhada da maneira mais grosseira possível.

Mas que poderíamos querer? Há alguma instituição que mereça algum crédito neste país? Sei apenas que não é mais a hora de se auto proclamar "sou da paz". Somos da paz há muitos anos e nada está apaziguado... A hora é de dizer "sou da guerra" e chega de gente passiva, alienada, preguiçosa, medrosa, sonoleta feito viciado em calmantes. A hora é jogar merda - literalmente - em quem deveria fazer e não faz.

Como alguém ainda pode ter paciência? Será preciso que matem cem filhos de ministros, arrastando-os tal qual o menino João Hélio Vieites? Será preciso que queimem seus irmãos dentro de carros? Que destruam suas casas grandes e protegidas? Que será preciso? Ora, seria tão bom se alguns dos palermas que governam este país se apresentassem a dizer que "é preciso fazer algo, rapidamente. Mesmo que as escolhas não sejam as melhores, arrisquemos! O que não podemos mais é esperar por um dia propício, por um herói que jamais nascerá". Este país precisa mesmo de catástrofe, de tragédias comoventes e transformadoras. E precisa, sobretudo, que assassinatos ocorram em massa - não de gente que nada pode, mas de alguns que poderiam mudar o país, mas estão, pelo que nos consta, vivendo no mais delicioso idílio.

Se a tal ministra um dia perdesse um filho, de forma trágica e grosseira, talvez notasse que não há mais hora para nada. Não há o que se esperar. Se é que seus filhos e netos habitam esta selva escura. O que eu particularmente duvido.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Espinafre e Daily Motion.

Enquanto o Youtube é vetado em empresas e vive a sofrer problemas jurídicos, outros sítios semelhantes passam longe dos olhos de tantas "autoridades". É o caso de Daily Motion, o qual se destaca pela boa qualidade na conexão. Vale uma visitação. E pra comemorar o fato de que trabalharei tão somente mais cinco dias - e terei depois longas férias - assistamos a um maravilhoso desenho de Popeye, A Haul In One (1956). E "maravilhoso", neste caso, não é meramente uma força de expressão.

Escolhas alheias.

Comecemos bem a semana de Escolhas Alheias, com o sempre simpático Prince, um sujeito que, de tão espalhafatoso, acabou discreto para os olhos desta modernidade - em que as esquisitices nascem já mofadas, com cara de déjà vu. E Prince, discreto e grande músico, segue adiante, ainda moderno, paradoxalmente. Ouçamos Black sweat, num belo vídeo. Quanto ao escolhedor da vez, permaneçamos em segredo, por ora. A semana será longa e terei, sei bem, melhor hora para fazer as devidas apresentações.

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Vigésima nona colocada entre as cem canções que mais me comoveram nesta minha vida, a ária da Bachiana n.º 5, maravilhosa obra daquele que - para mim, ao menos - está entre os maiores, seja em que tipo de lista. Heitor Villa-Lobos tornou-se uma minha paixão aproximadamente em 1991 - e tudo o que passei a ouvir depois, caros leitores, me pareceu de repente "sem astúcia e transgressão". Villa-Lobos é para mim o que poderia haver de mais engenhoso (sem perder a ternura e os devaneios líricos) em tudo o que já foi feito neste país. Nem todos os arroubos experimentados nos últimos vinte anos, se juntados fossem, seriam comparáveis ao que Villa-Lobos, com até certa naturalidade, fizera. Um gênio, verdadeiro gênio musical deste país. Obrigatório para qualquer pessoa de bons ouvidos. A versão abaixo é cantada por Victoria de los Ángeles, soprano falecida em 2005.



Bachianas Brasileiras No. 5

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente.
Sobre o espaço, sonhadora e bela!
Surge no infinito a lua docemente,
Enfeitando a tarde, qual meiga donzela
Que se apresta e a linda sonhadoramente,
Em anseios d'alma para ficar bela
Grita ao céu e a terra toda a Natureza!
Cala a passarada aos seus tristes queixumes
E reflete o mar toda a Sua riqueza...
Suave a luz da lua desperta agora
A cruel saudade que ri e chora!
Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente
Sobre o espaço, sonhadora e bela!

(Heitor Villa-Lobos)

domingo, fevereiro 11, 2007

Crônica Dominical

Compreendo mesmo quem deteste computadores. Quem os considere um 'aparelho confuso e jamais resolvido". Sim, caro leitor, compreendo perfeitamente quem prefira tão somente a simplicidade funcional dos livros. Pois é bem certo que a cada semana um novo problema nos aparece, seja num driver, seja num software, seja num arquivo que não nos permite deletá-lo. Confesso que há momentos em que eu me rendo, peço arrego e desisto - sou de uma geração intermediária nesse mundo de personal computers, não possuindo a hojeriza dos mais velhos, nem a intimidade natural dos mais novos.

E grande parte do tempo que eu deveria gastar a me divertir, a ver algum canal grego ou chileno no OnLineLive, a ler algumas HQs da Marvel no CDisplay, a procurar por raridades que me cheguem pelo BitComet, a buscar por qualquer coisa no Youtube, perco na busca de soluções. Mas o computador é ainda uma peça ruim, com detalhes em demasia, neurótico feito gente, pouco claro e amigável. Chego a crer que em verdade não goste de gente, que se sinta até mesmo escravizado. Assim, vez ou outra resolve se estragar - com a única finalidade de nos atormentar.

Sem a menor razão já ficou mudo. Noutra vez resolveu que eu não deveria navegar pela rede. E tomou-me tempo, paciência e sei lá mais o quê com uma absurda mania de me atrapalhar o dia. Compreendo, volto a dizer, quem deteste a operação de computadores, seus eternos cracks, serial numbers e bugs. Seus modos de espera e travamentos, suas charadas de profundo mau gosto.

Mas menos compreensível no entanto é o desprezo que alguém possa ter também pelas máquinas. Como desprezar um aparelho que nos traz tanto? A vida de toda essa gente do mundo seria possível agora sem mais computadores? Sem os efeitos especiais digitais do cinema, sem a ajuda de um Wikipedia, sem um blog/divã/passatempo de nerd, sem os torrents de discografias? Voltaríamos aos mimiógrafos, às enciclopédias pesadas, às fitas K7 e explorações de grandes gravadoras?

...curiosamente, acabo de me aperceber que as complicações de um PC não é muito distante daquelas que tínhamos com as máquinas de escrever, os bibliotecários desanimados e LPs com riscos imperceptíveis. Afinal de contas é melhor acreditar que, onde houver diversão, haverá problemas que jamais conseguiríamos resolver. E que ainda vale a pena tentar - sobretudo porque a complicação no futuro pode ser ainda maior e nós não gostaremos de fazer parte de um grupo de obsoletos, não é mesmo?